Cultura Y Religion - Artigo
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Cultura Y Religion - Artigo
Resumo
Abstract
From March to July 2010, I conducted fieldwork in National Congress with the Frente
Parlamentar Evangélica when I attended evangelical cults, public hearings, regular
meetings in the committees and in the Plenary and events organized by evangelicals.
Among the many events that I witnessed, I chose to analyze the Seminar "The Family ,
the Church and the Programa Nacional de Direitos Humanos/PNDH-3", held in March
of 2010 , which aimed to promote "christian unity" to fight against "lewd content of the
National Program of Human Rights to brazilian family" in view of the imminence of
majoritarian elections . In that event, the evangelicals mobilized the "prophetic voice of
the people of God" because, as representatives of the moral majority, they should
oppose the idea of human rights advocated by minorities would favor relativistic values
at odds with the values of the religious culture of the christian society brazilian.
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No primeiro dia de campo, para minha surpresa, “descobri” que a FPE realizava
cultos em um dos plenários da Casa legislativa todas as quartas-feiras (Duarte, 2012).
Considerando a importância antropológica destes rituais passei a frequentá-los e logo
fui convidada pelo Pastor Isaías5 (secretário da FPE) a participar de um “evento da
Frente” que seria realizado na quarta-feira seguinte no salão Mario Covas: o Seminário
“A Família, a Igreja e o Programa Nacional de Direitos Humanos/PNDH” organizado
pela FPE e pela Jornada Nacional em Defesa da Vida e da Família6.
Sendo assim, no dia do Seminário me dirigi a Câmara dos Deputados a fim de
observar o evento. Quando cheguei ao Auditório por volta das 8h30min cerca de quinze
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Para isso, segundo Henrique Afonso (PV-AC), o Povo de Deus deveria estar
unido a fim de ser uma “Igreja militante” profetiza da “verdade inquestionável” em
oposição ao PNDH-3 que propunha “profissionalizar as prostitutas, legitimar
nacionalmente o homossexualismo como uma prática plenamente natural, tirando toda
configuração do que nós entendemos de família, descriminalizar o aborto em nome da
defesa do direito da mulher decidir pelo corpo da criança”. Por isso aquele evento havia
sido convocado para que a igreja tomasse conhecimento do conteúdo ameaçador do
PNDH-3 a liberdade religiosa e aos valores morais cristãos. Logo, antes do início das
mesas temáticas12, Pedro Ribeiro explicitou o conteúdo ideológico do PNDH-3.
“O que nós estamos vendo aqui, meu caro Deputado Miguel Martini, é um projeto
completamente humanista. Ele é um projeto da pós-modernidade, ele é um projeto
conforme alguém escreveu, parece que foi feito numa reunião de intelectuais da
pós-modernidade, envolvidos com puro relativismo. Quando eu falo em pós-
modernidade, relativismo, e quando eu falo que isso prevalece nesse projeto, eu
vou mais além e digo que este PNDH é uma cartilha que quer ser implantada em
nossa nação, cuja cartilha, é uma cartilha inspirada pelo um sentimento anticristão,
pra eu não dizer que é uma cartilha do anticristo, pra não ser tão definitivo. Mas o
que acontece é que este decreto, ele é um decreto completamente humanista. [...].
Embora a palavra possa ter diversos sentidos, o significado filosófico essencial
destaca-se por contraposição ao apelo, ao sobrenatural ou a uma autoridade
superior. É um decreto anticristão. Este decreto, Ele é uma carta, é um legado do
sentimento do homem, do endeusamento ao homem, de o homem acima de tudo”
(Deputado Pedro Ribeiro, Grifos Meus).
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valores da cultura cristã e os valores das minorias que propõem “legalizar o que não
presta” (José Duque, secretário da Frente). Assim, a FPE ao associar a ideia de maioria
cristã à identidade cultural brasileira não apenas pressiona o ordenamento legal e
jurídico sobre a validade de suas demandas, mas, parece negar não o direito das
minorias pleitear demandas, mas, a qualidade moral destas para uma nação cristã. Logo,
outras variações culturais, sejam tradicionais como no caso do infanticídio indígena,
sejam de direitos humanos são moralmente desqualificadas em seus discursos em prol
da “nossa cultura religiosa cristã brasileira”, como reificou Edward Luz.
Em diversos discursos neste evento, os representantes evangélicos procuraram
afirmar que se o Estado ouviu os 3% descrentes para construir um Programa de Direitos
Humanos, deveria também ouvir a sociedade cristã religiosa14 enquanto maioria moral.
