Ensaio Sobre A Encíclica Laudato Sí
Ensaio Sobre A Encíclica Laudato Sí
Ensaio Sobre A Encíclica Laudato Sí
Anderson Suhre2
José Manfroi3
Resumo: O presente artigo tem como objetivo apresentar um ensaio sobre a carta encíclica
Laudato SI’, bem como destacar alguns aspectos filosóficos e, sobre Ecologia Integral muito
empregada pelo Papa Francisco. Como referencial teórico, adotamos as contribuições de
FRANCISCO (2015) BUGALLO (2014), BOFF (2015), BEUCHOT (2016). A metodologia foi
a pesquisa Bibliográfica e Documental. Os estudos apontam que para Francisco é necessário a
construção de um novo horizonte para a relação entre o homem e o Planeta, de modo que a
convivência se dê de modo consciente e harmônica. Para tanto, o primeiro passo é alargar a ideia
do que é ‘ecologia integral’. Segundo ele, quando se fala em ‘ecologia’ vem a ideia somente o
meio ambiente, a fauna e a flora. Contudo, aponta que é preciso abrir o pensamento para uma
concepção de ecologia que abranja todas as dimensões da realidade: a ecologia integral. Para ele,
dado que a ecologia estuda as relações entre os organismos vivos e o meio ambiente onde se
desenvolvem. Portanto é necessário “discutir acerca das condições de vida e de sobrevivência
duma sociedade, além disso é preciso discutir com honestidade o uso dos recursos naturais e a
sua conservação.
Palavras-chave: Ecofilosofia. Ecologia. Ecologia integral. Laudato Si’. Recursos naturais.
Resumen: El presente artículo tiene como objetivo presentar un ensayo sobre la encíclica
"Laudato SI", así como destacar algunos aspectos filosóficos y, sobre la Ecología Integral muy
empleada por el Papa Francisco. Como referencia teórica, adoptamos las contribuciones de
FRANCISCO (2015) BUGALLO (2014), BOFF (2015), BEUCHOT (2016). La metodología fue
la investigación Bibliográfica y Documental. Los estudios indican que para Francisco es necesario
construir un nuevo horizonte para la relación entre el hombre y el Planeta, para que la coexistencia
se produzca de forma consciente y armoniosa. Para ello, el primer paso es ampliar la idea de lo
que es la "ecología integral". Según él, cuando se habla de "ecología" la idea proviene sólo del
medio ambiente, la fauna y la flora. Sin embargo, señala que es necesario abrir el pensamiento a
una concepción de la ecología que abarque todas las dimensiones de la realidad: la ecología
integral. Para él, ya que la ecología estudia las relaciones entre los organismos vivos y el medio
ambiente donde se desarrollan. Por lo tanto, es necesario "discutir las condiciones de vida y
supervivencia de una sociedad, y también discutir con honestidad el uso de los recursos naturales
y su conservación".4
Palabras clave: Ecofilosofía, Ecología, Ecología integral. Laudato Si’. Recursos naturales.
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Este artigo é resultado de trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade Católica Dom Bosco,
sob a orientação metodológica e temática do Prof. Dr. José Manfroi, como requisito parcial para obtenção
de grau de bacharel em Filosofia da Universidade Católica Dom Bosco.
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Graduando do 6º semestre do curso de Filosofia na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). E-mail:
suhreanderson@gmail.com.
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Graduado em Filosofia. Mestre em Educação pela UFMS. Doutor em Educação pela UNESP Campus de
Marília/SP. Professor pesquisador e orientador nos programas de pós-graduação stricto sensu e lato sensu
da Universidade Católica Dom Bosco e Professor no Curso de Direito da Universidade Católica Dom
Bosco; Pesquisador e orientador no PIBIC/UCDB/CNPQ. E-mail: jmanfroi@terra.com.br.
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T.D.A
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1 INTRODUÇÃO
Beuchot indica que: “Esta tiene como objeto la defensa de la ecología, porque
nuestra casa común, que es la tierra, está corriendo peligro de agotarse o, por lo menos,
de sufrir serios daños.” (2016, p. 181)5 A terra vem sofrendo sérios e inúmeros danos, o
que tem colocado a humanidade bem como a natureza em perigo. Além do mais, é preciso
incutir uma nova concepção de ecologia, quebrar o paradigma no qual “ecologia” trate
apenas sobre fauna e flora; no tocante ao tema, vai muito além.
