Magias Do Amor

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AS MAGIAS DE AMOR: DAS

NOTÍCIAS HISTÓRICAS AOS


SORTILÉGIOS REALIZADOS
NOS TERREIROS DE BELÉM*
Taissa Tavernard De Luca**, Fábio Oliveira De Sena***

Resumo: este artigo tem por objetivo analisar as práticas magicas realizadas nos terreiros
de Belém com intuitos afetivos. Estes sortilégios, comumente denominados de
“amarrações”, possuem vasto lastro histórico. Práticas semelhantes foram en-
contradas durante a colônia, por autores que se debruçaram sobre a documenta-
ção inquisitorial como Souza (1986), Freyre (2003) e Meyer (1996). Recuperare-
mos esses trabalhos a fim de tentar verificar as ressignificações e atualizações de
tais práticas no interior das religiões afro-brasileiras da atualidade. A pesquisa
de campo foi realizada em três templos da capital paraense, sendo um de umban-
da, um de tambor de mina e um de candomblé ketu. As técnicas usadas foram a
etnografia de rituais mágicos e a entrevista com sacerdotes e clientes.

Palavras-chave: Magia de Amor. Sortilégio. Religiões Afro-Brasileiras.

E
  ste trabalho tem por objetivo central analisar as fórmulas mágicas, conhecidas nos
terreiros de Belém como “magias de amor” ou “feitiços de amor”. Faremos uma
breve incursão pela história colonial e pelos documentos inquisitoriais, apontan-
do práticas que ainda hoje são realizadas, etnografamos rituais e definimos sím-
bolos utilizados, analisando a lógica própria das ações e das palavras proferidas.
Cabe mencionar que tais práticas são comuns a todas as matrizes afro-religiosas
e por isso entrevistamos sacerdotes de diversas nações. As pessoas que acessam

–––––––––––––––––
* Recebido em: 30.10.2020. Aprovado em: 22.03.2021. As entrevistas que constam no texto
foram feitas e são de responsabilidade da autora e do autor do artigo.
** Doutora em Ciências Sociais (UFPA). Mestra em Antropologia (UFPE). Graduada em
História (UFPA). Professora na UEPA (Ciências da Religião, de Sociologia e Antropo-
logia). E-mail: taissaluca@gmail.com
*** Mestrando em Ciências da Religião (UEPA). Graduado em Ciências da Religião (UEPA).
E-mail: fabiooliveiradesena@gmail.com

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tais serviços nem sempre são adeptos das religiões afro-brasileiras, funcionam
como “clientes” em busca da resolução de problemas.
Algumas questões nortearam nosso interesse de pesquisa: Por que essas pessoas não
resolvem seus conflitos amorosos em seus templos religiosos de origem? Por
que não buscam seus próprios líderes religiosos para solucionar seus proble-
mas de causa amorosa? Não vamos aqui nos atrever a dar respostas efetivas,
pois este texto tem caráter de uma nota prévia, de uma pesquisa maior, em an-
damento. Todavia, sugerimos uma crença na eficácia da magia que ultrapassa
o pertencimento religioso.
Denominamos de religiões afro-brasileiras a todas as matrizes radicadas ou criadas em
território nacional a partir de cosmogonias e cosmologias advindas do conti-
nente africano, institucionalizadas como templos a partir da segunda metade
do século XIX, nas principais capitais do Brasil tais como, Salvador, Rio de
Janeiro, São Luís, Belém e outros estados.
Esses grupos religiosos se organizam em “nações” constituídas a partir da origem ét-
nica. Adoram deuses plurais que muitas vezes são ancestrais divinizados ou
representações das forças na natureza. São matrizes religiosas que cultuam um
sagrado imanente que se apresenta a partir da experiência extática.
Essas matrizes possuem características próprias que as distingue umas das outras, to-
davia sustentam elementos que as unificam em torno do termo guarda-chuva
religiões afro-brasileiras. Além do sagrado não transcendente e da manifesta-
ção a partir do transe mediúnico, destacamos panteão composto por uma di-
versidade de deuses, adorados por de cantos, danças e de um sistema de dádiva
(MAUSS, 1974) popularmente conhecido como “oferendas”.
Estabelecem relação de horizontalidade entre o humano e o não humano. O homem é
parte da natureza, e a mesma respeitada e consagrada. Esta natureza, mani-
festada na forma de energia, assume o corpo humano construindo um tripé de
integração (natureza, homem, divindade).
Tratam-se de agrupamentos étnicos formados a partir do processo iniciático. Perten-
cer a uma nação, não significa nascer biologicamente em um país de origem
africana, mas simbolicamente através da “feitura”1 em um templo sagrado que
possui com a terra originária, ligação ancestral. Constrói-se linhagens, geral-
mente unilineares, entre o terreiro de pertencimento e o continente africano,
mais especificamente aos antigos reinos pré-coloniais. O local destinado a
essa iniciação é, muitas vezes, conhecido pelos próprios afro-religiosos como
“útero” pois gera um novo ser – sentido do termo feitura – que pertencerá a
uma nova família e possuirá um novo nome.
Esta família representa um sistema hierárquico rígido que valoriza ancianidade. Ser
ancião significa ter sito “feito” a mais tempo, endossando uma idade simbó-
lica que desconsidera a fisiologia. Constroem estruturas hierárquicas rígidas

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que faz circular o conhecimento entre os mais velhos e entre os iniciados e o
silencia2 para os não feitos. Trata-se de uma estrutura de segredo onde tudo é
repassado pela oralidade, pela vivência, pela ritualidade e pelo mito, a medida
em que o indivíduo vai galgando status.
Composta por sujeitos que pertencem ao mesmo sistema religioso, eles comungam de
uma única visão de mundo comum e adoram os mesmos Deuses. Essas pessoas
desenvolvem pertencimento com a matriz religiosa e podem ser classificadas
como fiéis. No entanto existe um outro grupo de pessoas que circulam pelos
terreiros3, sem de fato se identificarem como afro-religiosos. São pessoas que
pertence a outras religiões (católicos, espíritas e até evangélicos)4e procuram
os sacerdotes afro em busca de resolução de problemas. A eles dá-se, comu-
mente o nome de clientes que expressa uma relação capitalista de “contrata-
ção” de serviços sagrados.
Muitos são os serviços procurados nos terreiros entre eles destacamos serviços para
recuperação da saúde. Pessoas com as mais diversas disfunções orgânicas,
buscam a cura sagrada. Nos terreiros cura-se erisipela (chamada por alguns
de Esípla), tuberculose, problemas femininos ligados a útero e ovário, dentre
muitas outras doenças. Há pessoas que acessam esses serviços para desfazer
malefícios feitos por terceiros e que possam estar incidindo sobre algum ele-
mento de suas vidas. Outros buscam atividades que amenize problemas finan-
ceiros como desemprego, dívidas, questões de trabalho e falta de clientes em
estabelecimentos comerciais.
Este artigo irá tratar dos mais famosos “trabalhos” realizados para clientes no interior
dos terreiros; os chamados serviços de amor que visam resolver mazelas rela-
tivas a afetividade e aos relacionamentos conjugais. O levantamento de dados
realizado por nós mostra que a grande maioria das pessoas que acionam os
templos para resolução desse tipo de aflição, pertencem ao sexo feminino.
Pessoas que estão sofrendo por separações dolorosas, traição e problemas de
potência sexual do cônjuge.
Os intentos dos informantes entrevistados variam muito, desde “trazer a pessoa amada de
volta”5, afastar amante, atrair um amor inacessível, prender o ser amado, fazer-se
desejável para atrair a atenção de alguém, entre outros. Nem todos os afro-religio-
sos praticam esse tipo de serviço e entre os que fazem, poucos assumem. Muitas
são as explicações dadas a isso. Alguns afirmam que o ser humano é volátil de-
mais e seu objeto de desejo oscila, portanto não vale mobilizar as forças sagradas
para atrair ou prender alguém. Outros simplesmente têm preconceito e omitem.
No entanto há os que se vangloriam de seu poder de manipulação energética
neste sentido e ganham dinheiro realizando esses serviços.
A partir do que foi dito apresentaremos os principais tipos do que é chamado historica-
mente de “magia de amor”. Os dados foram coletados em pesquisas de campo

