2 - Embriologia Humana - UFSC - Biologia Licenciatura
2 - Embriologia Humana - UFSC - Biologia Licenciatura
2 - Embriologia Humana - UFSC - Biologia Licenciatura
Humana
Embriologia Humana
Evelise Maria Nazari
Yara Maria Rauh Müller
Florianópolis, 2011.
Governo Federal Projeto Gráco Material impresso e on-line
Presidente da República Dilma Vana Rousse Coordenação Prof. Haenz Gutierrez Quintana
Ministro de Educação Fernando Haddad Equipe Henrique Eduardo Carneiro da Cunha, Juliana
Secretário de Ensino a Distância Carlos Eduardo Chuan Lu, Laís Barbosa, Ricardo Goulart Tredezini
Bielschowky Straioto
Coordenador Nacional da Universidade Aberta do
Brasil Celso Costa Equipe de Desenvolvimento de Materiais
Universidade Federal de Santa Catarina Laboratório de Novas Tecnologias - LANTEC/CED
Reitor Alvaro Toubes Prata Coordenação Geral Andrea Lapa
Vice-Reitor Carlos Alberto Justo da Silva Coordenação Pedagógica Roseli Zen Cerny
Secretário de Educação à Distância Cícero Barbosa
Material Impresso e Hipermídia
Pró-Reitora de Ensino de Graduação Yara Maria
Coordenação Laura Martins Rodrigues,
Rauh Müller
Thiago Rocha Oliveira
Pró-Reitora de Pesquisa e Extensão Débora Peres
Adaptação do Projeto Gráco Laura Martins Rodrigues,
Menezes
Thiago Rocha Oliveira
Pró-Reitora de Pós-Graduação Maria Lúcia Camargo
Diagramação Laura Martins Rodrigues, Karina Silveira,
Pró-Reitor de Desenvolvimento Humano e Social Luiz
Thiago Felipe Victorino
Henrique Vieira da Silva
Ilustrações Amanda Woehl, Andrezza Pereira, Angelo
Pró-Reitor de Infra-Estrutura João Batista Furtuoso
Bortolini Silveira, Cristiane Amaral, Grazielle Xavier, João
Pró-Reitor de Assuntos Estudantis Cláudio José Amante
Antonio Amante Machado, Kallani Maciel Bonelli, Karina
Centro de Ciências da Educação Wilson Schmidt
Silveira, Maiara Ornellas Ariño, Rafael Naravan, Tarik
Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas Assis, Thiago Felipe Victorino
na Modalidade a Distância Revisão gramatical Evillyn Kjellin, Hellen Melo Pereira
Diretora Unidade de Ensino Sonia Gonçalves Carobrez
Design Instrucional
Coordenadora de Curso Maria Márcia Imenes Ishida
Coordenação Vanessa Gonzaga Nunes
Coordenadora de Tutoria Leila da Graça Amaral
Design Instrucional Cristiane Felisbino Silva,
Coordenação Pedagógica LANTEC/CED
João Vicente Alfaya Dos Santos
Coordenação de Ambiente Virtual Alice Cybis Pereira
Comissão Editorial Viviane Mara Woehl, Alexandre
Verzani Nogueira, Odival César Gasparotto, Karoline
Kobus
Apresentação....................................................................................... 9
4. O embrião ...................................................................................... 77
4.1 Características gerais dos embriões ..................................................................... 79
4.2 Dobramentos do corpo do embrião .................................................................... 79
4.3 Morfogênese e organogênese.............................................................................. 84
Resumo.............................................................................................................................. 86
Referências ....................................................................................................................... 86
6. O feto ............................................................................................103
6.1 Características gerais do feto ............................................................................... 105
6.2 O crescimento fetal ................................................................................................ 106
6.2.1 Fatores que inuenciam o crescimento fetal ....................................... 111
6.3 Avaliação fetal ..........................................................................................................113
Resumo.............................................................................................................................116
Referências ......................................................................................................................116
Introdução
A formação do embrião sempre fascinou os homens, que em
diferentes momentos demonstraram curiosidade em saber de sua
origem, tanto da espécie como do processo formador do indivíduo.
