tribunal do juri e livre convencimento

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Tribunal do Júri e o livre convencimento dos

jurados

TRIBUNAL DO JÚRI E O LIVRE CONVENCIMENTO DOS JURADOS

Jury Trials and jurors’ free convincement


Revista Brasileira de Ciências Criminais | vol. 116/2015 | p. 173 - 205 | Set - Out / 2015
DTR\2015\13618

Danielle Peçanha Alves


Pós-graduanda em Direito Constitucional na Faculdade Damásio. Advogada.
daniellepec@hotmail.com

Josué Mastrodi Neto


Doutor em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela USP. Professor na Faculdade de Direito
da PUC-Campinas. mastrodi@puc-campinas.edu.br

Área do Direito: Penal; Processual

Resumo: O objetivo deste trabalho é abordar o Tribunal do Júri e questionar os


diferentes patamares de justiça que os jurados efetivam em suas decisões, dando
enfoque para a situação em que os juízes populares, ao decidirem conforme sua íntima
convicção, acabam por contrariar a lei, sobretudo ao declararem inocente o réu confesso.
Para tanto, o presente trabalho é elaborado na forma exploratória, por meio do método
hipotético-dedutivo e mediante revisão bibliográfica. Ao final, procura confirmar a
hipótese que o Tribunal do Júri constitui um garantidor, sobretudo, do direito de
liberdade, pois busca a justiça além do direito normativo.

Palavras-chave: Tribunal do Júri - Jurados - Justiça - Liberdade - Soberania.

Abstract: The objective with this project is to address the grand jury and inquire the
different levels of justice that jurors actualize in their decisions, focusing on the situation
in which the popular judges, when deciding according to their inner conviction ultimately
thwart the law, especially to declare innocent the confessed defendant. Therefore, this
study is designed in an exploratory way, through hypothetical-deductive method, through
literature review. At the end, it aims to confirm the hypothesis that the grand jury is a
guarantor, especially the right to freedom, because it seeks justice and the right rules.

Keywords: Jury Trial - Juries - Justice - Freedom - Sovereignty.

Sumário:
Introdução - 1. O Júri na história e no Direito Comparado - 2. Princípios constitucionais do
Tribunal do Júri - 3. A questão da soberania do veredicto – O livre convencimento
imotivado e a Democracia - 4. Análise de histórias reais - Conclusão - Referências
bibliográficas

Introdução

O Tribunal do Júri constitui órgão especial de primeiro grau de jurisdição, composto por
sete jurados leigos ao Direito, competente para julgar os crimes dolosos contra a vida
consumados ou tentados (homicídio, infanticídio, induzimento, instigação ou auxílio ao

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suicídio e aborto). Neste espeque, o presente trabalho visa a discutir acerca da faculdade
de os jurados decidirem conforme sua íntima convicção e, assim, poderem julgar
contrariamente ao comando legal. Isto é, no âmbito do Tribunal do Júri, é perfeitamente
possível que o corpo de jurados declare que o culpado é inocente, mesmo que todas as
provas impusessem a condenação.

A Lei constitui fonte principal de Direito e sua estrutura imperativa e bilateral impõe
deveres e atribui direitos subjetivos aos cidadãos como forma de possibilitar o convívio
em sociedade. Nesta tônica, as normas de conduta constituem o que vamos denominar
de justiça oficial. Destarte, levantamos a seguinte problematização: os jurados, ao
decidirem contrariamente à justiça oficial, estão incorrendo em injustiças ou existe outra
acepção de justiça além da inferida dos preceitos normativos? E, por que apenas os
crimes dolosos contra a vida são submetidos ao Júri?

Com o fito de resolver tais questionamentos, examinaremos o princípio da soberania que


permeia a decisão dos juízes populares e, a partir da análise de casos concretos,
discorreremos sobre a possibilidade de os jurados realizarem justiça justamente por
estarem desvinculados da lei.

Para tanto, este trabalho é desenvolvido de forma exploratória, por meio do método
hipotético-dedutivo, mediante revisão bibliográfica. Intentamos, ao final, confirmar a
hipótese de que o corpo de jurados pode, em vez de seguir a justiça oficial, buscar o que
chamaremos de justiça nativa, e com base nela, decidir ainda que de forma contrária a
lei – e ainda assim sua decisão ser considerada válida e eficaz.

Nesse sentido, estruturamos este texto na seguinte ordem: no primeiro item, contaremos
a origem histórica do Júri e seu desenvolvimento no direito comparado. No segundo item,
exporemos os princípios constitucionais que envolvem a Tribuna do Júri, além de
ressaltar suas exceções e implicações nos casos concretos. No terceiro item,
abordaremos de maneira específica o princípio da soberania dos veredictos e os
resultados, positivos e negativos, de sua aplicação prática. Por fim, no quarto item,
traremos a lume casos reais que demonstram a existência de duas acepções de justiça,
dirimindo, assim, as controvérsias acima instigadas.

1. O Júri na história e no Direito Comparado

1.1 Breve histórico do Júri

Não há consenso entre os historiadores a respeito da origem do Júri. Lembra Paulo


Rangel que há estudiosos que a associam à lei mosaica; a tribunais ditos populares da
Antiguidade; ao tribunal francês instituído em 1137 por Luís, o Gordo; às inovações
trazidas por Henrique II, de 1166; à prática do inquérito carolíngio, dentre outras
instituições.1 Todavia, malgrado as discórdias, é notável a quantidade de historiadores
que associam o nascimento do Tribunal do Júri à Carta Magna Inglesa de 1215. 2

Paulo Rangel, contudo, explica que tribunal popular e Tribunal do Júri, ao menos em suas
origens, não se confundem. Desta maneira, o Júri que hoje vigora no Brasil recebeu, em
matéria judiciária, as influências do grande Júri inglês, inclusive no que tange ao princípio
do devido processo legal e ao julgamento consoante a íntima convicção dos jurados. No
entanto, ao ser criado na Inglaterra, o aventado tribunal tinha o condão apenas de
afastar o julgamento dos nobres pelo rei e não o de convocar a população a participar
dos julgamentos, salientando o autor que a Magna Carta resultou de uma avença entre

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nobreza e monarca, da qual o povo não participou. 3

Destarte, observa Hélio Tornaghi que o Júri moderno é oriundo da Inglaterra, porém, o
instituto dos jurados advém do direito processual romano, corroborando, assim, a sábia
divisão destacada por Rangel.4

1.2 Brasil

No Brasil, o Júri foi instituído pela Lei de 18.06.1822, antecedendo à independência do


Brasil e a sua primeira Constituição, datados de 07.09.1822 e 25.03.1824,
respectivamente. Resta evidenciar que a elite brasileira da época, que conduzia
administração da colônia brasileira, sofria grande influência do liberalismo político
inglês,5 e por isso: “Em nosso país, a iniciativa da criação do Tribunal do Júri coube ao
Senado da Câmara do Rio de Janeiro, dirigindo-se ao Príncipe Regente D. Pedro, para
sugerir-lhe a criação de um ‘juízo de Jurados’. A sugestão, atendida em 18 de junho, por
legislação que criou os ‘Juízes de Fato’, tinha a competência restrita aos delitos de
imprensa. A nomeação desses juízes – vinte e quatro homens bons, honrados,
inteligentes e patriotas – competia ao Corregedor e aos Ouvidores do crime. Da sentença
dos ‘Juízes de Fato’ cabia somente o recurso de apelação direta ao Príncipe”. 6

A Constituição do Império, outorgada em 1824, contemplou o instituto do Júri,


aumentando sua competência para as infrações penais e os fatos civis. 7 A Constituição
Política alocou o Júri na parte relativa ao Poder Judiciário, tendo os jurados competência
para decidirem sobre o fato e o juiz, para aplicar a lei. 8 Em 1832, entrou em vigor o
Código de Processo Criminal do Império, alargando ainda mais a competência criminal do
Júri, que passou a ser responsável pelo julgamento da maioria dos crimes. 9 Digno de nota
a crítica feita por Rangel acerca do mencionado Código Criminal: “(… permitindo que
pudessem ser jurados apenas os cidadãos que fossem eleitores, sendo de reconhecido
bom-senso e probidade (art. 23 do CPCI). Consequentemente, somente seriam jurados os
que tivessem uma boa situação econômica, já que estes é que podiam votar. Se a pessoa
podia ser jurada, ela podia ser eleitora; se ela era eleitora, ela podia ser jurada. Nasce aí
a distância entre os jurados e os réus”.

A primeira Constituição da República, promulgada em 1891, concedeu ao Júri o status de


garantia individual. Os anos vindouros não trouxeram grandes inovações ao instituto.
Contudo, nas palavras de Tubenchlak, o Júri sofreu “duro golpe” com o advento do
Decreto-Lei 167/1938, que aboliu a soberania dos veredictos ao prever recurso de
apelação com capacidade para alterar o mérito da decisão divergente às provas
existentes nos autos, sendo lícito aos juízes ad quem, ao julgarem a apelação, aplicar
outra pena ou absolver o réu.10

Com o término da ditadura Vargas, a Constituição Federal de 1946 reestabeleceu a


soberania dos veredictos, impossibilitando a reforma do decisum exarados pelos jurados
em grau de recurso, bem como remodelou a competência do Tribunal, que passou a ser
ratione materiae, a saber, privativa aos crimes dolosos contra a vida.11

Atualmente, o Tribunal do Júri tem previsão no art. 5.º, XXXVIII, da Carta da República de
1988 e permanece com suas disposições inalteradas, inclusive a soberania. 12 É
constituído por um juiz de direito ou federal, além de 25 jurados, dos quais, 7 serão
sorteados para constituir o Conselho de Sentença. 13 Por derradeiro, elucida Fernando da
Costa Tourinho que: “Hoje, em nosso país, à semelhança do que ocorrera na primeira

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República, há o Tribunal do Júri Estadual e o Federal. Ambos têm a mesma competência:


julgam os crimes dolosos contra a vida consumados ou tentados, por força do art. 5.º,
XXXVIII, da CF (LGL\1988\3), e os que lhes forem conexos (…. Quando o crime doloso
contra a vida for praticado a bordo de navio, aeronave (ressalvada a competência militar)
ou mesmo contra pessoas que estejam a serviço da União, de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas, o julgamento fica afeto ao Júri Federal, que se
distingue do Estadual apenas quanto ao Juiz que o preside: ali, o Juiz Federal; aqui, o Juiz
Estadual”.14