Esta encíclica, o Santo Padre não a destina apenas para católicos, mas para a
comunidade global, a cada pessoa que habita o planeta. Aponta toda a problemática
ambiental vivida nos dias atuais; sua encíclica possui uma riqueza de conteúdo como
diálogos e reflexões de várias pessoas e organizações, católicas ou não.
As últimas décadas têm aberto espaço para que a reflexão ente a economia
política, a justiça social, gestão de território e a educação incrementem a intencionalidade
da crítica comum. Para esta mudança, encontra-se uma ecofilosofia que tem transformado
este paradigma cultural junto aos modelos tecnocráticos e economicistas hegemônicos.
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O objetivo disto é defender a ecologia, porque a nossa casa comum, que é a terra, corre o risco de se
esgotar ou, pelo menos, de ser gravemente danificada. (T.D.A.)
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Encorajados por esta perspectiva ampla e integradora, propomos destacar alguns aspectos comuns entre a
mensagem de Laudato Si e várias expressões da filosofia ambiental. (T.D.A)
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Por todo o lugar, onde há a presença humana, é possível avistar toda a sua
produção – de qualquer espécie, e em contrapartida avista-se, inclusive, o rastro de
destruição, desperdício e danos causados pelo ser humano em nome da sua produção.
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Assim, com uma atitude fenomenológica, a encíclica faz uma descrição dos males que estão a ser causados
ao planeta. O aquecimento global, o mau uso da água, minerais, clima, alimentos, etc. (T.D.A)
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“... Alfonso López Quintás, chama a posição de Guardini << fenomenologia enraizada no real, no plano
do concreto vivo>>, e diz que << a sua teoria de polaridade está mais próxima da harmonia hierárquica da
entis analogia do que da abrupta desarmonia da chamada teologia dialética.>>. (T.D.A)
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Mas também tem uma perspectiva analógica, ou seja, medeia a proporção ou o equilíbrio proporcional,
não por acaso o Papa chamou à sua proposta uma 'ecologia integral'. (T.D.A.)
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A filosofia ambiental ou ecofilosofia visa ir além de uma alfabetização ecológica inicial proporcionada
pela incorporação de conhecimentos sobre como funciona o ambiente em que vivemos. (T.D.A.)
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A autora distingue os termos de ecólogo e ecologista como: especialista cientifico em ciência ecológica
e ambientalista ou ecologista como simpatizante ou militante de movimentos a favor da causa ambiental.
Esta distinção é de suma importância, para poder distinguir os papeis de cada indivíduo dentro da causa
ambiental. Os ecologistas nem sempre são ecólogos, mas na maioria das vezes os ecólogos são ecologistas.
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3 ECOLOGIA INTEGRAL
Para poder chegar a uma nova ecologia integral é preciso compreender a forma de
pensar do Papa e transpor as barreiras do pensamento e todas as predefinições já
existentes sobre o assunto. É preciso avançar além dos limites da fauna e da flora; olhar
o todo: economia, sociedade, meio ambiente, cultura, religião, enfim tudo o que envolve
a humanidade e o planeta. Esta nova visão de ecologia integral torna-se meio para garantir
uma qualidade de vida justa para todos. O que se pode notar no destaque feito por Alves:
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A consciência ambiental emergente, nas últimas décadas do século passado, estendeu a sua influência à
Europa e ao resto do mundo, consolidando-se em movimentos de participação cívica e social não
governamental, ansiosa por criar uma nova cultura integrada em harmonia com a Natureza. (Skolimowski,
1981) Promoveu também o protagonismo de tudo o que a sociedade moderna tinha mantido marginalizado,
como a pobreza, a feminilidade, a homossexualidade, e a própria naturalização. Uma visão ecológica foi
então acentuada onde nada deveria ser isolado do seu contexto natural e social. No mundo contemporâneo,
muitos problemas graves como a degradação do ambiente, a ameaça de guerra nuclear, a persistência da
fome juntamente com o alegado desenvolvimento, são questões que já não podem ser tratadas isoladamente.
