Aula 1 20232

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TEORIA

GERAL DO
PROCESSO
PENAL
Profa. Dra. Marina Rúbia
JUR3046
2023/2
Noções de Direito Processual Penal

ESTADO – criação leis penais (Código Penal) – conduta criminosa + sanção = direito de punir em abstrato.

Crime – direito de punir em concreto (ius puniendi in concreto) – pretensão punitiva do Estado: o autor do delito
está sujeito à sanção penal.

Direito Penal – não é um direito de coação direta; o DP precisa de um processo regular para ser aplicado com
formalidades prescritas em lei.

“O direito penal não tem realidade concreta fora do processo penal, ou seja, não se efetiva senão pela via
processual” (Aury Lopes Jr.).
Para Aury Lopes Jr. , “o Processo Penal: instrumento (caráter
instrumental) do qual se vale o Estado para a
processo penal é um caminho
imposição da sanção penal ao possível autor do
necessário para alcançar-se a delito.
pena e, principalmente, um
caminho que condiciona o ‘Não existe delito sem pena, nem pena sem delito e
processo, nem processo penal senão para
exercício do poder de penar
determinar o delito e impor uma pena’ = Princípio
(essência do poder punitivo) à da Necessidade do Processo Penal.
estrita observância de uma
relativização deste Princípio com a Justiça Negocial Criminal
série de regras que compõe o (suspensão condicional da pena, suspensão condicional do
processo, acordos de não persecução penal, seguindo critérios
devido processo penal”. específicos).
Processo Penal: necessário e indispensável respeito
aos direitos fundamentais x atingir um sistema
Processo Penal não é um criminal mais eficiente
simples instrumento do poder Para Antônio Scarance Fernandes, eficiência não
punitivo: é também limitador se mede pelo número de condenação e sim
desse poder ao assegurar “quando, em tempo razoável, permite-se atingir
direitos e garantias um resultado justo, sendo possibilitando aos
individuais constitucionais – órgãos de persecução penal agir para fazer atuar o
Estado Democrático de direito punitivo, seja assegurando ao acusado as
Direito. garantias do processo penal”
Equilíbrio entre Hipergarantismo e o Direito Penal
do Inimigo.
Evolução Histórica do Processo Penal

A evolução do processo penal está intimamente relacionada com a própria evolução da


pena.
Para Aury Lopes Jr, “O processo penal atrela-se à evolução da pena, definindo claramente
seus contornos quando a pena adquire seu caráter verdadeiro, como pena pública, quando
o Estado vence a atuação familiar (vingança do sangue e composição) e impõe sua
autoridade, determinando que a pena seja pronunciada por um juiz imparcial, cujos
poderes são juridicamente limitados”.
Sistemas de efetivação de direito ao longo
do tempo
Vingança privada/autotutela ou autodefesa: como o Estado não era forte o suficiente para superar as vontades
individuais e garantir justiça aos cidadãos, os litígios eram solucionados de forma privada, prevalecendo assim a
vontade do mais forte. Características: Ausência de juiz imparcial (distinto das partes); Imposição da decisão por
uma das partes à outra.
Exercício arbitrário das próprias razões: art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer
pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite.
Autocomposição: que era um meio de solucionar os conflitos individuais onde cada um abria mão de seus
interesses ou de parte deles, para, através de concessões recíprocas.
Intervenção de terceiros/arbitragem: uma solução amigável e imparcial era confiada aos sacerdotes ou anciãos.
Intervenção do Estado: Estado moderno passa a regular o conflito de interesse das partes, decidindo e impondo
essas decisões = Jurisdição.
Leis Portuguesas: Ordenações Afonsinas (1446 a 1520),
Manoelinas (1521 a 1603) e Filipinas (1603 a 1830).
Independência em 1822: manutenção das ordenações,
leis e decretos editados pelos Reis de Portugal.
Código de Processo Penal do Império (1832): As
O Processo denúncias podiam ser oferecidas pelo Promotor Público
ou por qualquer do povo, a competência para o
Penal no Brasil julgamento era centrada no Júri, estando dele excluídas
as contravenções e os crimes menos graves.
Proclamação da República (1889) e Constituição Federal
de 1937: foi-se preparado o atual Código de Processo
Penal (Decreto-lei n. 3.689, de 30/10/1941), que entrou
em vigor em 01/01/1942.
Alterações no CPP
Lei nº 263/48: modifica a competência do Tribunal
do Júri
Lei nº 7210/84: Lei de Execução Penal
Lei nº 8072/90: crimes hediondos
O Processo Lei nº 9099/95: juizados especiais cíveis e criminais