1.3 Inglaterra

Como alhures demonstrado, a matriz do Tribunal do Júri foi elaborada na Inglaterra


durante a Idade Média, e seus substratos jurídicos persistem até hoje. 15 Todavia, apesar
de a origem do Júri moderno provir da Inglaterra, nos dias de hoje, apenas 1 a 2% dos
casos criminais ingleses são levados a Júri Popular, competente, atualmente, apenas
para os tipos penais graves, como, por exemplo, homicídio e estupro, 16 cabendo ao juiz,
em cada caso, decidir a respeito do julgamento, ou não, pelos jurados. 17

Havendo Júri para julgar determinado crime, os jurados, em número de 12, devem decidir
se o réu é culpado ou inocente. Se o veredicto for pela condenação, esta só será possível
se houver, ao menos, 10 dos 12 votos neste sentido, pois, caso contrário, deverá haver
novo Júri, com novos jurados. Ainda assim, se o novo julgamento não alcançar esta
maioria qualificada de 10 votos tendentes à condenação, o réu será absolvido. 18

1.4 Estados Unidos

Em razão da colonização pela Inglaterra, o Júri é um dos institutos mais antigos dos
Estados Unidos, tendo sido consagrado na Carta Régia outorgada ao primeiro grupo de
colonizadores ingleses que chegaram ao local, de sorte que pode ser tido como a
segunda pátria da instituição.19

O Júri norte-americano tem como peculiaridade a competência para julgar causas penais
e cíveis20 e, atualmente, tem-se que 80% dos processos efetuados perante o Tribunal do
Júri no mundo são realizados nos Estados Unidos. 21 Precisamente, os norte-americanos
defendem que a participação direta do cidadão nas decisões judiciais tem o condão de
protegê-los de eventuais execuções arbitrárias da lei. Por esta razão, o Júri constitui um
dos fundamentos da democracia estadunidense. Neste sentido, leciona Paulo Rangel: “A
pedra angular da justiça nos EUA é o processo perante o Tribunal do Júri, pois o cidadão
americano tem plena consciência de que sua participação na vida pública não apenas se
efetua a partir do direito ao voto, mas, sim, em especial, de sua integração ao corpo de
jurados. A cidadania também é exercida no Tribunal do Júri, pois o poder emana do povo
e, por intermédio dele, se evitam decisões arbitrárias na aplicação da lei”.

O Tribunal do Júri americano tem como base a Constituição, de maneira que vale
transcrever os dispositivos constitucionais que estabelecem aventado Tribunal às causas
penais e cíveis: “O julgamento de todos os crimes, exceto nos casos de impeachment,
deverá ser por Júri, e deverá ocorrer no Estado onde os referidos crimes tiverem sido
cometidos; mas quando não cometidos em território de nenhum Estado, o julgamento
deverá ocorrer no lugar ou lugares em que o Congresso, por uma lei, houver indicado.
(artigo III, Secção 2, parte final da Constituição dos Estados Unidos da América). Nos
processos de direito consuetudinário, quando o valor da causa exceder vinte dólares, 22

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será garantido o direito de julgamento pelo Júri, cuja decisão não poderá ser revista por
qualquer tribunal dos Estados Unidos senão de acordo com as regras do direito
costumeiro (Sétima Emenda à Constituição dos Estados Unidos)”. 23

Ademais, como é cediço, a competência legislativa nos Estados Unidos pertence a cada
um dos estados federados, que possuem autonomia para legislar até sobre questão
penal e processual, sendo a competência do Congresso apenas residual. 24 Por esta razão,
cada estado possui um sistema de jurado próprio e, consoante disciplina a Corte
Suprema, o número de jurados pode variar, em cada estado, entre 6 a 12 membros.
Outrossim, a decisão condenatória, em alguns lugares, imprescinde a unanimidade de
votos e, em outros, admite até a maioria de 2/3 de votos.25

Importante observar que, se tratando de matéria federal, a saber, causas de valor


superior a 75 mil dólares,26 a jurisprudência da Corte Maior norte-americana tem sido
pacífica ao determinar que o corpo de jurados deve conter 12 indivíduos e as decisões
precisam ser unânimes em matéria penal.

1.5 França

A Revolução Francesa eclodiu em 1789 e trouxe em seu âmago a propagação dos


ideários iluministas de liberdade, igualdade e fraternidade, visando instaurar a igualdade
civil por meio da democracia e combater o absolutismo monárquico. 27 À época, conforme
ensinança de José Jobson A. Arruda: “O rei monopolizava a administração, concedia
privilégio, esbanjava luxo, controlava tribunais e condenava opositores à prisão na
odiada fortaleza da Bastilha”.28

Nesta seara, o Tribunal do Júri foi instituído na França para combater o autoritarismo da
magistratura monárquica e de sua nobreza togada, formada por pessoas que compravam
seus cargos e títulos de nobreza. 29 Como paradigma, ensina Rangel: “Dotada de uma
estrutura processual inquisitiva, a França necessitava de um mecanismo de controle do
abuso estatal durante o procedimento criminal, pois a tortura, como meio de prova, era
prática comum. O Júri, então, veio colocar um freio nesse abuso representando os valores
e os ideais dos revolucionários da época que fundaram a Revolução em três conceitos
básicos: liberdade, igualdade e fraternidade. Liberdade de decisão dos cidadãos;
igualdade perante a justiça e fraternidade no exercício democrático do poder”. 30

Dessarte, tendo em vista que o Tribunal do Júri foi introduzido na França à época da
Revolução Francesa e considerando que aventada revolução teve alcance universal, com
a repercussão de seus princípios democráticos em diversas partes do mundo, pode-se
concluir que a França também constitui berço do Tribunal do Júri, eis que responsável por
sua propagação em diversos países. 31 Nas palavras de Eluf: “Com a revolução Francesa, o
Júri espalhou-se pela Europa, transformando-se em símbolo de reação ao absolutismo
monárquico”.32 Ao longo dos anos, o Júri francês sofreu diversas transformações e hoje
foi convertido na Cours d’Assies, composta por jurados e membros da magistratura,
formando, assim, o instituto do escabinato,33 analisado na sequência.

1.6 Escabinato

O Escabinato, Assessoramento ou Corte d’Assie é uma instituição muito semelhante ao


Tribunal do Júri, porém, detentora de peculiaridades próprias. Constitui um órgão
jurisdicional formado por juízes togados e juízes leigos, em que todos compõem o
Conselho de Sentença e decidem quanto à sorte do acusado. 34

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Atualmente, a França adota esse modelo, valendo-se de 3 magistrados e 9 jurados,


ressaltando que o acusado somente será condenado se houver, no mínimo, 8 votos neste
sentido.35 Igualmente, a Itália também se utiliza do escabinato, formado por meio de 2
juízes togados e 6 cidadãos, dentre os quais, ao menos 3 devem ser do sexo masculino. 36
Por fim, Portugal tem seu Tribunal do Júri composto por 3 magistrados togados, 4 jurados
efetivos e 4 suplentes. Curiosa particularidade do Tribunal português é ser facultativo,
somente ocorrendo mediante requerimento das partes.37

Com o condão de arrematar, Aury Lopes Jr., mediante aplausos de demais doutrinadores,
elogia o escabinato em detrimento do Júri, ao asseverar que: “Os conhecimentos e
convicções pessoais que os leigos (em Direito) podem aportar são extremamente úteis
para o juiz profissional, e o resultado do intercâmbio é francamente favorável para a
melhor administração da justiça. Outra vantagem apontada é que no sistema de
escabinato os juízes leigos e os profissionais formam um colegiado único, decidindo
sobre o fato e o direito, de modo que os conhecimentos de um podem suprir as lacunas
do outro. (… Concluindo, ainda, que o sistema de escabinos também possua
inconvenientes, com certeza são muito menores que aqueles enumerados para o
Tribunal do Júri. Como já apontado, não só é fundamental alterar a composição do órgão
colegiado, mas também a forma como deve se desenvolver o próprio julgamento,
incluindo aqui a necessária fundamentação que deve acompanhar a decisão”. 38

Em suma, a fulcral diferença entre o Tribunal do Júri e o escabinato, é que, no Júri, o


Conselho de Sentença, formado unicamente por juízes leigos, decide sobre a existência
de autoria e materialidade do crime, bem como sobre a ocorrência de circunstâncias
acessórias, cabendo ao Juiz-presidente apenas fixar o quantum da pena. Por seu turno,
no escabinato, os juízes leigos e togados decidem, conjuntamente, sobre a existência do
crime, sua autoria e causas acessórias e, após, ainda em conjunto, dosam e aplicam a
pena.39

2. Princípios constitucionais do Tribunal do Júri

2.1 Aspectos gerais

O Tribunal do Júri consiste na garantia fundamental àquele que praticou um crime doloso
contra a vida de ser julgado por pessoas comuns do povo. As garantias fundamentais são
disposições assecuratórias, vale dizer, instrumentos previstos para assegurar direitos
fundamentais.40 Desta maneira, o Tribunal do Júri tem a finalidade de garantir, ainda que
implicitamente, o “direito de liberdade – direito de não sofrer sanção por fato alheio –
direito à incolumidade física e moral – direito de defesa – liberdade política e de opinião –
enfim, direito à segurança em geral”.41

Assim, este instituto foi criado a partir de quatro princípios constitucionalmente


previstos, a saber, o princípio da plenitude de defesa, o princípio do sigilo das votações,
o princípio da competência mínima e o princípio da soberania dos veredictos.

2.2 Princípio da plenitude de defesa

Inicialmente, convém frisar que o jurado é, na maioria das vezes, uma pessoa leiga ao
Direito e, deve-se admitir, a formação do convencimento do leigo, muitas vezes, não se
constitui com base no fundamento jurídico contemplado nas leis, e sim nos sentimentos
comuns e populares que permeiam a sociedade.

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jurados

Destarte, como será devidamente abordado em item próprio, em que serão analisadas
decisões proferidas pelo Júri Popular, percebe-se que o ser humano tende a julgar o
próximo conforme suas convicções e paixões, em vez de se preocupar com o fechado e
gélido mundo impositivo das normas jurídicas, atitude esta que reflete diretamente na
sentença dos jurados e determina a sorte do réu.

