Projecto Oficial
Projecto Oficial
Projecto Oficial
Apresentado por:
Ilda Marcelino Zemba e Ramiro Samuel dos Santos Matias
Orientador: Msc. Tandu Wulu
LUANDA 2023
[Título do documento]
FACULDADE DE ECONOMIA
UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO
DEPARTAMENTO DE GESTÃO
Apresentado por:
Ilda Marcelino Zemba e Ramiro Samuel dos Santos Matias
INTRODUÇÃO
Toda a empresa tem como um dos principais Objectivos o alcance do equilíbrio financeiro,
independentemente do seu porte ou segmento de actuação. Conseguir manter as finanças
em ordem, honrar compromissos e investir em novos projetos é fundamental para o
sucesso a longo prazo. E para alcançar esse equilíbrio financeiro, a análise financeira se
mostra como uma ferramenta indispensável.
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Problemática
O problema é constituído por um conjunto de questões lógicas e delimitadas que se
colocam ao tema, tendentes a encontrar através das hipóteses, uma solução e
esclarecimento do mesmo. Formular o problema consiste em dizer, de maneira explicada,
clara compreensível e operacional, qual a dificuldade com a qual nos defrontamos e
pretendemos resolver (ZASSALA, 2013).
Hipótese
Segundo Carvalho (2009, p. 122) a hipótese propõe uma resposta suposta, provável e
provisoria para o problema formulado. Com base nesta teoria formulamos algumas
hipóteses que servirão de fundamento á investigação:
H1: A empresa XYZ , apresenta uma estrutura financeira equilibrada.
H2: A empresa XYZ, não apresenta uma estrutura financeira
equilibrada.
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Objectivo Geral
Analisar a estrutura financeira da empresa XYZ.
Objectivo Especifico
Descrever os conceitos gerais sobre análise financeira;
Elucidar os indicadores do equilíbrio financeiro;
Apresentar a análise e interpretação dos resultados da empresa XYZ e demonstrar
sua condição de equilíbrio.
Justificativa
Considerando o facto de que uma análise baseada apenas em resultados contabilísticos
levam os gestores a enfrentarem dificuldades relacionadas com a gestão e manutenção dos
seus negócios, bem como a tomarem decisões erróneas por conta da limitação dos mesmos,
a escolha deste tema justifica-se pela necessidade que as empresas têm em analisar a sua
situação financeira e assim, facilitar os gestores na tomada de decisão. Permitindo a
elaboração de diagnósticos, para o bom aperfeiçoamento do controlo financeiro e o
crescimento empresarial. Além disso, essa pesquisa pode contribuir para a ampliação do
conhecimento sobre finanças empresariais e estimular a adoção de boas práticas de gestão
financeira pelas empresas, especialmente as pequenas e médias.
Instrumento de investigação
Para a realização da pesquisa de investigação utilizamos os seguintes instrumentos:
Balanço patrimonial;
Demonstração de resultado;
Demonstração de fluxo de caixa.
Cálculos no Excel,
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Tabelas,
Gráficos.
Delimitação do tema
O presente trabalho delimita-se na análise do equilíbrio financeiro de uma empresa. O
estudo será feito analisando as demostrações financeiras da empresa XYZ. Para o período
de 2019 à 2021.
Importância do tema
O tema em questão é bastante importante na medida em que permite aos gestores assim
como aos outros utilizadores da informação financeira conhecerem a viabilidade, a
estabilidade bem como a lucratividade de um negócio através da utilização de um conjunto
de instrumentos e métodos que permitem realizar diagnósticos sobre a situação financeira
de uma empresa, e assim averiguar se a estratégia adotada pela empresa lhe permite
alcançar o equilíbrio financeiro caso contrário, partir por uma que lhe permita alcançar tal
equilíbrio.
Metodologia
Segundo a descrição de Gil (2010,p16), a metodologia é o estudo dos métodos, isto é, o
estudo dos caminhos para se chegar a um determinado fim com o Objectivo de analisar as
características dos vários métodos indispensáveis, tais como: avaliar capacidade, limitações
e críticas aos pressupostos quanto a sua utilização.
Método: Segundo Ortega (p11), é o conjunto de diversas etapas ou passos que devem ser
dados para a realização da pesquisa.
Para o sucesso dos objectivos do presente trabalho, utilizou-se os seguintes métodos:
Método comparativo, advém da investigação de indivíduos, classes, fenómenos ou factos,
com vista ressaltar as diferenças e as similaridades entre eles. Este método vai ajudar-nos a
analisar e comparar as demonstrações de resultados bem como os balanços da empresa
XYZ nos anos em análise a fim de se determinar a estrutura da empresa. Gil (2010, p16).
Método de Exploração, tem como objectivo identificar o problema, suas características e
comparar os quocientes obtidos por um período determinado de tempo. Por meio da
mesma busca-se conhecer com maior profundidade o assunto de modo a torná-lo mais
claro ou construir questões importantes para a conclusão da pesquisa. (LAKATOS E
MARCONI,2003, P.80).
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Tipos de pesquisa
Pesquisa: Investigação e estudo sistemático, cujo objetivo é adquirir conhecimento a
respeito de um determinado assunto. Utiliza-se a pesquisa para buscar uma resposta ou
solução de um problema (teórico ou prático), utilizando-se o método científico. Ortega
(p10). Quanto aos tipos de pesquisas, neste trabalho usamos as seguintes:
Pesquisa bibliográfica: Segundo Gil (2010, p.28), denomina-se pesquisa bibliográfica
quando elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros,
revistas, publicações em períodos e artigos científicos, jornais, boletins, monografias,
dissertações, teses, material cartográfico, internet, com o objectivo de colocar o
pesquisador em contacto directo com todo o material já escrito sobre o assunto da pesquisa.
A pesquisa Bibliográfica, foi usada para se ter uma visão mais firme de diversos autores da
área em estudo, de forma a interpretar com precisão os relatórios da empresa.
Pesquisa descritiva: Observa, registra e analisa fatos ou variáveis colhidos na própria
realidade. Procura classificar, explicar e interpretar os fenômenos que ocorrem. Ortega
(p.12).