Desde os tempos remotos, o desenvolvimento dos seres vivos tem
sido um importante foco da ciência e, através de toda a história
humana, os indivíduos têm sido estimulados a procurar as causas
desse acontecimento tão especial e, ao mesmo tempo, tão comum.
B
C
Figura 1.2 - O experimento do organizador Spemann-Mangold. (A) Um enxerto retirado próximo ao blastóporo de
um embrião de anfíbio pigmentado foi transplantado para um local diferente de um embrião não-pigmentado. (B) O
transplante iniciou uma invaginação e gastrulação secundária, as quais resultaram em uma larva inteira. (C) O enxerto
derivou tecidos que são anatomicamente integrados com as células do hospedeiro (indicando “assimilação”) (Adaptado
de HORDER, 2001).
20 Embriologia Humana
Figura 1.3 - Obras de Leonardo da Vinci, mostrando fetos em úteros abertos. Biblioteca
Real de Windsor, Inglaterra (Fonte: <www.metrocamp.com.br/pesquisa>).
Camada de células
mais internas
Embrioblasto
A Blastocele
Figura 1.4 - Micrograas de
blastocistos humanos recolhidos
Camada de células da cavidade uterina com quatro
Zona pelúciada Blastocele Trooblasto dias de desenvolvimento em
mais externas
(A) e quatro dias e meio em (B)
Corpúsculo polar (Adaptado de: MOORE, 1984).
0,1 mm
A Embriologia ao longo da história 21
A B C
Figura 1.6 - Ilustração dos planos anatômicos em fetos. (A) Plano mediano (linha cheia)
e plano sagital (linha tracejada). (B) Plano frontal. (C) Plano transversal (Adaptado de:
MOORE; PERSAUD, 2008).
Resumo
No século IV a.C. o lósofo grego Aristóteles propunha descri-
ções e suposições sobre desenvolvimento embrionário humano
e de animais, como a galinha. Ao longo do tempo, foi se crian-
do o conceito e o entendimento de Embriologia, que se estabele-
cia como uma ciência descritiva. Muitas teorias foram surgindo,
sendo que uma das mais conhecidas é a Teoria da Pré-formação,
que postulava a existência de uma miniatura de feto no interior
do espermatozoide. Muito tempo (séculos) depois nasceu a ideia
da transformação lenta e gradual no desenvolvimento. Apenas
no século XIX a Embriologia tornou-se experimental e se con-
solidou. Recentemente, os avanços na microscopia e em biologia
molecular permitem explicar os mecanismos pelos quais células
indiferenciadas transformam-se em embrião e em feto. Além da
embriologia experimental, a embriologia clínica também evoluiu
consideravelmente, com uma série de exames de diagnóstico pré-
natal. Em conjunto, embriologia descritiva, experimental e clínica
buscam a compreensão dos eventos e mecanismos envolvidos nas
diferentes etapas do desenvolvimento humano.
A Embriologia ao longo da história 25
Referências
HORDER T J. e organizer concept and modern embryology:
Anglo-American perspectives. Int. J. Dev. Biol. n. 45, p. 97-132,
2001.
MOORE, K. L. Embriologia clínica. São Paulo: Interamericana,
1984. 442 p.
MOORE, K. L.; PERSAUD, T. V. N. Embriologia clínica. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2008. 600 p.
MÜLLER, W. A. Developmental biology. New York: Springer,
1997. 382 p.
SCHOENWOLF, G. C.; BLEYL, S. B.; BRAUER, P. R.; FRANCIS-
WEST, P. H. Larsen: embriologia humana. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2009. 472 p.
2
Dos gametas ao zigoto
A leitura deste capítulo permitirá a você reconhecer os
eventos relacionados à formação e diferenciação das gôna-
das masculina e feminina (testículos e ovários) até que as
mesmas atinjam a maturidade e iniciem a produção dos
gametas.Você também conhecerá as características que di-
ferenciam os gametas humanos masculinos dos femininos,
e entenderá como ocorre o processo de fecundação até a for-
mação do zigoto.