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realizada com dois sacerdotes: um umbandista6, também iniciado no tambor
de mina7 e um candomblecista (ketu)8 que originalmente pertencia a umbanda.
Todos eles são radicados no Estado do Pará9.
Antes disso, mostraremos que essas práticas não são atuais, tendo referência a elas na
historiografia sobre o Brasil colonial, com diversas pessoas indiciadas pelo
tribunal da santa inquisição dada a prática dos sortilégios de amor.

UM PASSEIO PELA HISTÓRIA DOS SORTILÉGIOS DE AMOR

Não se pode afirmar que as práticas de manipulação mágica para fins afetivos, tenha
como berço a sociedade brasileira. Os autos inquisitoriais apontam muitas re-
ferências a essas atividades praticadas no medievo por mulheres chamadas
pejorativamente pelo termo “bruxas” e muitas vezes indiciadas pelos Tribu-
nais da Santa Inquisição. No nosso país, esses sortilégios são costumeiramente
atribuídos a cultura negra e as religiões afro-brasileiras, muitas vezes tratados
de forma discriminatória pelos adeptos das religiões cristãs, sobretudo por
grupos pentecostais e neopentecostais.
Gilberto Freyre, em seu clássico livro “Casa Grande e Senzala” (2003), reconheceu a
prática do que ele chama de “magia sexual” na sociedade colonial brasileira,
e mais especificamente entre os negros escravizados. Todavia justifica que a
origem desses costumes não remonta a sociedade africana, ou pelo menos, não
só a ela. Tendo como referência o primeiro volume de documentos relativo as
atividades do santo ofício no brasil, mais especificamente, em Recife. Aponta
a existência de vários casos de “bruxas portuguesas”. Suas práticas podem ter
sido resignificadas em território brasileiro a luz da cultura negra e indígena
(FREYRE, 2003).
Para o autor, o amor foi o grande motivo de busca de fórmulas mágicas no reino. Exis-
tiam, em Portugal, especialistas em sortilégios afrodisíacos e em reprodução
que foram úteis ao projeto colonizador de ocupação do novo mundo, uma vez
que eram procuradas para estimular o coito procriador. Muitas delas, quando
aprisionadas pelos tribunais inquisitoriais, recebiam penas de degredo para o
novo mundo para onde traziam suas crenças e práticas rituais.
Na sede da coroa lusitana o imaginário das chamadas “bruxarias” perpassavam às clas-
ses sociais e acessavam a própria estrutura do clero. Muitos eram os que a
temiam ou a praticavam. Freyre (2003) relata o caso do bispo português D.
Nuno, inquisidor que temia as bruxas e seus feitiços. Médicos recomendavam
sortilégios para infelicidade conjugal, boticários vendiam fórmulas para atrair
a pessoa amada. Segundo o autor, os portugueses aqui chegaram impregnados
com a feitiçaria de forma que as magias de amor africana, aqui se desenvolve-
ram com lastro europeu (FREYRE, 2003).

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No período colonial brasileiro, no entanto, quem passou a dominar essa prática foram
os negros. Usavam-na para diversas finalidades: “interesse de geração e de
fertilidade; proteger a vida da mulher grávida ameaçada por tantos males [...],
fecundação, desfaz(er) malefícios contra os lares, e proteção das famílias”
(FREYRE, 2003, p. 212).
A adaptação dos sortilégios de amor europeus às práticas culturais africanas pode ser
vista nos relatos do autor. O mesmo cita que “mulheres grávidas carregavam
bolsas de mandingas com pedra d’ara”10 (FREYRE, 2003, p. 212), fazendo
referência a uma reelaboração de um patuá confeccionado pelos negros mul-
çumanos, originalmente contendo trechos do livro sagrado, então proibido na
colônia.
Dado o sincretismo religioso institucionalizado através das ações catequéticas, “os
santos católicos eram acionados em meio a esses sortilégios. Essas mulheres
amarravam sobre o ventre cordão de são Francisco, no momento do Parto e fa-
ziam promessa para que Nossa Senhora do Bom Parto protegesse o seu nome
ao nascituro (FREYRE, 2003, p. 212).
O processo de adaptação inseriu ervas de conhecimento indígena e uso de animais da
fauna local nesses feitiços. Freyre (2003) registrou que mulheres infiéis para
enganarem o marido sem serem descobertas tomavam “uma agulha enfiada
em retrós verde, faziam com ela uma cruz no rosto do indivíduo adormecido,
cosiam depois os olhos do sapo (FREYRE, 2003, p. 213)”. O sapo também
era usado para manter o marido aos pés, bastando que a mulher mantivesse o
animal embaixo de sua cama, vivendo dentro de uma panela, alimentado com
leite de vaca ou costurando sua boca depois de nela depositar restos da comida
da vítima.
O morcego, o caranguejo, a cobra, a coruja, a pomba e o cágado podiam ser usados nos
sortilégios de amor. O caranguejo, por exemplo, era preparado com pimenta
da costa e usado para causar separação afetiva. Essa habilidade mágica, apro-
ximava os cativos dos senhores brancos interessados em serviços para mais
diversas finalidades. Senhores idosos usavam afrodisíacos para manterem-se
viris. A senhora para atrair o desejo do esposo oferecendo-lhes poções mági-
cas misturadas em alimentos como o café “servido com mandinga” dada a cor
e o gosto forte desse líquido que encobria os preparados.
Laura de Mello e Souza (1986), em seu livro O Diabo e a Terra de Santa Cruz, analisa
os processos inquisitoriais dos Tribunais do Santo Ofício o Brasil (Pernam-
buco e Pará) e classifica esses conjuros afetivos em algumas categorias quais
sejam; cartas de tocar, orações e sortilégios.
As cartas de tocar eram objetos onde estavam grafados o nome da pessoa amada a
quem se queria conquistar. Bastava que o ser amado tocasse esses elementos
para deixar-se seduzir. Vários exemplos são mencionados como a da “feiticei-

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ra” Celestina que possuía imãs, grãos colhidos às vésperas de São João, cordas
e ossos de enforcados e favas onde se escrevia o nome da vítima. “Para selar
a conquista, bastava tocar o amado com a fava” (MELLO E SOUZA, 1986, p.
228).
Muitas dessas cartas de tocar eram comercializadas nos centros urbanos brasileiros.
Em Salvador, durante a primeira visitação se indiciou Izabel Roiz que vendia
as mesmas e Francisco Roiz que as usava para conquistar o afeto das mulhe-
res. No Pará, um homem conhecido como Adrião Pereira foi processado por
empregar tais cartas pronunciando o nome do demônio (MELLO E SOUZA,
1986).
As orações eram fórmulas mágicas que invocavam a figura de Deus, dos santos católi-
cos, de São Cipriano ou até do Diabo com objetivo de fazer que o amado não
tivesse paz até não sucumbir ao afeto do enfeitiçador. A autora regista o caso
da portuguesa Antônia que usava as almas do purgatório em seus conluios
amorosos:

Almas, almas, as do mar, as da terra, as três enforcadas, as três arrastadas, três


mortas a ferro por amor. Todas vos ajuntares e no coração de fulana entrareis e
tal abalos lhe dareis por amor de fulano que ele não possa parar, nem sossegar
sem que o sim do casamento queira dar (MELLO E SOUZA, 1986, p. 23).