Para Gil (2010, p.24), a pesquisa descritiva tem como objectivo primordial a descrição de
característica de determinada população ou ainda o estabelecimento de relação entre
variáveis.
Pesquisa Exploratória: Tem como objectivo proporcionar maior familiaridade com o
problema para torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Na maioria dos casos essas
pesquisas envolvem: levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas relacionadas a
pesquisa e análise de exemplos. (Gil,2008). Esta pesquisa baseou-se nas demonstrações
financeiras obtidas na empresa, cuja análise assenta nos indicadores financeiros e
económicos (método dos rácios), bem como no equilíbrio financeiro da empresa XYZ.
Estrutura do trabalho
O presente trabalho está constituído por três capítulos:
I Capítulo: Conceitos sobre análise financeira
Este capítulo trata de um modo geral dos conceitos e objectivos da análise financeira.
II Capítulo: Método de análise de equilíbrio financeiro
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ÍNDICE
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financiamento Em suma:
1
Benzinho e Rodrigues, Analise económica e financeira, Escolar Editora, 1ª edição, pág. 13,
1995.
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A função ocupa um lugar importante entre a empresa no seu conjunto, através de várias
técnicas: Contabilidade, tesouraria, auditoria, fiscalidade, etc., que servem de base à
informática, a estatística, controlo de gestão, etc., e aos acionistas credores, fisco, etc.
Esta função prepara e executa as decisões financeiras e o seu poder de decisão depende da
dimensão e estrutura da empresa.
O poder da função financeira está associada a orientação e metas a atingir, não podendo
pôr em causa a política financeira da empresa. O que nos permite distinguir a preparação e
decisão é o papel da função financeira na definição da política geral e financeira.
Assim, é de salientar que a análise financeira pode ser realizada tendo em vista a situação
da empresa num dado momento – análise estática – ou, avaliar a empresa do ponto de vista
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evolutivo – análise dinâmica – sendo importante investigar o que aconteceu nos exercícios
económicos anteriores, para
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Todas as empresas necessitam de meios financeiros. Alguns desses meios são próprios, os
restantes são provenientes do exterior e constituem os chamados capitais alheios quer
exigíveis a curto prazo, quer a médio e longo prazo.
Portanto, a análise financeira, é um dos objectivos da função financeira, a qual, por sua
vez, se insere na gestão financeira (que tem por objetivo a gestão das tarefas/objectivos que
integram a função financeira) e global da empresa ao lado da gestão da produção,
comercial de recursos humanos, gestão de stock etc.
No âmbito de atuação a análise financeira tem como objectivos mais restritos, podendo ser
desenvolvida em duas perspetivas diferentes – interna e externa.
Análise financeira interna pode ser inserida no próprio departamento financeiro ou numa
área de controlo de gestão e visa acompanhar a evolução da empresa (equilíbrio financeiro,
rendibilidade e respectivos condicionantes).
a) O balanço;
b) A demonstração de resultados;
c) A demonstração dos fluxos de caixa;
d) Demonstrações das alterações do capital próprio;
e) Notas anexas.
Fornecedores e outros credores - Determinar se as quantias que lhes são devidas serão
pagas dentro do prazo. Avaliar a capacidade da entidade em operar de forma continuada,
caso estejam dependentes da entidade.
Público - Ajudar a avaliar a utilidade da entidade em diversos níveis como por exemplo a
capacidade de emprego e de desenvolvimento de negócios como cliente.
O BALANÇO
Para Aires Lousã, balanço é um mapa que representa a situação patrimonial da empresa
num determinado momento, em termos da sua composição e valor.
Capital
Activo próprio
Passivo
Activo: Representa o total das aplicações de recursos realizados pela empresa. Aplicações
essas que dependem de origens de fundo. Por sua vez, as origens de fundo são os capitais
alheios e os capitais próprios ou situação liquida (que resultam da diferença entre o activo e
capitais alheios).
O total das aplicações de fundos iguala a todo momento o total das origens de fundos,
podendo enunciar-se a equação fundamental do balanço.
de fundos
Estrutura do balanço
Passivos não correntes, que se espera que venham a ser pagos pela entidade num
período superior a um ano.
Passivos correntes, que se espera que venham a ser liquidados pela entidade num
período até um ano.
Demonstração de Resultados
Tendo em conta a situação actual do país, as empresas precisam rever e melhorar a gestão
dos recursos financeiros no intuito de obter o equilíbrio financeiro no curto prazo. A crise
leva as empresas a fazerem previsão dos seus pagamentos e recebimentos de forma
antecipada para que consigam fazer face às suas responsabilidades sem falhar.
Para João Carvalho das Neves, pode afirmar-se que a análise do equilíbrio financeiro da
empresa é particularmente importante para que o gestor possa tomar decisões quanto à
estrutura financeira da empresa, ou seja, para poder decidir acerca da forma de
financiamento do activo: capitais próprios e alheios. Esta análise assenta sobretudo na
apreciação das demonstrações financeiras da empresa e nos mapas elaborados a partir das
mesmas. Efectivamente, segundo Neves, “Para além das decisões de gestão que têm efeito
sobre os resultados operacionais, o gestor deverá tomar decisões sobre a estrutura
financeira, isto é, sobre a forma de financiamento do activo: capitais próprios e alheios”,
(Neves; 2003: 122).
APLICAÇÕES ORIGENS
AF CP
AC PC
Posteriormente, surgiu o conceito de fundo de maneio (quando existe valor para este
conceito, exprime uma margem de segurança) e de equilíbrio financeiro mínimo
tradicional. Segundo o IAPMEI, “Para colmatar a existência de rupturas de tesouraria é
necessário que a empresa disponha de uma margem de segurança (…) num excedente dos
capitais permanentes sobre o imobilizado líquido”. Quando os meios financeiros são
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suficientes para liquidar as dívidas que se vão vencendo (ou seja, quando o grau de
liquidez das aplicações é igual ao grau de exigibilidade das origens), a regra do equilíbrio
financeiro mínimo tradicional é satisfeita.