Dos gametas ao zigoto 29
Introdução
O ciclo de vida humano é marcado por eventos como a fecun-
dação, o nascimento de um novo indivíduo, a passagem pela in-
fância, pela adolescência e a chegada à idade adulta, quando os
Gametas indivíduos atingem a maturidade sexual e tornam-se capazes de
Células haploides, também
chamadas de células sexuais, produzir gametas (Figura 2.1).
que se fundem durante a
fecundação para formar o
zigoto. São produzidas por
meio de divisão meiótica
durante a gametogênese.
Figura 2.1 – Representação geral das etapas da vida humana: da fecundação à idade adulta.
30 Embriologia Humana
Celoma intra-embrionário
Cordões seminíferos
A B C
Figura 2.2 – A gônada indiferenciada. (A) Representação esquemática destacando a presença de células germinativas (em azul)
envoltas pelas células somáticas (em rosa), formando os cordões sexuais. (Adaptado de: <http://www.embryology.ch>).
(B) Corte histológico evidenciando a organização geral dos cordões sexuais e (C) detalhe de um cordão sexual, evidenciando as
células germinativas (cabeças de setas amarelas) e somáticas (cabeças de setas pretas) (Adaptado de: MOORE; PERSAUD, 2008).
XY XX
Cordões sexuais
em regressão
Figura 2.3 – Esquema geral da diferenciação dos testículos e ovários. FDT, fator de determinação testicular
(Adaptado de: KIERSZENBAUM, 2008).
32 Embriologia Humana
Célula de sustentação
tc m
Célula de sustentação
g em divisão
g
Célula germinativa
A B
Espermatócitos
primário Espermatogônia
Espermatócitos
secundário
Espermátides
Célula de Células
Sertoli de Leydig
Espermatozoides
Espermatogênese
Figura 2.6 - (A) Testículo adulto formado por túbulos seminíferos seccionados transversalmente (A). O esquema B representa
uma secção do corte A mostrando o predomínio das células da linhagem germinativa (espermatogônias, espermatócitos I e II,
espermátides e espermatozoides). Observe também em A, as células somáticas de Sertoli (setas pretas) e células de Leydig
(seta vermelha) (Adaptado de: University of Kansas Medical Center <http://www.kumc.edu>).
Os espermatozoides
Os espermatozoides (Figura 2.7) são células altamente especia-
lizadas, conforme já visto no livro de Embriologia (disciplina de
Embriologia, ministrada em 4o período). Na medida em que são
produzidos, os espermatozoides vão sendo transportados, através
de um sistema contínuo de canais, para o epidídimo, onde serão
maturados e armazenados (Figura. 2.8). Os espermatozoides que
chegam ao epidídimo são incapazes de fertilizar o gameta femini-
no, por isso necessitam ser maturados no epidídimo.
A maturação consiste:
1. na estabilização da cromatina;
2. em modificações na carga de superfície da membrana do
espermatozoide;
Dos gametas ao zigoto 35
10 µm
Vasos sanguíneos
e nervos
Flagelo Cauda
Túbulo seminífero
Membrana
plasmática Cabeça do epidídimo
Lóbulo
Ducto eferente
Rede testicular
Mitocôndrias Peça
intermediária Túbulo reto Túnica albugínea
Corpo do
Núcleo Cabeça do epidídimo
haploide espermatozoide
Cauda do
epidídimo
Acrossoma
Figura 2.7 - Representação esquemática de Figura 2.8 - Representação geral da organização anatômica do aparelho
um espermatozoide humano, constituído por reprodutor masculino, destacando a continuidade do sistema de canais
cabeça (núcleo e acrossoma), peça intermediária entre os túbulos seminíferos do testículo e os túbulos do epidídimo
(conjunto de mitocôndrias) e cauda (agelo) (Adaptado de: <www.waukesha.uwc.edu>).
(Adaptado de: ALBERTS et al., 2008).
36 Embriologia Humana
A zona pelucida é
composta por três
glicoproteínas:
ZP1, ZP2 e ZP3
Teca externa
Vaso sanguíneo
Vaso sanguíneo da teca interna
Ovócito primário
Antro
Corona radiata
Teca interna
Teca externa
Zona pelúcida
Cúmulo oóforo
Figura 2.10 - (A) Esquemas de folículos ovarianos e cortes histológicos de ovário ilustrando os estágios de
desenvolvimento folicular durante o ciclo reprodutivo. (B) Detalhe de um folículo ovariano maduro em esquema e em
corte histológico (Adaptado de: KIERSZENBAUM, 2008).
