Quimera Amazônica - Arte, Mecenato e Colecionismo
Quimera Amazônica - Arte, Mecenato e Colecionismo
Quimera Amazônica - Arte, Mecenato e Colecionismo
Este artigo parte de uma pesquisa mais ampla sobre pintura e crculos intelectuais na Amaznia, que desenvolvo
na UFPa, tendo recebido auxlios do CNPq., MinC., Funarte, instituies s quais renovo meus agradecimentos. Sou
igualmente grato pelos comentrios de Stephen Barris, Jorge Branco Pereira, Benedito Nunes e Moema Bacelar
Alves a uma primeira verso do que vai aqui impresso, embora os equvocos sejam de minha inteira
responsabilidade.
**
Doutor em Histria. Professor da Faculdade de Histria e do PPG em Histria Social da Amaznia da
Universidade Federal do Par e pesquisador do CNPq. Email: aldrinfigueiredo@uol.com.br
os seus esforos a seu crculo literrio famoso, que incluiu Horcio, Virgilio e Propertius,
patrocinando-os com bens materiais e proteo poltica. Aos seus protegidos provou ser um
amigo e um patrono eficiente e generoso1. O mito projetou o smbolo do patronato rico, generoso
das artes e o nome ficou associado, especialmente a partir do renascimento italiano, como aquele
que patrocina as artes, a cincia e o ensino, muitas vezes com benefcios fiscais2. Famlias de reis,
prncipes, burgueses, oligarcas em vrias partes do mundo tomaram a si o ttulo de mecenas das
artes em aluso ao modelo civilizatrio da cultura clssica. Pessoas como o xh do Ir, Abbas I
(1571-1629), ou grande cardeal Alessandro Farnesi (1520-1589), ou ainda o famoso maraj do
Punjab, Ranjit Singh (1780-1839), todos foram tomados pela historiografia da arte como
representantes dessa tradio3.
No Brasil do sculo XIX, o imperador Pedro II (1825-1891) simbolizou e deu sentido ao
amante das artes, da cincia e das letras nos trpicos, para o que foi preparado desde a mais tenra
idade4. A erudio dos homens do imprio foram, de certo modo, espelho e contraponto para os
intelectuais da Repblica. A partir da dcada de 1890 e nas dcadas iniciais do sculo XX, houve
uma participao poltica e cultural dos bacharis, maons e dos chamados coronis. Pelo interior
do pas, quem organizava a vida poltica, diretamente no contato com a populao era a figura do
coronel no norte, chamado de coronel de barranco, em aluso regio ribeirinha do vale
amaznico. Importante dizer que se tratava de um lder essencialmente civil, num pas ainda
maciamente rural, onde tinha que se caminhar muito para fazer poltica. De fato, era o coronel o
principal elo entre a populao e o Estado 5. O coronel garantia os votos locais do governador do
Estado, em troca do apoio sua liderana municipal, onde dispunha de grande prestgio e poder
devido ao fato da Constituio de 1891 ser descentralizada, garantindo, aos estados e municpios,
grande autonomia legislativa e de polcia. Em vista disso, muitas vezes o coronel ocupava o cargo
de Intendente Municipal, chefe de polcia, vereador ou, mesmo que no ocupasse cargos
polticos, em geral, indicava os candidatos nas eleies6.
Em Belm do Par, no auge da produo da borracha, ningum representou melhor a
figura do coronel do que a do prprio intendente da capital, Antonio Jos de Lemos (1843-1913).
A biografia do lder muito esclarecedora. Ainda jovem, deixou o Maranho e chegou a Belm
com patente na marinha brasileira e com a experincia de ter lutado na Guerra do Paraguai.