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Assim, os capitais utilizados por uma empresa para financiar imobilizações, existências ou
outros activos, devem permanecer à sua disposição durante um tempo que corresponda
pelo menos à duração dessa aplicação. Na prática, significa que não se deve financiar a
aquisição de imobilizado com um financiamento exigível a curto prazo. Deste modo, a
aquisição de bens e serviços destinados a ser incorporados no processo de produção da
empresa, poderá fazer-se com recurso a financiamentos de curto prazo, (Correia; 2004).
Deste modo, e considerando que ao longo da vida da empresa, esta terá de liquidar as
origens de fundos que se vão tornando exigíveis com as aplicações de fundos que se
tornam disponíveis, pode- se afirmar que o equilíbrio financeiro mínimo tradicional traduz-
se pela aplicação dos recursos financeiros obtidos em investimentos cujo grau de liquidez é
igual ao seu prazo de exigibilidade.
Contudo esta regra do equilíbrio financeiro mínimo tradicional tem vindo a ser criticada,
uma vez que não tem em conta a natureza dos débitos de curto prazo e respectiva
calendarização, e que não contempla a natureza e a eventual ocorrência de ruptura dos
elementos integrantes do activo circulante, (Menezes; 2001: 124). Ou seja, a contingência
do activo circulante tornou a regra do equilíbrio financeiro mínimo tradicional
desadequada, (Correia; 2004). Segundo palavras de Correia, “Ao não ter em conta a
velocidade de rotação do activo circulante, a regra de equilíbrio financeiro mínimo, (…),
resulta manifestamente insuficiente”, (Correia; 2004).
O balanço funcional mostra numa certa data, a aplicações e recursos relacionados com os
ciclos financeiros da empresa, qualquer que seja a sua situação jurídica.
Os ciclos financeiros são a resultante financeira das decisões tomadas na empresa aos
diferentes níveis: estratégico, operacional e financeiro.
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Segundo João Carvalho das Neves, a abordagem tradicional baseia-se em alguns princípios
orientadores: “o equilíbrio estará tanto mais assegurado quanto maior for o capital próprio
e menor o alheio”, “verifica-se tanto mais equilíbrio quanto mais os capitais permanentes
cobrirem os imobilizados e outros activos de carácter permanente” e “quanto maior a
rendibilidade do capital total em relação ao juro a pagar ao capital alheio, tanto melhor as
condições de equilíbrio a prazo”. Estes três princípios conduzem à análise dos rácios de
solvabilidade, de autonomia financeira, de liquidez (geral, reduzida e imediata) e do fundo
de maneio, (Neves; 2003: 124).
Para analisar o desempenho financeiro da empresa recorre-se ao método dos rácios. Estes
são um instrumento de apoio para sintetizar os dados da empresa e permitem a comparação
de vários anos, obtendo assim a evolução da empresa. No entanto, e de acordo com
palavras do autor acima citado, os rácios deverão ser analisados com alguma prudência
dado que apresentam algumas limitações, “tratam somente dados quantitativos”; “as
decisões de curto prazo podem afectar profundamente os documentos financeiros e os
rácios que lhe estão inerentes”; “a comparação dos rácios entre empresas do mesmo sector,
ou com médias do sector, pode ser falseada pelas diferenças das práticas contabilísticas das
empresas”; “não existe uma definição normalizada a nível nacional e muito menos
internacional de cada rácio”; “a contabilidade é feita a custos históricos, pelo que a inflação
verificada na economia afecta diferentemente as empresas”; “o apuramento de um valor
para um rácio individualizado não diz nada ao analista” e “a análise dos rácios baseados
em dados publicados e a sua comparação com a empresa assenta na pesquisa de
conhecimento sobre o passado”, (Neves; 2003: 97).
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noutros objetivos.
Na verdade, as decisões financeiras com vista a obter uma maior rendibilidade estão
associadas a um maior risco, da mesma forma que as decisões financeiras tendentes a
minimizar o risco geralmente apresentam uma menor rendibilidade. Assim salienta-se que a
gestão financeira de curto prazo, através da gestão do FM e da gestão da tesouraria, é um
mecanismo essencial para a elevação da rendibilidade das empresas e do seu valor.
Para Ross et al. (2008), a política financeira agressiva reduz as vendas futuras a níveis abaixo
das que poderiam ser atingidas por políticas conservadoras, sendo que estas últimas permitem
a cobrança de preços mais altos a clientes, na medida em que estes podem estar dispostos a
pagar mais pela rápida entrega e pelas condições de crédito mais acessíveis das políticas
flexíveis.
Prevê-se também uma menor probabilidade de paralisação da produção por causa de escassez
de existências para as empresas que adotem políticas mais conservadoras. O principal objetivo
da gestão do FM é manter um equilíbrio ótimo entre cada um dos seus componentes, pois
segundo Filbeck e Krueger (2005), o sucesso do negócio depende fortemente da capacidade do
gestor financeiro em gerir eficazmente as contas a receber, os inventários e as contas a pagar.
Uma empresa poderá adotar uma política agressiva na gestão do seu FM, mantendo um baixo
nível de ativos correntes no total de ativos, ou também (para as decisões de financiamento)
mantendo um nível elevado de passivos correntes no total de passivos da empresa. Níveis
excessivos de ativos correntes podem ter um efeito negativo na rendibilidade, porém um nível
baixo de ativos correntes pode levar a um défice de liquidez, resultando em dificuldades em
manter um bom funcionamento operacional (Van horne & Wachowicz, 2008).
duração do ciclo de produção, que é por sua vez influenciado pela natureza dos produtos
fabricados/comercializados pela empresa, o que também se reflete nos níveis de existências e
do crédito concedido a clientes. Quanto ao valor acrescentado o seu nível e estrutura
repercutem-se na tesouraria de exploração na medida que quanto maior for o valor
acrescentado menor será o montante de compras de materiais e, portanto, menor será o nível
de crédito permanente e renovável dos fornecedores correntes. De outro ponto de vista, e
relativamente à estrutura do valor acrescentado, quanto maiores forem as amortizações dos
ativos não correntes de exploração, menor será o nível de NFM.