Penal no Brasil Lei nº 12403/2011: prisão processual, fiança,


liberdade provisória, demais medidas cautelares
Lei nº 13964/2019: Pacote Anticrime
Juiz de Garantias, Acordo de Não Persecução
Penal, Cadeia de Custódia (...)
Sistemas Processuais Penais

Sistema processual é um conjunto de normas e princípios que regem o Direito Processual Penal
numa determinada região e num dado período histórico.
Paulo Rangel define o sistema processual penal como sendo “o conjunto de princípios e regras
constitucionais, de acordo com o momento político de cada Estado, que estabelece as diretrizes a
serem seguidas à aplicação do direito penal a cada caso concreto.”
Segundo Aury Lopes Jr, “a estrutura do processo penal variou ao longo dos séculos, conforme o
predomínio da ideologia punitiva ou libertária. [...] a estrutura do processo penal de um país
funciona como um termômetro dos elementos democráticos ou autoritários de sua Constituição”.
Pela doutrina, são três os Sistemas Processuais: acusatório, inquisitório e o misto.
O Sistema Acusatório nasceu na Inglaterra sob o
reinado de Henrique II e predominou até meados do
século XII.
Todos os que se sentissem prejudicados poderiam
Sistema reclamar ao rei por meio de petições. Essas eram
recebidas e, em nome do rei, emitiam-se ordens escritas
Acusatório aos representantes reais locais, a fim de que esse
ordenasse que o indiciado desse satisfação ao queixoso
ou, se fosse o caso, comparecesse para dar explicações.
Contudo, com o abarrotamento da jurisdição real,
Henrique II cria o Trial by Jury, ou Julgamento pelo Júri.
Grand Jury: composto por 23 membros que indiciavam
um acusado e, se admitida a acusação, seria ele julgado
por um Petty Jury, composto por 12 membros.
Nele, o Júri dizia o direito material (qual crime,
inocente, culpado), ao passo que as regras processuais
eram ditadas pelo rei. O representante real, porém, não
Sistema intervinha, a não ser para manter a ordem e, assim, o
julgamento se transformava num grande debate, numa
Acusatório grande disputa entre acusador e acusado, acusação e
defesa.
A regra era a liberdade, sendo certo que o acusado era
responsável pelas explicações que deveria dar.
O julgamento, nesta dimensão, dava-se, normalmente,
em locais públicos.
Principais características (Aury Lopes Jr)
a) clara distinção entre as atividades de acusar e
julgar;
b) a iniciativa probatória deve ser das partes;
c) mantém-se o juiz como um terceiro imparcial,
alheio à investigação e à coleta da prova;
Sistema d) tratamento igualitário das partes (igualdade de
oportunidades no processo);
Acusatório e) procedimento é, em regra, oral (ou
predominantemente);
f) plena publicidade de todo o procedimento (ou de
sua maior parte);
g) contraditório e possibilidade de defesa;
h) sentença sustentada pelo livre convencimento
motivado do órgão jurisdicional.
O processo penal acusatório caracteriza-se,
portanto, pela clara separação entre juiz e partes,
que assim deve se manter ao longo de todo o
processo para garantia da imparcialidade e
Sistema efetivação do contraditório.
Nesse sentido, o artigo 3-A do CPP, incluído pelo
Acusatório Pacote Anticrime: O processo penal terá estrutura
acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de
investigação e a substituição da atuação
probatória do órgão de acusação.
O Sistema Inquisitório aparece no âmbito da Igreja
Católica e tem seu marco histórico em 1215, no
Concílio de Latrão, se perpetuando até meados do
séc. XVIII.
Desde o final do Século XII, acreditava-se que a
Igreja estava perdendo seu domínio para doutrinas
Sistema heréticas, antirreligiosas, contrárias aos postulados
de Roma.
Inquisitório O processo migratório para os burgos (fora dos
feudos), o comércio e a criação das
Universidades foram sintomas da fragilidade
do domínio do pensamento da Igreja Católica.
Para seu combate, o Papa Inocêncio III equiparou
o crime de heresia ao de lesa majestade,
historicamente o mais grave dos crimes.
No transcurso do século XIII foi instituído o Tribunal da
Inquisição ou Santo Ofício, para reprimir a heresia e
tudo que fosse contrário ou que pudesse criar dúvidas
acerca dos Mandamentos da Igreja Católica.
No processo inquisitório o réu vira um pecador, e sua
“verdade” deve ser extraída, ainda que por tortura. Se o
inquirido resistisse, merecidamente poderia ser
Sistema absolvido.
Com a Inquisição, são abolidas a acusação e a
Inquisitório publicidade. O juiz inquisitor atua de ofício e em
segredo, assentando por escrito as declarações das
testemunhas (cujos nomes são mantidos em sigilo, para
que o réu não os descubra).
O sistema inquisitório predominou até final do século
XVIII, começo do XIX, quando do início da Revolução
Francesa (valorização do homem e os movimentos
filosóficos).
Principais características
a) Não existe imparcialidade, pois uma mesma pessoa
(juiz) busca a prova e decide a partir da prova que ela
mesma produziu: gestão/iniciativa probatória nas mãos
do juiz
b) ausência de separação das funções de acusar e julgar