38 Embriologia Humana
Tuba uterina
Ovário
Ovócito
Útero
Figura 2.11 - Movimento da extremidade distal das tubas uterinas no período ovulatório, otimizando a captura
do ovócito recém-ovulado (Adaptado de: MOORE; PERSAUD, 2008).
Dos gametas ao zigoto 39
Superfície do ovário
B Fluido folicular D
Desenvolvimento do
corpo lúteo
Figura 2.12 - Ovulação. (A-D) Representação das etapas da ovulação. (E) Micrograa de ovário de mulher de
45 anos durante uma histerectomia mostrando o momento da ruptura do folículo ovariano maduro durante
a ovulação (Adaptado de: MOORE; PERSAUD, 2008, e <http://fertility.amuchbetterway.com>).
40 Embriologia Humana
Útero
Tuba uterina
Ovário
Colo uterino
Vagina
Espermograma
• Teratospermia: número de espermatozoides
O homem pode se submeter a um exame chamado
anormais superior a 40%.
espermograma, que avalia as condições dos esper-
matozoides. Nesse exame são reconhecidas algu- Para haver fertilidade potencial, pelo menos 50%
mas condições de fertilidade masculina, como: dos espermatozoides devem ser móveis após 2 ho-
ras e alguns devem estar móveis após 24 horas da
• Normal: 100 milhões de espermatozoides/ml
ejaculação. A fertilidade masculina pode ainda ser
de sêmen;
inuenciada pelo uso de medicamentos e drogas,
• Oligospermia: quantidade de espermatozoi- distúrbios endócrinos, exposição a poluentes am-
des inferior a 20 milhões/ml de sêmen; bientais, tabagismo ou obstrução de um ducto
• Azoospermia: ausência de espermatozoides genital.
no sêmen;
Membrana
plasmática do
espermatozoide Fusão entre a
Membrana membrana plasmática
acrossômica do espermatozoide e
a membrana acrossômica
adjacente
Núcleo
Centríolo
*
*
Figura 2.18 - Imagens do ovócito algumas horas após a fertilização. O asterisco aponta o
espaço perivitelínico (A, B); e a seta (B), os pró-núcleos masculino e feminino (Adaptado
de <http://www.advancedfertility.com>).
Resumo
Durante a fase inicial do desenvolvimento intrauterino, meni-
nos e meninas apresentam gônadas indiferenciadas, ou seja, idên-
ticas morfologicamente. As gônadas indiferenciadas são formadas
por cordões sexuais primitivos, derivados das células somáticas e
50 Embriologia Humana
Referências
ALBERTS, B.; BRAY, D.; LEWIS, J.; RAFF, M.; ROBERTS,
K.; WATSON, J. D. Te molecular biology of the cell. London:
Garland Science, 2008. 1268 p.
GILBERT, S. F. Developmental biology. Sunderland, USA:
Sinauer, 2000. 749 p.
KIERSZENBAUM, A. L. Histologia e biologia celular. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2008. 677 p.
MELO, N. R.; PEREIRA-FILHO, A. S. Anticoncepção. São Paulo:
FEBRASGO, 1997. 127 p.
MOREIRA. M. A. Compêndio de reprodução humana. Rio de
Janeiro: Revinter, 2002. 523 p.
MOORE, K. L.; PERSAUD, T. V. N. Embriologia clínica. Rio de
Janeiro: Elsevier. 2008. 600 p.
SPEROFF, L; DARNEY, P. D. Contracepção. Rio de Janeiro:
Revinter, 1996. 278 p.
3
Do zigoto ao disco trilaminar
Neste capítulo você reconhecerá os eventos do desenvolvi-
mento humano que ocorrem durante a 1ª semana até a me-
tade da 3ª semana de desenvolvimento, intervalo de tempo
conhecido como período pré-embrionário. Você compreende-
rá os eventos da clivagem e formação da mórula, formação
do blastocisto e implantação na parede uterina, como tam-
bém os processos de gastrulação envolvidos na formação do
disco embrionário.