Para isso, a FPE desqualificou moralmente a validade da representatividade das
minorias no Parlamento conjugando lei e moral e propondo um mundo homogêneo (a
nação cristã) que desconsiderava a diversidade cultural e a dignidade do outro, enquanto
diferente, de ser igualmente atendido pelo Estado. O que, portanto, estaria em oposição
ao ordenamento constitucional e jurídico brasileiro quando concepções filosóficas ou
morais religiosas — majoritárias ou minoritárias — não podem guiar as decisões nem
os conteúdos dos atos do Estado15.
Por isso mesmo, os discursos da FPE naquele evento procuraram reafirmar o
caráter pós-moderno do PNDH-3 (como apontei antes), mas também, nomear e
qualificar seus redatores (representantes das minorias) como um grupo de “inteligência
ousada que deseja dissolver a família, a moral e a Igreja e que se sentem iluminados por
sua inteligência e sua sabedoria a legislar em nome de toda uma nação” (Robson
Rodovalho). Nesse sentido, o senador Magno Malta afirmou que o PNDH-3 foi redigido
pelos “intelectuais de Harvard” que baseados em valores da pós-modernidade garantiam
justiça social para as minorias, mas desconsideravam valores da cultura religiosa 16. Esta
argumentação põe em oposição valores da ciência moderna e valores da religião embora
em outros momentos estas categorias sejam correlacionadas nos discursos dos
evangélicos, como no caso dos debates sobre o embrião quando seria a ciência que
reificaria que a vida começa a concepção.
Sendo assim, pautado em ideias relativistas discordantes da cultura religiosa de
97 % de brasileiros, o PNDH-3 objetivava “destruir a Igreja” (signo da cultura), logo, os
deputados cristãos do Congresso Nacional deveriam se unir a fim de promover a
“cultura da vida”. A controvérsia se intensificava, pois, segundo a FPE, os
parlamentares cristãos, representantes da sociedade cristã, não foram convocados pelo
Executivo para participar das discussões da escrita do Programa. Entretanto, o cerne da
argumentação contra o PNDH-3 é a ideia de uma democracia majoritária cuja “vontade
da maioria” suplanta os pleitos das minorias.
Todavia, estes parlamentares religiosos continuam a atuar no legislativo
primando pela retórica do caráter “pós-modernista” do PNDH-3 como não condizente
com os princípios da cultura cristã brasileira ao recomendar a legalização do aborto e a
união civil entre pessoas do mesmo sexo, temas que, segundo a FPE, são rechaçados
pela sociedade brasileira. Nesse sentido, José Duque, secretário da FPE, disse que os
evangélicos defendem uma “visão bíblica” sobre temas como o aborto e o
homossexualismo, todavia, “a maioria da população brasileira é contra até por que é
uma questão cultural, menos por uma visão bíblica mais por uma questão moral
mesmo” (grifos meus). João Campos, do mesmo modo, afirmou que a sociedade se
posiciona de forma contrária a tais matérias, logo, o Parlamento “não pode aceitar mais
uma ingerência do Poder Executivo, impondo uma agenda pró-aborto, pró-casamento
gay e de flagrante preconceito religioso quanto aos símbolos religiosos”.
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termos da soberania popular. Por isso, setores laicos têm apontado à necessidade de uma
regulamentação dos limites da participação religiosa no Estado vide que mesmo que o
artigo 19 da Constituição fale sobre as interdições à União, aos estados, ao Distrito
Federal e aos municípios quanto ao estabelecimento de cultos religiosos e relações de
dependência ou aliança com representantes de Igreja, o Congresso Nacional permite a
realização de cultos religiosos cristãos em suas dependências. Outras religiões não se
aglutinam em bancadas religiosas nem realizam cultos17.
Neste debate, a questão do estado laico remete aos direitos das Igrejas, dentre
eles, a liberdade religiosa. Por isso mesmo, a FPE tem focalizado em seus discursos as
ameaças de projetos, como o PNDH-3, às liberdades das Igrejas. Como afirmou João
Campos naquele dia o PNDH-3 ao recomendar a criminalização da homofobia, a
adoção de crianças por casais do mesmo sexo e o casamento entre pessoas do mesmo
sexo estaria impondo uma “mordaça gay” aos bispos e pastores das igrejas que não
poderiam mais verbalizar publicamente suas opiniões sobre estes temas. É sobre esta
temática específica que tocam para falar da restrição da liberdade religiosa caso estas
proposições fossem aprovadas como lei18.