Sistema (as duas funções ficam nas mãos do juiz);


c) o juiz pode atuar de ofício (sem prévia invocação das
Inquisitório partes);
d) inexistência de contraditório pleno;
f) desigualdade de armas e oportunidades.

O processo inquisitório é incompatível com os direitos e


garantias individuais, resultando em evidente violação à
Constituição Federal e à própria Convenção Americana
sobre Direitos Humanos (CADH, art. 8, nº 1).
Sistema inquisitório
Função de acusar, defender e julgar estão nas
mãos de uma única pessoa (juiz inquisitor),
levando a uma clara imparcialidade;
O acusado é objeto do processo;
A gestão de provas está concentrada na mão do
Sistema juiz que pode produzi-la de ofício em qualquer
fase da persecução penal.
Inquisitório
x Acusatório Sistema é acusatório
Há uma separação das funções de acusar,
defender e julgar, preservando a
imparcialidade;
O acusado é sujeito de direitos;
As partes detêm a gestão das provas, não
podendo o juiz atuar de ofício.
O Sistema Misto nasce com o Código
Napoleônico de 1808 (Code d’instruction criminelle)
para conter a arbitrariedade e a concentração do
poder. Adotou-se de volta a separação das funções
de acusar, julgar e defender.

Sistema Misto Essencial alteração inovada por esse modelo


processual foi a bipartição da persecução criminal
ou Francês fase pré-processual: inquisitorial, secreta, sem
acusação e sem contraditório; visa apurar o
fato criminoso em sua materialidade e autoria.
fase processual: acusatório, onde o órgão
acusador (Ministério Público) apresenta a
acusação, o acusado se defende e o juiz julga.
O sistema processual penal vigente no país é estruturado
a partir do Decreto-lei 3.689, instituído por Getúlio
Vargas em 3/10/1941, inspirado no Código Rocco
italiano de 1930, o qual tem por base uma estrutura
inquisitorial.
O processo penal brasileiro é ainda classificado, por
grande parte da doutrina, como misto, ou seja,
Processo Penal inquisitório na primeira fase (inquérito) e acusatório na
fase processual.
Brasileiro A Constituição de 1988 define um processo penal
acusatório, fundando no contraditório, na ampla defesa,
na imparcialidade do juiz e nas demais regras do devido
processo penal.
Art. 3º-A, CPP: O processo penal terá estrutura
acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de
investigação e a substituição da atuação probatória do
órgão de acusação.

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