Do zigoto ao disco trilaminar 55
Introdução
Uma célula totipotente é No processo de fecundação, o encontro dos gametas masculino
capaz de originar todos os
tipos celulares do embrião
e feminino resulta na formação de uma célula única totipotente,
e também as células que denominada zigoto.
compõem os tecidos
extraembrionários, como os O zigoto originará, ao nal de 9 meses de gestação, um indi-
anexos embrionários. víduo constituído por trilhões de células e que apresenta tecidos
diferenciados e sistemas orgânicos funcionais. A duração média
de uma gestação humana é de 38 semanas, sendo denida como
gestação a termo pela Organização Mundial de Saúde, a gestação
Gestação pré-termo é quando com duração entre 37 e 42 semanas.
o nascimento ocorre antes da
37ª semana; gestação pós- A data de início da gestação é estimada a partir do último pe-
termo é quando o nascimento
ocorre após a 42ª semana.
ríodo menstrual (UPM), pois dicilmente as mulheres conseguem
identicar o dia em que ocorreu a ovulação. Sabe-se que o gameta
feminino deverá ser fecundado até que se complete cerca de doze
horas após a ovulação. Isso signica dizer que o dia da ovulação
praticamente corresponde ao mesmo dia da fecundação. Obvia-
mente, o desenvolvimento se inicia com a fecundação, mas na im-
possibilidade de denir este dia, toma-se por base o UPM. Assim,
somam-se às 38 semanas mais duas semanas, que correspondem
É a duração da gestação ao período entre o primeiro dia do ciclo e o dia da provável ovu-
estimada a partir do primeiro lação. Temos então a idade gestacional estimada em 40 semanas,
dia do último período
menstrual normal (UPM). a partir do UPM.
Veja o esquema a seguir, que representa um ciclo reprodutivo
com duração de 28 dias e entenda melhor a estimativa da idade
gestacional (Figura 3.1).
56 Embriologia Humana
Ciclo reprodutivo
1° 14° 28°
Início da menstruação Data da provável ovulação Último dia do ciclo
UPM Data da provável fecundação
Formação do zigoto Data provável para
o nascimento
38 semanas
40 semanas
Estágios Carmegie
Desenvolvimento Humano
Estágio 1 -zigoto
(dia 1, não está na escala)
7 8
3 (15-17 dias) (17-19 dias)
2 (4 dias)
(3 dias)
1 18
16 17
(1 dia) (44-48 dias)
15 (37-42 dias) (42-44 dias)
14
12 13 (31-35 dias) (35-38 dias)
11 (26-30 dias) (28-32 dias)
9 10 (23-26 dias)
(19-21 dias) (21-23 dias)
19 20 21
(48-51 dias) (51-53 dias) (53-54 dias) 22
(54-58 dias) 23 5 mm
(56-60 dias)
Figura 3.2 - Panorama geral do desenvolvimento humano. Sistema internacional de estagiamento, baseado nas características
morfológicas externas e internas dos indivíduos (Adaptado de: <www. embryology.med.unsw.edu.au>).
58 Embriologia Humana
Embrioblasto
Blastocele
Trofoblasto
Zônulas de
Desmossomos oclusão
Quadro 2 - Expressão de fatores de reconhecimento celular e seus receptores especícos durante a fase de
pré-implantação e implantação do blastocisto no endométrio.
Fase do Desenvolvimento Células do Blastocisto Células do Endométrio Representação
secretam o
Embrioblasto secreta IL1 Figura 3.12a
receptor IL1
Trofoblasto secretam o receptor de LIF secretam LIF Figura 3.12b
Pré-implantação
Embrioblasto e trofoblasto (apenas
na região do polo embrionário) secretam EGF Figura 3.12c
secretam receptor de EGF
Citotrofoblasto e sinciciotrofoblasto
Implantação secretam CSF1 Figura 3.12d
secretam o receptor de CSF1
Do zigoto ao disco trilaminar 65
Epitélio uterino
IL 1 α
eβ
HB-EGF
A C
B D
Figura 3.12 - Representação esquemática da interação entre o trofoblasto e o endométrio durante o processo de implantação
(Adaptado de: CATALA, 2003).