É nesse sentido que considero importante frisar que a liberdade religiosa trazida
pelos parlamentares evangélicos em seus discursos fala apenas dos direitos do grupo
desconsiderando, portanto, o pluralismo religioso19. Deste modo, a reivindicação pela
liberdade religiosa dos evangélicos versa não apenas sobre o “direito” de se opor às
demandas políticas das minorias, mas também, sobre as disputas por espaço e por
legitimidade no campo religioso, especialmente, com a Igreja Católica.
Por isso, há que se pensar como o Estado brasileiro deve gerir e racionalizar o
“debate em torno da delimitação prática do exercício da liberdade religiosa” (Hervieu-
Lèger, 1999, p. 13) recusando princípios de referência absolutos que conformem a
ordem jurídica a uma ordem natural (Cipriani, 2012). Logo, o desafio para esta
“laicidade mediadora” (Hervieu-Lèger, 1999) brasileira é a regulação dos limites “do
religioso” em decisões políticas, como as de direitos humanos, considerando as
assimetrias políticas entre os grupos religiosos (por exemplo, algumas tradições não
possuem representantes nas câmaras legislativas) e a pressão política-eleitoral cristã.
Esta opção marca, portanto, a opção da FPE pela regulamentação institucional
da fé evangélica (e, quando for preciso, cristã20) no campo político a partir da extensão
da moral religiosa às propostas legislativas e as leis. Em oposição, portanto, a visão
contratualista do Estado na qual a lei deve mediar e administrar o convívio de costumes
diferentes (Segato, 2004), ou seja, deve ponderar preceitos e direitos conflitantes. Deste
modo, o campo jurídico na democracia torna-se espaço de validação do ordenamento da
nação, por isso, tem sido privilegiado pelos religiosos e laicos em suas disputas por
verdades e legitimidades.
Neste debate duas questões são importantes de se destacar. A primeira é que a
esfera pública não é um espaço vazio, mas, em um contexto democrático, lugar próprio
para verberações de discursos, disputas de crenças e reivindicações de demandas entre
os grupos, como os religiosos e os seculares. Derivada desta problematização do espaço
público (Giumbelli, 2008) faz-se necessário entender “as condições [contextuais,
históricas, assimétricas] dos atores que se localizam na sociedade” (Giumbelli, 2008, p.
98) e os modos como eles manejam categorias e crenças de forma a construir e legitimar
discursos e, assim, não apenas pleitear direitos ao Estado, mas, garanti-los efetivamente.
Adiante explicitarei a partir de qual verdade a FPE atua no legislativo.
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asseverou também a importância da unidade cristã “em torno de pontos que são
importantes para a nossa nação entre elas a vida e a família”.
Ora, em tempos e em espaços do legislativo brasileiro, católicos e evangélicos se
unem sob a rubrica de que, a despeito de diferenças doutrinárias, a unidade “vem de
Cristo e não de bandeiras políticas” (José Duque, secretário da FPE). Por isso mesmo,
se a unidade cristã forjada por estes grupos religiosos tem conotação religiosa, seu
objetivo é unir a maioria moral no Parlamento a fim de obter êxitos na política contra os
relativistas e ateus favoráveis aos direitos humanos de uma minoria “contrária à vida” e
a família tradicional. Ao passo que o PNDH-3, baseado na ideia de fortalecimento da
democracia política e institucional, que os princípios constitucionais fundamentais
sejam universalizados bem como a garantia ao respeito pelas particularidades culturais
ou de valores.
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respeitado em sua individualidade, sendo punido apenas se ferir o direito de outro ser
humano.
Deste modo, a cultura religiosa da sociedade cristã estrutura a legalidade do
Estado em termos universais, sem espaço para a diversidade cultural e para as variações
da natureza humana. Sendo assim, as demandas de grupos considerados minoritários
pela FPE são, pois, englobadas pela cultura religiosa cristã uma vez que direitos
divergentes não devem ser ponderados. Sob a rubrica da maioria moral, os grupos
religiosos do legislativo brasileiro produzem efeitos para a demanda de direitos de
corpos desejantes (mulheres e homossexuais) que procuram ser sujeitos de direitos.
