Direito Romano - Textos Sobre A Monarquia
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Aos notáveis pelo seu nascimento, elogiados pelas suas virtudes e considerados humildes e
pobres. Chamou aos da classe mais necessitada plebeus, que os gregos chamariam demoticoí.
Aos da classe melhor chamou patres, já por serem maiores de idade que os outros, já porque
tinham filhos, já pela sua linhagem, já por todas estas razões juntas. [...] ... aqueles homens
foram chamados patres e os seus descendentes patrícios.
Rómulo, depois de ter distinguido os poderosos dos humildes, deu leis de acordo com isso
e dispôs o que cada grupo devia fazer. Os patrícios, realizar as funções religiosas,
desempenhar os cargos, administrar justiça e dirigir com el os assuntos públicos, dedicando-
se ao que respeitava à cidade. Os plebeus estavam excluídos de tudo isto por não serem
competentes nestas ocupações e não terem tempo para elas por causa da sua escassez de
meios; deviam cultivar a terra, criar gado e dedicar-se a ofícios lucrativos para evitar sedições,
como sucede nas outras cidades quando os que têm cargos ultrajam os humildes, ou a
multidão e os pobres invejam as autoridades. Aos patrícios entregou-lhes os plebeus como
depósito, ordenando que cada plebeu escolhesse o que quisesse como patrono. [...] Rómulo
prestigiou a relação com um nome adequado, chamando patronato a esta proteção dos
pobres e humildes; atribuiu a uns e outros funções úteis fazendo desta mútua dependência
algo benéfico e social.
Depois disto fixou os direitos e poderes que queria que cada classe tivesse. Para o rei reservou
estas honras: em primeiro lugar a supremacia nas celebrações religiosas e sacrifícios e a
realização de todos os atos sagrados dirigidos aos deuses. Para além disso, ter a custodia das
Direito Romano – FDUL – Ano letivo 2024/2025
Assistente: Carmela Arianna Martone
leis e tradições pátrias; velar por tudo o que é justo tanto por natureza como por convenção:
ser pessoalmente juiz nos delitos mais graves e confiando os leves aos senadores cuidando
que não haja nenhum erro nos seus juízos; reunir o Senado convocar o povo, dar a sua
opinião e executar o decidido pela maioria. Tais prerrogativas deu ao rei, e ainda ter poder
absoluto na guerra. Ao conselho do Senado deu a seguinte honra e poder: deliberar e dar o
seu voto sobre tudo o que o rei lhes propusesse e impor o que se decidisse por maioria. [...]
À multidão plebeia outorgou estes três privilégios: escolher magistrados, ratificar leis e decidir
sobre a guerra quando o rei o pedisse; ainda que a sua autoridade não fosse nisto
inquestionável, a não ser que também o Senado decidisse o mesmo. O povo não dava todo
de uma vez o seu voto, mas [era] chamado por cúrias. A decisão da maioria das cúrias levava-
se ao Senado.
Rómulo [...] nomeia cem senadores, quer porque este número fosse suficiente, quer porque
só houvesse cem homens que pudessem ser eleitos senadores (patres). Certo é que foram
chamados patres pela sua honorabilidade e os descendentes destes patrícios.
Assim, cem senadores partilham entre si o poder, organizando-se em dez decúrias, das quais
cada uma delas nomeava um dos seus para estar à frente do Estado. Governavam os dez,
mas só um deles detinha as insígnias do poder e os litores; o poder terminava ao fim de cinco
dias e cabia a todos rotativamente. Houve assim um ano de intervalo entre os dois reinados.
É por esta razão que este facto, que ainda agora conserva o mesmo nome, foi chamado de
interregnum. [...] Como os senadores se apercebessem desta agitação, considerando que
deveriam oferecer espontaneamente aquilo que haveriam de perder, ganham desta forma o
favor do povo entregando-lhe o poder supremo, com a condição de não perderem mais
direitos do que aqueles que detinham. Efetivamente, determinaram que, elegendo o povo o
rei, isto só tivesse valor legal se fosse ratificado pelos senadores [patres auctores fierent]. Ainda
hoje, nas propostas de leis ou na eleição de magistrados, este mesmo Direito é adotado, mas
sem o seu significado inicial: antes que o povo comece a votar, o resultado incerto dos
comícios é autorizado pelos senadores [patres auctores fierent]. Então, o interrex, convocada a
assembleia, "que seja bom, fausto e frutífero", disse, "Quirites. Elegei o rei. Esta foi a
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resolução dos senadores. Depois, se for digno, os senadores ratificarão aquele que será
contado o segundo depois de Rómulo". Isto de tal forma foi bem aceite pela plebe que, para
que não parecessem vencidos por aquela benesse, somente deliberaram e ordenaram que o
Senado decretasse quem reinaria em Roma.
No ano seguinte (à morte do Rómulo) não foi nomeado nenhum rei pelos romanos; ocupava-
se dos assuntos públicos um governo, que chamam interregnum, designado desta maneira:
os patrícios inscritos no Senado por Rómulo (o seu número era de duzentos, como disse)
foram divididos em grupos de dez. Logo, depois de escolhidos à sorte, entregaram o governo
da cidade com poderes plenos aos dez que calharam em primeiro lugar. Mas não reinavam
todos ao mesmo tempo, mas cada um sucessivamente durante cinco dias em que detinha as
varas do comando e os restantes símbolos do poder real. O primeiro, depois de reinar,
entregou o comando ao segundo e este ao terceiro, e assim até ao último. Decorridos para
os primeiros dez os cinquenta dias fixados, outros dez tomaram o poder e depois deles de
novo outros. Quando o povo decidiu pôr fim aos decenviratos, cansados das mudanças de
poder porque nem todos tinham as mesmas intenções nem as mesmas qualidades, os
Senadores convocaram então o povo para a assembleia por tribos e cúrias, e puseram à sua
consideração a forma de governo, se queria confiar o poder a um rei ou a magistrados anuais.
O povo não fez a escolha por si mesmo, em vez disso remeteu a decisão para os senadores,
pensando que os cidadãos ficariam satisfeitos com qualquer governo que eles aprovassem.
Todos decidiram estabelecer um regime monárquico, mas suscitou-se uma dissensão acerca
do grupo de que sairia aquele que devia reinar. Alguns, com efeito, pensavam que o que ia
dirigir a cidade devia ser escolhido entre os primitivos senadores e outros de entre os inscritos
mais tarde a quem chamavam novos senadores.