Neste diapasão, depreende-se que constitui característica inerente à vasta maioria das
decisões do plenário popular serem atécnicas e avessas à legislação. Contudo, ao
contrário do que se possa imaginar em um primeiro momento, dita característica não
constitui uma mazela não premeditada pelos idealizadores do instituto; muito pelo
contrário, vê-se que é medida planejada, que reflete no primeiro princípio constitucional
balizador do Tribunal do Júri, vale dizer, o princípio da plenitude de defesa, previsto no
art. 5.º, XXXVIII, a, da Lei Maior.

Aventado princípio tem por característica primordial conferir ao indivíduo levado a Júri
uma maior envergadura em sua defesa, quando comparado com a mera ampla defesa
ordinária contemplada no art. 5.º, LV, da CF (LGL\1988\3). Isto porque, no Júri, o defensor
do acusado, além de construir sua tese defensiva com os usuais argumentos técnicos,
pode valer mão de argumentos extrajurídicos. Assim, embasamentos amorosos,
sentimentais, filosóficos, econômicos, dentre outros, são levantados pela defesa e
analisados, licitamente, pelo grupo de jurados. Na dicção de Uadi Lammêgo Bulos:
“Desse modo, o princípio constitucional processual penal da plenitude de defesa –
irmanado com o vetor genérico da ampla defesa – é sobremodo vasto, repercutindo,
sensivelmente, na situação jurídica vivida pelo acusado”. 42

Desta forma, fitando salvaguardar o réu, a Defesa pode alegar toda e qualquer matéria,
mesmo que não tenha base legal, de modo que se conclui que é, de fato, plena.

2.3 Princípio do sigilo das votações

De maneira prudente, a Carta da República, no art. 5.º, XXXVIII, b, prevê o sigilo das
votações, assegurando que os jurados julguem o indivíduo de maneira sigilosa, evitando
assim ingerências externas, como ameaças e intimidações.

Nos litígios judiciais, cada parte litigante só se sente justiçada quando vê atendidos os
seus interesses. Ora, se optarem pela condenação, os jurados ficam vulneráveis a sofrer
ameaças e perseguições do réu ou de seus partidários, contudo, se decidirem pela
absolvição, a perturbação pode vir por parte dos alheios à vítima. Portanto, de muita
sabedoria faz-se essa prudência constitucional que protege e garante a livre
manifestação do pensamento ao votar.43

Importa lembrar que o princípio em análise deve ser tido como adstrito às decisões dos
jurados, quando houver colisão com o princípio da publicidade, insculpido no art. 93, IX,
da CF (LGL\1988\3), segundo o qual “todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário
serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei,
se o interesse público o exigir, limitar a presença em determinados atos, às próprias
partes e a seus advogados, ou somente a estes”.44

Ademais, mencionado sigilo se dá por duas facetas. A primeira consiste no modus


operandi, em que os juízes populares votam em uma sala secreta e os votos são
impessoais, de modo que não há como saber se determinado jurado foi partidário da
tese acusatória ou defensiva.45

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Tribunal do Júri e o livre convencimento dos
jurados

Entrementes, existia uma situação em que o sigilo era indiretamente quebrado, a saber,
quando a votação era unânime. Se os 7 jurados do Conselho de Sentença votassem pela
condenação, por exemplo, o juiz togado, ao ler a sentença, a todos explanava este
placar. Por esta razão, adveio a reforma legislativa, que inaugurou a segunda faceta do
sigilo das votações por meio da vedação da unanimidade de votos. 46 Com o advento da
Lei 11.689/2008, havendo quatro votos em determinado sentido, os demais serão
descartados, de modo que o sigilo permanece devidamente protegido.

2.4 Princípio da competência mínima

Consoante o art. 5.º, XXXVIII, d, da CF (LGL\1988\3), o Tribunal do Júri possui


competência para julgar os crimes dolosos contra a vida consumados ou tentados.
Assim, preceitua o art. 74, § 1.º, do Diploma Processual Penal que cabe ao Júri o
julgamento de homicídio (art. 121, caput e §§ 1.º e 2.º, do CP (LGL\1940\2)); induzimento,
instigação ou auxílio a suicídio (art. 122, caput e parágrafo único, do CP (LGL\1940\2));
infanticídio (art. 123 do CP (LGL\1940\2)) e aborto criminoso (arts. 124, 125, 126 e 127
do CP (LGL\1940\2)).

Nesta tônica, mister ressaltar que o art. 5.º, XXXVIII, d, da Lei Maior disciplina apenas a
competência mínima do Tribunal do Júri. Isto porque a Constituição determina e garante
a atribuição do Júri para julgar os crimes dolosos contra a vida sem, contudo, colocar
óbices à ampliação do rol de competência por meio de leis infraconstitucionais. O que
não se permite é a subtração do julgamento de um crime doloso contra a vida do
Tribunal Popular. Neste sentido, merece destaque a lição de Uadi Lammêgo Bulos: “Óbvio
que os crimes dolosos contra a vida são da alçada mínima do Júri, mas a competência
para o julgamento desses delitos não se resume a esse enunciado constitucional, porque
a previsão aí é exemplificativa, jamais taxativa. Assim, outras infrações, com
características diferentes dos crimes dolosos contra a vida, devem ser submetidas à
instituição, nos termos da lei ordinária. A propósito, nada impede de serem criados
tribunais populares à semelhança do tribunal de economia popular, instituído em 1951,
para o julgamento de outros delitos”.47

Desta maneira, além de ditos crimes contra a vida, o Júri deverá julgar as infrações que
lhe são conexas, incluindo, até mesmo, as infrações de menor potencial ofensivo.

Importa consignar que o simples fato de existir o resultado morte não significa que o
delito tenha status de crime doloso contra a vida. A título de exemplo, ressaltam-se o
latrocínio e o genocídio. No que tange ao latrocínio, como lembra Mirabete, seu objeto
material é a coisa alheia móvel e a morte resulta da violência empregada pelo agente
para efetivar a subtração ou a detenção da res furtiva, ou para garantir a impunidade do
crime,48 de sorte que, malgrado haver a morte de vítimas, constitui crime contra o
patrimônio. Por seu turno, o genocídio configura crime contra a humanidade, pois “não
tem como vítima o ser humano individualmente considerado, senão alguém pertencente
a um grupo de pessoas, unidas por razões nacionais, étnicas, raciais ou religiosas”. 49
Assim, nenhum destes delitos é de competência do Júri. 50 Tubenchlak completa o
ensinamento lembrando que “(… nem sempre ‘matar alguém’ caracteriza um delito de
homicídio. A par de uma considerável gama de infrações qualificadas pelo resultado
morte, infrações estas preterdolosas, três delitos tipificados no Código Penal, cujo objeto
jurídico é o patrimônio, comportam a qualificadora morte, por conduta dolosa do agente.
São eles o roubo (art. 157, § 3.º, fine), extorsão (art. 158, § 2.º), e extorsão mediante

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sequestro (art. 159, § 3.º). A competência, nesses casos, é do Juiz singular, tendo em
vista, aqui, a prevalência ex vi legis do aspecto patrimonial sobre a vida humana”.51

Por fim, lembra André Puccinelli Júnior que a Constituição Federal prevê hipóteses de foro
privilegiado por prerrogativa de função em que a competência do Júri é deslocada para
outros órgãos jurisdicionais (arts. 29, X; 96, III; 108, I, 105, I, a; 102, I, b). Ressalta o autor
que mencionado deslocamento da competência somente é possível porque a exceção é
disciplinada pela própria Constituição Federal, que possui legitimidade para excepcionar
suas normas.52

2.5 Princípio da soberania dos veredictos

Como último princípio de que o Tribunal do Júri é corolário, destaca-se o princípio da


soberania dos veredictos (art. 5.º, XXXVIII, c, da CF (LGL\1988\3)), segundo o qual, em
regra, o mérito da decisão dos jurados deve ser preservado, de maneira que não poderá
ser alterado na esfera recursal.53

Ora, seria um verdadeiro contrassenso se a Constituição Federal, após delegar aos juízes
do povo a função de integrar a administração da Justiça, usurpasse-lhes o poder de
decidir de maneira definitiva o deslinde da demanda, alterando o teor de seus veredictos
pela via recursal. Destarte, por intermédio de mandamento constitucional, a vontade do
povo há de preponderar no que tange aos crimes dolosos contra a vida.

2.5.1 A mitigação da soberania dos veredictos

Como já esposado, o mérito da decisão dos jurados está blindado, pois é soberano, de
maneira que prepondere o desejo popular. Entretanto, quando os jurados julgam de
forma manifestamente contrária à prova dos autos, é cabível recurso de apelação, em
que o Tribunal poderá cassar o julgamento e remeter o réu a novo Júri, com outros
jurados (art. 593, III, d, do Diploma Processual Penal). Todavia, a alteração do conteúdo
da deliberação dos jurados só pode ser invocada por este fundamento uma única vez.

Há ainda a revisão criminal, prevista no art. 621 do CPP (LGL\1941\8), como hipótese
mitigadora da soberania dos veredictos dos jurados, eis que possibilita ao Tribunal
absolver o réu injustamente condenado por sentença transitada em julgado.

À guisa de exemplo, interessante trazer a lume o caso dos Irmãos Naves, ocorrido em
Minas Gerais na Época do Estado Novo, em 1937, em que os irmãos foram condenados e
encarcerados pelo homicídio de seu primo Benedito que, após 15 anos, reapareceu
vivo.54

Em casos como este de injusta condenação, malgrado ser uma aparente afronta ao
princípio em análise, o Tribunal ad quem pode absolver de plano o réu, porquanto a
soberania dos veredictos não deve preponderar quando confrontada com o princípio do
status de inocência do indivíduo.

3. A questão da soberania do veredicto – O livre convencimento imotivado e a


Democracia

3.1 A questão da soberania do veredicto

Como já explanado, a soberania dos veredictos constitui característica atribuída ao


Tribunal Popular e, consoante uma acepção técnico-jurídica, traduz a impossibilidade de

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Tribunal do Júri e o livre convencimento dos
jurados

a magistratura togada alterar as decisões proferidas no Júri.