Além das almas a própria figura de Cristo e a sua cruz eram mencionadas através das
palavras mágicas. Diz a autora:

Fulano, a carne de Cristo te dou de comer, o leite da Virgem Santíssima te dou de


beber. Fulanos suspiros, ais e dores que a Virgem Santíssima deu quando viu seu
amado filho morto, os mesmos ais, e as dores mesmos suspiros e as mesmas dês tu
por mim a hora que comigo não vieres falar (MELLO E SOUZA, 1986, p. 228).

Nessa fórmula há de se perceber uma apologia ao sofrimento de Maria e de Jesus


jogado sobre as costas do amado se se estabelecer a situação de abandono.
Invoca-se as almas do purgatório, mas não a qualquer uma delas. Faz-se refe-
rência às sofredoras que possam assombrar o ser amado a fim de causar-lhe a
mesma caso ele se ausente.
Os sortilégios são ações rituais que visam trazer a pessoa desejada para perto. Maria
Joana, moradora do norte do Brasil e indiciada pelo Santo Ofício, defumava
suas partes íntimas com o fumo feito da resina de uma rã chamada de cunanaru
proferindo a seguinte oração: “Cunanaru, assim como tu principias a tua resi-
na dentro do pau, ali comes, ali bebes e nunca te apartas dela sem a acabares,
assim tu, fulano, nunca te apartes de mim” (MELLO E SOUZA, 1986, p. 231).

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Outro sortilégio frequente no norte do Brasil era lavar as partes íntimas, a
sola dos pés e o “sobaco” com água, raspar as solas dos pés com uma faca
e colocar tudo em um pilão para servir ao amado, de forma disfarçada, em
uma comida. Se esses sortilégios faziam parte das culturas negra e portuguesa,
ela também não estava ausente das indígenas que usavam a casca de árvores
para fins sexuais e atrativos. Havia uma árvore, na floresta nativa, denominada
“cauré juíra”. Era comum as índias baterem nos seus caules como se fossem
uma porta, ouvindo como reposta “Que queres?” Nesta hora mencionava-se o
nome da pessoa desejada.
Essa visão animista que acredita em uma natureza viva permanece até os dias atuais.
Frutos, folhas, cascas tem poder mágicos variados de alterar as diversas situ-
ações sociais. Muitas vezes se faz uso de seus elementos sob direcionamento
do sobrenatural.
Marlyse Meyer (1996) faz alusão a uma espanhola que em vida foi amante do rei Dom
Pedro (de Castela). Nascida no século XIV, descrita por sua beleza sustentada
no contraste da pele branca com os olhos negros, aparece na literatura espa-
nhola como a mulher que seduziu o rei e a tirou de sua esposa por meio de
feitiços de amor. Esta senhora, que nomeia ruas em Sevilha, teve vida e está
enterrada em Alcazar ao lado de seu amado.
Autores espanhóis como Pedro Lopez de Ayala a descrevem como uma mulher ardilosa
que insuflava a crueldade do rei fazendo-o matar a própria esposa para despo-
sá-la (MEYER, 1996, p. 107). Seu nome percorreu o velho e o novo mundo
através da literatura e da ópera. A exemplo menciona “Carmen” produzida por
Bizet, para contar a história da Cigana feiticeira que nomeia este canto lírico.
A protagonista descrita como feiticeira, usava o nome de Maria Padilha, para
conquistar o afeto de Dom José.
Pelo contato próximo que portugueses pobres, ciganos, mouros e negros escravizados
possuíam, durante o período colonial, em Portugal a alusão a este nome, cir-
culou pelas bocas das pessoas indiciadas por prática de “feitiçaria” ainda no
reino, cruzou o Atlântico com a escravização e com o degredo, adentrando
aos terreiros do século XXI. No imaginário dos terreiros de umbanda Padilha
vira uma entidade especializada em magias de amor. Muitas dessas fórmulas
permanecem resignificadas em dias atuais e é sobre a atualização dos sistemas
mágicos que nos debruçaremos a seguir.

OS TRABALHOS DE AMOR NOS TERREIROS DE BELÉM

Conforme já foi dito anteriormente, os dados sobre o uso dos sortilégios de amor na
atualidade, foram coletados a partir de entrevistas realizadas clientes e reli-
giosos afro-brasileiros. Entre estes últimos, entrevistamos dois sendo um da

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umbanda (e da mina), um do candomblé ketu11. Fizemos usos também, da
memória etnográfica de uma das autoras que transita pelos terreiros paraenses
há cerca de 24 anos.
Devemos ressaltar que por vezes existem muito mais do que fórmulas mágicas dentro
dos trabalhos realizados pelos pais de santo, há também conflitos morais e
religiosos em torno dessas práticas. Quem nos apresenta esses embates são
os próprios clientes, em grande parte católicos, evangélicos, espíritas, ou sem
vínculo religioso com nenhuma instituição religiosa.
O fato é que a sociedade brasileira crê na magia (MAGGIE, 1992) seja por temor, seja
por atração, seja por necessidade, seja por pertencimento religioso. Essa cren-
ça coletiva na ação mágica faz com que pessoas acessem esses serviços ofer-
tados pelos terreiros, se necessitadas, apesar das críticas duramente proferidas
por suas igrejas a esses templos.
Também é preciso destacar o trânsito religioso que existe entre terreiros e igrejas evangéli-
cas (pentecostais e neo-pentecostais) de forma que muitos dos atuais evangélicos
já tiveram, no passado, outro pertencimento religioso. No entanto, grande par-
te dos clientes oriundos de outras denominações buscam as religiões africanas
de forma subterrânea em função disso encontrar um conhecido no interior das
casas de santo gera, muitas vezes constrangimento.
Os clientes acreditam na eficácia desta magia, eles a buscam sabendo que poderão ter
os seus anseios realizados, porém, para os que são de outra vertente religiosa
(principalmente os de cunho cristão) há a compreensão do acesso ao proibido,
àquilo que não lhes é permitido por seus dogmas religiosos.
Em função do exposto é necessário afirmar que tivemos dificuldades em fotografar
esses rituais e num primeiro momento, até em presenciá-los. Uma das autoras,
por professar uma das religiões africanas aqui estudada, pode acessar essas
informações pela vivência e pelo contato com sua própria rede de parentesco
ritual. O outro pesquisador obteve informações junto a suas relações de ami-
zade composta pelos dois religiosos aqui estudados.
Muitos são os serviços de amor procurados. Trazemos o relato de uma cliente que fez
uso dessa magia, com o intuito de solucionar uma questão relacional que a
mesma estava vivenciando: 

Eu tenho uma namorada, porém minha mãe não aceita nosso relacionamento,
e isso é meio difícil pra mim, porque antes minha mãe gostava dela, mas depois
que a mãe soube que ela era minha namorada, ela não quis mais saber de papo
sabe [...] Ai a tia da minha namorada é mexida com macumba, é assim que fala?
[...] Então a gente foi pedir pra ela fazer um trabalho, que ia ser feito em dia
de lua cheia pra que a minha mãe voltasse a se aproximar da minha namorada
[...] e pra que eu e minha namorada fosse protegida, pra que o nosso amor fi-

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casse mais forte, pra gente poder suportar tudo isso, porque não tá fácil pra nós
[...]  (SOUZA, Larissa, Cliente, 2019)12.