(Bugallo, 1995). (T.D.A.)
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Isto não foi simplesmente uma extensão da ética tradicional; foi acima de tudo uma mudança no papel
do Homo sapiens, de conquistador do mundo para cidadão pleno e concidadão na comunidade de todos os
seres vivos. (T.D.A.)
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cada vez mais fora de controle: “Não há duas crises separadas: uma
ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise
socioambiental. As diretrizes para a solução requerem uma abordagem
integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e,
simultaneamente, cuidar da natureza” (ALVES, 2015, p. 1329)
Conclui-se, segundo o autor que: não há duas crises, mas apenas uma complexa,
a socioambiental; ao passo que a “ecologia integral” é capaz de olhar o todo, buscando
assim uma solução integral que seja capaz de abranger todos os problemas.
O que impede esta visão integral do mundo são as relações de poder e a ganância
humana. Querer sempre mais faz parte constitutiva do ser humano, mas o objeto desta
ganância é o que causa preocupação; o relativismo e o hedonismo têm causado sérios
problemas ante as funções do ser humano em relação a sua realidade.
Ao afirmar que não há ecologia sem uma adequada antropologia, o Papa aponta
um exagero no humanismo e antropocentrismo, inclusive cristão; o humanismo traz um
falso juízo sobre a relação do ser humano com toda a criação, onde esta visão afirma que
o ser humano deve dispor arbitrariamente sobre todo o criado. Toda esta problemática
pode ser notada no destaque feito por Beuchot:
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Há uma preocupação com a tecnocracia, ou seja, o uso indevido da técnica, uma vez que as tecnociências
estão a servir para prejudicar a natureza. Lembra-nos a ideia de Aristóteles de que a técnica (techné) tem
de promover a natureza da mesma forma que a natureza. Isto é, não se lhe opondo, pois iria estragá-lo.
(T.D.A.)
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Para a mudança desta realidade pode ser feita a partir de uma revalorização da
pessoa humana, o que se pode notar:
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Se o ser humano é colocado no centro do universo, então ele é a medida de todas as coisas. Estamos
numa cultura relativista e é uma cultura que permite a um ser humano tirar partido de outro. Permite ao
homem manipular o homem e, a longo prazo, permite-lhe manipular a vida, a própria criação. (T.D.A.)
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A encíclica prevê como remédio um novo tipo de ser humano. Isto é o que tenho apontado como a
necessidade de um novo humanismo. Acima de tudo para a cura da relação entre as pessoas. E isso implica
também o fortalecimento da relação com o divino, com aquele Vós que nos colocastes neste mundo. É uma
revalorização da pessoa humana, à luz do divino. (T.D.A.)
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Vale notar que todo este caminho precisa ser percorrido após uma nova
reconsideração do antropocentrismo, partindo do antropocentrismo cristão, para que o ser
humano deixe de ser o “senhor” da criação e torne-se um “administrador responsável”,
como aponta Bugallo:
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Neste sentido, Francisco lembra-nos que uma apresentação inadequada da antropologia cristã poderia
apoiar uma concepção errada da relação do ser humano com o mundo. Por outro lado, a forma correta de
interpretar o conceito de ser humano como "senhor" implica compreendê-lo como um administrador
responsável. (T.D.A.)
18 Que admite somente uma interpretação ou significado; sem teor ambíguo. Uniforme; que apresenta
uniformidade; que é homogêneo. [Lógica] Característica do conceito que, aplicado a coisas distintas, se
mantém com o mesmo significado. (Disponível em: https://www.dicio.com.br/univoco/, acessado em: 27
de outubro de 2020.)
19 Equivocas vem do verbo equivocar. O mesmo que: enganas, confundes, erras. Significado de equivocar
Levar alguém a se enganar; induzir em erro. Interpretar erroneamente alguma coisa: equivocou capitalismo
com comunismo; equivocou-se com opiniões parecidas. Confundir coisas; fazer algum engano; enganar-
se: equivoca-se com facilidade. (Disponível em: https://www.dicio.com.br/univoco/, acessado em: 27 de
outubro de 2020.)