O vocábulo “soberania” provém do latim vulgar superanu, que significa autoridade


suprema,55 de forma que, apesar dos diversos contextos em que é empregado, sempre
se encontra intimamente ligado às noções de supremacia, predomínio, autoridade,
poder, independência e governo de si mesmo.56

Como já comentado no item anterior (item 2.5), a Constituição Federal determinou que
os crimes dolosos contra a vida fossem julgados no Tribunal do Júri. Consectário lógico, a
vontade do povo deve ser respeitada, pois de nada adiantaria valer-se da sessão plenária
para decidir a sorte do réu, se o mérito do voto dos jurados pudesse ser alterado pelo
Tribunal de Justiça em eventual recurso.

3.2 Júri: opositores e defensores

James Tubenchlak lembra que, através dos séculos até os dias de hoje, opositores e
defensores do Júri vêm se digladiando com respeitáveis argumentos em ambos os lados.
Com presteza, comenta o autor que: “Centenas de páginas seriam demandadas para
elencar a infinidade de argumentos contrários e favoráveis ao Tribunal do Júri.
Destacamos, por curiosidade, dois deles: o primeiro, de Raffaele Garofalo (apud Roberto
Lyra, 1950, p. 10), atribuindo à ignorância dos jurados a parte principal das injustiças
cometidas – ‘às vezes, é evidente, pelas respostas contraditórias, que tinham a intenção
de condenar, não obstante involuntariamente absolvam, por não terem compreendido
um quesito’ – e pleiteando a abolição do Júri em nome da defesa social; o segundo, de
Magarinos Torres (1935, p. 15, n. 1): ‘O STF corrige, todo dia, decisões de todos os
tribunais togados do País…E não dá conta da incumbência!’”. 57

Convém ressaltar que, ao lado da soberania dos veredictos, pairam críticas em relação a
possíveis arbitrariedades que esta onipotência concedida aos jurados pode trazer. Isto
porque, as decisões dos jurados não demandam fundamentação, devendo os juízes
populares apenas declararem se condenam ou absolvem o réu, sem explicar as razões.
Nestes termos, a legitimidade do Júri e o poder advindo de sua soberania são
amplamente questionados por seus detratores que reconhecem que, malgrado haver os
controles judiciários já elucidados no item anterior, estes são limitados às situações
específicas de impugnação aos veredictos previstas no Diploma Processual Penal.
Outrossim, o despreparo técnico dos jurados também faz do Júri fonte de inesgotáveis
críticas de seus maledicentes. Neste sentido, revela notar a pertinente observação de
Luiza Nagib Eluf: “(… Há decisões estapafúrdias que só ocorrem em julgamentos de
crimes da competência do Júri. A atuação dos profissionais da acusação e da defesa
conta muito no convencimento dos jurados, que, às vezes, decidem levados pela
eloquência de um ou de outro. Não raro, sentenças que contrariam as provas dos autos
são anuladas pelos Tribunais de Justiça dos Estados e novos Júris têm de ser realizados
para julgar a mesma pessoa, pelo mesmo crime”.58

No entanto, apesar de o Instituto do Júri ser apontado por seus maldizentes como
gerador de arbitrariedades, seus defensores, por outra banda, têm-no como a instituição
reveladora da democracia por excelência.59

Os protetores do instituto aduzem que o Júri possibilita o julgamento do acusado por seus
pares, de forma que a decisão advinda do corpo de jurados sempre será justa, pois
traduz a vontade do povo, independente de qualquer conhecimento da lei positiva. 60

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Tribunal do Júri e o livre convencimento dos
jurados

Todavia, na prática, qualificar o Júri como instituição democrática por oportunizar o


julgamento de iguais por iguais se dissipa logo quando da escolha dos juízes populares.
Consoante o magistério de Paulo Rangel, os jurados acabam por desempenhar o papel
de expurgar do universo social os indesejáveis, e estes excluídos, por serem detentores
desta condição, não podem fazer parte do Conselho de Sentença. Chama o autor
atenção para o falacioso discurso de que o povo julga seus pares, haja vista que aquele
que julga faz parte da “sociedade organizada e incluída no sistema de um mundo
globalizado e excludente”.61 Com efeito, o Código de Processo Penal dispõe acerca da
escolha dos jurados, in verbis:

“Art. 436. O serviço do Júri é obrigatório. O alistamento compreenderá os cidadãos


maiores de 18 (dezoito) anos de notória idoneidade.

§ 1.º Nenhum cidadão poderá ser excluído dos trabalhos do Júri ou deixar de ser alistado
em razão de cor ou etnia, raça, credo, sexo, profissão, classe social ou econômica,
origem ou grau de instrução.”

“Art. 425. Anualmente, serão alistados pelo presidente do Tribunal do Júri de 800
(oitocentos) a 1.500 (um mil e quinhentos) jurados nas comarcas de mais de 1.000.000
(um milhão) de habitantes, de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) nas comarcas de mais
de 100.000 (cem mil) habitantes e de 80 (oitenta) a 400 (quatrocentos) nas comarcas de
menor população.

§ 1.º Nas comarcas onde for necessário, poderá ser aumentado o número de jurados e,
ainda, organizada lista de suplentes, depositadas as cédulas em urna especial, com as
cautelas mencionadas na parte final do § 3.º do art. 426 deste Código.

§ 2.º O juiz presidente requisitará às autoridades locais, associações de classe e de


bairro, entidades associativas e culturais, instituições de ensino em geral, universidades,
sindicatos, repartições públicas e outros núcleos comunitários a indicação de pessoas
que reúnam as condições para exercer a função de jurado”. 62

Paulo Rangel, em total consonância com James Tubenchlak, observa que a experiência no
Júri ensina, na esmagadora maioria dos casos, que o magistrado faz a requisição dos
jurados às repartições públicas, às associações e aos sindicatos de classe. 63 Destarte,
Tubenchlak enfatiza que a lista de jurados, composta quase que exclusivamente por
funcionários públicos, passa a impressão da “inexistência de outros cidadãos de ‘notória
idoneidade’ no local, exigência única contida no art. 436”. 64

Merece destaque a observação feita por Rangel de que, ao lado da vasta quantidade de
funcionários públicos ocupando o banco dos jurados, encontram-se estudantes de
Direito, vez que alguns juízes costumam oficiar às universidades públicas e privadas,
além de requisitar a repartições públicas como procuradorias do Estado, que enviam
seus funcionários bacharéis em direito. Desta forma, conclui o autor, o julgamento passa
a não ser mais elaborado por leigos e sim por técnicos na matéria, o que vai de encontro
à proposta do instituto.65

Ora, os mencionados autores demonstram que, após pertinentes observações da prática


forense, os magistrados encarregados das varas do Júri costumam chamar ao corpo de
jurados as pessoas que já entretêm com o Estado e suas entidades da Administração
indireta,66 assumindo serem estes os cidadãos de reputação ilibada e conduta moral
escorreita necessárias para exercer a função de juiz popular. Desta forma, podemos

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Tribunal do Júri e o livre convencimento dos
jurados

concluir que não há uma relação natural entre os jurados alistados e as camadas de
maior opulência, esta relação é social.

De mais a mais, a estratificação social não impera apenas na escolha dos jurados, a
divisão da sociedade entre pobres, ricos e medianos influi no resultado do Júri. Lenio
Streck explica: “Isto porque há – necessariamente – uma estreita relação entre os
resultados dos julgamentos e a composição do corpo de jurados de cada
cidade/comunidade. Pode não ser o fator determinante por si só, mas é elucidativo o fato
de que o elevado grau de participação das camadas médio-superiores no Júri tem como
consequência um elevado número de condenações”. 67

Por conseguinte, conclui Rangel que o Júri produz as condenações e encarceramentos de


acordo com a composição da classe social de seu Conselho, uma vez que os jurados
decidem em consonância com o que é bom para a camada social a qual fazem parte. 68

Augusto Thompson, dissertando sobre a discriminação da justiça penal, obtempera a


repressão social que recai sobre o indivíduo apenas por não constituir parte integrante
do grupo privilegiado. Acrescenta o autor que: “Por considerar o crime como algo típico
do pessoal da arraia miúda, os componentes das camadas bem aquinhoadas não
conseguem visualizar seus pares – façam lá o que fizerem – como delinquentes. Para
enfrentar a prática de atos perturbadores por parte de elementos do próprio meio –
inobstante estejam previstos no código como delitos – mantêm todo um mecanismo de
defesa que se realiza e se esgota dentro de suas estritas fronteiras, de sorte a poder
dispensar o apelo à intervenção da autoridade com vistas a sanar os perigos e prejuízos
oriundos daqueles atos. Mais importante que se livrar de indivíduos disruptivos,
assegurar a ordem ou punir os culpados, está a necessidade de resguardar o fetichismo
da superioridade de classe”.69

Em tempo, Thompson leciona acerca do estereótipo do delinquente e, após


considerações mais bem aprofundadas em sua obra, salienta que o pobre é considerado
como, caracteristicamente, criminoso e, por determinação legal, criminoso não ocupa o
banco dos jurados, ante a ausência da determinante “notória idoneidade”. Arremata o
autor aduzindo: “Porque, afinal de contas, não são os comportamentos (delitos) que
contam, uma vez que o importante, de fato, para o agir efetivo da justiça criminal, reside
na posição social do autor. Como sugere Austin Turk, o status de delinquente é atribuído
às pessoas não pelo que fizeram, mas pelo que são”.70

Depreende-se que, por mais que o ideal para se alcançarem justas decisões no âmbito
do Júri seja que a sociedade esteja representada em todas as suas camadas no corpo de
jurados, a prática do dia a dia denuncia que a qualidade de “notória idoneidade”
contraria a possibilidade real de o Júri ser formado por representantes das classes mais
baixas.

Há de se lembrar, contudo, que tais vícios não têm o condão de eivar de nulidade a
legitimidade do instituo do Júri Popular indiscriminadamente. Ditas disformidades do
sistema não se isentam de acometer a magistratura togada e, como explica Thompson
em seu livro,71 nem mesmo o legislador representa uma idealização ética capaz de
decretar leis neutras e imparciais. O ponto fulcral está na doença social que,
eventualmente, acomete o instituto.