Para Brealey et al. (2013) o problema do gestor financeiro está em prever as origens e as
aplicações futuras de disponibilidades, sendo que estas previsões têm a finalidade de oferecer
ao gestor financeiro um padrão ou um orçamento para avaliar o desempenho subsequente e
alertar o gestor para as necessidades de fluxos de tesouraria futuros, pois o dinheiro tem o
hábito de «desaparecer» rapidamente. Nesta linha, salienta-se que apesar de nem sempre as
previsões serem cumpridas, a execução de um adequado planeamento financeiro reduz as
possibilidades de se enfrentar apertos financeiros, como a falta de liquidez para o
financiamento da atividade da empresa ou para o pagamento das contas que se vão vencendo.
Deste modo, o planeamento financeiro de curto prazo assume-se como uma ferramenta
essencial para a estratégia de qualquer empresa, pois sem planear os primeiros passos, torna-se
mais difícil traçar um plano correto para o longo prazo.
de exigibilidade dos fundos utilizados para o seu financiamento. Assim sendo, a aquisição de
um equipamento cujo grau de liquidez é lento não deverá ser feita com fundos exigíveis a
curto prazo, mas sim com recursos financeiros que permaneçam na empresa o tempo mínimo
necessário para que sejam gerados meios líquidos suficientes para garantir o respetivo
reembolso, no caso do financiamento ser garantido por capitais alheios. Da mesma forma, a
aquisição de inventários por meio do recurso ao crédito de curto prazo é totalmente
justificável, pois espera-se que as receitas relativas à venda do respetivo ativo sejam
angariadas a tempo de se proceder ao reembolso do crédito contraído (Menezes, 2008).
Tradicionalmente o FM é utilizado como um dos principais indicadores de equilíbrio
financeiro, perdurando ainda nos dias de hoje uma certa tendência em considerar que uma
empresa se encontra em equilíbrio quando o FM for positivo.
No entanto é de se salientar que a análise do equilibro financeiro por esta ótica apresenta
algumas debilidades. Para Breia et al. (2014) trata-se de uma regra genérica, podendo não
significar a adequação de forma contínua das aplicações de fundos disponíveis para fazer face
aos passivos exigíveis num dado momento, até porque este princípio tem por base a análise de
dados estáticos relativos a um momento específico. Há que se ter em conta e comparar o grau
de liquidez dos ativos correntes com o grau de exigibilidade dos passivos de curto prazo, pois
ainda salientam os mesmos autores que não é indiferente um ativo de curto prazo constituído
fundamentalmente por clientes, ou existências, ou disponibilidades, e da mesma forma nos
passivos correntes há diferenças em termos de prazos (exigibilidade), possibilidade de
renegociação ou mesmo de renovação de cada componente.
Para Neves (2012) o princípio de equilíbrio financeiro mínimo (FM=0) não é suficiente para
assegurar o equilíbrio financeiro, porque existem rúbricas associadas ao ciclo de exploração
(como as existências, clientes e outras) que também necessitam de financiamento com caráter
de estabilidade. Assim, o FM deve ser visto como a fração de capital necessária ao
financiamento do ciclo de exploração. Ainda refere o mesmo autor que a conclusão de que o
FM tem de ser positivo parte de premissas falsas, pois a análise é excessivamente estática, o
que é incoerente com o princípio contabilístico da continuidade dos exercícios em que assenta
o balanço. Na realidade, o nível de FM ótimo está dependente de diversas variáveis, onde se
destacam a natureza e o volume de atividade. Já para Menezes (2008) este princípio decorre da
importância tradicionalmente atribuída ao conceito de FM e desconsidera a natureza e
velocidade de rotação dos componentes do capital circulante, e a natureza e calendarização dos
prazos de vencimento da dívida de curto prazo.
Uma empresa poderá cumprir momentaneamente este princípio e mesmo assim se encontrar
com graves problemas de tesouraria a curto prazo, para tal basta que o capital circulante seja
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Fundo de maneio
O FM representa a parte dos capitais permanentes de uma empresa que não é absorvida no
financiamento dos ativos não correntes, e como tal poderá ser canalizado para o financiamento
(parcial ou total) das necessidades do ciclo de exploração. Neste âmbito destaca-se que o
capital permanente deve financiar o ativo não corrente e servir de margem de segurança
necessária para fazer face a imprevistos ou diferenças relevantes entre os prazos de
exigibilidade do passivo e de realização do ativo. Segundo Breia et al. (2014, p.74) «(…)
deverá ainda cobrir as rúbricas de curto prazo afetas ao ciclo de exploração e não cobertas pela
própria exploração (fornecedores) dado que tem caraterísticas de «imobilização» (renovação
de forma mais ou menos continuada)». Constata-se no FM uma natureza essencialmente
estática, dado que a sua evolução temporal depende de variáveis empresariais de natureza
essencialmente estrutural: as políticas de investimento em ativos não correntes, as políticas de
amortização do imobilizado, a rendibilidade global, a política de distribuição de dividendos e
também as políticas de financiamento (Silva, 2010). Desta forma e de modo a ser coerente
com o princípio de continuidade em que assenta a realização das demonstrações financeiras, a
sua análise não deve ser dissociada da natureza e nível de atividade, da rendibilidade e da
tesouraria de exploração empresarial, conferindo assim um maior valor à sua avaliação.