20 Busca incessante pelo prazer como bem supremo. [Por Extensão] Excessiva busca pelo prazer como
modo de vida. [Filosofia] Doutrina caracterizada pela busca excessiva pelo prazer como propósito mais
significante da vida moral. (Disponível em: https://www.dicio.com.br/univoco/, acessado em: 27 de
outubro de 2020.)
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Este novo olhar cultural deve aprimorar o cuidado a partir da educação; Beuchot
emprega forte oposição ao consumismo, o que busca impedir a degradação terrestre, e
mais:
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O homem ia sempre desenvolver uma prática, talvez não tanto de produção, nas oficinas e fábricas, mas
uma prática material dedicada à ciência e às artes. (T.D.A.)
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A homogeneização deve ser travada, porque tal como a biodiversidade está a diminuir, também a
diversidade de culturas se perde, porque o tempo presente as torna todas iguais, devido à mimese que é
dada ao nível mundial com a globalização. (T.D.A.)
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Ao afirmar Beuchot que: “Por eso habla de una ecologia de la vida cotidiana, en
el sentido de animar un modus vivendi en el que se tenga calidad de vida, pero integral,
a saber, no solamente en el aspecto material, sino también en el espiritual.” (2016, p.
189)23 busca ele, estabilizar esta relação entre a necessidade e o desejo. Esta estabilização
tem mudado o rumo e os recursos do planeta; esta mudança tem possibilitado o aumento
e a durabilidade dos recursos naturais. Para controlar as necessidades e o uso desenfreado
dos recursos naturais, é preciso dar condições de qualidade de vida digna a todos. Outro
ponto de relação entre Francisco e Beuchot são edifícios funcionais e austeros e transporte
público de qualidade, contribuem para a redução do consumo de recursos naturais que
precisam ser gastos.
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É por isso que fala de uma ecologia da vida quotidiana, no sentido de encorajar um modus vivendi no
qual se tem uma qualidade de vida, mas que é integral, nomeadamente, não só no aspecto material, mas
também no aspecto espiritual. (T.D.A.)
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O que fazemos com a ecologia, com a economia e com a sociedade terá repercussões nas gerações
vindouras e temos um compromisso moral com elas. (T.D.A.)
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Termina com um apelo a uma espiritualidade ecológica, que será mostrada na educação dada àqueles que
vierem ou que já cá estiverem. Trata-se de promover outro modo de vida a fim de reforçar a aliança entre
a humanidade e o ambiente em que ela vive. (T.D.A.)
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Para concluir, Francisco aponta que: “Os esforços para um uso sustentável dos
recursos naturais não são gasto inútil, mas um investimento que poderá proporcionar
outros benefícios econômicos a médio prazo.” (2015, p. 112) Todavia, vale ressaltar que
todo investimento tem a sua rentabilidade e que, sem recursos naturais, não há mercado
para futuras negociações.
“A verdade é que ‘o homem moderno não foi educado para o reto uso
do poder’, porque o imenso crescimento tecnológico não foi
acompanhado por um desenvolvimento do ser humano quanto à
responsabilidade, aos valores, à consciência. Cada época tende a
desenvolver uma reduzida autoconsciência dos próprios limites. Por
isso, é possível que hoje a humanidade não se dê conta da seriedade dos
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Quando o Papa fala de ciência e tecnologia, encoraja a criatividade, como se fossem as artes, porque
promove a inovação, incluindo a inovação biológica, e que esta seja o resultado da investigação, mas sempre
dentro dos limites do bem comum. (T.D.A.)
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Parece não ter havido consciência de que o mito da progressão indefinida que reinou no século passado
é falso e de que as mentes lúcidas já não acreditam nele. (T.D.A.)
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Para concluir, o pensamento de Ecologia integral deve ser aplicado por todos, um
investimento a longo prazo, uma construção lenta, que necessita de mudança de
pensamento, modo de vida e interesses. Aceitar que todos os aspectos que estão
relacionados a vida humana não pertencem a este novo conceito de ecologia integral,
precisa ser visto dentro do conjunto. Os aspectos não podem mais serem discutidos de
forma isolada. Pensar na vida no todo, e em todos. Buscar uma ecologia integral, para ter
uma vida futura integral.
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REFERÊNCIAS