Aventada patologia social, também chamada de “direito penal do autor”, em que se

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Tribunal do Júri e o livre convencimento dos
jurados

pune o sujeito mais pelo que ele é e de onde ele vem, e menos pelo que ele fez, 72 é
oriunda da discriminação existente em relação aos estratos sociais mais baixos,
discriminações estas advindas de fraquezas atribuídas a todos os membros das classes
superiores e não adstrita ao corpo de jurados.73 Em corroboração, conclui Thompson,
com inegável ousadia, que: “A teoria lombrosiana outro mérito não teve senão o de dar
cunho científico a esse sentimento do senso comum”. 74

No entanto, pode-se concluir que as maiores mazelas associadas ao Tribunal do Júri não
se desagregam dos juízes criminais togados. Assim, por suas peculiaridades, o instituto
do Júri, em que pesem as vicissitudes, ainda é capaz de promover julgamentos
completamente arrazoados e sentados, desde que o julgador, seja togado, seja leigo, se
desprenda da falsa sensação humana de que é superior ao semelhante simplesmente
porque o julga. “É fator psicológico que um indivíduo, ao julgar o outro, observa-o de
cima para baixo em um polo social como que mais elevado (…”. 75

Pode se concluir que os problemas que cercam o Júri não estão no instituto em si, e sim
na falta de conscientização daqueles que o compõe. O jurado não pode perder de vista o
viés ético que envolve sua tarefa. Para que todas as mazelas sejam superadas, a
estratificação da sociedade e a aventada doença social não podem ser levadas em conta
por aquele que presta serviço ao Estado, devendo desvincular-se de qualquer “fator
psicológico” que o faça perder o compromisso com a justiça.

Neste sentido, leciona Rangel que “não há legitimidade no ato de julgar sem que se
respeite a vida, esta compreendida em todos os seus reflexos”. 76

4. Análise de histórias reais

4.1 Apresentação

A Constituição Federal de 1988, repetindo os moldes trazidos pelas Constituições pátrias


anteriores, estabeleceu o instituto do Tribunal do Júri, bem como concedeu aos jurados a
soberania dos seus veredictos. Salienta-se que aventada garantia de soberania é
protegida pelo manto rígido da cláusula pétrea, haja vista sua previsão constar no rol de
direitos e garantias fundamentais do art. 5.º da Carta Magna.

No Brasil, o crime doloso contra a vida é a única espécie de ilícito penal que tem previsão
para ser processado e julgado perante os juízes populares. Destarte, a priori, poder-se-ia
parecer “injusto” delegar a pessoas leigas esta árdua tarefa de decidir acerca da
existência de autoria e materialidade do crime que, é cediço, mais choca a sociedade.

Todavia, por um estudo mais aprofundado deste controverso instituto do Júri, depreende-
se que, se não fosse pela ótica desvinculada dos jurados às regras do Direito, a Justiça,
no sentido mais social e menos técnico da palavra, deixaria de ser observada.

Destarte, como ficará elucidado na sequência, pode-se dizer que a justiça subdivide-se
em duas vertentes, quais sejam, a justiça de cumprir a lei positiva e a justiça nativa, que
reflete os anseios e desejos que nascem no âmago da sociedade.

Salientamos que não serão abordados casos de excludentes de ilicitude ou homicídio


culposo merecedor de perdão judicial. Pelo contrário, tentaremos, pelo presente estudo,
mostrar como um homem doente de ciúmes pode matar sua esposa a facadas e, mesmo
assim, ser absolvido, pois esta era a vontade e a justiça pela qual a sociedade,

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Tribunal do Júri e o livre convencimento dos
jurados

representada pelo corpo de jurados, pugnava.

4.2 Caso “Augusto Gallo e Margot Proença”

Era dia 3 de novembro de 1970, às 18 horas, quando a empregada do casal Carlos


Eduardo Gallo e Margot Proença, conforme o costume, avisou que poderiam jantar, pois
já estava na hora. Às terças-feiras, precisavam estar atentos porque Gallo tinha
compromisso. Jantava e saía sem demora para atender ao horário da sua aula. Assim,
soou muito estranho para ele o fato de Margot anunciar que teria de sair, estaria fora por
pouco tempo. Voltaria em 5 minutos. Intrigado, resolveu segui-la. Ela se dirigiu para o
correio. Ia postar uma carta. Cuidadosamente, ele se aproximou do guichê. Postou-se
atrás dela e, sem que ela se desse conta do que estava acontecendo, arrebatou-lhe da
mão a carta que entregava à funcionária. Margot, surpresa, reage e tenta resgatá-la.
Rasga-se a carta ao meio. Num gesto rápido, Gallo coloca no bolso da calça o que
conseguira capturar. A mulher, desesperada, tenta resgatar a outra metade da carta.
Tentativa frustrada. Que há de ter pensado a funcionária estarrecida, ante tão insólita
cena? Mas o pior ainda está por vir. Com que ansiedade, ao chegar a casa toma ele nas
mãos trêmulas a carta rasgada. Um abismo se abre naqueles segundos que correm entre
o gesto das mãos e a leitura da carta esfacelada. Que desespero sentiu ao ler as frases
que mal começavam a denunciar e logo se calavam. Que desespero no querer adivinhar
o que lá, na outra metade da carta, estava a se revelar. Precisava saber toda a verdade,
pois que parte dela terrivelmente já se expressava. Ali se encontrava uma declaração de
amor. A carta era enviada ao professor Ives Gentilhomme, um francês que estivera em
Campinas a ministrar aulas em curso de que Margot participara. 77

Era uma terça-feira. Uma entre tantas outras já vividas. O homem se prepara para jantar
com sua esposa num ato rotineiro, mas tudo se transtorna e começa ali a viver o inferno
da sua vida. Descobre que era traído por sua esposa. Sente-se ultrajado, humilhado,
derrotado.

Não tardou muito e Margot voltou para a casa. Enlouquecido, com uma arma de fogo na
mão, ameaçou-a. Tresloucado, espancou-a e empurrou-a para dentro do carro. Apontou a
arma para a cabeça da mulher. Iria vingar-se, acabaria com ela, lavaria sua honra. Mas
não disparou tiro algum. Faltou-lhe coragem para matá-la e coragem também lhe faltava
para continuar vivendo depois que descobriu a traição. Entregou-lhe o revólver pedindo
que o matasse. A mulher não se importou com ele, ela queria escapar, tenta sair do
carro. Mas não conseguiu. Gallo, ainda mais desesperado, tentou jogar o carro contra
algum obstáculo. Ele mesmo, posteriormente, declararia sua intenção de solucionar o
caso buscando a morte de ambos. Se juntos já não poderiam estar na vida, que juntos
continuassem na morte. Uma vez mais se acovardou. O que ele, verdadeiramente, queria
não era a morte, era a vida. Já poderia tê-la matado, mas não o fez. Já poderia ter-se
matado, mas não o fez. Isto porque ele queria a vida. Lembremos suas próprias
declarações: “Lançou ridiculamente um carro contra um poste, nada acontecendo”.
Repetiu a cena, nada aconteceu. Era pouca a velocidade do carro. A mulher, afinal,
consegue escapar. Profundamente humilhado, ridicularizado na hora da dor, reconheceu
o quanto fora risível. Deprimido, Gallo voltou para a casa. Enquanto o Procurador do
Estado, o respeitado professor, é ansiosamente aguardado por seus alunos para mais
uma lição de vida, o pobre homem humilhado, ultrajado, deprimido, derrotado,
desespera-se na mais cruenta descoberta de que era um marido traído. 78

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Tribunal do Júri e o livre convencimento dos
jurados

Margot não tardou a chegar acompanhada do Delegado de Polícia Luiz Hernandes, que
procurou controlar a situação. Passado aquele momento tão difícil, a decisão de Gallo foi
afastar-se de casa, viajar para algum lugar. Margot esclareceu que não havia nada entre
ela e o professor de francês, definindo o ocorrido como um devaneio literário,
argumentando que seria impossível manter um relacionamento com alguém que morava
tão longe.79

Acompanhando o desenrolar dos fatos, vamos encontrar Gallo bastante tenso e sob
efeito constante de tranquilizantes. A que ponto chegara, há de ter ele pensado. Sentia
arrependimento por ter agredido a companheira. Jamais levantara a mão contra ela.
Como há de ter sido grande a luta que travava no seu íntimo. Ela se expressava nos seus
atos. Prometeu à companheira um carro novo e tentou fazer as pazes. Ele demonstrou o
desejo de apaziguamento na relação conjugal. A luta interior provavelmente não lhe
dava trégua. Revela insegurança, mágoa, medo, revolta. Isso se evidencia nas condições
que impunha para reconciliação: queria que ela confessasse a ele os seus “pecados” a
fim de que tivessem as condições para recomeçar uma vida “limpa”. O quanto se pode
depreender da expressão: “vida limpa”. Buscava, assim, os meios para poderem
continuar uma vida a dois. Uma vida passada a limpo.