Por isso mesmo, reafirmo que as contraposições da FPE ao PNDH-3 baseiam-se
no direito absoluto da sociedade cristã de ter seus valores validados sem relativismos
pelo Estado, quando a garantia dos direitos humanos requer tanto considerá-los
enquanto universais quanto ponderá-los. Assim, as demandas de grupos sociais por
direitos humanos parecem inconciliáveis com a “maneira absoluta” pela qual os
religiosos do legislativo agenciam cultura e direitos sem pensar na possibilidade de
colocá-las “em termos relativos” (Segato, 2004, p. 2). Deste modo, tal cultura da
maioria forjada por preceitos e projetos religiosos não abarca nem variedades, nem
diferentes epistemes culturais.
Deste modo, a cultura religiosa como conceito político que valida direitos marca
a distinção entre os retos e ímpios, explicitando, portanto, as relações de poder entre os
que produzem o conceito e aqueles por ele categorizados (Abu Lughod, 2006). Este
vínculo entre cultura (religiosa) e direitos (também religiosos) (Wilson, 1997) realizado
pelos Cristãos da Casa tem se constituído como retórica produtora de efeitos no plano
da política. Assim, há que se pensar sobre os efeitos desta vinculação para a efetivação
da democracia brasileira uma vez que a cultura religiosa da maioria, tal como expressa
pela FPE, propõe uma agenda de direitos para a nação hegemonicamente cristã que
desconsideram ideias de igualdade jurídica e de diversidade cultural próprias de uma
sociedade plural. Por isso, há que se considerar também que no Brasil existe uma ideia
de Estado laico (no sentido de Estado confessional), mas a sociedade está ainda em
processo de secularização.
De todo modo considero que a participação da FPE nos incita refletir sobre
importantes questões para e sobre as sociedades contemporâneas. A primeira delas é
sobre os limites teóricos da laicidade bem como sua relação com a formação social e
religiosa brasileira, ora, não teria a cultura ocidental se secularizado também por meio
de valores cristãos? (Zanotta, 2010). A segunda é sobre a validade da participação de
atores religiosos em espaços de disputa políticas por reconhecimento de direitos para o
desenvolvimento da democracia plural e da diversidade cultural brasileira. Por que os
evangélicos (e sua política corporativista e moral) são considerados uma ameaça à
democracia? (Freston, 1999). A terceira diz respeito à necessidade de averiguar as
formas e as relações entre valores mais monistas ou mais pluralistas expressos pelas
diversas religiões cristãs em diferentes contextos e como as pessoas transitam entre
ambas em suas vidas cotidianas (todos os evangélicos corroborariam com a FPE?)
(Robbins, 2013).
Bibliografia
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08%3A00&max-results=30 acesso em 11 de fevereiro de 2011.
ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/Caracteristicas_Gerais_Religiao
_Deficiencia/caracteristicas_religiao_deficiencia.pdf acesso em 30 de novembro de
2013.
1
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de Brasília/UnB.
2
A Frente Parlamentar Evangélica/FPE do Congresso Nacional foi instaurada no dia 18 de setembro de
2003 em uma Sessão Solene em homenagem ao Dia Nacional de Missões evangélicas. A estratégia de
atuação adotada por seus dirigentes foi o pluripartidarismo como forma de ampliar “a capilaridade dos
evangélicos no Parlamento, facilitando a conquista dos objetivos da Frente” (Baptista, 2009, p. 303),
especialmente, na defesa da família, da moral e dos bons costumes. Na 53ª legislatura (2007-2010) a FPE
contava com 53 deputados e três senadores, em sua maioria assembleianos e batistas.
3
Após o lançamento pelo então presidente da República Luis Inácio Lula da Silva em dezembro de 2009
o PNDH-3 passou a ser discutido dentro e fora do Congresso Nacional causando controvérsias
especialmente por causa de temas como liberdade de imprensa, símbolos religiosos, a legalização do
aborto, a união civil de pessoas do mesmo sexo e a propriedade privada.
4
O evento durou o dia todo. Outros pontos abordados pelos palestrantes: 1) a metáfora do Povo ungido
aliada 2) ao desejo de restauração da Nação brasileira; 3) a unidade cristã e política aliada 4) a retórica da
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maioria moral religiosa. Tais temáticas estiveram presentes nos discursos destes parlamentares não apenas
neste evento, mas em outros tempos e espaços do legislativo nos quais eles atuaram em 2010.
5
Os nomes de deputados, autoridades religiosas e integrantes de movimentos sociais não serão omitidos
por conta da notoriedade púbica destes atores. Os demais atores citados neste artigo tiveram seu nome
trocado a fim de resguardar suas identidades e preservar o decoro da relação entre pesquisadora e os
sujeitos da pesquisa.
