Material de Processo Penal

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Sistemas Processuais Penais:

Acusatório, Inquisitório e Misto


Os sistemas processuais foram desenvolvidos ao longo
da história e dividido basicamente em sistema
inquisitório, sistema acusatório e sistema misto.

Até meados do sec. XII predominou o sistema


acusatório, ocorrendo a transição para o sistema
inquisitório, que predominou do sec. XII até sec. XVIII,
tendo seu auge durante a idade média. Com a acessão
do movimento iluminista, e o também Direito Penal
Humanitário, o sistema inquisitório foi dando lugar ao
um sistema processual misto, que compreendida fases
do processo inquisitório (fase pré- processual) e fases
do processo acusatório (fase processual).

Os sistemas processuais demonstram o atual momento


político do país, como afirma Goldschmidt “que a
estrutura do processo penal de um país funciona como
um termômetro dos elementos democráticos ou
autorizados de sua constituição”[1]

Sistema processual acusatório


O sistema acusatório está diretamente ligado a um
sistema constitucional democrático onde existe uma
clara distinção entre cada parte que compõe o
processo penal o acusador, acusado e julgador.

O sistema acusatório tem como característica ter a


distinção de quem acusar e quem julga, o processo é
público e tem direito ao contraditório. A iniciativa da
prova é de quem acusa e cabe ao juiz a gestão das
provas sendo livre ao juiz o convencimento.
Neste sistema cabe ao juiz decidir após o recebimento
de provas e considerações das partes, como diz o
professor Aury Lopes Jr a posição do juiz é fundante
da estrutura processual [2]
São os princípios do processo penal acusatório,
conforme o livro do professor Alexandre de Morais da
Rosa:

a) O julgador é uma assembleia ou corpo de jurados


b) Há igualdade dos jogadores, sendo o juiz um arbitro
sem iniciativa investigatória
c) O processo é oral, público e contraditório
d) A analise da prova se da com base na livre
convicção
e) A liberdade do acusado é a regra[3]

Aliás o princípio da publicidade é um dos requisitos


que Cesare Beccaria clamava, sejam públicos os
julgamentos; sejam-no também as provas do crime e a
opinião que é talvez o único laço das sociedade, porá
freio a violência e as paixões.[4]

Sistema Processual Inquisitório


O sistema inquisitório se desenvolveu, sobretudo,
durante a idade média (conhecida como idade das
trevas) para atender, principalmente, os interesses da
igreja que dominava a sociedade europeia da época.

Dentre os cidadãos se seleciona os considerados mais


probos para relatar a igreja qualquer desordem ou
tentativa de manifestações contrarias ao pensamento
da igreja. Qualquer problema era levado ao Tribunal
Inquisidor.

Todos os casos eram julgados pelo Tribunal, através


do juiz-inquisidor que centralizada em suas mãos o
poder de acusar e julgar, além de agir de oficio e em
segredo. Ao juiz também cabia a gestão das provas.

Neste sistema a parte acusada não tinha direito ao


contraditório.

O sistema tinha como regra a prisão preventiva e a


sentença não fazia coisa julgada. Como leciona Aury
Lopes Jr

É da essência do sistema inquisitório a aglutinação de


funções na mão do juiz e atribuição de poderes
instrutórios ao julgador, senhor soberano do processo.
Portanto, não há uma estrutura dialética e tampouco
contraditório. Não existe imparcialidade, pois uma
mesma pessoa (juiz-ator) busca a prova (iniciativa e
gestão) e decide a partir da prova que ela mesma
produziu[5]

O declínio do sistema inquisidor ocorreu por volta do


início do século XIX.

São os princípios do processo penal inquisitório,


conforme o livro do professor Alexandre de Morais da
Rosa:

a) O julgador é permanente
b) Não há igualdade de jogadores já que o juiz
investiga, dirige, acusa e julga, em franca situação de
superioridade sobre o acusado
c) É escrito, secreto e não contraditório
d) A prova é tarifada
e) Prisão preventiva é a regra[6]

1.1.3 Sistema Processual Misto


Com as revoluções ocorridas na Europa
(iluminismo[7], queda da bastilha[8]) o direito penal
também passou por uma revolução.
Grandes pensadores clamam por um tratamento
humanitário para os acusados de crimes. Iniciasse o
direito penal humanitário, tendo como seu principal
expoente Cesare Beccaria e sua celebre obra dos
Delitos e das Penas.

As revoluções no campo jurídico também trouxeram


um novo sistema processual, surgindo o sistema
processual misto, sendo inquisitório na fase pré-
processual e acusatório na fase processual.

O sistema misto é teratológico logo que os princípios


fundadores de cada sistema processual são colidentes.
Apenas para citar uma diferença, no sistema
acusatório o juiz é imparcial, no sistema inquisitório o
juiz é parcial.
O silêncio seletivo é valido no Brasil?