Do zigoto ao disco trilaminar 67
Sinciciotrofoblasto
Vesícula amniótica
Endométrio Amnioblastos
Embrioblasto
Trofoblasto Epiblasto
Células do
Hipoblasto hipoblasto
Blastocele começam
Trofoblasto a revestir a
blastocele
A B C
Figura 3.15 - Representação esquemática do blastocisto antes da implantação (A) e durante a implantação (B, C).
Note que o epiblasto e o hipoblasto são derivados do embrioblasto e que, acima do epiblasto, os amnioblastos iniciam
o revestimento da vesícula amniótica. Observe que, embora presente, o endométrio e o sinciciotrofoblasto não foram
representados em (C).
68 Embriologia Humana
Endométrio
Vasos
endometriais Epiblasto
Amnioblastos
Epiblasto
Hipoblasto
Hipoblasto
Células do hipoblasto
revestindo a blastocele
para formar a vesícula
vitelínica primitiva Cavidade Uterina
Epiblasto Disco
VA
embrionário
Hipoblasto bilaminar
VVP
Mesoderma extraembrionário
Celoma extraembrionário
Disco bilaminar
Vesícula amniótica
Epiblasto
Hipoblasto
Vesícula vitelínica
Linha
Epiblasto Primitiva
Linha
primitiva Figura 3.21 - Movimentos
celulares durante a
14 dias gastrulação. Note a formação
Hipoblasto Endoderma
da linha primitiva no
epiblasto. As setas indicam
o sentido da migração
celular. O primeiro conjunto
de células que imigra pela
linha primitiva formará o
endoderma e o segundo
Mesoderma Endoderma 16 dias conjunto de células formará
Mesoderma o mesoderma (Adaptado de:
extraembrionário GILBERT, 2000).
Pedículo
Linha primitiva do embrião
VA
VV
A B
Figura 3.25 - Vista superior do disco embrionário destacando a presença da linha primitiva e das
membranas bucofaríngea e cloacal (A). Vista lateral em corte do disco embrionário mostrando as
vesículas amniótica (VA) e vitelínica (VV), o disco trilaminar e as membranas bucofaríngea e cloacal (B).
Do zigoto ao disco trilaminar 75
Figura 3.26 - Representação esquemática do disco tridérmico, destacando a organização dos folhetos
embrionários (Adaptado de: <www.embryology.ch>).
76 Embriologia Humana
Resumo
Os eventos do período pré-embrionário ocorrem da 1ª semana
até a metade da 3ª semana de desenvolvimento. Após a fecunda-
ção, o zigoto se divide e forma os blastômeros durante a fase de
clivagem. Inicialmente, formam-se dois blastômeros, em seguida
quatro, oito e dezesseis blastômeros. No desenvolvimento humano
a mórula é formada por 16 blastômeros. Durante a clivagem os
blastômeros permanecem envoltos pela zona pelúcida e migram
através da tuba uterina em direção ao útero. Ao nal da 1ª semana
forma-se o blastocisto, constituído pelo embrioblasto, trofoblasto
e blastocele. Durante a 2ª semana o trofoblasto e o embrioblas-
to passam por um intenso processo de diferenciação celular. As
células do trofoblasto proliferam em direção ao endométrio, se
diferenciam em citotrofoblasto e sinciciotrofoblasto e iniciam a
invasão entre as células endometriais. Paralalamente ao processo
de implantação e de diferenciação do trofoblasto, ocorre a diferen-
ciação do embrioblasto, que resulta na formação do disco embrio-
nário bilaminar. Ainda, ao longo da 2ª semana, formam-se as vesí-
culas amniótica e vitelínica. Durante a metade inicial da 3ª semana
surge a linha primitiva e inicia a gastrulação, que corresponde ao
processo através do qual formam-se os 3 folhetos embrionários,
que são o endoderma, mesoderma e ectoderma. Organiza-se as-
sim, ao nal do período pré-embrionário, o disco trilaminar que
separa a vesícula vitelínica da vesícula amniótica.
Do zigoto ao disco trilaminar 77
Referências
CATALA, M. Embriologia: desenvolvimento humano inicial. Rio
de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2003. 188 p.