Percebe-se que no caso acima relatado a busca se dá para resolução de um


conflito, que não se estabelece, necessariamente com o ser amado, mas por
causa de uma relação afetiva homossexual. A mãe da informante não aceita o
relacionamento afetivo da filha o que gera problema familiar. Para gerenciar
essa situação a narradora procura o terreiro, mesmo sem pertencer a religião.
É possível observar na fala acima não só uma situação de desconhecimento
da matriz acessada como também de preconceito, implícito no uso do termo
pejorativo “macumba”.  
Há pessoas que buscam serviços para afastar amante do cônjuge e restabelecer a har-
monia na relação, conquistar o ser amado ou se fazer atraente para o parcei-
ro. É possível afirmar que historicamente os terreiros têm sido procurados
também pelas profissionais do sexo em busca de se fazerem atraentes para
os clientes que frequentam as casas de prostituição. Nesse caso dois tipos de
serviços são realizados, um “atrativo”, direcionado ao corpo da profissional, e
outro no “estabelecimento comercial” a fim de atrair freguesia.
A comunidade chama de trabalhos “atrativos” ou “amarração”, a todos aqueles que
fazem uso da força mágica para tornar o cliente desejável manter o ser amado
preso a relação. Essa denominação “atrativo” pode ser utilizada também em
outros contextos. Por vezes os chamados banhos atrativos podem ser ministra-
dos para captar não só o ser amado, mas energias positivas e outras situações
benéficas a vida do sujeito.

Amarração, já tá dizendo, você tá tentando prender uma pessoa pra você. Isso
é uma amarração. Existi trabalho de..de. união.. vamos supor assim, que não é
uma coisa  que você está forçando, entendeu Um ponto de união.. um ponto de
união de anjo de guarda, que trabalha com o anjo de guarda daquela pessoa,
pra unir aquelas duas pessoas (...) não é uma coisa forçada. É uma coisa que
se tiver de acontecer... Vamos supor, se no destino tiver (escrito), se puder acon-
tecer aquelas duas pessoas. Essas duas pessoas vão chegar, vão se unir mais,
Entendeu. Às vezes, por exemplo, tem casal que tá em crise, é..é.. ou se separa-
ram.. por algum motivo, e os dois querem voltar.. voltar o relacionamento. Não
querem perder a pessoa que ama. (...) Aí a gente faz um ponto de união trazer essa
pessoa pra ver se a gente consegue unir esse casal. Vê o que é que tá acontecendo,
pra ver porque essa separação foi causada. Pode ser por algum trabalho de uma
outra mulher ou de algum outro homem. Porque assim, o cara se mete com  uma
mulher, ele tem a mulher dele, aí se mete com uma puta, a puta não quer perder
ele, porque ele tem muita coisa pra oferecer pra ela. Ela manda fazer o serviço

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pra virar a cabeça dele esse tipo de coisa, e as vezes ele sai de casa. Mas, não é
que ele deixou de gostar da mulher dele, mas aquela energia que foi feita tá for-
çando com que ele saia de casa e fique com aquela mulher, entendeu. Aí é como
eu digo, amarração, pra mim, quando ela é forçada, a pessoa nunca tem uma
felicidade completa, porque vai haver momento em que aquela pessoa vai ter
lucidez. Então, não é uma vida harmoniosa, é uma vida de altos e baixos. Hoje
tá bem amanhã não tá, hoje briga amanhã não briga, porque, não é uma coisa
natural. É uma coisa por uma energia, por uma magia, entendeu. Já o ponto de
união não.. Você tá fazendo pra unir duas pessoas que se gostam e que se tão
desentendendo por algum outro motivo. Ou é forçado por terceiros, entendeu,
ou às vezes.. o dia a dia, o estresse.. os aborrecimentos, esses tipos de coisa, que
acontece... Ou por uma decepção, acabam se afastando, mas se gostam.. mas
se separam, entendeu.. Então a gente tenta unir novamente, harmonizar a vida
desse casal pra que volte a ter a paz e eles possam conviver novamente junto
entendeu (TABARANÁ, Nivaldo, Sacerdote do Tambor de Mina, 2019).

O discurso acima estabelece uma diferença entre o que é “amarração” e o que é “união”.
Esta diferença perpassa pelo afeto prévio. Nos pontos de união há uma relação
prévia e duradoura – por vezes uma família – e algo incide de forma negativa
sobre essa relação. Na amarração existe sentimento de posse. Um sujeito que
ama, se atrai e sobretudo, quer estar com o outro. De outra forma, há uma se-
gunda pessoa que não ama, não quer. Esta última pessoa terá seu sentimento e
sua vontade manipulada pela ação mágica.
Para analisar a construção simbólica dessas magias precisamos entender o conceito
antropológico de magia. Não consideramos magia como sinônimo de “feitiça-
ria”. Não conferimos ao termo a conotação pejorativa que historicamente rece-
beu. A magia não é atributo específico das religiões de origem africanas, mas
está presente em todas as religiões, quiçá em outras áreas da nossa vida social.
Gostaríamos de recuperar o conceito elaborado por Frazer (1992), em sua obra Ramo
de Ouro, a despeito de todo etnocentrismo presente no texto, em função do
caráter evolucionista do autor. Limpamos seu conceito dos adjetivos negati-
vos que classificavam a magia como “falsa ciência”, “sistema espúrio de lei
natural”. Abstraímos também sua caracterização como sistema de pensamento
primitivo uma vez que o vemos reproduzidos até mesmo dentro dos espaços
de ciência como academia. Recuperamos desse autor a ideia de que a magia é
uma tentativa de manipulação da natureza que funciona através de duas leis; a
da similaridade e do contágio (FRAZER, 1992).
A lei da similaridade parte do pressuposto de que o semelhante atrai o semelhante e
a lei do contágio de que uma vez em contato eternamente em contato (FRA-
ZER, 1992). Essas duas leis mobilizam todo sistema mágico aqui analisado e