6
Evento “pró-vida” a nível nacional, organizado pelo Deputado Henrique Afonso (AC/PV) apoiado pela
FPE.
7
O processo de construção das pautas do PNDH-3 passou sob o crivo de 11 conferências, da aprovação
de Governadores Estaduais de diferentes partidos políticos e depois, por um grupo de trabalho tripartite
que novamente debateu as pautas do Programa. O PNDH-3 possui seis eixos temáticos: Interação
democrática entre Estado e sociedade civil como instrumento de fortalecimento da democracia
participativa; Desenvolvimento e Direitos Humanos; Universalizar Direitos em um Contexto de
Desigualdades; Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência; Educação e Cultura em
Direitos Humanos e Direito à Memória e à Verdade. (PNDH, 2009).
8
Todas as falas deste evento foram retiradas da transcrição feita por mim do áudio disponibilizado pela
Coordenação de Audiovisual/COAUDI da Câmara dos Deputados.
9
O deputado Henrique Afonso (PV/AC) encerrou o evento anunciando a criação de uma Comissão
Nacional em Defesa da Vida, da Família e da Liberdade Religiosa e a preparação para o lançamento da
campanha nacional “Toda Criança Tem o Direito de Ser Feliz Desde o Ventre Materno” que propunha
agregar todas as denominações evangélicas do país em torno da defesa da família tradicional e da moral e
dos bons costumes antes das campanhas eleitorais.
10
Anna Cunha (2007) em seu estudo sobre a revisão punitiva do aborto no Congresso Nacional também
detectou que “as proximidades da eleição” acarretam alterações nas demandas e posicionamentos dos
parlamentares. A autora descreveu como os grupos contrários à legalização do aborto foram “enfáticos
em expressar, por exemplo, palavras de ordem como ‘deputado, preste atenção: 2006 tem eleição!’ ”.
Assim, argumenta a autora, que o Congresso Nacional é profundamente suscetível ao tempo da política,
logo, há um “cálculo dos eventuais benefícios e prejuízos eleitorais”, especialmente, quando se trata de
decisões sobre temas polêmicos como o aborto (p. 12). Pressão essa que se fez presente nos
posicionamentos públicos de Dilma Rousseff e de José Serra sobre o tema do aborto nos dois turnos das
eleições majoritárias à Presidência da República, definindo, de certo modo, as filiações entre os religiosos
e os candidatos e os posteriores acordos entre a FPE e o governo federal (Duarte, 2011).
11
Inclusive, segundo o parlamentar, o Ministro prometera, durante uma audiência pública na Comissão de
Direitos Humanos, “flexionar pelo menos quatro pontos básicos”: legalização do aborto, retirada de
símbolos religiosos, a mediação de conflitos agrários e a questão da liberdade de imprensa. O que,
portanto, contemplaria as demandas evangélicas.
12
A primeira mesa intitulou-se “PNDH-3 e o Direito dos Povos Tradicionais” contou com a participação
de Edward Luz (antropólogo e presidente de uma ONG de missão evangélica), do Comandante Rocindes
(Presidente da Missão Asas de Socorro, Representante da Associação das Missões Transculturais do
Brasil/AMTB) e do Professor Eli Ticuna (Teólogo, Vice-Presidente do Conselho de Pastores e Líderes
Evangélicos Indígenas/COMPLEI). Na parte vespertina do evento, o deputado Pastor Pedro Ribeiro
coordenou a segunda mesa na qual fizeram exposições o deputado Miguel Martini (Renovação
Carismática de Minas Gerais), o escritor e pesquisador Claudemiro Soares, Dra. Marília, assessora
jurídica da FPE, o deputado federal Rodovalho (Presidente da Igreja Sara Nossa Terra), o senador Magno
Malta (da Igreja Batista do Estado do Espírito Santo). O atual presidente da FPE, deputado João Campos
terminou o ciclo de palestras discorrendo sobre o tema “PNDH-3 e a Liberdade Religiosa”. Nesta mesa
estiveram os deputados federais Marcio Marinho (da Igreja Universal, da Bahia), Zequinha Marinho (da
Igreja Assembleia de Deus/CGADB do Pará) e Bispo Gê (do estado de São Paulo, e um dos líderes
nacionais da Igreja Renascer em Cristo).