Quando positivo, o FM representa a parte dos capitais permanentes que se encontra disponível
para financiar o ciclo de exploração. Apresentando um valor negativo, significa que parte dos
fundos não estáveis estão a financiar ativos não correntes, o que, por si só, é um fator de
fraqueza da estrutura financeira, que acarreta riscos (Neves, 2012). Porém um FM negativo
não significa necessariamente desequilíbrios financeiros, dado que os níveis de FM têm de
estar em linha com as exigências de capital do ciclo de exploração. Ora, por vezes o ciclo de
exploração é totalmente financiado pelos fornecedores, de modo que não é necessário a
existência de uma margem de segurança para fazer face ao desfasamento temporal existente
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Assim sendo, a adequação do FM pressupõe uma análise prévia à estrutura do ativo circulante,
quer sob a perspetiva do equilíbrio financeiro, quer sob a perspetiva económica ou da
maximização da sua rendibilidade. Salienta-se que a eficácia da avaliação estática do FM é
estreitamente condicionada pela evolução a curto prazo do autofinanciamento e do nível e
estrutura das aplicações de fundos, dado que grandes variações destes parâmetros poderão
provocar problemas de liquidez não detetáveis pela análise do FM existente num determinado
momento. Assim sendo, o estudo isolado do FM sem qualquer comparação com as NFM e
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com a evolução da tesouraria de curto prazo, apenas nos faculta meras indicações sobre a
situação de liquidez da empresa num momento perfeitamente localizado (Menezes, 2008). A
inexistência de uma correta adequação do FM pela sua insuficiência, poderá levar a um peso
exagerado dos créditos de funcionamento (fornecedores, outros credores e créditos de curto
prazo), fazendo com que a estrutura financeira das empresas esteja permanentemente sob
pressão, dando lugar ao incumprimento das responsabilidades assumidas e à diminuição dos
proveitos operacionais porquanto do consumo exagerado de recursos pela função financeira.
Referem Pires (2006) e Ferreira e Macedo (2011), que embora uma situação de desequilíbrio
financeiro de curto prazo não traduza, necessariamente, uma situação de fracasso empresarial
na medida que este desequilíbrio poderá ser resultante de uma estrutura de financiamento
desadequada, é importante ter a noção que não raras vezes, processos de insolvência iniciam-
se com desequilíbrios financeiros de curto prazo que vão deteriorando a exploração e, numa
espiral de dependência de recursos de curto prazo insuficientes, entram em processo de
insolvência. Por outro lado, o excesso de FM dado pelo FM superior ao que é exigido pelas
condições normais de funcionalidade, leva a uma quebra nas rendibilidades quer seja porque
representa capitais subaproveitados, quer porque se incorreu em financiamentos desnecessários
e, consequentemente se está a suportar incorretamente o custo desse financiamento. Por tudo
isso, conclui-se que o FM só assume a sua eficácia na avaliação do equilíbrio financeiro de
curto prazo, quando a sua análise estiver associada aos níveis de capitais exigidos pelo ciclo de
exploração, assegurando a manutenção da atividade normal da empresa. Salienta-se ainda que
é fundamental a correta adequação dos níveis de FM, dado 19 que um FM desajustado
influencia negativamente a tesouraria, os resultados e consequentemente o valor da empresa
(Baños-Caballero et al. 2013b).
As NFM representam os montantes de fundos que a empresa necessita aplicar para financiar a
sua atividade e fazer face ao desfasamento temporal existente entre a aquisição de existências e
o recebimento das vendas efetuadas (Pais, 2014), ou seja, é o conjunto de necessidades cíclicas
cujo financiamento não se encontra assegurado pelo conjunto dos recursos cíclicos. Uma
empresa no arranque do seu ciclo de exploração tem de assegurar um determinado montante de
capital para arcar com as despesas operacionais prévias ao recebimento por parte dos clientes,
nomeadamente para a compra de matérias-primas ou quaisquer outros produtos, pagamento ao
pessoal e fornecimento dos serviços externos, etc. Ademais, muitas vezes o ciclo de
exploração subsequente tem início antes do recebimento das vendas do ciclo de exploração
anterior, originando uma necessidade permanente de FM para o financiamento do ciclo de
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exploração.
Tesouraria líquida
Como mencionado, o FM representa um indicador essencialmente estático, pelo que a sua
análise não deve ser dissociada da natureza e nível de atividade empresarial, devendo-se
promover uma análise comparativa com o nível das NFM. Da diferença entre estes dois
conceitos (FM e NFM) resulta a TL.
TL = FM - NFM
Essa relação sugere que para um maior equilíbrio estrutural da situação de tesouraria, o FM
deverá no mínimo igualar as NFM, ou seja, TL=0. É claro que o caso da rigorosa igualdade
entre o FM e as NFM, não é mais do que uma hipótese académica, sendo na realidade o seu
acontecimento, algo casual e necessariamente passageiro. Porém, manter uma tesouraria
próxima de zero, é a expressão de uma lógica de gestão financeira coerente. A prática da
tesouraria zero protege a empresa contra riscos simétricos que constituem por um lado, a
eliminação do excesso de liquidez duradoura e, por outro lado, a dependência face às entidades
que concedem empréstimos a curto prazo (Duarte, 2009).
a definição de equilíbrio financeiro. Na análise da TL, verifica-se que quanto mais elevadas
forem as NFM, maior será a pressão sobre a TL. Então grandes quantidades de existências,
saldo de clientes elevados resultantes de períodos de créditos excessivos atribuídos aos
clientes, atrasos no pagamento e deficiências no processo de cobrança, poderão provocar
graves problemas de tesouraria, que em última instância, no caso de não se verificar o reforço
estável dos capitais permanentes, poderão conduzir a processos de insolvência. Todavia, tendo
em consideração que o balanço reproduz a situação da empresa num determinado momento, há
que se perceber se a situação da tesouraria atual (positiva ou negativa) resulta de situações
pontuais, ou se pelo contrário está-se perante uma situação recorrente. Segundo Breia et al.
(2014, p.80) «(…) problemas pontuais poderão ter soluções pontuais, enquanto que os
problemas mais graves, recorrentes, implicarão soluções estruturais (alterações a nível das
origens de fundos ou alterações a nível económico, políticas de gestão)».