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se fazem presentes na lógica dos banhos, dos rituais, das velas, das palavras e
da entonação de voz.
Os trabalhos atrativos podem consistir em banhos ministrados sobre o corpo. Partindo
do conceito de Frazer (1992) podemos afirmar que a maior parte deles são ela-
borados com elementos que atendam ao conceito de “magia por similaridade”
(FRAZER, 1992). Utilizam ervas cheirosas que recebem nomes populares com-
pletamente simbólicos como “catinga de mulata”, “chama”, “carrapatinho”,
“agarradinho”, “chega-te a mim”, “vinde cá”, “rosa de todo ano”, “maria mole”,
“erva jabuti dentre outras”.
Pelos nomes é possível entender o intento do cliente. A grande maioria dessas plantas
são extremamente cheirosa, o uso da mesma dá a ideia da atração pelo olfato.
Podem ser associadas a outros elementos como mel e açúcar que atraem pelo
sabor gostoso do paladar.
Outras delas são utilizadas pelo potencial mimético de sua morfologia botânica.
O “carrapatinho”, por exemplo, é uma trepadeira que nasce geralmente,
no caule de árvores frondosas como a mangueira, sejam por meio das hastes
a que enrolam seja por órgãos especiais de fixação. De forma vulgar trata-se
de plantas que sobrevivem “trepando” em corpos de outras árvores ou suporte
que lhe serve de hospedeiro.
Esta definição traz um elemento importante para a análise. Usa-se uma planta que vive
presa a outra a fim de fazer o ser amado aprisionado a si próprio, gerando uma
situação de poder e de dominação sobre o sujeito alvo da magia. A vontade do
cliente de manter o ser amado a relação prevalece pela ação mágica.
Essa segunda definição pode conferir polissemia a palavra trepadeira que é um subs-
tantivo derivado do verbo trepar, utilizado na língua portuguesa vulgar como
sinônimo de manter relação sexual. Neste sentido banha-se com uma trepadei-
ra para se tornar atraente sexualmente.
Faz-se necessário pontuar que grande parte das trepadeiras estabelecem uma relação
de coodependência com as plantas onde se alojam, precisando das mesmas
para se manterem vivas. Ação semelhante é esperada da pessoa atraída pela
ação do “carrapatinho”. Essa perspectiva se faz presente nas orações muitas
vezes proferidas que pedem às entidades para que o ser amado “não sossegue,
não coma e não durma” até procurar reestabelecer o vínculo afetivo com o
cliente.
Outro elemento importante são os nomes populares conferidos à essas ervas, “cachorri-
nho”, “erva de jabuti”, “maria mole” certamente são utilizados com a intensão
de fazer a pessoa amada se tornar “besta”, atendendo a todas as vontades do
parceiro. Elas possuem uma conotação de submissão do sujeito alvo que se
torna incapaz (mole/lento) de esboçar reação contrária à do dominador. Trata-
-se de uma situação de dominação simbólica do cliente sobre seu afeto.

130 , Goiânia, v. 19, p.120-140, 2021.


A rosa todo ano é usada por três atributos, a beleza, o perfume e a perenidade. Até na li-
teratura a rosa é uma flor que suscita o afeto. Não podemos esquecer do clássico
livro de Antoine de Saint Exupéry O Pequeno Príncipe (1943), onde o protago-
nista se apaixona pela beleza desta flor e a protege em meio a uma redoma de
vidro, tentando evitar que qualquer mal a destrua. Nos banhos e unguentos são
utilizadas apenas as pétalas desta rosa uma vez que, em função da conotação
mimética, não se costuma incluir espinhos em trabalhos de amarração.

Porque o espinho, ele... Tu não gosta de uma planta que tu vai te furar? Então
geralmente planta de espinho é o contrário.. (,,,) Entende-se que vai dar espinho
vai espinhar.. Não vai atrair, então tem que ser uma planta que não dê espinho..
Uma planta bonita, (...) viçosa, que a gente veja e encha os olhos pra pessoa
cuidar (TABARANÁ, Nivaldo, Sacerdote do Tambor de Mina, 2019).

Muitas vezes além das folhas acrescida aos banhos pode-se ainda fazer uso da “bata-
ta” que serve de raiz a muitas dessas plantas. Geralmente corta-se a batata e
insere-se nela um papel com o nome da pessoa amada que será devidamente
enterrado. A planta que brotará dessa batata será carinhosamente cuidada pelo
cliente que pode inclusive banhá-la, em dias específicos com elementos atra-
tivos como o mel.
A ideia que essa ação mágica suscita é de plantar e cultivar a pessoa amada que nasce-
rá, para a relação, frondosa como o vegetal. Prende-se o ser amado e faz-se o
amor brotar:

Essas batatas que foram plantadas vão grelar, elas vão grelar. Vai dar planta tam-
bém, junto com aquilo que tá ali sempre. Ai a pessoa vai cuidar daquilo ali. Aqui-
lo ali vai ser sempre a pessoa… Ela vai cuidar daquela planta como se fosse a
pessoa que ela quer, o companheiro que ela quer, companheiro ou companheira
(TABARANÁ, Nivaldo, Sacerdote do Tambor de mina, 2019).

As ervas podem ainda servir para confecção de infusões, usadas como perfumes, mis-
turadas a sementes, óleos, cascas, extratos vendidos em perfumarias regionais,
e acrescidos de partes sexuais de certos animais considerados mitológicos ou
lendários como a bota. Essas infusões, depois de preparadas podem “dormir”13
por dias aos pés dos assentamentos14 de deuses e entidades conhecidos como
dedicados aos trabalhos afetivos. A função é adquirir o mana, a força vital,
dessas entidades (MAUSS, 1974).
Devemos ressaltar que aqui caberia perfeitamente a discussão sobre o poder uma vez
que a finalidade dos atrativos é a posse do corpo e do desejo de outrem através
dos atos mágicos.

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Teve uma cliente, minha amiga ela, era uma trans, assim que fala hoje né? Ai
sim, ela era bem de vida, ainda é né (...). Então, ela tinha uma fascinação por
um homem lá do trabalho dela. e o homem era casado, tinha filhos (...) Mas ele
era muito bonito, ela me mostrou ele. Tinha um rosto, um porte. Só sei meu que-
rido, que ela ficou fissurada nesse homem de uma maneira que eu nunca tinha
visto (..) Ela tava mesmo querendo chamar a atenção dele, (..) Mesmo sabendo
que não ia dar em nada, eu fiz esse trabalho pra gata (..) Se o trabalho pedia
um banho, ela queira tomar três, eu ia precisar de três velas, ela já vinha com
uma caixa de vela, se pedia um champanhe ela já vinha com um monte tudo
caro (...) No dia que eu fiz o trabalho dela na encruzilhada, meu filho, era tanta
vela, tanta fruta, tanta bebida cara, era uma fartura que eu nunca tinha visto em
toda a minha vida (..) Porque ela tava era louca por esse homem, ela dizia que
sonhava com uma noite de amor com ele (...) No fim das contas ela se declarou
pra ele, e aí meu filho, que o homem criou uma repulsa dela, disse que nunca ia
se interessar por outra mulher, porque ele amava a mulher dele (...) Disse que
não tinha nada a ver aquilo que al tava sentindo por ele, que não ia acontecer
nada entre eles (..) E ela ficou assim por ele por conta da gentileza dele com ela,
porque ele sorria pra ela, apertava a mão dela (...) Ela dizia que ele olhava pra
ela diferente (..) Ela acreditou mesmo que tinha uma coisa ali (CRUZ, Ubiratan,
Sacerdote do Candomblé, 2019)15.