Ingressou no jornal A Provncia do Par e foi galgando postos at conseguir arrendar e depois
comprar o peridico. A estava o inicio de sua ascenso poltica na sociedade paraense. Lemos foi
vogal de Belm, deputado estadual e at secretrio de governo estadual, onde se notabilizou por
recepcionar e ser sensvel aos apelos dos polticos do interior, enquanto as outras autoridades os
ignoravam, por os julgarem polticos menores, e assim foi conquistando o respeito e o apoio de
diversas autoridades7. Em 1897 chega ao pice de sua carreira poltica, quando eleito intendente
da capital, Belm8. Sua gesto ficou marcada pela profunda reforma urbana que imprimiu
tentando aproximar a capital do Par dos modelos europeus. Assim, foram editadas muitas
medidas que regravam os hbitos e modos citadinos, definindo as fachadas das casas, demolindo
cortios, e estabelecendo rgidos padres para as posturas urbanas. Em 1902, a cidade de Belm
j havia sido chamada de Paris n'Amrica ou de Petit Paris e o projeto do intendente se ampliava
com construo de diversos palcios, palacetes, bolsa de valores, grandes teatros, igrejas,
necrotrio, grandes praas com lagos e chafarizes, infra-estrutura sanitria, alargamento e
calamento de vias, construo da malha de esgoto na rea central, aterramento e drenagem de
rios e crregos, a plantao de centenas de mudas de mangueira nas avenidas e boulevards.9
As transformaes urbanas foram acompanhadas por um grande projeto de
estabelecimento de instituies culturais importantes: um Instituto Histrico e Geogrfico e uma
Academia de Letras, ambos fundados em 1900. Desde 1890, pelo menos, vrias sociedades
cientficas e literrias foram criadas especialmente sob o incentivo de Lauro Sodr (1858-1944),
militar, poltico e um dos mais expressivos lderes republicanos brasileiros que esteve a frente do
governo do Par entre 1891 e 1897. Sua atuao no campo das artes e das cincias pode ser
comparada atuao de Antonio Lemos no campo urbanstico. Lauro Sodr vinha incentivando,
desde 1892, a contratao de artistas europeus e a organizao de exposies de arte no Liceu
Benjamim Constant, antigo Liceu Paraense. Artistas como D. Mendelson, Domenico de Angelis,
Giovanni Capranesi, Natale Attanazio, Davi Widhopff, Maurice Blaise, Luigi Lubutti passaram a
atuar no ensino e no mercado de artes que ento se constitua, seguindo uma tradio que foi
modelar para um tipo Estado Mecenas, no qual o governo seria o principal patrocinador das
artes10. Nas primeiras dcadas do sculo XX, a imprensa paraense revelou um importante grupo
de crticos arte atuante nos comentrios das mostras e exposies que se realizam na cidade. Joo
Affonso do Nascimento, Alfredo Sousa, Antonio Marques de Carvalho, Jos Eustaquio de
Azevedo ficaram conhecidos pelo rigor de suas anlises de artistas e obras, pela busca de um
padro de qualidade para os sales locais e pelo debate em torno da censura e da liberdade no
campo da arte. Para muitos historiadores de hoje toda histria no passou de uma quimera
amaznica, imersa na legenda e no fausto da goma elstica.
Pinacotecas privadas e pblicas foram organizadas. Antonio Lemos projetou uma coleo
de arte para a municipalidade de Belm, por meio de um grande acervo de telas comprado
inclusive por seus antecessores e que estavam guardados no antigo Pao Municipal11. A este
acervo veio se somar a um outro, pertencente ao governo estadual, projetado por Lauro Sodr,
continuado por Jos Paes de Carvalho (1850-1943), governador entre 1897 e 1901, e ampliado
por Augusto Montenegro (1867-1915), governador entre 1901 e 190912. Entre os grandes
colecionadores particulares ganharam destaque os nomes de Fernando Paes Barreto, Antonio
Faciola, Isidoro Azevedo Ribeiro, Bertino Lobato de Miranda, Vicente Chermont de Miranda,
Eldio Lima, Francisco de Castro, Policarpo de Castro, Brito Pontes, Augusto Tiago Pinto,
Amrico Chaves, Benjamim Lamaro, Napoleo de Oliveira, Inocncio Holanda de Lima,
Almeida Pernambuco e alguns outros13. A partir de 1895, pelo menos, temporadas artsticas
comearam a ser organizadas com maior freqncia. Galerias de Arte foram abertas em casas
comerciais e em residncias particulares. O mecenato e o colecionismo viraram moda entre a elite
enriquecida pela borracha, inventando uma tradio que h muito cultivada nas grandes cidades
europeias14. O memorialista Inocncio Machado Coelho descreve em detalhes o esplendor
artstico que atingiu Belm nos trinta anos que se seguiram ao auge e declnio da goma elstica,
entre 1888 e 1918. Diz ele que a cidade inteira era um autntico museu e as galerias de pintura
pertencentes a amadores, ao Estado e Prefeitura Municipal ostentavam telas dos mais
renomados pintores nacionais e estrangeiros. Refere-se a uma compra desenfreada de objetos de
arte em antiqurios e lojas europias, sobretudo na Frana, Itlia, Inglaterra e Holanda, e
constituio de ricas colees de arte na capital paraense15. Na dcada de 1970, o cronista referiase como um verdadeiro milagre a existncia do Palacete Faciola com o ltimo reduto em Belm
do que se deve e se pode chamar, a justo ttulo, uma galeria de objetos de arte. O conjunto de
telas, alabastros, bronzes, esmaltes, porcelanas, mrmores, mveis e tudo aquilo em que
deixaram sua marca a mo de artistas como Emile Gall (1846-1904), a quem o Sr. Faciola teve
a oportunidade de conhecer em Paris16.
Joaquim Osrio Duque-Estrada (1870-1922), conhecido crtico literrio brasileiro,
escreveu em 1908 sobre sua visita galeria particular do Sr. Antonio Paes Barreto, advogado,
poltico e homem de letras em Belm. Tratou dos 130 quadros leo que viu na casa do fidalgo
cavalheiro paraense. Com ateno, descreveu a riqueza concentrada em 66 quadros clssicos
das vrias escolas europias:
Quanto aos mestres antigos, mal contenho minha emoo ao dizer que a opulenta
galeria (...) conta no nmero dos seus primores a soberba Leda, de Ticiano, por alguns
reputada a obra-prima do mestre veneziano. Notam-se ainda: uma caada real de
Velsquez, uma Diana, de Rubens, uma Paisagem, de Poussin, e um So Pedro, de
Guido Reni (...) o que equivale a dizer que essa galeria ultrapassou o limite da maioria
das galerias particulares americanas, e que colocou o direito de ser colocada entre muitas
do Velho Mundo; tanto mais se se considerar que ainda figuram nela vrias obras de
pintores de renome universal: Tintoreto, Murillo, Corot (...) e outros17.
compunham uma parte importante da elite cultural da cidade. Na primeira dcada do sculo XX,
este crculo em grande medida esteve relacionado com a figura do intendente Antonio Lemos.