Assim, a gestão do crédito a clientes é importante pois sem ela há uma grande probabilidade
de constituição de níveis excessivos de contas a receber, que levariam a fluxos de caixa em
declínio. A má gestão das contas a receber resulta em dívidas incobráveis que reduzem os
níveis de rendibilidade e liquidez da empresa. Nas últimas décadas várias pesquisas têm sido
desenvolvidas de forma a estudar os prós e contras do investimento em contas a receber. Por
um lado, o crédito comercial concedido é caro e envolve um custo de oportunidade. Além
disso, o crédito comercial concedido aumenta o nível de investimento em ativo circulante
envolvendo o risco de incumprimento por falta de pagamento, de modo que a sua concessão
pode ter efeitos negativos sobre a rendibilidade e a liquidez (Cheng & Pike, 2003). Por outro
lado, algumas motivações para a concessão de crédito incluem a redução dos custos de
transação, a estimulação das vendas em períodos de baixa procura por relaxar as condições de
crédito (Emery, 1984), a redução da assimetria de informação entre o comprador e o vendedor
(Pike, Cheng, Cravens & Lamminmaki, 2005), e o facto deste crédito funcionar como um
mecanismo de discriminação de preços entre clientes que usufruem do crédito e aqueles que
pagam a pronto (Petersen & Rajan, 1997).
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Nas PME’s o nível de crédito é influenciado essencialmente pela rotação do ativo, ao passo
que nas grandes empresas existem mais fatores que influenciam o nível de crédito concedido,
como o custo da dívida, a rendibilidade operacional das vendas, a liquidez, a solvabilidade, a
margem bruta e o setor de atividade onde a empresa se insere. As empresas com maior
margem bruta concedem mais crédito comercial aos clientes, de forma a poderem praticar uma
discriminação de preços legal e a poderem usufruir de relações comerciais com esses clientes
por mais tempo.
No que diz respeito à duração do período de crédito, diversos fatores têm influência, porém
dois dos mais importantes são o período médio de permanência dos produtos em armazém e a
duração do ciclo de exploração. Cetéris paribus, quanto menores forem estes dois fatores,
menor será o período de crédito concedido (Ross et al., 2008).
Salienta-se também que a concessão de crédito é muitas vezes uma questão de sobrevivência e
não de escolha, pois pode ser inerente ao tipo de negócio que a empresa pratica, podendo ser
um fator determinante de sucesso ou fracasso da empresa, pois esta pode perder os seus
clientes para a concorrência se não conceder créditos comerciais. Dentro da gestão da conta
clientes, os descontos de pronto pagamento (descontos financeiros) representam uma prática
recorrente aquando das vendas a clientes. Para Ross et al. (2008), o motivo pela qual são
oferecidos é a agilização do recebimento do valor das vendas, como forma de reduzir o
montante de crédito oferecido e também constituem uma forma de cobrar preços mais
elevados dos clientes que receberam crédito. Para Menezes (2008, p.153) «constitui uma
forma de redução do PMR e do risco de concessão de crédito, mas o seu nível não deve ser
dissociado das taxas de juro vigentes no mercado para operações de prazo idêntico». Para Ross
et al. (2008) regra geral, o montante ideal de crédito é determinado pelo ponto na qual os
fluxos de tesouraria incrementais do aumento das vendas são exatamente iguais aos custos
incrementais do aumento no investimento em contas a receber.
Segundo Keynes apud Ross et al. (2008) no seu clássico trabalho «A teoria geral do emprego,
juros e moeda», a detenção de disponibilidades numa empresa decorre dos motivos de
transação, especulação e precaução (reserva de segurança). O motivo de transação está
relacionado com o caixa necessário para pagar as contas, onde se inclui o pagamento de
salários, dívidas comerciais, impostos e dividendos. O motivo especulativo é a necessidade de
reter caixa de forma a aproveitar possíveis oportunidades vantajosas como por exemplo a
descida repentina de preços de produtos, o surgimento de taxas de juros atraentes e ainda, no
caso de empresas internacionais, as flutuações favoráveis de câmbio. E por último o motivo de
precaução, que nada mais é que a necessidade de manter uma reserva de liquidez como
segurança. Além dos motivos enunciados por Keynes para a detenção de disponibilidades, a
literatura recente vem aprofundando o tema, levantando novas questões e expondo outros
motivos para a sua detenção. Amess, Banerji e Lampousis (2015) sem refutar os motivos de
agência e de precaução, questionam a sua intensidade na medida em que apesar dos avanços
mundiais em tecnologia, e apesar das reformas nos mercados de capitais (permitindo uma
melhor gestão de inventários, a melhoria do acesso ao financiamento e instrumentos de
cobertura avançados), os níveis de caixa ainda assim vêm aumentando de forma contínua e
rápida nas empresas de todo o mundo nos últimos 30 anos.
o mundo apresentarem cada vez maiores níveis de caixa nos seus balanços. Salientam Ross et
al. (2008) que numa gestão eficiente do FM, o investimento em caixa deverá ser o menor
possível, somente ao nível necessário para manter as atividades operacionais diárias de forma
eficiente e eficaz. Brealey et al. (2013) por sua vez defendem que o gestor financeiro deverá
deter disponibilidades até ao ponto em que o valor da liquidez marginal é igual ao dos juros
não recebidos, na medida em que quando se tem apenas uma pequena quantidade da sua
riqueza em dinheiro, qualquer quantia adicional pode ser extremamente útil, mas quando se
tem uma posse substancial, qualquer liquidez adicional não vale muito.
Brealey et al. (2013) afirmam que o gestor financeiro deverá manter um equilíbrio entre o
custo de manter «existências» em disponibilidades (a perda de juros) e os seus benefícios (a
poupança dos custos de transação), ponderando bem as consequências da escolha entre
disponibilidades e títulos de curto prazo. Salientam os autores que se os meios líquidos forem
investidos em títulos rendem juros, mas por outro lado, não se paga as faturas da empresa com
títulos, e se tiver que os vender de cada vez que paga uma fatura, pode-se incorrer em grandes
custos de transação, principalmente em grandes empresas em que os custos de transação de
títulos são triviais se comparados com o custo de oportunidade de manter disponibilidades
paradas. Assim fica claro que a gestão do disponível exige uma permanente procura de
equilíbrio entre o trade-off risco vs rendibilidade, pois quanto maior for o nível de
disponibilidades, menor será o risco financeiro, mas simultaneamente, menor será o contributo
[Título do documento]
destes elementos ativos para a rendibilidade total da empresa. É certo que a detenção de
grandes «existências» de fundos reduz o risco de ruturas de tesouraria, e assegura o
cumprimento de todas as obrigações de curto prazo, garantindo assim o normal funcionamento
da empresa. Porém há custos de manutenção de fundos sem movimentação, que resultam da
não aplicação destes fundos em títulos negociáveis, pelo que de forma a maximizar o valor da
empresa pela contribuição dos fundos líquidos na rendibilidade empresarial, os fundos
excedentários devem ser eliminados.