Partes do corpo de animais são utilizadas para trabalhos de amor. Não se sacrifica esses
animais para fins de amarração, mas compra-se em supermercados ou feiras,
retirados de animais já abatidos para consumo alimentar a exemplo do coração
e do cérebro de boi. Na maioria o nome ou foto do ser amado é colocado den-
tro desses órgãos com a finalidade de transformar os sentimentos ou os pensa-
mentos do mesmo. O coração é devidamente preparado com outros produtos
de potencial atrativo como o mel e algumas oferendas votiva a orixá Oxum,
deusa africana ligada a sedução, a fertilidade e ao amor. Todos os ingredientes
são costurados (sentido de prender) e colocados aos pés de uma árvore fron-
dosa (que gera frutos, vida).
Na Amazônia existe um animal que é muito utilizado para essa finalidade, trata-se do
“tamaquaré”, um lagarto da espécie uranoscodon superciliosus, que habita es-
pecialmente as zonas alagadas próximas a rios ou igarapés. São muito conhe-
cidas no estado do Pará as práticas mágicas envolvendo esse animal, vendido
de forma clandestina, em feiras da capital.
O pó dele pode ser misturado a comida do ser amado ou o próprio animal vivo é posto
a andar em cima das vestes da pessoa a que se pretende amarrar. Vende-se
também um liquido denominado de “água de tamaquaré” onde se coloca a
roupas de molho dando em seguida para o afeto, fazer uso. Acredita-se que

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esse animal tem poder de “amansar”, tornando-o “besta”, suscetível a todas as
vontades de quem o amarrou.
A lógica da escolha deste animal talvez advenha de seus hábitos diurnos, ou da sua
estratégia de camuflagem que o torna imóvel por longas horas.

Existe uma crença popular que diz que usando preparos derivado do ta-
maquaré, como o chá ou o pó, pode deixar uma pessoa boba, sendo es-
ses preparos utilizados para “amansar” (para acalmar uma pessoa agres-
siva ou aliviar a raiva de alguém traído por sua esposa ou marido)
As pessoas que acreditam nessa lenda, fazem uma associação das característi-
cas biológicas do tamaquaré e os efeitos que seu uso deve gerar. Animais que
se movem lentamente (“lerdos”) e ficam imóveis para não serem notados, como
o tamaquaré, são usados para acalmar as pessoas (“lerdar”). Nenhuma dessas
“propriedades mágicas” dos tamaquarés foram cientificamente comprovadas,
e essa prática tem contribuído para ameaçar as populações desse lagarto na
Amazônia. Sem falar que comercializar, matar ou injuriar animais silvestres é
crime previsto em lei (PORTAL AMAZÔNIA, 2020).

O ovo e a maçã podem ser utilizados nesses serviços. A maçã é historicamente conside-
rada um símbolo de sedução. No mito cristão da criação do homem contado no
livro de gêneses da Bíblia sagrada, Eva, a primeira mulher, utilizou-se desse
fruto para atrair Adão a infligir as leis de Deus. É considerado o fruto da árvore
proibida e seu consumo foi uma ação de desobediência que levou o ser huma-
no a perdição. A maçã ficou simbolicamente associada ao pecado.

A maçã, você abre ela, (...) cava um pouco, tira um pouco do miolo. Ai dentro
vão algumas coisas de amarração, como mel, para dentro daquela maçã (...). Aí
fecha a maçã, sela ela ai vai cobrir ela. Tampar novamente com fita amarrada,
com fita de cores. O pessoal trabalha muito com vermelho e amarelo que é o
amor e a esperança. Aí tem gente que enterra na praia ou no pé de uma árvore
(TABARANÁ, Nivaldo, Sacerdote do Tambor de Mina, 2019).

O ovo é um óvulo fecundado que será chocado para nascer um novo ser. É símbolo de
nascimento de fertilidade e de fecundação. É fruto de um coito sexual e por
isso usado nas magias de amor. Em entrevista nosso informante confere outra
explicação:

O ovo ele é lacrado, já nasce lacrado (...) Então por exemplo, quando você vai
trabalhar com o ovo, você vai abrir a parte de cima, vai tirar aquela tampinha.
Esvazia o ovo, coloca algumas coisas dentro daquele ovo, referente a amarra-

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ção, depois você vai vedar aquele ovo com a parte da tampinha que tu tirou,
fechando com cola pra aquilo ficar preso ali dentro. Então você está selando
aquilo de novo, prendendo novamente. Aí você vai plantar aquilo (...) vai rezar
em cima e regar com água do corpo (TABARANÁ, Nivaldo, Sacerdote do Tam-
bor de Mina, 2019).

Os feitiços de amor podem estar diretamente vinculados aos de separação. Muitas ve-
zes para recuperar o marido perdido para uma traição, é preciso afastá-lo de
quem entrou na vida dele. Neste caso os sortilégios configuram-se num sis-
tema que se inicia com a separação e termina com o ponto de união. Se nos
atrativos, amarrações e uniões se usa elementos doces, cheirosos, ou afins, nos
rituais de separação a lógica se inverte. Para separar um casal usa-se urtiga,
pimenta, dos mais diversos tipos (especialmente as mais ardentes), fel de boi
e outras substâncias fedidas, ardentes e amargas.
Muitas vezes o nome do casal a ser separado é inscrito de ponta cabeça, misturado as
potências mágicas acima descritas e jogadas na maré vazante em noite de lua
minguante. As fases da lua e os movimentos das marés variam de acordo com
a intensão do sortilégio. Os que são feitos para atrair, fazer florescer, trazer de
volta, fazer crescer fazem uso da maré enchente e da lua crescente ou cheia.
Aquilo cujo objetivo é desfazer, levar embora, fazer morrer, faz uso da lua
minguante e da maré vazante.
Os pontos de união “funcionam como elo mágico entre a intenção amorosa do indiví-
duo e a entidade”, diz Pai Ubiratã (do Candomblé), invocada em auxílio. São
espécie de “altares” temporários armado em cima de desenhos riscados ao
chão, que representam a entidade invocada, ou a intenção do trabalho. Usa-se
velas dos mais diversos formatos, fotos, nomes, datas de nascimento e ou-
tros produtos atrativos já citados anteriormente como mel. Em cima deles os
sacerdotes realizam orações pedindo o intento do contratante a entidades da
umbanda ou a santos católicos como Santo Antônio, responsável por fazer a
mediação entre o humano e o divino (Pai Ubiratã, Candomblé).
Esses pontos de união são riscados com pemba em cores diversas. Trata-se de um giz
de composição calcária para traçar desenhos, corriqueiramente chamados de
“pontos” que representam entidades e simbolizam os serviços que estão sendo
realizados.
De acordo com informações fornecidas por pai Ubiratã, nosso interlocutor, a diversi-
dade de cores pode representar tanto a entidade responsável pela realização do
serviço como o intento do mesmo.
Existem ainda as magias correlacionadas a potência sexual. Muitas vezes os sacerdotes
são procurados para solucionar problemas afetivos causados por essa disfun-
ção. Podem também fazer uso desses sortilégios de potência para minar uma

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relação de traição, por exemplo. Para isso pode ser usado esperma masculino,
a ser colocado dentro de um vidro, misturado a álcool, preso e enterrado com
a finalidade de provocar impotência.
As secreções sexuais ou corporais são fartamente usadas como atrativo. Elas são in-
seridas em fórmulas que funcionam através da magia por contato (FRAZER,
1992). O exemplo mais conhecido é de coar o café a ser ingerido pelo afeto
na calcinha da pessoa que o deseja “amarrar”. A pratica é tão popular no
norte do país que virou tema de música em Belém. A cantora de brega, Gaby
Amarantos gravou música Xirley, que narra justamente a prática desse tipo
de magia de amor.