Para se ter uma idia disso, seria interessante citar a exposio de arte organizada como parte dos
festejos de seu aniversrio em 1908. No exagero dizer, portanto, que Antonio Lemos estava no
foco central dessa exposio. Alm de uma grandiosa tela sobre a fundao da cidade,
encomendada pela Intendncia Municipal, boa parte dos quadros apresentados ao pblico
guardavam referncias diretas figura pessoal do aniversariante. Entre os 109 trabalhos expostos,
havia uma significativa coleo de 14 paisagens feitas no retiro Moema morada de campo da
famlia Lemos. Entre as representaes, estavam o campanrio da igrejinha, a vista de um lago no
interior da propriedade, vrias tomadas do bosque, da floresta e do parque no entorno da casa,
alm de algumas aquarelas com vistas dos recantos preferidos de seu proprietrio22.
Mas no era somente em seu stio que o velho Lemos era reiteradamente lembrado. Ao
lado de inmeras telas, desenhos e painis com representaes de pontos da cidade ilustrativos
da reforma urbana empreendida pelo prefeito , havia tambm algumas incurses do pintor pelas
insgnias pessoais do mecenas, especialmente nos selos e ex-libris feitos a bico de pena. O
interessante que essa atitude do artista, aparentemente bajulatria vista com os olhos de hoje,
era ento elogiada at pela imprensa opositora. A relao de fidelidade entre o mecenas e seu
protegido era, antes de qualquer coisa, um eloqente sintoma de civilidade. Assim como os
artistas italianos do sculo XVII foram financiados pelo mecenato ingls e, no sculo seguinte, os
pintores venezianos relacionavam-se com os mecenas franceses, Theodoro Braga representava,
na leitura dos crticos da poca, a incurso da arte brasileira nesse novo percurso da civilizao
nacional23. Lemos, por seu turno construa, na lembrana de Humberto de Campos, um de seus
protegidos poca, a imagem inequvoca de senhor onipotente do Par24.
Na larga aura mitolgica solidificada em torno de Antonio Lemos, o mecenas-oligarca
sobressaiu de forma exemplar. Foi o mesmo Humberto de Campos (1886-1934) quem elaborou
uma frmula explicativa para essa idiossincrtica figura. Afirmava o literato maranhense, que
no era sem fundamento que se acreditava, outrora, que as organizaes individuais viajavam
em silncio, tudo para esclarecer, afinal, que os homens se repetem nos homens. A estava a
chave do entendimento. E continuava: Alexandre reapareceu em Napoleo. Paul Saint-Victor
descobriu em Carlos XII a mais completa encarnao de tila. E no seria difcil ver em Antonio
Lemos a inoportuna repetio de um Mdici ou do Rei Sol, desvalorizada, apenas, no homem e
na obra, pelo evidente prosasmo da poca e pela triste vulgaridade do cenrio. Essa incessante
Em 1905, foi a vez do fluminense Antnio Parreiras (1860-1937), trazendo para Belm 41
telas a leo. Considerado um evento de relevo, o vernissage acabou sendo organizado no foyer do
Teatro da Paz, permanecendo a exposio aberta entre 10 e 30 de junho28. Ao todo, 27 obras
foram vendidas e a imagem dos trabalhos no salo virou carto-postal, editado na tipografia de E.
F. Oliveira Jnior. O xito de Parreiras no viera do nada. Recepcionado por Carlos Custdio de
Azevedo e Irineu de Souza, que j o conheciam do Rio de Janeiro, o pintor acabou conseguindo
um trnsito invejvel entre alguns letrados da elite local. O intendente Antnio Lemos adquiriu
trs telas preparadas especialmente para a exposio de Belm, alm de encomendar ao pintor
nada menos do que um conjunto de oito trabalhos reproduzindo os principais logradouros e
monumentos da capital paraense. Ainda em 1905, foram retratados o Bosque Municipal, em dois
estudos; a velha Catedral da S; a Praa da Repblica; a Calada do Largo da Plvora; a Praa
Batista Campos, por dois ngulos distintos; e, por fim, a Avenida So Jernimo, uma das mais
elegantes da cidade29. Pode-se afirmar, desse modo, que Antnio Parreiras inaugurou na
administrao municipal a fase das grandes encomendas de pinturas, consolidando a imagem do
intendente Lemos como mecenas e apreciador do requintado universo artstico. Em apenas dez
dias, Parreiras vendeu todos os seus quadros, guardando em memria biogrfica o feito entre os
paraenses30.