13
Embora esta vinculação possa ser também remetida especificamente ao papel histórico da Igreja
Católica na formação social brasileira. Sobre as disputas destes grupos, Ranquelat Jr. (2012) analisa os
símbolos presentes no espaço público ressaltando o conteúdo de significado distinto da Bíblia e do
Crucifixo para evangélicos e católicos. No evento narrado, esta distinção não se fez presente nos
discursos tendo em vista o ideal de união cristã.
14
Segundo o Censo 2010 64,6% se declararam católicos 22,2% evangélicos (contando suas múltiplas
denominações), 2% espíritas kardecistas, 0,3% umbandistas e candomblecistas, sem religião 8%.
Disponível em
ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/Caracteristicas_Gerais_Religiao_Deficiencia/cara
cteristicas_religiao_deficiencia.pdf acesso em 30 de novembro de 2013.
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15
Artigos e incisos da Constituição que remetem ao tema da religião. Art. 5º. VI. É inviolável a liberdade
de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma
da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; VII. É assegurada, nos termos da lei, a prestação de
assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva; Art. 19. É vedado à União,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I. Estabelecer cultos religiosos ou igrejas,
subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes
relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação
básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais. § 1º O ensino religioso,
de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino
fundamental. Art. 143.§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos
que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o
decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de
caráter essencialmente militar. § 2º As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do serviço militar
obrigatório em tempo de paz, sujeitos, porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir. Art. 226. § 2º O
casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. Art. 231. Assegurar-se-á ao paciente, internado em
hospitais da rede pública ou privada, a faculdade de ser assistido, religiosa e espiritualmente, por ministro
de culto religioso. Art. 237. VII condenação a qualquer tratamento desigual por motivo de convicção
filosófica, política ou religiosa, bem como a quaisquer preconceitos de classe, raça ou sexo.
16
Segundo o Presidente da FPE João Campos (PSDB-GO) “questões relacionadas ao aborto,
homossexualidade, drogas e prostituição não são bandeiras da Frente”, todavia, “a Frente Parlamentar
Evangélica está pronta pra combater essas bandeiras, mas elas não nossas”. Segundo o deputado “nossas
bandeiras são a manutenção da legislação vigente relativa ao conceito de família, o combate ostensivo às
drogas, não desejamos que o corpo da mulher seja trocado por dinheiro e que essa prática seja
reconhecida como profissão e defendemos a vida desde o ventre’”. Disponível em
http://frenteparlamentarevangelica.blogspot.com/search?updated-min=2011-01-01T00%3A00%3A00-
08%3A00&updated-max=2012-01-01T00%3A00%3A00-08%3A00&max-results=30 acesso em 11 de
fevereiro de 2011.
17
Em 2011, a Frente Parlamentar em Defesa das Comunidades Tradicionais de Terreiro foi fundada por
parlamentares petistas com o objetivo de instrumentalizar a luta política destes povos contra o preconceito
e a intolerância religiosa.
18
Embora também façam muitas referências aos privilégios do catolicismo no Estado brasileiro.
19
Neste cenário, há que considerar ainda os ataques neopentecostais às religiões afro-brasileiras. Por isso,
assim como a laicidade, a presença da liberdade religiosa precisa ser entendida de acordo com as relações
e os grupos envolvidos (cf. Oro, 2011; Giumbelli, 2002).
20
Embora o campo religioso brasileiro também seja marcado pela bricolagem das crenças e pelas
religiosidades flutuantes propostos por Hervieu-Lèger, 1999.
21
Todavia não só de união vivem os irmãos em Cristo. Segundo José Duque, secretário da FPE, mesmo
com os poucos católicos praticantes no Parlamento “quem é mais contra o aborto é a Igreja Católica,
quem mais luta [aqui dentro] contra é a igreja Católica”, mesmo sendo os evangélicos também contrários
à interrupção da gravidez. Isso por que, a CNBB tem muita influência no jogo político da Casa.
Entretanto, naquele seminário, João Campos fez questão de dizer que se os católicos se empenham na
questão da legalização do aborto, “quem efetivamente tem colocado a cara em relação à criminalização da
homofobia somos só nós os evangélicos. E então, modéstia parte, graças a nós deputados e senadores
evangélicos é que esse projeto não se converteu em lei. É bom que a gente aproveite uma oportunidade
como essa pra dizer isso com muita clareza”. Outra controvérsia entre católicos e evangélicos se deu na
ocasião do Acordo assinado com o Estado do Vaticano em 2009. (cf. Duarte, 2011).
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