A esperança de reorganizar o lar logo foi liquidada por informações dadas pela
empregada Zenilda. Ela intrigou Gallo ao contar que o professor francês frequentava a
residência do casal quando ele viajava. “(… Gallo, então, iniciou uma investigação
particular para encontrar as provas de infidelidade de Margot, inquirindo várias pessoas
que tinham, de alguma forma, convivido com a família. Depois, levou as suas
testemunhas para contar o que sabiam ao juiz de família da Comarca, já preparando um
desquite por culpa da mulher. Entre os que foram ouvidos, estava a filha do casal, Maitê,
então com 12 anos de idade, que prestou declarações ao Juiz José Augusto Marin,
informando ter visto o mencionado professor na cama de sua mãe, vestido de pijama.
Gallo tinha medo de perder a guarda dos filhos e queria garantir que as crianças
ficassem com ele após a separação. (…. Também foi prestar declarações o filho de
criação do casal, que, na época, tinha 23 anos, Jorge das Dores Silva, o Zuza. Certa vez,
ele surpreendera Margot em casa em companhia de um oficial do Exército. O outro filho
do casal, Renê Augusto, tinha 7 e não foi ouvido pelo juiz por ser muito criança. Zenilda
também contou o que vira ao magistrado”.80

Gallo já tinha ouvido tantas informações, tantos fatos revelados nos depoimentos
prestados. Mas não estava satisfeito. Precisava saber mais, ter mais certeza. Procurou
uma empregada que trabalhou para o casal num tempo em que eles viviam bem.
Perguntou a ela, se naquela época ela teria notado alguma conduta estranha por parte
de Margot. Ela relatou que havia percebido um relacionamento da sua esposa com um
ex-aluno que se chamava Milton, pois eles se trancavam no escritório quando o marido
se ausentava de casa.81

Depois desse depoimento da empregada, falando de um tempo em que ele vivia


tranquilo, pensando que era feliz, não dava mais para esperar. Chegara ao fundo do
poço. Era humilhação demais. Marcou de se encontrar com a mulher no dia 7 de
novembro para discutirem o desquite que, segundo ele, seria amigável. Mas exigiu que a
sogra não estivesse presente, pois poderia intrometer-se. Chegando a casa no dia
marcado, encontrou a mulher na porta. Ela vestia blusa branca de algodão e saia xadrez
nas cores verde e vermelho. Tanta alegria nessas cores a envolvê-la contrastando com o

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Tribunal do Júri e o livre convencimento dos
jurados

negror trevoso que envolvia sua alma. Ela tinha 37 anos, mas parecia uma colegial. Ele
envelhecera brutalmente. Entraram juntos. Gallo, ao relembrar o fato, diz que falava com
dificuldade porque estava deprimido, moralmente arrasado e sob efeito de
medicamentos. Ao começar sua proposta, declarou que ele ficaria com os filhos, pois ela
não apresentava condições morais para tanto. E acrescentou que, depois da separação,
ela teria que sair da cidade porque sujara seu nome, transformando-o em “corno”,
manchando a casa dos filhos ao dormir ali com outro homem. Cheia de rancor, por ouvir
as imposições do marido, disse Margot que não concordava com nada do que ele queria.
Asseverou que ele era um “burguesinho” preso a nojentas convenções sociais e, em
seguida, admitiu que ela, realmente, havia tido outros homens. 82

Ah! O poder das palavras! Ele não passava de um burguesinho, expressão que definia o
que ele representava para ela. No clímax da humilhação nesse tempo de guerra
emocional, ele viu uma faca sobre o armário e a pegou, desferindo o primeiro golpe na
mulher. O “burguesinho” se vingava. Facada após facada, Gallo via perder a vida aquela
que um dia personificou seu paraíso e, naquele momento, representava o seu inferno.
Após desferir 10 facadas, Gallo causou a morte de sua esposa. 83

No dia 17 daquele mesmo mês, Gallo apresentou-se à Polícia de Campinas e, ao ser


interrogado, disse que estava “arrependido, mas sem consciência de culpa”. Iniciou-se o
processo criminal.84

Ao contrário da Constituição Federal atual, a Carta de 1969, vigente à época dos fatos,
não previa a competência originária do Tribunal de Justiça para julgar procuradores de
justiça, razão pela qual Gallo foi enviado a Júri Popular.

Apesar de todo o esforço do Ministério Público para condenar Gallo, os jurados, decidindo
com a emoção acima da técnica jurídica, compreenderam a atitude do marido traído e o
absolveram por unanimidade. Como Gallo era réu confesso e o extenso processo de 11
volumes apontava a autoria e materialidade do crime, após recurso do Parquet, o
julgamento foi anulado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, pois a decisão era
manifestamente contrária à prova dos autos,85 conforme explicado anteriormente.86

Em obediência ao Diploma Processual Penal, Gallo foi submetido a novo Júri e absolvido
por 4 votos a 3. Com efeito, dispõe o Código de Processo Penal que

“Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias:

(…

III – das decisões do Tribunal do Júri, quando:

(…

d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos.

(…

§ 3.º Se a apelação se fundar no n. III, d, deste artigo, e o tribunal ad quem se convencer


de que a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á
provimento para sujeitar o réu a novo julgamento; não se admite, porém, pelo mesmo
motivo, segunda apelação” (grifos nossos).87

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Tribunal do Júri e o livre convencimento dos
jurados

Não foram só os representantes da sociedade, por meio do exercício da Justiça Popular,


que optaram por perdoar este homicídio passional: “Maitê Proença Gallo, que,
posteriormente, tornou-se atriz de rara beleza e enorme sucesso, foi testemunha de
defesa, ouvida em plenário do Júri. Sua narrativa corroborou a versão do pai e pesou
muito na decisão absolutória dos jurados. Ela contou, em seu depoimento, que “viu o
professor (Ives Gentilhomme) dormindo no sofá-cama utilizado pela mãe, na manhã
seguinte à realização de uma festa em sua casa, em outubro de 1970”. Maitê disse a
verdade sobre o que sabia; cumpriu seu dever (…. O que se passou em sua alma
adolescente, somente ela sabe”.88

4.3 Caso “O Linchamento”

Barão Geraldo, um distrito da cidade de Campinas, na época conhecido como um local


tranquilo para se viver, teve sua paz alterada com a chegada de dois irmãos que foram
ali residir. Com o perfil agressivo e voltado para confusões, frequentemente se envolviam
em desentendimentos com os moradores da região e, em não raras vezes, os
agrediam.89

Em meados da semana santa, os irmãos receberam a visita de um parente que residia


em outra cidade, e os três, sedentos por tumulto, agrediram fisicamente uma pessoa.
Este episódio foi o estopim para que os moradores do local, até então pacatos e sempre
muito unidos, fizessem justiça com as próprias mãos. Colocaram fim ao caos que se
iniciara com a chegada dos irmãos encrenqueiros.90

Reunidos em um grupo de aproximadamente 17 integrantes, os cidadãos do distrito se


dirigiram à casa dos irmãos e espancaram os três arruaceiros, que terminaram sua noite
no hospital. Um deles permaneceu internado e por isso livrou-se da morte que se
aproximava, enquanto os outros dois foram à delegacia de polícia registrar ocorrência.
No sábado de aleluia, os 17 justiceiros retornaram à residência dos irmãos e os mataram.
Os participantes do linchamento foram submetidos a Júri Popular e, surpreendentemente,
absolvidos por unanimidade. Os jurados optaram por não punir a atrocidade, nitidamente
cruel, que ocorre quando 17 pessoas resolvem matar duas: 91 “Foi difícil ao membro do
Ministério Público sustentar, no julgamento do primeiro réu (o processo fora
desmembrado: alguns réus recorreram da sentença de pronúncia), a acusação – que era
grave: homicídio qualificado –, tendo vítimas tão ruins (quer queira, quer não, os jurados,
no crime de homicídio, julgam também a vítima). Parecia que o acusador estava com
vontade de requerer a absolvição, mas ele sustentou o libelo. (… os jurados, sem dúvida,
julgando também as vítimas, absolveram este primeiro acusado por sete votos a zero.
Pouco tempo depois, foi julgado o segundo acusado e o resultado foi quase o mesmo”. 92

4.4 Um erro técnico: da ignorância à má-fé

Era o ano de 1996 na cidade de Mogi-Mirim, em São Paulo. O réu foi levado a Júri,
acusado de ter praticado o crime previsto no art. 121 caput, do CP (LGL\1940\2) (“matar
alguém”), em processo que tramitou perante a 1.ª Vara Judicial de Mogi-Mirim. Iniciada a
sessão plenária, como ocorre em todo processo criminal, os debates começaram com a
sustentação oral do Ministério Público, órgão de acusação que possui “a responsabilidade
de representar o Estado na repressão do crime”. 93 Assim, dada a palavra ao Parquet, o
Promotor de Justiça expôs o fato delituoso e propugnou pela condenação do réu,
sustentando restarem comprovadas a autoria e a materialidade do crime. 94

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Tribunal do Júri e o livre convencimento dos
jurados

Esgotadas as teses acusatórias, passou-se a palavra para a defesa do acusado. O


advogado defensivo optou pela tese de negativa de autoria, e para tanto fez uso de uma
hora e cinquenta e cinco minutos buscando convencer os jurados que não foi o réu quem
praticara aquele injusto penal. Subsidiariamente, o defensor adotou a tese da legítima
defesa, asseverando que, caso os jurados entendessem que foi o acusado que matou a
vítima, ele o fizera para repelir injusta agressão (art. 25 do CP (LGL\1940\2)).
Posteriormente, o magistrado que presidiu a tribuna, também professor, ao comentar o
caso para seus discentes, explicou que as duas teses levantadas pela defesa são
antagônicas entre si, o que constitui erro jurídico. Acerca de teses antagônicas, salienta
Eluf que: “O que não pode ser feito é a apresentação de teses conflitantes entre si, de
maneira que uma exclua completamente a outra”,95 pois podem influenciar,
indevidamente, na decisão dos jurados, que não possuem o conhecimento técnico para
discerni-las.

Entretanto, no que tange à falta de conhecimento técnico dos jurados, o advogado de


defesa foi além, valendo mão de uma tese inexistente do direito processual penal pátrio
para ludibriar os jurados e induzi-los a erro. Em réplica, o advogado, indevidamente,
inverteu o ônus da prova, afirmando aos jurados que o Ministério Público não logrou êxito
em comprovar que não houve a legítima defesa alegada, questionando aos juízes leigos
como poderia, o Promotor, condenar o réu sem provar que ele não agiu sob o manto da
excludente de ilicitude.

Contudo, conforme disciplina o art. 156 do CPP (LGL\1941\8), o ônus de provar o fato
compete àquele que o alega. Desta maneira, como a legítima defesa foi uma tese
defensiva, cabia ao defensor provar sua ocorrência, e não à acusação comprovar que não
ocorreu. Os jurados, leigos, não sabiam deste “detalhe” técnico-jurídico, razão pela qual,
ludibriados, absolveram o réu por 5 votos a 2.

Conforme declarou o magistrado que presidiu a causa, qualquer juiz afastaria as teses de
defesa, por serem antagônicas, e desobrigariam a acusação de provar a inocorrência da
tese defensiva, mas os jurados assim não procederam, e seu veredicto, malgrado os
erros jurídicos, tiveram que prosperar, em prol da soberania.