Antonio Parreiras, Clareira no bosque, 1905 (leo s/tela, 99,3x149,5, acervo: MABE)
Carto Postal, Exposio de pintura de Carlos Custdio de Azevedo, 1906 (Fotografia original
de Antonio de Oliveira) Acervo: Biblioteca Pblica do Par Arthur Vianna
A obra de Theodoro Braga estava sendo muito aguardada pelos aficcionados da pintura,
mais at que os trabalhos de Carlos de Azevedo. A razo disto residia no fato de o pintor ter
conseguido em pouco tempo um lugar de destaque entre os novos talentos brasileiros. Sua
formao artstica havia iniciado no Recife, pela mo do paisagista Telles Jnior, por volta de
1892, quando, aos 20 anos, cursava o penltimo perodo da Faculdade de Direito daquela capital.
Isso foi apenas o comeo de uma longa carreira. Em 1894, depois de se formar, transferiu-se para
o Rio de Janeiro, onde, na Escola Nacional de Belas Artes35, foi orientado por trs nomes h
muito reconhecidos: Belmiro Almeida, Daniel Brard e pelo clebre Zeferino da Costa.
Aprovado com distino, em 1899, recebeu, o prmio de viagem Europa por cinco anos.
Seguindo para a Frana, fixou-se em Paris por dois anos onde recebeu aulas de Jean-Paul Laurens
(1838-1921)36, havido como um dos mais importantes mestres da pintura histrica francesa,
durante a terceira Repblica37. Sob a orientao de Laurens, visitou vrios centros artsticos
europeus a fim de se aprimorar no estudo das dimenses na descrio de temas histricos38. Esse
perodo se transformou numa fase decisiva na obra futura do pintor, na constituio de um estilo
prprio e de um projeto de obra, qual seja o de elaborar uma verso pictrica da histria da
Amaznia. Essa perspectiva ficar mais clara e evidente depois de 1903, quando do seu retorno a
Belm.
Theodoro Braga, a partir de ento, firmou-se como o nome mais influente da pintura
paraense, nas duas primeiras dcadas do sculo XX. Apadrinhado pelo intendente municipal
Antnio Lemos, o artista transformou a pintura em assunto de governo e o tema da histria ptria
em matria de interesse popular. Entre 1903 e 1905, Theodoro Braga se dedicou a costurar um
novo momento nas artes plsticas do Par, com iniciativas de aproximao entre artistas, literatos
e autoridades do governo local em torno do debate do nacionalismo, da identidade regional e da
histria ptria. Sua atividade como pintor se enredou cada vez mais nos estudos genricos, sem
uma linha temtica definida, para o universo urbano de Belm. Da composio de uma tela como
A apario de So Lucas, de 1903, com uma evidente motivao pessoal, o artista passou a se
dedicar cada vez mais aos motivos e paisagens locais ou ainda temas da histria da Amaznia e
do Brasil. Numa singela representao do antigo servio de Captao dgua, em tela datada de
1905, Theodoro articulava vrios elementos descritivos tanto a referncia imagem pitoresca
da cidade, quanto ao subentendido progresso pelo qual a vida urbana estava passando naquele
momento. Um outro ponto digno de nfase que essa mostra de 1906 fora inaugurada no mesmo
Teatro da Paz, exatamente no dia 13 de maio. A data por certo no havia sido escolhida toa39.
Theodoro Braga, Captao de gua, 1905 (leo s/tela, 44x93cm, acervo: MABE)
Nesse perodo, e a partir da, a nfase na histria tomou conta da obra de Theodoro Braga.
O motivo desta escolha no se devia unicamente ao fato de a pintura histrica ainda ser
considerada como a mais alta categoria acadmica e nem de ter sido a principal influncia de seu
mestre francs Jean-Paul Laurens. Aqui est a fresta da significao da produo da arte, com
seus processos tcnicos, estilos e conflitos com a realidade. Na trajetria da pintura de Theodoro
Braga, o momento em que esses paradigmas eclodiram, com plena visualidade, no difcil de
ser percebido. De fato, ainda na temporada de 1906, uma das mais prolficas do artista, apareceu
aquela que seria a sua definitiva inclinao para os temas da histria ptria. Entre agosto e
outubro seguem duas exposies, ambas dedicadas inteiramente aos assuntos locais, com
tomadas e motivos escolhidos nos cantos pitorescos e antigos da cidade de Belm40. Esses
eventos foram como que preparatrios para solidificar o trao do pintor, a recepo do pblico, e
os laivos da crtica com o acontecimento de 1908, planejado que estava desde essa poca.