Gestão de existências
As existências compreendem as matérias-primas, produtos em vias de fabrico, ou mercadorias
à espera de serem vendidos, constituindo em muitas empresas uma importante fatia do total de
ativos de curto prazo. Tal como a gestão das disponibilidades e a gestão do crédito concedido a
clientes (contas a receber), a gestão das existências baseia-se no trade-off maximização da
rendibilidade vs minimização do risco. Também à semelhança das contas a receber, os níveis
de existências dependem consideravelmente das vendas, mas enquanto as contas a receber
aumentam depois de serem realizadas as vendas, as existências devem ser adquiridas antes das
vendas. Ora isto constitui uma diferença crítica, pois a necessidade de quantificar previamente
as vendas antes do estabelecimento dos níveis ideais de inventário torna a gestão de existências
uma tarefa complexa (Weston & Brigham, 2000). Na literatura, as pesquisas relacionando o
nível de inventário à performance empresarial têm crescido consideravelmente nas últimas
décadas. De entre estes estudos, a ideia mais aceite é a do paradigma stock zero, que associa
reduções de inventários com maiores índices de rendibilidade. Segundo este paradigma o
inventário é um elemento oneroso, que só se torna necessário por causa de problemas não
resolvidos em vários processos do negócio, ou seja, o inventário de exploração não resolve
problemas, mas esconde dificuldades (Obermaier & Donhauser, 2012). Robert W. Hall foi um
dos primeiros autores americanos a descrever a política japonesa just-in-time (JIT), que é um
processo de aplicação prática do paradigma stock zero, sendo um caso de grande sucesso e de
notoriedade por parte de gestores de todo o mundo aquando do início da sua aplicação. Hall
(1983) esclarece que a política stock zero não significa que as empresas devem desenvolver a
sua atividade literalmente sem inventários, mas em vez disso o stock zero indica um nível de
perfeição nem sempre atingível num processo produtivo, porém requer um elevado nível de
excelência, sendo importante porque estimula a busca pela melhoria constante através da
atenção tanto para a tarefa global como para os detalhes minuciosos.
em vez disso um processo dinâmico que surge e evolui em resposta ao poder e interesses dos
stakeholders. Então os resultados sugeriram que embora a relação entre os níveis de inventário
e o desempenho da organização seja negativa em fase de crescimento inicial e na fase da
maturidade, é positiva na fase de crescimento rápido. Da análise aos diferentes estudos é
percetível que na literatura da gestão de operações predomina o paradigma stock zero, que
associa menores níveis de inventários com a melhoria da rendibilidade empresarial. Vale
salientar que apesar do tamanho e da importância do investimento em existências, em algumas
empresas o controlo efetivo deste não está sob a alçada direta do gestor financeiro, sendo esta
função remetida para o gestor de aprovisionamento, o gestor de produção e o gestor comercial.
Contudo, segundo Weston & Brigham (2000), mesmo nesses casos o gestor financeiro está
vitalmente preocupado com esta componente do ativo corrente, pois tem a responsabilidade de
acompanhar fatores que afetam a lucratividade geral da empresa, e como em geral as
existências têm uma proporção significativa nos ativos totais, logo um mau controlo
prejudicará efetivamente a lucratividade.
disponíveis para as instituições financeiras. Assim nesses casos, os fornecedores têm um custo
de avaliação de crédito inferior ao das instituições financeiras (Lewellen, McConnell, and
Scott apud Elliehausen e Wolken, 33 1993), estando assim mais disponíveis para a concessão
de crédito. Por outro lado, o comprador para continuar a ser fornecido tem de pagar as compras
anteriores. Já as restrições de crédito surgem principalmente devido às imperfeições no
mercado do crédito bancário. Muitas vezes as empresas consideradas de alto risco financeiro, e
principalmente as empresas de menor dimensão encontram grandes dificuldades no acesso ao
crédito bancário, dado que os credores recusam ou limitam o montante de crédito a conceder a
essas empresas. Então, devido a estas restrições, as empresas recorrem ao crédito comercial
como substituto ou complemento ao crédito bancário (Elliehausen e Wolken, 1993). Nilsen
(2002) examinou a resposta do crédito comercial aos choques monetários do ponto de vista do
canal do crédito bancário nos períodos de recessão económica. O autor considera o crédito
comercial como sendo um substituto natural dos empréstimos bancários, documentando que
quando os bancos diminuem a oferta de empréstimos provocam um choque monetário, logo a
procura por crédito comercial aumenta. Refere ainda o autor que as pequenas empresas
utilizam o crédito comercial numa proporção superior às grandes empresas, dado a maiores
dificuldades no acesso a outras formas de financiamento. Outros estudos como Choi e Kin
(2005) e Love, Preve e Sarria-Allende (2007), salientam também que dado a escassez da oferta
de crédito por parte das instituições financeiras durante os períodos de recessão económica, as
taxas de juro costumam subir, aumentando assim a procura por crédito comercial como
substituto do crédito bancário. Porém salientam estes estudos que a disponibilidade do crédito
comercial tende a diminuir nesses períodos, dependendo o financiamento por esta via ainda em
maior escala, do poder negocial e da reputação das empresas quanto ao cumprimento das suas
obrigações de crédito. Para além dos fatores já mencionados, outras determinantes do crédito
comercial costumam ser apontados na literatura sobre o tema, nomeadamente a antiguidade, o
crescimento do volume de negócios, os níveis de cash flow e o setor. Falando da antiguidade,
as empresas no início de suas atividades apresentam um reduzido ou mesmo nulo historial
junto das instituições financeiras, recorrendo assim maioritariamente ao financiamento por
dívida comercial. Porém, segundo Garcia-Teruel e Martinez-Solano (2010), dado que estas
empresas possuem ainda um vínculo fraco com os seus fornecedores, os níveis de crédito
comercial recebido são mais reduzidos, comparativamente com as empresas mais «maduras».