4.5 As duas acepções da justiça

Cesare Beccaria, em sua obra Dos delitos e das penas, com presteza, sugere que as
penas decorrentes da prática de crimes devem ser aplicadas conforme a letra da lei
penal, sem que haja qualquer juízo de valor por parte do aplicador. Explica o autor que
apenas as leis podem indicar as penas de cada delito e o único detentor do direito de
estabelecer leis penais é o legislador, representante de toda a sociedade ligada por um
contrato social.96 Com efeito, tratando-se da aplicação das leis penais e suas penas,
Beccaria sustenta que os magistrados não podem ter o direito de interpretá-las, 97
devendo limitar-se à constatação da prática ou não do fato pelo réu, pois se assim não
fosse, a sorte do acusado ficaria à mercê do espírito do juiz. 98 Leciona o autor que: “O juiz
deve fazer um silogismo perfeito. A maior deve ser a lei geral; a menor, a ação conforme
ou não à lei; a consequência, a liberdade ou a pena. Se o juiz for obrigado a elaborar um
raciocínio a mais, ou se o fizer por sua conta, tudo se torna incerto e obscuro” (grifos do
original).99

Depreende-se que o autor não tarda em explicar as razões de acreditar ser necessário
extirpar qualquer juízo de valor na subsunção do fato típico à norma: somente assim o

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Tribunal do Júri e o livre convencimento dos
jurados

indivíduo poderá calcular exatamente os inconvenientes de um injusto penal, o que é


importante para desviar do crime ou dispor, com segurança, de sua liberdade e de seus
bens.100

Compulsando as ensinanças de Beccaria, percebe-se que sua preocupação – que o


julgador do crime permaneça adstrito ao comando da lei – tem por objetivo angariar
garantias ao cidadão de apenas estar preso às convenções que ele mesmo, por
intermédio dos representantes de sua comunidade, escolheu. O próprio autor alega que:
“O povo dirá: ‘Nós não somos escravos, porém protegidos pelas leis’”. 101

Entretanto, infere-se dos casos explanados nos subitens anteriores que o Tribunal do Júri
não segue esta tônica sugerida por Beccaria. Os juízes populares deste instituto não se
limitam a aferir a ocorrência do fato típico e, em caso afirmativo, aplicar a sanção
correspondente. Aos jurados é lícito não só fugir à interpretação literal da lei penal, como
desobedecê-la na integralidade. E isto ocorre porque, em algumas ocasiões, a aplicação
da letra fria da lei ao caso não resulta em verdadeira proteção à pessoa, porquanto não
tem o condão de alcançar a justiça em todas as suas vertentes.

Em consonância, Ana Cláudia Marques revela que a concepção de justiça divide-se entre
a Justiça oficial e as justiças nativas, consignando que a primeira vertente corresponde a
regras previstas nos códigos legais e a segunda, a valores éticos e morais da
sociedade.102 Aduz a autora que a Justiça oficial é estipulada em preceitos e pune a
iniciativa privada para que compense um dano causado, todavia, não raras vezes
demonstra-se insuficiente para lidar com determinadas situações. Aludida ineficiência da
Justiça oficial se dá por diversas razões, dentre as quais se destacam os valores culturais
e locais que permeiam as ações privadas e não são observados pela máquina legislativa
e judiciária. Assim sendo, a iniciativa privada “se sustenta no pressuposto ou verificação
da ineficiência da Justiça para a compensação almejada”. 103

Observa a autora que o Tribunal do Júri constitui o instituto em que ambas as acepções
de Justiça, mesmo quando antagônicas, podem se conjugar e se completar, uma vez que
os jurados realizam “provavelmente do modo mais privilegiado e agudamente sentido, a
ponte entre as duas formas de justiça, bem como dos ajustes sociais que supõem”. 104
Isto porque, inseridos em determinado local e tempo, suas decisões expressam a forma
como aquele grupo social pensa em relação a certos atos, bem como demonstram o
significado da efetiva justiça para aquela sociedade. Desta forma, quando há
compatibilidade entre a decisão dos jurados e a lei positiva, percebe-se que as duas
concepções de justiça são idênticas. Por outro lado, nos casos em que a decisão se opõe
aos preceitos legais, os jurados optaram pela justiça em sua vertente nativa em
detrimento da oficial.

No que tange ao caso Gallo e Margot, malgrado a sessão do Júri tenha sido instituída
para julgar o homicídio passional praticado pelo marido, o adultério da vítima também
estava em pauta no plenário.105 A absolvição de Gallo, réu confesso do conjugicídio,
demonstra o significado do justo nos termos da justiça nativa para aquela sociedade
cujos valores morais, à época, eram extremamente machistas. 106

Como bem obtempera Ana Cláudia Marques, o Tribunal do Júri traz à tona “um conflito
social mais amplo do que aquele que envolve as partes em litígio”, 107 e esta reflexão
reflete o julgamento do caso “linchamento”. Decerto que os jurados, ao absolverem
moradores antigos da cidade, que causaram a morte de forasteiros malqueridos,

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Tribunal do Júri e o livre convencimento dos
jurados

sopesaram a atitude dos vizinhos homicidas com os pandemônios causados pelas


vítimas e chegaram a mais uma decisão baseada em justiça nativa, concluindo que a
morte constituiu solução plausível e aceitável para frear as confusões dos baderneiros.

Por fim, em relação ao erro técnico que incorrem os jurados no último caso, é certo que
os opositores do Júri costumam invocar o desconhecimento jurídico dos jurados como um
motivo para extirpar do ordenamento esta instituição. 108 Todavia, somos adeptos ao
pensamento de Fernando da Costa Tourinho Filho, segundo o qual: “É certo que muitas
vezes as decisões do Júri deixam a desejar, mas, em compensação, quantas sentenças
dos Juízes togados não são reformadas pela Instância Superior, e quantas decisões dos
Tribunais não são anuladas pelos órgãos superiores do Poder Judiciário?”.

Conclusão

Originariamente, o Júri era uma instituição elitista e discriminatória, contudo,


hodiernamente, constitui um instituto garantidor de direitos aos cidadãos,
precipuamente, o jus libertatis. Isto porque, possibilita que os autores dos crimes dolosos
contra a vida sejam julgados por indivíduos comuns em vez de juízes togados, de sorte
que o agente possa explicar aos seus semelhantes as razões pelas quais tirou a vida de
outra pessoa.

Por óbvio, o Direito pátrio contempla a figura dos juízes togados, órgãos do Poder
Judiciário constitucionalmente previstos para atuar na prestação jurisdicional.
Paralelamente, contempla o Tribunal do Júri, previsto na Constituição Federal como
cláusula pétrea para, também, atuar na prestação jurisdicional. Ora, a coexistência
destes dois órgãos incumbidos da mesma tarefa não nos parece mero pleonasmo
jurídico.

A atuação da magistratura togada não é ilimitada, porquanto encontra suas margens na


lei positiva. Desta forma, ao magistrado só é lícito absolver o réu se estiver presente uma
das causas previstas no art. 386 do CPP (LGL\1941\8), in verbis:

“Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que
reconheça:

I – estar provada a inexistência do fato;

II – não haver prova da existência do fato;

III – não constituir o fato infração penal;

IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração penal;

V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal;

VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21,
22, 23, 26 e § 1.º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada
dúvida sobre sua existência;

VII – não existir prova suficiente para a condenação”.109

Contudo, como bem salienta Bulos, “a lei nem sempre acompanha o fato e a vontade
popular”.110 Nesta seara, a mesma limitação legal não abarca as decisões do Conselho de
Sentença. O corpo de jurados é formado por pessoas sem conhecimento técnico, de

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Tribunal do Júri e o livre convencimento dos
jurados

sorte que irão apreciar os casos de maneira desvinculada aos padrões legais. O jurado
não conhece a legislação de maneira aprofundada, tampouco o art. 386 do CPP (LGL\
1941\8), desconhece súmulas, orientações doutrinárias e as tendências jurisprudenciais.
Não obstante aventado desconhecimento jurídico, os jurados são juízes e podem
absolver o réu, ressaltando que sua decisão é inalterada em razão da soberania dos
veredictos. Por esta razão enxergamos o Júri como uma garantia, sobretudo, ao direito de
liberdade.

Entretanto, no direito pátrio atual, os jurados não detêm competência de julgar qualquer
crime, apenas os crimes dolosos contra a vida. Mas, ora! Matar alguém! Subtrair-lhe a
vida! Não nos parece um delito qualquer! Constituem ilícitos gravíssimos e envoltos em
motivos peculiares. Destarte, como lembra Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, “o
homicídio é um crime de ímpeto. Ele, muitas vezes, é praticado no calor de uma
específica situação de vida, por isso, é importante que todas as circunstâncias que o
rodeiam sejam levadas a julgamento, para que se avalie a conduta do homicida naquelas
circunstâncias. E ninguém melhor do que seus pares, isto é, as mulheres e os homens do
cotidiano”.111

A nosso ver, este é o motivo pelo qual os crimes dolosos contra a vida são, de maneira
petrificada pela Constituição Federal, de competência do Júri. A função do juiz togado é
impositiva: realizar o silogismo jurídico e aplicar a sanção penal quando a autoria e a
materialidade do crime estiverem comprovadas. Então para que o Júri? Ora, para que
exista a possibilidade de não aplicar a sanção nos casos em que a autoria e
materialidade do crime estejam comprovadas. Assim, o veredicto dos jurados vai
demonstrar se o crime cometido pelo réu – tirar a vida de outrem – é inescusável ou se
sua atitude é compreendida pelos sete representantes da sociedade, em razão dos
costumes, da cultura ou, até mesmo, da clemência. Corrobora Tubenchlak que: “Os
jurados são o ponto de contato entre o mundo real e o mundo jurídico; e o Júri é a pedra
angular da democratização da Justiça, informando-a diuturnamente a respeito dos
valores que deseja ver reconhecidos ou repudiados”. 112

Neste plano, confirmamos a tese das duas acepções de Justiça: ao lado da justiça oficial,
há a justiça nativa, que vai além daquela prevista nas leis, tão genéricas, abstratas e
impessoais. É a justiça que emana do povo e não se obstaculiza nos preceitos
normativos. Os jurados desconhecem as leis do Direito, mas sabem separar o certo do
errado.

Inegavelmente, os jurados são humanos e o homem é falho. Eventualmente, os juízes


populares podem ser induzidos pela boa oratória da acusação ou da defesa ou, até
mesmo, psicologicamente, assumir uma posição de superioridade em relação ao
acusado, seja por estar na posição de seu julgador, seja em relação à classe social
desprivilegiada do réu. Convém repetir: o jurado é homem, e o homem é falho. Também
o são os magistrados.