Apesar de escrever num jornal de oposio ao governo de Antnio Lemos, o crtico Alfredo
Sousa, por seu turno, que tambm era amigo de Theodoro Braga, foi quem melhor propagandeou
a mais recente linha temtica do artista. O mais interessante que isto no era nenhuma novidade
ou causa de estranheza entre os leitores da gazeta oposicionista. Na verdade, desde maio anterior,
quando da primeira exposio, o crtico vinha anunciando a versatilidade do pintor entre o
desenho, o leo e a arte aplicada como um slido preparo tcnico capaz de por em prtica suas
ambies diante da arte nacional41. Em vista disso, o momento agora era o de reiterar e ampliar
seus elogios. Sem o menor constrangimento, Alfredo Sousa definiu seu amigo como o mais
completo pintor nacional que at ento o Par tinha admirado dentro de seus muros. Para
demarcar seu brado, ps-se a analisar duas das telas apresentadas, comentando a radiante
luminosidade das paisagens nativas pintadas a leo com destaque para Um cacury e O
Paracauary, cenas ribeirinhas tpicas do vale amaznico, onde emergiam tonalidades nicas,
expressivas de uma cor local42.
Mas no foram somente as telas a causarem impacto entre os freqentadores das mostras de
1906. Ainda na exposio de agosto, um aspecto muito comentado foi o das inovaes de
montagem e instalao. Como a instalao foi realizada em sua residncia, os quadros foram
colocados no prprio ateli do artista e na escola de desenho que funcionava na sala ao lado, com
livre acesso a todos os visitantes. O impacto foi imediato. evidente que a ousadia do pintor em
mostrar sua obra entre os instrumentos de trabalho, estava avalizada pelo estgio ainda recente
que havia feito entre os parisienses. Por isso mesmo, observar as aquarelas com representaes
das pequenas cidades da Ilha do Maraj43, encimadas em cavaletes, circundadas por tintas,
pincis e paletas, significava, antes de tudo, o convvio com a excntrica atualidade havida como
escola francesa do ltimo quartel do sculo XIX, da qual tambm Theodoro havia sido discpulo;
a segunda parte da coleo trazia a grafia de Francisco Aurelio, onde o autor aproximava-se dos
nossos impressionistas, afastando assim por completo, de sua primeira maneira, da qual nenhum
detalhe lembrado. O fato clamava pela opinio de Theodoro Braga que, sem hesitar, afirmou
sua preferncia por aquela primeira feio que, entre outras virtudes, o fazia pensar tambm
nas msculas figuras do seu inesquecvel irmo48, amplamente reconhecido pela preocupao
com a figura humana, muito mais do que com a paisagem em si, havida como caracterstica de
seu contemporneo Victor Meireles (1832-1903)49. Mais uma vez, como j era de se esperar,
Antnio Lemos estava por perto, financiando a prxima investida de Aurlio de Figueiredo, em
sua verso de primeira hora. Resultado: em apenas quatro meses, o pintor reaparecia com uma
nova safra, agora no Salo da Biblioteca e Arquivo Pblico do Par. O destaque dessa vez ficou
por conta de duas grandes telas, em tamanho natural e corpo inteiro, retratando o Baro do Rio
Branco e o senador Antnio Lemos50, cones consagrados no Par como mentores polticos o
primeiro, figura de proa no abolicionismo, e o segundo, figura central nas duas primeiras dcadas
de republicanismo.
Ainda em julho de 1907, o paulista Benedito Calixto (1853-1927), que aportou em Belm
j com a fama de pintor premiado, trouxe 32 telas para sua exposio. O assunto era dos mais
recorrentes poca: paisagens e vistas de seu estado natal, ao lado de alguns momentos da
histria da nao. A cidade continuava muito atraente para os forasteiros, especialmente para
aqueles que residiam no Rio de Janeiro, onde a disputa por espao de divulgao era cada vez
maior. Vrios quadros de Calixto foram adquiridos pelo governo do Estado e pela intendncia
municipal de Belm: recantos de jardins, cenas de trabalho e suas famosas composies
marinhas51. Assim como Parreiras ou Aurlio de Figueiredo, Calixto representava muito bem
essa ambio dos pintores brasileiros de formao acadmica em retratar e escrever a histria do
pas, a partir das imagens de seus recantos natais. Mais at que Theodoro Braga, o experiente
pintor paulista esteve, nesses incios de sculo XX, mergulhado numa impressionante
investigao histrica sobre So Paulo, nos tempos da Colnia e do Imprio, principalmente
sobre Santos, cidade em que viveu boa parte de sua vida52. Por isso mesmo, no difcil entender
o porqu de esse artista ter se tornado uma referncia entre os paraenses do incio do sculo XX.
Esse dilogo no campo das artes ampliava o crculo dos visitantes e aficcionados. As famosas
cores das marinhas e dos recantos urbanos do pintor paulista fizeram eco entre os crticos e
compradores locais Theodoro Braga lembrou que, um ms e meio depois do retorno de Calixto, o
Teatro da Paz abriu sua galeria com as obras do carioca Joaquim Fernandes Machado, com
reputao equivalente ao pintor paulista.
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PAR. Intendncia Municipal de Belm, Relatrio apresentado ao Conselho Municipal de Belm
na Sesso de 15.11.1904 pelo Exmo Sr. Intendente Antnio Jos de Lemos. Belm: Typ. de
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SOUSA, Alfredo. Impresses de arte. Folha do Norte. Belm, 17 de agosto de 1906, p.1
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WELCH, Anthony. Shah Abbas & the arts of Isfahan. New York: The Asia Society, 1973.