Saia vermelha, camisa preta / Chegou pra abalar / Quando tu for na casa dela,
lhe buscar / Ela vai preparar / Café coado na calcinha / Só pra lhe enfeitiçar /
E se tu for na aparelhagem / Tu vai ver só o que ela vai aprontar Eu vou sam-
plear, eu vou te roubar! (Roubar! Roubar! Roubar!) / Eu vou samplear, eu vou
te roubar / Eu vou samplear, eu vou te roubar! (AMARANTOS, Gabi. Xirley.
Belém: Som Livre: 2012).

Fios de cabelo, pedaços de unha, suor e outro elementos segregados do corpo do ser
amado também são alvo de ações mágicas. No caso do suor ele está entranha-
do nas roupas usadas do sujeito a ser seduzido, que são preferidas em caso dos
trabalhos de amor.
De uma forma geral, os serviços realizados por afro-religiosos podem ou não ser cobra-
dos. Existem sacerdotes que não possuem fonte de renda e que realizam ativi-
dades mediante a pagamento. Há os que acreditam que as mesmas são fruto de
um dom sobrenatural recebido e que, num circuito de dádiva (MAUSS,1974),
deve ser doado. Estes trabalham pela caridade e não fazem cobranças. Há os
que cobram certos serviços e outros não. Geralmente deixam de cobrar servi-
ços fundamentais a pessoas que não possuem condições financeiras de pagar.
Os serviços de amor, entretanto, são invariavelmente cobrados uma vez que
não são pensados como necessidade primordial:

Porque isso ai não é uma necessidade, isso é uma vaidade. Então geralmente
esses trabalhos eles são cobrados. (...) Você quer alguém, você tá querendo que
aquela pessoa seja sua, (...) isso ai não é uma necessidade, isso é uma vaidade
do ser humano, porque você pode muito bem procurar uma outra pessoa. Por
exemplo, se aquela pessoa não lhe quer, você pode procurar outro. Tem tanta
gente ai no mundo, é tão fácil você encontrar outra pessoa, sabe? Então isso
ai pra mim não é necessidade é vaidade. Então é..é.. como eu tô te falando tem
gente que.. tem pessoas que trabalham que não procura olhar o lado da outra

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pessoa. (...) Ele pode quer ver que não vai dar certo aquele trabalho, como ele tá
vendo que a pessoa tá tão desesperada e quer aquilo, ele vai dizer “Eu vou fazer,
se vai me pagar (TABARANÁ, Nivaldo, Sacerdote do Tambor de mina, 2019).

No panteão afro-brasileiro existem entidades que mais comumente realizam esses tipos
de sortilégios. São os exus, mais especificamente sua corruptela feminina ins-
tituída pela Umbanda, conhecidas como pombas-gira.

Geralmente, por exemplo, quando é pra exú é pomba gira, né?! Quando é cabo-
co geralmente é caboca mulher, porque os caboco homem dificilmente se mete
nisso. Muito difícil caboco homem trabalhar amarração, essas coisas. As amar-
rações geralmente é feita.. ou.. por pomba gira ou por cabocas mulheres, ou
pelo próprio macumbeiro, puro, porque ele não precisa tá atuado pra fazer o
trabalho.. muitas das vezes (TABARANÁ, Nivaldo, Sacerdote do Tambor de
Mina, 2019).

O informante constrói uma narrativa que reproduz a relação do feminino com a se-
dução. Podemos rememorar o ideal de perigo feminino presente no livro de
Gêneses a partir da figura de Eva. Foi ela a responsável pela perda do paraíso
e pela origem do pecado. Foi a emissária da cobra que usou a maçã para a
prática da desobediência.
Exu é uma das entidades mais importantes dos cultos afro-brasileiros, o senhor dos
caminhos, o mensageiro entre os deuses e os homens. Representa o movimen-
to, a “boca que tudo come”. Suas funções são diversas, sem ele nada se faz
dentro de uma casa-de-santo. Habita o espaço da rua onde são colocadas suas
oferendas. Possui relação com a sexualidade, mais especificamente a potência
e ao prazer sexual. Em função disso, seus assentamentos possuírem símbolos
fálicos. Foi sincretizado pelos cristãos com a figura do Diabo.
Nas práticas da umbanda, ganhou variação de gênero através da figura das pombas-gira
(BIRMAN, 1985). Dado o forte vínculo da religião com o espiritismo kar-
decista, exu ganha novo contorno assumindo, na lógica da evolução. Passa a
ser representado pela imagem das pessoas que vivem no espaço da rua. Além
do vínculo com os caminhos mantêm-se sua relação com a sexualidade. Exu
vira o malandro, o menino de rua e pomba-gira passa a ser caracterizada pelo
imaginário do feminino que circula por esse espaço, num tempo histórico onde
cabia a mulher estar restrita a casa.
Estas entidades são descritas como ciganas, prostitutas, mulheres da transgressão que
falam e gargalham alto, vestem roupas insinuantes e possuem autonomia sobre
a própria sexualidade. É a mulher “que possui sete maridos e ainda quer casar”
(doutrina de umbanda). Suas doutrinas as associam as práticas divinatórias como

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o jogo de baralho e as situam no tempo da madrugada. Caracterizam-na por seus
dotes sensuais e pela sua periculosidade. A mais famosa de todas elas é Maria
Padilha, a espanhola amante do rei D, Pedro (de Castela) que deixou a vida
na península ibérica para transitar pela literatura, pela ópera, cruzar o Atlântico
através das fórmulas mágicas das “feiticeiras” degredada (MEYER, 1996)
Além delas, algumas outras entidades femininas são acessadas para os feitiços de amor.
Cabocas de panteão da umbanda e do tambor de mina podem assessorar nesses
intentos, realizando rituais mágicos, ensinando rezas e indicando os santos que
devem ser invocados. Quando “puros”, ou seja, não incorporados os sacerdotes
podem realizar obrigações pedindo a deusa negra do amor (Oxum) por esta causa.
Os sacerdotes entrevistados, quando fazem uso desses sortilégios, seguem uma ética
com regras definidas. Muitos não aceitam trabalhar para separar casais com
união oficializada ou união estável de longa data. Casais com filhos também
são protegidos num intuito claro de preservação da família. O sacramento do
casamento é visto legítimo e não convém ser desfeito através de magia.
Se tal família foi desconstruída por um caso extraconjugal, a terceira pessoa é vista
como “intrusa” e será afastada para manutenção do eito familiar. Se a ameaça
familiar advém do gênio ou da violência de um dos cônjuges há serviços espe-
cializados em “amansar” usando ervas como “cala boca”:

Tem o cachorrinho, que assim como o cachorro é fiel ao seu dono, que a pessoa
seja fiel aquela pessoa, entende. Tem o cala boca.. que é pra não tá se rebarban-
do, calar  a boca pra aquela pessoa (DINORÁ, Ataíde. Pai de Santo, Sacerdote
da Umbanda, 2019)16.