Por derradeiro, convém ressaltar duas pertinentes observações de Fernando da Costa


Tourinho que, perfeitamente, encerram o presente estudo: “Se por acaso o constituinte
quisesse um julgamento técnico, por óbvio não teria instituído e mantido o Júri. Este
compreende a sociedade em que vive. O Juiz togado, não. O togado compreende a lei e
dela não pode afastar-se. Ainda que sabendo que teria a mesma conduta do réu, ficaria
acorrentado, preso às provas dos autos, ao texto da lei, podendo inclusive, se ousar agir

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Tribunal do Júri e o livre convencimento dos
jurados

de outra maneira, responder por prevaricação”. 113 “Como bem disse Roberto Lyra, ‘não é
o jurado obrigado, como Juiz, a decidir pelas provas do processo, contra os impulsos da
consciência’. Os jurados têm inteira liberdade de julgar, e o fazem de acordo com sua
consciência, sem ficar adstritos à lei e à prova.”114

Salutar observar que, malgrado todas as falhas deste instituto, apenas ele possibilita que
o réu explique porque cometeu o crime e revele as razões de ter tirado a vida de outrem,
dando azo para que seus juízes decidam, não dentro dos moldes impostos pelas regras
legais, mas limitados por apenas uma barreira: suas consciências.

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1. RANGEL, Paulo. Tribunal do Júri: visão linguística, histórica, social e jurídica. 4. ed. rev.
e atual. São Paulo: Atlas, 2012. p. 40.

2. Nesse sentido: BULOS, Lammêgo Uadi. Constituição Federal anotada. 4. ed. rev. e
atual. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 200; ELUF, Luiza Nagib. A paixão no banco dos réus. 4.
ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 142; PUCCINELLI JÚNIOR, André. Curso de direito
constitucional. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 268; TUBENCHLAK, James. Tribunal do Júri:
contradições e soluções. 2. ed. rev. Rio de Janeiro: Forense, 1990. p. 3.

3. RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 42-44.

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jurados

4. TORNAGHI, Hélio. Instituições de processo penal. Rio de Janeiro: Forense, 1959. p. 314-
315. Apud TUBENCHLAK, James. Op. cit., p. 3.

5. RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 60.

6. TUBENCHLAK, James. Op. cit., p. 5.

7. Idem, ibidem.

8. RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 61.

9. Idem, p. 62.

10. TUBENCHLAK, James. Op. cit., p. 7.

11. Idem, p. 8.

12. Idem, ibidem.

13. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 31. ed. rev. e atual. São Paulo:
Saraiva, 2009. vol. 4, p. 112.

14. Idem, p. 113.

15. RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 41.

16. GUIDE CRIMINAL COURTS. Disponível em: [www.gov.uk/courts/crown-court]. Acesso


em: 17.11.2013.

17. RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 44.

18. Idem, p. 45.

19. AVELAR, Daniel Ribeiro Surdi de. O Tribunal do Júri como instrumento do Estado
Democrático de Direito. Disponível em:
[www.unibrasil.com.br/sitemestrado/_pdf/dissertacoes_2010/Disserta%C3%A7%C3%A3o
%20Daniel%20Avelar.pdf]. Acesso em: 16.11.2013. p. 22-23.

20. RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 45.

21. AVELAR, Daniel Ribeiro Surdi de. Op. cit., p. 23.

22. A cláusula de vinte dólares da Sétima Emenda não foi incorporada pelo Supremo
Tribunal Federal norte-americano. Disponível em: [http://kids.laws.com/seventh-
amendment] Acesso em: 16.11.2013.

23. CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. Disponível em:


[www.direitobrasil.adv.br/arquivospdf/constituicoes/CUSAT.pdf]. Acesso em: 16.11.2013.

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Tribunal do Júri e o livre convencimento dos
jurados

24. AVELAR, Daniel Ribeiro Surdi de. Op. cit., p. 24.

25. RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 46-47.

26. Seventh Amendment. Disponível em: [http://kids.laws.com/seventh-amendment].


Acesso em: 16.11.2013.

27. ARRUDA, José Jobson de A.; PILETTI, Nelson. Toda a história: história geral e história
do Brasil. 9. ed. São Paulo: Ática, 1999. p. 243.

28. Idem, p. 242.

29. Idem, p. 241.

30. RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 48.

31. TUBENCHLAK, James. Op. cit., p. 3.

32. ELUF, Luiza Nagib. Op. cit., p. 142.

33. RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 48.

34. Idem, p. 48.

35. Idem, ibidem.

36. Idem, p. 50.

37. Idem, p. 54-53.

38. LOPES JÚNIOR, Aury. Introdução crítica ao processo penal: fundamentos da


instrumentalidade garantista. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004. p. 148-149.

39. BULOS, Lammêgo Uadi. Op. cit., p. 200-201.

40. SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25. ed. rev. e atual.
São Paulo: Malheiros, 2005. p. 412.

41. Idem, p. 416.

42. BULOS, Lammêgo Uadi. Op. cit., p. 202.

43. RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 81.

44. BRASIL. Constituição (1998). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,


DF: Senado, 1988.

45. BULOS, Lammêgo Uadi. Op. cit., p. 202.

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jurados

46. RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 81.

47. BULOS, Lammêgo Uadi. Op. cit., p. 204.

48. MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de direito penal: parte especial,
arts. 121 a 234-B do CP (LGL\1940\2). 27. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2010. vol. 2,
p. 212.

49. TUBENCHLAK, James. Op. cit., 34.

50. BULOS, Lammêgo Uadi. Op. cit., p. 33-34.

51. TUBENCHLAK, James. Op. cit., p. 24.

52. PUCCINELLI JÚNIOR, André. Op. cit., p. 269.

53. BULOS, Lammêgo Uadi. Op. cit., p. 202-204.

54. SILVA, Camila Garcia da. O caso dos irmãos Naves: “tudo o que disse foi de medo e
pancada…”. IBCCrim – Revista Liberdades. n. 4. maio-ago. 2010. Disponível em:
[www.revistaliberdades.org.br/_upload/pdf/5/_historia.pdf]. Acesso em: 15.11.2013.

55. CARO, Herbert; BOTTARI, Maximiliano; GOMES, Francisco Casado. Dicionário de


português – latino. 1. ed. Rio de Janeiro, Porto Alegre, São Paulo: Globo, 1961. p. 483.

56. NÁUFEL, José. Novo Dicionário Jurídico Brasileiro. 2. ed. rev., atual e amp. Rio de
Janeiro: José Konfino Ed., 1959. vol. 3, p. 320.

57. TUBENCHLAK, James. Op. cit., p. 3.

58. ELUF, Luiza Nagib. Op. cit., p. XVI.

59. TUBENCHLAK, James. Op. cit., p.165.

60. Idem, ibidem.

61. RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 89.

62. BRASIL. Código de Processo Penal. Vade Mecum OAB e concursos. Obra seletiva de
autoria da Ed. Saraiva com a colaboração de Luiz Roberto Curia, Lívia Cespedes e Juliana
Nicoletti. 2. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2013.

63. RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 91.

64. TUBENCHLAK, James. Op. cit., 93.

65. RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 91.

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jurados

66. BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito administrativo. São Paulo:
Malheiros, 2003. p. 230.

67. STRECK, Lenio Luiz. Tribunal do júri: símbolos & rituais. 4. ed. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2001. p. 130.

68. RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 90.

69. THOMPSON, Augusto. Quem são os criminosos: o crime e o criminoso, entes políticos.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1998. p. 63.

70. Idem, p. 54-55.

71. Idem, p. 46-48.

72. JUNQUEIRA, Gustavo Octaviano Diniz. Direito penal. 13. ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Ed. RT, 2013. p. 35-36.

73. RANGEL, Paulo. Op. cit., p. 85.

74. THOMPSON, Augusto. Op. cit., p. 64.

75. RANGEL, Paulo. Op. cit., 89.

76. Idem, p. 262.

77. ELUF, Luiza Nagib. Op. cit., p. 61-62.

78. Idem, p. 62-63.

79. Idem, p. 63.

80. Idem, p. 63-64.

81. Idem, p. 64.

82. Idem, p. 64-65.

83. Idem, p. 65.

84. Idem, ibidem.

85. Idem, p. 69.

86. Cf. item 2.5.1

87. BRASIL. Código de Processo Penal. Vade Mecum OAB…cit.

88. ELUF, Luiza Nagib. Op. cit., p. 70.

Página 27
Tribunal do Júri e o livre convencimento dos
jurados

89. SILVA, Silvio Artur Dias da. Casos de Júri e outros casos. Campinas: Millennium, 2013.
p. 120.

90. Idem, p. 70.

91. Idem, p. 70-71.

92. Idem, p. 71.

93. ELUF, Luiza Nagib. Op. cit., p. 161-162.

94. Aula ministrada por: MARREY, José Guilherme di Rienzo. Direito processual penal.
Campinas: PUC, 29 ago. 2013.

95. ELUF, Luiza Nagib. Op. cit., p. 184.

96. BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. São Paulo: Martin Claret, 2002. p. 20.

97. Idem, p. 21.

98. Idem, p. 23.

99. Idem, p. 22.

100. Idem, p. 23.

101. Idem, p. 29.

102. MARQUES, A. Justiças e ajustes sociais. Civitas – Revista de Ciências Sociais. n. 1.


Porto Alegre, maio 2007. Disponível em:
[http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/civitas/article/view/80]. Acesso em:
15.11.2013. p. 129.

103. Idem, p. 125.

104. Idem, p. 127.

105. Idem, p. 132.

106. ELUF, Luiza Nagib. Op. cit., p. 68.

107. MARQUES, A. Op. cit., p. 140.

108. TUBENCHLAK, James. Op. cit., 3.

109. BRASIL. Código de Processo Penal. Vade Mecum OAB…cit.

110. BULOS, Lammêgo Uadi. Op. cit., p. 203.

Página 28
Tribunal do Júri e o livre convencimento dos
jurados

111. Antônio Cláudio Mariz de Oliveira. Entrevista concedida à Folha de S.Paulo de 2 set.
1996. Apud ELUF, Luiza Nagib. Op. cit., p. 141.

112. TUBENCHLAK, James. Op. cit., p. 165.

113. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Op. cit., p. 121.

114. Idem, ibidem.

Página 29

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