1
AVALLONE, Riccardo. Mecenate. Napoli: Libreria scientifica editrice, 1963, e o clssico de HOLLAND, Francis.
Caius Maecenas. In: Seneca. London: Longmans, 1920, p. 187-205.
2
PATURZO, Franco. Mecenate: il ministro d'Augusto: politica, filosofia, letteratura nel periodo augusteo. Cortona:
Calosci, 1999, e o texto seminal de Ralph SCHOMBERG (1714-1792), The life of Mcenas: with critical, historical,
and geographical notes. 2 ed. London: Printed for A. Millar, 1766.
3
WELCH, Anthony. Shah Abbas & the arts of Isfahan. New York: The Asia Society, 1973; ROBERTSON, Clare. Il
gran cardinale: Alessandro Farnese, patron of the arts. New Haven: Yale University Press, 1992; ANAND, Mulk
Raj. Maharaja Ranjit Singh as patron of the arts. Atlantic Highlands: Humanities Press, 1982. .
4
Cf. SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do Imperador. So Paulo: Companhia das Letras, 2002; CARVALHO,
Jos Murilo de. D. Pedro II. So Paulo: Companhia das Letras, 2007.
5
CUNHA, Marly Solange Carvalho da. Terra, poder e as relaes familiares: Jos Porphirio de Miranda Jr.. Revista
de Cultura do Par, v. 17, 2006, p. 65-107.
6
O termo coronel, comeou a ser usado, no Brasil, por lderes polticos locais j no perodo da Regncia, a partir de
1831, quando foi criada a Guarda Nacional em substituio s Companhias de Ordenanas. A patente mais alta na
Guarda Nacional era a patente de coronel, a qual era atribuda ao fazendeiro mais importante de uma regio, na qual
havia um batalho formado da Guarda Nacional. Os fazendeiros sustentavam as tropas dos voluntrios da ptria,
convocando-as e soldando-as, ganhando, assim, um apoio descomunal nesse perodo. Aos poucos, aps a Guerra do
Paraguai, a Guarda Nacional foi se tornando simblica, no reunindo mais tropas, e foi extinta em 1918 no perodo
de Venceslau Brs. Sobre a questo ver os clssicos, QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. O mandonismo local na
vida poltica brasileira: da Colnia Primeira Repblica. So Paulo: Anhembi, 1957; LEAL, Victor Nunes.
Coronelismo, enxada e voto: o municpio e o regime representativo no Brasil. 3 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1997. Sobre a Amaznia, ver GEFFRAY, Christian. A opresso paternalista: cordialidade e brutalidade no cotidiano
brasileiro. Rio de Janeiro: Educam, 2007.
7
CUNHA, Marly Solange Carvalho da. Intendentes Matutos: as disputas polticas no Par Republicano (18971912). Projeto de dissertao de mestrado em Histria Social da Amaznia. Belm: UFPA, 2006, indito.
8
SARGES, Maria de Nazar. Memrias do Velho Intendente: Antonio Lemos (1869/1973). Belm: Paka-Tatu, 2004.
9
SARGES, Maria de Nazar. La Belle-poque en la Amazonia en la poca del caucho. In: PREZ, Jos Manuel
Santos & PETIT, Pere. (Org.). La Amazonia Brasilea en Perspectiva Histrica. Salamanca: Aquilafuente, 2006, p.
91-107.
10
CUMMINGS JR., Milton. & KATZ, Richard. (eds). The Patron state: government and the arts in Europe, North
America, and Japan. New York: Oxford University Press, 1987.
11
Hoje este acervo faz parte da coleo do Museu de Arte de Belm (MABE). Para uma anlise ampla desse
processo de constituio das colees museolgicas e suas relaes com o pblico, ver BOURDIEU, Pierre;
DARBEL, Alain & SCHNAPPER, Dominique. L'Amour de l'art, les muses d'art europens et leur public. 2e ed.
rev. e aum. Paris: ditions de Minuit, 1969, e OLES, James (ed.). De artesanos y arlequines: forjando una coleccin
de arte mexicano. Mexico: Museo Nacional de Arte, 2005.
12
Hoje este acervo faz parte da coleo do Museu Histrico do Estado do Par (MHEP).
13
Sobre a noo de colecionador, ver BLOM, Philipp. Ter e manter: uma histria ntima de colecionadores e
colees. Rio de Janeiro: Record, 2004 e POMIAN, Krzysztof & LAURENS, Annie-France (eds). L'Anticomanie: la
collection d'antiquits aux 18e et 19e sicles. Paris : Ecole des Hautes tudes en Sciences Sociales, 1992.
14
Cf. POMIAN, Krzysztof. Collectionneurs, amateurs et curieux. Paris, Venise: XVIe-XVIIIe sicle. Paris:
Gallimard, 1987, e Idem, Des saintes reliques l'art moderne: Venise-Chicago, XIIIe-XXe sicle. Paris: Gallimard,
2003.
15
COELHO, Inocncio Machado. Os gall de Antonio Faciola. A Provncia do Par. Belm, 29 de fevereiro de
1976.