Uma medida cautelosa é verificar, através de consulta divinatória ou de aconselha-


mento das entidades, a viabilidade da união pretendida. Essa afirmativa deixa
subjacente a crença em uma espécie de destino que acolhe e registra a possibi-
lidade da relação se estabelecer. Caso as projeções não sejam positivas a magia
de amor não será realizada.
A título de conclusão faz-se necessário informar que, de acordo com a crença coletiva o
efeito desses serviços possui prazo de validade de sete anos. Lembramos o ca-
ráter cabalístico do número sete que representa a transformação e a perfeição
divina e a aproximação entre humano e o divino. Foi no sétimo dia que Deus
finalizou a criação e com sua obra completa, pôde descansar. Neste sentido o
sete pode significar a completude e a perfeição da criação.
Conforme vai se aproximando do sétimo ano, a magia vai perdendo efeito, então os
problemas conjugais vão acontecendo com mais frequência de forma a amea-
çar a estabilidade do relacionamento. Neste momento é preciso refazer o sor-
tilégio a fim de garantir a permanência do afeto entre o casal.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar deste artigo trazer a baila um tema curioso e expor diversas receitas que re-
solvem problemas corriqueiros da vida social, é preciso concluir esse texto
informando que, em função do caráter de “sociedade secreta” das religiões
de matrizes africanas, os interlocutores repassam, durante entrevistas, apenas
uma parte do conhecimento mágico.
Por outro lado, os pesquisadores compromissados com a ética acadêmica, apesar de
adquirir certas informações, por vivência, não revelam nada além do que lhes é
permitido. Desta forma esses sortilégios são acompanhados de detalhes rituais
jamais mencionados, palavras por vezes proferidas de forma quase inaudível,
por entre os dentes do agente mágico.
Fazer uso dessas ações rituais sem conhecimento aprofundado de todos os detalhes
pode fazer surtir resultado contrário. Durante a coleta de dados tivemos co-
nhecimento de uma mulher que, manipulou pimenta malagueta para afastar o
esposo da amante e enterrou num vaso a frente de sua residência, provocando
uma grande briga com o cônjuge que teria culminado na separação.
Nesta medida deixamos a cargo dos desdobramentos dessas pesquisas a análise da
performance corporal, da entonação de voz e das fórmulas mágicas proferidas
que ora apelam a Nossa Senhora, ora referenciam as mais diversas devoções
santorais ora citam a figura do demônio em suas diversas acepções. A com-
posição visual dessas oferendas podem ser alvo de pesquisas vindouras numa
abordagem da estética das amarrações.
Também ficou fora dos limites desse trabalho as diversas velas mágicas utilizadas em
consonância com a manipulação das ervas e demais objetos mágicos. As mes-
mas já foram previamente analisadas em outro trabalho (OLIVEIRA, 2018),
no qual foi tratada não só a estética das velas, seus formatos e funções como
o simbolismo das cores.
Deve-se considerar a estrutura de segredo própria dessas matrizes religiosas, todavia a
importância desse referido texto está no caráter de produção de conhecimento
acerca das religiões africanas em território paraense, apontando suas ressigni-
ficações, sincretismos e apropriações, em especial dos símbolos e divindades
das religiões “dominantes” para o amor.

THE MAGICS OF LOVE: FROM HISTORICAL NEWS TO SORTILEGIES CARRIED


OUT ON  BELÉM’S YARDS 

Abstract: this article aims to analyze magical practices performed in the ‘terreiros’ (yards)


of Belém with affective intentions. These sorceries, commonly called “moorings”,
have a vast historical backing. Similar practices were found during the colony by

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authors who looked at inquisitorial documentation such as Souza (1986), Freyre
(2003) and Meyer (1996). We will recover these works in order to try to verify the
resignifications and updates of such practices within the Afro-Brazilian religions of
today. The field research was carried out in three temples in the capital of Pará, one
of umbanda, one of mine drum and one of ketu candomblé. The techniques used are
the ethnography of magical rituals and the interview with priests and clients. 
  
Keywords: Magic of Love. Sortilege. Afro-Brazilian Religions.

Notas
1 Feitura é sinônimo de iniciação.
2 O conhecimento é repassado para os mais novos de forma lenta através da oralidade e da
ação ritual. O acesso as informações acompanham a carreira religiosa do sujeito e considera
o chamado “tempo de aprender”.
3 Nome dado aos templos sagrados.
4 Podem ainda acessar os terreiros, na categoria de clientes, pessoas que não possuem per-
tencimento religioso nenhum.
5 Esse chavão é muito utilizado em panfletos comerciais que as cartomantes que distribuem
panfletos nos centros das grandes metrópoles oferecendo tais trabalhos.
6 Adepto da umbanda, religião nascida no Brasil, mais especificamente no eixo Rio-São
Paulo, que migrou para o resto do país na primeira metade do século. Caracteriza-se por
ser uma religião sincrética por identidade que adora os deuses africanos (orixás), cabocos
(ancestral da terra), pretos velhos (negro escravizado característico da lei do sexagenário),
exus (povo da rua) e erês (espíritos infantis). Sofre forte influência do Kardecismo a partir
das ideias de reencarnação, evolução, carma e caridade (NEGRÃO,1993).
7 Religião radicada no “eixo norte cultural” formado pelos estados do Maranhão (Nordeste
geográfoco), Pará, Amapá, Amazonas, etc... Oriunda da Costa Ocidental da África, antigo
reino do Dahomé, atual Benim. Recebe esse nome em função da referência do porto de
embarque desses negros, escravizados, o Porto de São Jorde Del Mina. Caracteriza-se pelo
culto aos Orixás, Voduns, Fidalgos Europeus e Caboclos (LUCA, 2010).
8 Religião cujo panteão e sistema ritual e de crenças são oriundos de cidades que compõe a nação
ou yorubá de fala yorubá. Caracterizam-se principalmente, pelo culto aos orixás (Luca, 2010).
9 Um dos sacerdotes mora no centro urbano da capital e faz seus trabalhos religiosos na sala
de sua casa. O outro mora no centro da cidade, mas possui terreiro em outro município da
chamada grande Belém.
10 Pedra colocada no altar, onde se celebra a eucaristia, fundamental para a igreja católica.
11 Quase todos os adeptos do candomblé (ketu, jeje e angola) no Pará, passaram previamente por
outras matrizes, sendo posteriormente iniciados nesta tradição. Neste sentido, é importante
mencionar que nosso informante possui duplo pertencimento. É iniciado e sustenta a identi-
dade Ketu, mas possui um terreiro a parte e pratica seus rituais de umbanda paralelamente.
12 Os nomes dos informantes foram quase todos trocados a fim de proteger a identidade dos
mesmos. Apenas um sacerdote pediu que seu nome fosse mantido no texto e foi atendido.
13 Termo utilizado quando um banho ou qualquer outro “remédio” é posto a frente do altar
sagrado de uma entidade, por um tempo determinado.

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14 Altar sagrado onde mora a entidade.
15 O referido sacerdote solicitou a substituição do seu nome para garantir o sigilo de sua
identidade.
16 O referido sacerdote solicitou a substituição do seu nome para garantir o sigilo de sua
identidade.

Referências
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do Pará (1763-1769). Petrópolis: Vozes, 1978.
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