O princípio do nemo tenetur se detegere, previsto expressamente no


artigo 8º, item 2, alínea “g”, da Convenção Americana dos Direitos
Humanos, determina que ninguém é obrigado a produzir prova contra si
mesmo. Permite-se que o investigado ou acusado adote comportamento
neutro durante a persecução criminal [1].
Previsto no artigo 5º, inciso LXIII, da Constituição Federal de 1988, o
direito ao silêncio tem natureza jurídica de direito fundamental, sendo
certo que o silêncio não resulta em confissão e não poderá ser
interpretado em prejuízo da defesa, conforme o §1º do artigo 186 do
Código de Processo Penal [2].
No Brasil, há uma cultura de forte proteção ao direito ao silêncio,
principalmente, pelo fato do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento
do HC nº 834.126, estabelecer que o investigado tem o direito de mentir,
exceto nas situações que incriminam dolosamente outros indivíduos,
oportunidade em que responde pelo crime de denunciação caluniosa do
artigo 339 do Código Penal [3].
Em que pese o artigo 7º, inciso XXI, da Lei nº 8.906/94, tenha
estabelecido como direito do advogado a possibilidade de “assistir a
seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de
nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento […],
podendo, inclusive, no curso da respectiva apuração apresentar razões
e quesitos”, não se pode confundi-lo como direito ao
contraditório [11].

Durante o interrogatório do investigado, o advogado poderá realizar


perguntas complementares àquelas realizadas pela autoridade policial, as
quais, inclusive, podem ser indeferidas pela autoridade quando forem
impertinentes ao objeto da apuração.

Ao permitir que o investigado se utilize do silêncio seletivo para


responder apenas às perguntas do advogado, estaria se legitimando
severa distorção dogmática no inquérito policial, pois, transversalmente,
o poder-dever de presidência do ato estaria sendo transferido para o
advogado, situação que fere a prerrogativa constitucional prevista no
artigo 144, §4º, da constituinte de 88.

Desse modo, entende-se que o silêncio seletivo é um direito restrito ao


processo penal e não aplicável ao inquérito policial, sob pena de retirar
do delegado de polícia a presidência do inquérito policial,
principalmente, do interrogatório. Portanto, ao se deparar com situação
narrada acima, orienta-se o encerramento do interrogatório, fazendo
constar que o investigado optou pelo direito ao silêncio.
A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
decidiu que a falta de aviso ao investigado sobre o seu direito
de ficar em silêncio, durante a fase do inquérito policial, só gera
nulidade se for demonstrado que isso causou efetivo prejuízo à
defesa.

CONCEITO DE NOTITIA CRIMINIS

A notitia criminis nada mais é do que uma comunicação


à autoridade da ocorrência de um fato criminoso ou infração penal.

Dito isto, a doutrina costuma dividir esse termo em categorias específicas, que
podem ser apresentadas a seguir:
A notitia criminis é o conhecimento da
autoridade policial sobre um fato criminoso, podendo
ser espontâneo ou provocado.

o Notitia criminis de cognição mediata ou provocada: o conhecimento


do crime ou contravenção se dá por meio de um expediente escrito;
o Notitia criminis de cognição imediata ou espontâneo: aqui a
autoridade policial tem conhecimento de uma infração por meio de suas
atividades rotineiras;
o Notitia criminis de cognição coercitiva: o conhecimento do crime se
dá no momento da apresentação do suspeito a autoridade policial.
o A “notitia criminis” preventiva e a repressiva. A preventiva é aquela
que antecede a ocorrência de uma infração penal, impedindo que essa
ocorra, o que muitas vezes pode levar à inexistência do fato, e, portanto,
à impossibilidade de responsabilização.

LEIA ESSES ARTIGOS

Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no


território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das
infrações penais e da sua autoria. (Redação dada pela Lei nº 9.043,
de 9.5.1995)

Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de


autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função.

Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:

I - de ofício;

II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público,


ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.

§ 1o O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que possível:

a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;

b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as


razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou os
motivos de impossibilidade de o fazer;

c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e


residência.
§ 2o Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito
caberá recurso para o chefe de Polícia.

§ 3o Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de


infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito,
comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das
informações, mandará instaurar inquérito.

§ 4o O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de


representação, não poderá sem ela ser iniciado.

§ 5o Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá


proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la.

Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a


autoridade policial deverá:

I – se possivel e conveniente, dirigir-se ao local, providenciando para que


se não alterem o estado e conservação das coisas, enquanto necessário;
(Vide Lei nº 5.970, de 1973)

I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e


conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; (Redação
dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994)

II – apreender os instrumentos e todos os objetos que tiverem relação com


o fato;

II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados


pelos peritos criminais; (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994)

III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e


suas circunstâncias;

IV - ouvir o ofendido;

V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto


no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser
assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura;

VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;

VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e


a quaisquer outras perícias;

VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se


possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;

IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista


individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de
ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que
contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter.

X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e


se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável
pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.

Art. 7o Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de


determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução
simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem
pública.

Art. 8o Havendo prisão em flagrante, será observado o disposto


no Capítulo II do Título IX deste Livro.

Art. 9o Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado,


reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.

Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado


tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o
prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou
no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela.

§ 1o A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e


enviará autos ao juiz competente.

§ 2o No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não


tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser encontradas.

§ 3o Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a


autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores
diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.

Art. 11. Os instrumentos do crime, bem como os objetos que


interessarem à prova, acompanharão os autos do inquérito.

Art. 12. O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre


que servir de base a uma ou outra.

Art. 13. Incumbirá ainda à autoridade policial:

I - fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à


instrução e julgamento dos processos;

II - realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público;

III - cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades


judiciárias;

IV - representar acerca da prisão preventiva.

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