16
Vitralista francs, Gall foi um dos expoentes da art nouveau. Trabalhou com vidros opacos e semitransparentes,
ganhando fama internacional pelos motivos florais. No mobilirio, reinaugurou a tradio da marchetaria. A
principal temtica de seus artefatos eram flores e folhagens, realizadas em camadas sobrepostas ao vidro, tcnica por
este desenvolvida, cujo nome em francs pat de verre, trabalhando com maestria a opacidade e translucidez do
material, inclusive numa coleo com paisagens tropicais brasileiras do final do sculo XIX. THIBAUT, Philippe.
Les dessins de Gall. Paris: Muse d'Orsay; Runion des muses nationaux, 1993; LE TACON, F. Emile Gall:
matre de l'art nouveau. Strasbourg: Nue bleue, 2004, e COELHO, Inocncio Machado. Op. Cit.
17
DUQUE-ESTRADA, Osrio. O norte. Porto: Livraria Chardron, 1909, p.36.
18
CAETANO, Alberto. A Leda, quadro de Ticiano. Revista Ocidente. Lisboa, 30 de outubro de 1906.
19
SALACHA, Victor. La Lda du Titien. La Revue du Bien dans la Vie et dans l'Art. Paris, outubro de 1906, p.38.
20
DUQUE, Gonzaga. A Lenda Ticianesca. Kosmos. v.3, n. 9, setembro de 1906.
21
MOREIRA, Apolinrio. O ltimo discurso acadmico. Revista da Academia Paraense de Letras. Belm, janeiro
de 1977, p.77.
22
Exposio de pintura. Folha do Norte. Belm, 15 de dezembro de 1908, p.1.
23
Exposio Theodoro Braga. Folha do Norte. Belm, 17 de dezembro de 1908, p.1. Ver tambm HASKELL,
Francis. Patrons and painters; a study in the relations between Italian art and society in the age of the Baroque.
New York: Knopf, 1963.
24
CAMPOS, Humberto de. Antonio Lemos. In: Carvalhos e roseiras: figuras polticas e literrias. Rio de Janeiro:
W. M. Jackson, 1954, p.23. Referncia a SAINT-VICTOR, Paul. Hommes et dieux: tudes d'histoire et de
littrature. Paris: Michel Lvy, 1867.
25
Idem, p.25.
26
SARGES, Maria de Nazar. Memria iconogrfica e mecenato durante a poca urea da borracha: o projeto
artstico-civilizador de Antonio Lemos. In: E. Nodari; J. Pedro & Z. Iokoi (orgs), Histria: fronteiras. So Paulo:
Humanitas; Anpuh, 1999, v.2, p.971.
27
Sobre as representaes da paisagem e da histria na Amaznia, ver FIGUEIREDO, Aldrin Moura de. A pintura
da histria: patrimnio e paisagem na Amaznia, 1890-1910. In: SILVEIRA, Flvio Leonel Abreu da & CANCELA,
Cristina Donza. (Org.). Paisagem e cultura: Dinmicas do patrimnio e da memria na atualidade. Belm: Edufpa,
2009, p. 229-243.
28
BRAGA, Theodoro. A arte no Par, 1888-1918: retrospecto historico dos ltimos trinta annos. Revista do
Instituto Historico e Geographico do Par. v.7. Belm, 1934, p.153.
29
Todo esse acervo, oriundo da antiga Intendncia Municipal, pertence hoje ao Museu de Arte de Belm (MABE).
30
PARREIRAS, Antnio. Viagem ao Norte. In: Histria de um pintor contada por ele mesmo: Brasil Frana,
1881-1936. 3 ed. Niteri: Niteri Livros, 1999, p. 123. Sobre a estada de Parreiras em Belm, ver FIGUEIREDO,
Aldrin Moura de. O vernissage da histria: Antonio Parreiras, Benedito Calixto e Theodoro Braga em Belm do
Par, 1903-1908. Concinnitas. Rio de Janeiro, v. 4, n. 5, 2003, p. 116-125. Este tema da paisagem ser retomado na
grande tela A conquista do Amazonas, pintada em 1907. Cf. FIGUEIREDO, Aldrin M. de. A conquista do
Amazonas: histria e memria visual da territorialidade amaznica, 1637-1907. In: Ruiz-Peinado Alonso, Jos Luis
& Chambouleyron, Rafael. (Org.). T(r)picos de Histria: gente, espao e tempo na Amaznia (sculos XVII a
XXI). Belm: Aa; PPHIST, CMA, 2010, p. 219-228.
31
ARRAES, Rosa. Inventrio. In: Fundao Cultural do Municpio de Belm, Museu de Arte de Belm: memria
& inventrio. Belm: MABE, 1996, p.46.
32
COUDREAU, Henri. LAvenir de la capitale du Par. Anais da Biblioteca e Arquivo Pblico do Par. v.8.
Belm, 1913, pp.221-245.
33
GODINHO, Victor & LINDENBERG, Adolpho. Norte do Brasil atravs do Maranho, do Para e do Amazonas.
