Prof Cantigas Amigo
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Poesia trovadoresca: designação dada ao conjunto de composições poéticas medievais por poetas que,
para além de comporem esses poemas – cantigas -, tocavam e cantavam, sendo por isso chamados
trovadores. Regra geral, os trovadores eram de origem nobre e dedicavam-se ao ofício de compor apenas
por prazer.
A poesia trovadoresca floresceu no período que se estende de meados do século XII a meados do século
XIV.
Feudalismo: a sociedade desta época estava organizada segundo o feudalismo, sistema político,
económico e social caracterizado pela divisão da propriedade (feudo), conjugada com a divisão, a
fragmentação da soberania, e pelas obrigações recíprocas entre vassalos e suseranos. Assim, em troca de
vários serviços prestados a um senhor, que podia ser o próprio rei, o vassalo recebia uma terra, um feudo, e
com ela autoridade, poder. Em Portugal fala-se num regime senhorial.
Cultura monástica: cultura do clero, que tinha acesso à literatura e a uma cultura escrita (estudavam,
compilavam e produziam os livros manuscritos).
Cultura profana: cultura do povo e da nobreza, que usufruíam apenas da literatura e da cultura oral. É
deste património oral que nasce a literatura portuguesa e, em particular, a poesia trovadoresca.
Jogral – executor (geralmente de baixa condição), que vivia do lucro da arte de cantar versos próprios ou
alheios
Segrel – cavaleiro-trovador, da pequena nobreza, que andava de corte em corte a cantar e a declamar (fazia-se
acompanhar de um jogral ou substituía-o
Menestrel – músico-poeta, que vivia sobre a proteção de um nobre e andava de corte em corte
Soldadeira ou jogralesa – cantadeira ou dançarina, a soldo, que acompanhava o jogral (de moral, por vezes,
duvidosa)
Tipos de poesia
Cantigas de amigo – Sujeito poético feminino, uma donzela, que apresenta os sentimentos por ela vividos
relativamente ao seu amigo, que pode estar longe, ausente (por sua vontade ou por força das circunstâncias –
guerra, viagem), levando-a a manifestar mágoa, tristeza, saudade, angústia, temor. Noutras ocasiões, pode
expressar alegria, sensualidade, em festas e romarias. Revela o que sente à mãe, às amigas ou até à própria
Natureza (são as suas confidentes, umas vezes de forma silenciosa, outras intervindo e respondendo-lhe).
Cantigas de amor – Sujeito poético masculino que se coloca ao serviço de uma mulher, em geral, casada, e
pela qual nutre um sentimento amoroso. A dama mostra-se naturalmente distante, fria ou indiferente e é
colocada numa posição superior ao poeta, que lhe presta um serviço de vassalagem, seguindo o código de
amor cortês. O sujeito vive uma paixão infeliz – coita de amor -, porque não pode ser concretizada. Estas
cantigas tanto traduzem emoções de dor, de angústia, de desespero, de loucura e da própria morte, como
emoções que fazem parte do quadro do elogio cortês. O amador louva a sua senhor e traça um retrato
idealizado da mesma, realçando quer as características físicas (cabelo loiro, pele clara), quer as características
morais (bom senso, bem falar). O poeta deve ser discreto e não nomear a sua dama, respeitando-a e
submetendo-se a ela.
Cantigas de maldizer – Têm uma dimensão satírica, em que o trovador e o jogral apontam o dedo a algumas
figuras da sociedade, situações e comportamentos e fazem-no de forma direta, nomeando os visados e usando
uma linguagem clara, satírica, por vezes até violenta e grosseira.
Cantigas de escárnio – Têm a mesma dimensão satírica que as cantigas de escárnio, mas apontam o dedo de
forma indireta, no especificando quem ou qual era o alvo, recorrendo a uma linguagem mais camuflada e
irónica. Alguns dos temas destas cantigas, assim como das de escárnio são o carácter dramático do amor
cortês, evidenciado na morte de amor, mas também os comportamentos imorais de alguns elementos do clero
ou a vida miserável de alguns elementos da nobreza. Oferecem-nos, assim, um retrato mais completo da
sociedade daquele tempo e de alguns dos seus protagonistas.
Estas composições têm marcas específicas, sobretudo no que diz respeito à estrutura, isto é, à
organização e arranjo que os versos assumem nas composições poéticas. As cantigas de amigo
caracterizam-se por uma estrutura estrófica e rítmica que aproxima a poesia da música. Tal resulta do facto
de estas cantigas recorrerem a dois processos (em simultâneo ou isoladamente): o refrão – repetição de
um mais versos no final de cada estrofe – e o paralelismo.
PARALELISMO: repetição simétrica de palavras, estruturas rítmico-métricas ou conteúdos semânticos. Nas
cantigas de amigo, o paralelismo vê-se frequentemente no leixa-prem, um processo de articulação estrófica,
pelo qual o 2º verso da 1ª estrofe é retomado no 1º verso da 3ª estrofe, e o 2º verso da 2ª estrofe é repetido no
1º da 4ª estrofe, e assim sucessivamente, mantendo invariável o refrão, ao mesmo tempo que cada par de
dísticos realiza um paralelismo semântico, como na seguinte cantiga de Martin Codax:
En Vigo, no sagrado,
bailava corpo delgado
amor ey!
perfeito ou puro, se a repetição tem o encadeamento (o 2º verso de uma estrofe é o 1º verso da estrofe
Comparação – relação de semelhança entre duas entidades, duas realidades que assim se aproximam,
alternada subsequente);
estabelecida por uma expressão comparativa.
Ex.: “e quen for louçana, como nós, louçanas”
imperfeito, se está isolado em cada par de estrofes.
Ironia – manifestação através da qual se dá a entender o contrário do que se diz; por exemplo, parece que se
está a elogiar, quando, na verdade, se está a criticar, a ridicularizar ou mesmo a desprezar algo ou alguém.
Ex.: “feze-s’ el em seus cantares morrer; / mais ressurgiu depois ao tercer dia” (alusão à ressurreição de
Jesus Cristo)
Personificação – atribuição de qualidades, comportamentos, sentimentos típicos dos seres humanos a seres
inanimados, a animais irracionais, a elementos da Natureza ou a objetos.
Ex.: “e eu ben vos digo que é san’ e vivo” (resposta das flores do pinheiro à pergunta do sujeito poético da
cantiga).
Quanto ao estilo, podemos dizer que se destacam recursos expressivos como a comparação, a ironia e a
personificação.