Contudo a relação entre a idade e o crédito comercial recebido pode não ser tão linear, na
medida que algumas empresas em início de funcionamento podem conseguir níveis elevados
de crédito comercial, principalmente quando iniciem a relação com os seus fornecedores
mesmo antes do início das atividades, levando a que os fornecedores tenham acesso a
relatórios detalhados sobre os projetos da empresa cliente, dos produtos e da possível carteira
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Estrutura financeira
O estudo da situação financeira das empresas envolve dois aspetos distintos: a gestão
financeira de curto prazo e a estrutura financeira. A primeira abrange essencialmente a gestão
do capital circulante e da dívida a curto prazo, bem como a gestão da tesouraria, ao passo que a
estrutura financeira da empresa abrange fundamentalmente a análise e a composição dos
capitais permanentes (capitais próprios vs capitais alheios exigíveis a médio longo prazo).
Na verdade, estes dois aspetos, apesar de se preocuparem com fenómenos diferentes, estão
intimamente ligados, dado que o equilíbrio estrutural da tesouraria apenas se encontrará
assegurado quando os capitais permanentes reais se situarem ao nível dos capitais permanentes
adequados (Martinez-Sola et al. 2013a). A análise da estrutura financeira está profundamente
ligada à problemática do valor, do risco financeiro e do custo de capital de uma empresa. Nesta
linha, a estrutura financeira óptima é aquela que por um lado maximiza o valor da empresa e,
ao mesmo tempo, minimiza o custo de capital e o risco financeiro. Assim sendo, quando os
capitais permanentes reais se situarem próximo do nível adequado, encontrar-se-ão
tendencialmente preenchidas as condições ideais para a minimização do risco financeiro e do
custo de capital, fatores estes que influenciam profundamente a autonomia financeira duma
empresa e o seu próprio desenvolvimento (Cuñat, 2007).
Modigliani e Miller (1958) foram dos pioneiros na investigação sobre as determinantes que
influenciam a estrutura de capital das empresas, publicando esse estudo através do artigo
clássico «The Cost of Capital Corporate Finance and Theory of Investment». Nesse estudo, os
autores contrariam a visão tradicional que defendia a existência de uma estrutura de capital
ótima, negando a existência de uma combinação ideal entre capitais próprios e capitais alheios
que maximiza o valor da empresa e minimiza o custo do capital, alegando que a forma como a
empresa se financia é irrelevante para o seu valor e para o custo do capital. O estudo foi
desenvolvido num contexto de mercados de capitais perfeitos, caraterizados pela ausência de
impostos, inexistência de custos de agência, de falência e de transação, e ainda a inexistência
da assimetria de informação.
A teoria do trade-off foi desenvolvida por Miller (1977), defendendo a existência de uma
estrutura de capital ótima que maximiza o valor de mercado das empresas, resultante de 39 um
trade-off entre benefícios fiscais e os custos de insolvência financeira associados ao
endividamento. Assim sendo, esta teoria desenvolve-se assente em duas bases:
O reconhecimento do endividamento como fator gerador de vantagens para a empresa,
resultantes da poupança fiscal, caso a empresa tenha capacidade de produzir resultados que
permitam usufruir deste benefício fiscal;
A noção de que apesar do endividamento produzir vantagens através da poupança fiscal, a
partir de um certo nível, o endividamento leva a uma elevação do risco de insolvência
financeira da empresa e, consequentemente, dos custos de insolvência, influenciando
negativamente o valor da empresa. Segundo Mira e Garcia (2003), o endividamento possibilita
também o surgimento de custos de agência da dívida, resultantes da relação conflituosa entre
acionistas e credores, incluindo, entre outras fontes, os gastos em que incorrem os credores
com a vigilância dos acionistas, com o intuito de salvaguardar os seus interesses. Para Antão e
Bonfim (2008), as principais conclusões desta teoria sobre o nível de endividamento estão
relacionadas com a rendibilidade das empresas, sendo que esta terá um impacto positivo sobre
o rácio de endividamento devido a três razões:
Em primeiro lugar, à medida que a rendibilidade aumenta, os custos de falência
diminuem, possibilitando que as empresas acumulem níveis de dívida mais elevados;
Em segundo lugar, segundo DeAngelo e Masulis (1980) apud Antão e Bonfim
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Assim, ao necessitar de recursos, as empresas não devem optar por emitir ações, já que as
mesmas poderão ser subvalorizadas pelos investidores, que não dispõem de informações
suficientes para definir o seu preço justo. Myers (1984) constatou ainda que as empresas mais
rentáveis são as que recorrem menos ao financiamento externo, documentando a partir daí que
as empresas com rendibilidades elevadas tendem a ter baixos níveis de capitais alheios, dado
que os fluxos gerados internamente são suficientes para financiar os seus investimentos. Por
outro lado, as empresas com rendibilidades baixas e cujos fluxos gerados não são suficientes
para financiar os seus investimentos, apresentam níveis de endividamento superiores,
financiando os seus investimentos através de recursos externos. Assim sendo, a principal
contribuição da teoria do pecking order consiste na identificação de uma ordem de fontes de
financiamento adotada pelas empresas, resultante da existência da assimetria da informação.
Em outras palavras, o facto dos insiders e o mercado possuírem informações diferentes sobre
as empresas, faz com que as mesmas optem por seguir uma hierarquia de fontes de
financiamento para que a assimetria de informação não seja prejudicial à organização (Matias,
2007). Embora existam teorias diversas a cerca da estrutura de capital das empresas como
podemos constatar ao longo deste subcapítulo, a realidade e o comportamento das empresas
nem sempre conseguem ser explicadas convenientemente pelas teorias financeiras, de forma
que não há um consenso geral sobre esta matéria em termos teóricos
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