Rio de Janeiro: Laemmert, 1906, p.122. A construo da memria de Lemos, incluindo a a do mecenas, foi
analisada cuidadosamente por SARGES, Maria de Nazar. Memrias do velho intendente: Antnio Lemos, 18691973. Belm: Paka-Tatu, 2004.
34
Cf. BONNEFOUS, Jean de. En Amazonie. Paris: Kugelmann, 1898, p.51 e COUDREAU, Henri. Op. cit. e o seu
anterior Les Franais en Amazonie. Paris: Picard-Bernheim et Cie, 1887.
35
Nos ltimos meses na Escola de Belas Artes, tambm atuou como ilustrador da revista carioca Vera Cruz, fundada
em 1898, rgo literrio que reunia muitos autores ligados ao movimento simbolista. Cf. PONTUAL, Roberto.
Dicionrio das artes plsticas no Brasil. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1969, p.85.
36
RGO, Clvis de Morais. Theodoro Braga: historiador e artista. Belm: Conselho Estadual de Cultura, 1974,
p.28.
37
CARS, Laurence des. Jean-Paul Laurens et la peinture dhistoire sous la troisime Rpublique. In: Jean-Paul
Laurens, 1838-1921: peintre dhistoire. Paris: Runion des Muses Nationaux, 1998, pp.23-34.
38
FIGUEIREDO, Aldrin Moura de. Theodoro Braga e a histria da arte na Amaznia. In: A fundao da cidade de
Belm. Belm: Museu de Arte de Belm, 2004, p. 31-87.
39
FIGUEIREDO, Aldrin Moura de & ALVES, Moema Bacelar. Rasgou-se o vu da noite escura: arte, poesia e
abolio no Gro-Par, 1870-1888. Poltica Democrtica. v.21. Braslia, 2008.
40
BRAGA, Theodoro A arte no Par, 1888-1918, p.153.
41
SOUSA, Alfredo. Exposio de pintura. Folha do Norte. Belm, 15 de maio de 1906, p.1.
42
SOUSA, Alfredo. Impresses de arte. Folha do Norte. Belm, 17 de agosto de 1906, p.1
43
Idem, ibidem. O crtico comentou, em especial, o Farol de Soure e Barrancos do Porto, ambos sobre a cidade de
Soure, no litoral nordeste da ilha.
44
SOUSA, Alfredo. Impresses de arte: Theodoro Braga, aquarelista. Folha do Norte. Belm, 01/11/1906, p.1.
45
RGO, Clvis Morais. Theodoro Braga: historiador e artista. Belm: Conselho Estadual de Cultura, 1974, p.18.
46
Intendncia Municipal de Belm, Relatrio apresentado ao Conselho Municipal de Belm na Sesso de 15.11.1902
pelo Exmo Sr. Intendente Antnio Jos de Lemos; 1897/1902. Belm: Typ. de Alfredo Augusto Silva, 1902, p.205.
47
Intendncia Municipal de Belm, Relatrio apresentado ao Conselho Municipal de Belm na Sesso de 15.11.1904
pelo Exmo Sr. Intendente Antnio Jos de Lemos. Belm: Typ. de Alfredo Augusto Silva, 1904, p.200.
48
BRAGA, Theodoro. A arte no Par, 1888-1918, p.153-4.
49
SALGUEIRO, Joo Vicente. Victor Meireles e Pedro Amrico. In: Wladimir Alves de Souza et al., Aspectos da
arte brasileira. Rio de Janeiro: Funarte, 1981, p.43.
50
BRAGA, Theodoro. A arte no Par, 1888-1918, p.154.
51
Hoje, parte dos acervos do Museu do Estado do Par [MEP], no prdio do antigo Palcio dos Governadores, e do
Museu de Arte de Belm [MABE], no antigo Palacete Azul da Intendncia Municipal de Belm.
52
IHGSP, Coleo Benedicto Calixto [CBC], Manuscritos diversos sobre assuntos relativos a Santos, pasta I (10
documentos); Capitania de So Vicente, pastas II A-B; III; IV; V; Cartas de interesse histrico dirigidas a
Benedicto Calixto, pasta IV A-B (notar especialmente as correspondncias com Theodoro Sampaio (1902), Toledo
Piza (1894-1903); Von Hering (1901-4) e Rocha Pombo (1908). Para uma leitura dos referenciais histricos de
Calixto, vide ALVES, Caleb Faria. Benedito Calixto e a construo do imaginrio republicano. Bauru: Edusc, 2003.
53
BRAGA, Theodoro. A arte no Par, 1888-1918, p.154.
54
Ver o artigo de SOUSA, Alfredo. Exposies de pintura na Capital do Par. Correio de Belm, 17 de dezembro
de 1907, p.2, sob o pseudnimo Alfi, no qual faz um apanhado das ltimas mostras ocorridas em Belm,
apontando as virtudes do acesso s belas artes e os defeitos ligados repetitividade dos pintores. Para uma anlise
dessa questo na crtica internacional do sculo XIX, ver GOLDSTEIN, Robert Justin. Political censorship of the
arts and the press in nineteenth-century Europe. Basingstoke: Macmillan, 1989.