GILBERT, S. F. Developmental biology. Ed. Sinauer, 2000. 749 p.
MOORE, K. L.; PERSAUD, T. V. N. Embriologia clínica. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2008. 600 p.
RED-HORSE, K. et al. Trophoblast dierentiation during
embryo implantation and formation of the maternal-fetal
interface. J. Clin. Invest., v. 114, n. 6, p. 744-754, Sept. 2004.
SADLER, T. W. Langman: embriologia médica. Rio de Janeiro:
Guanabara-Koogan, 2005. 347 p.
SADLER, T. W. Langman: embriologia médica. Rio de Janeiro:
Guanabara-Koogan, 2010, 324 p.
SATHANANTHAN, H.; GUNASHEELA, S.; MENEZES, J.
Mechanics of human blastocyst hatching in vitro. Reprod.
Biomed. Online. v. 7, n. 2, p. 228-234, 2003.
4
O embrião
Ao ler este capítulo, você reconhecerá os principais eventos
do desenvolvimento humano que ocorrem durante a metade
nal da 3a semana até o nal da 8a semana de desenvolvi-
mento. Este período é conhecido como período embrionário,
e o indivíduo em formação passa a ser chamado de embrião.
O embrião 81
Tubo neural
em formação
A
Placa neural
Mesoderma paraxial
Mesoderma
Mesoderma lateral
Notocorda
Figura 4.1 - Micrograa do embrião e das vesículas amniótica e vitelínica no início da 4ª semana (A). Representação
esquemática do disco trilaminar, demonstrando a formação da placa neural, logo acima da notocorda (B). Representação
esquemática do disco trilaminar, demonstrando o início da formação do tubo neural durante o início da 4ª semana (C). Note
que nas guras (B) e (C) as vesículas amniótica e vitelínica não estão representadas, de modo a facilitar a visualização do disco
trilaminar (Adaptado de: (A) <www.embryology.med.unsw.edu.au>; (B e C) <www.forp.usp.br>).
Neuróporo
anterior
Crista neural
Tubo
Celoma neural
intraembrionário
Ectoderma
Somito
Mesoderma intermediário
Mesoderma somático
Mesoderma esplâncnico
Neuróporo
posterior
Linha
i ii
Figura 4.2 - Representação esquemática do embrião durante os dobramentos céfalo-caudal e
lateral. Note que na região mediana do embrião o tubo neural já está formado, enquanto que
nas extremidades anterior e posterior o tubo neural ainda não está completamente fechado
(Adaptado de: <www.forp.usp.br>).
O embrião 83
Placa
neural Membrana
cloacal
Membrana
bucofaríngea
Pedículo
Área do embrião
cardiogênica
Intestino
primitivo
Cordão
umbilical Parede
A B C do corpo
Figura 4.7 - Representação esquemática em vista lateral (A), em corte longitudinal (B) e transversal (C) do embrião durante
os dobramentos céfalo-caudal e lateral (Adaptado de: MOORE; PERSAUD, 2008).
86 Embriologia Humana
Fígado
Membro
superior
Coração
A B Estômago Alças
intestinais
Figura 4.8 - Micrograas em cortes transversais de embriões, destacando o processo de organogênese. Note em (A) a presença
da medula espinhal, dos pulmões e do coração. Em (B) pode-se visualizar, além da medula espinhal, o fígado bem volumoso, o
estômago e as alças intestinais (Adaptado de: <www.embryology.med.unsw.edu.au>).
A B C D E
Figura 4.9 - Micrograas de embriões humanos durante a morfogênese, destacando a aquisição do aspecto
humano. Em (A) vista dorsal e em (B – E) vistas laterais do embrião (Adaptado de: MOORE; PERSAUD, 2008).
O embrião 87
Olho Vesículas
encefálicas
Membro
Coração
superior
Fígado Fígado
Medula
Membro
espinhal
inferior
A B 2mm
Figura 4.11 - Embrião humano com cerca de 52 dias de desenvolvimento. Nessa idade,
os embriões medem cerca de 2,5 a 3,0 cm de comprimento, equivalente ao tamanho de
um apontador de lápis (Adaptado de: MOORE; PERSAUD, 2008).
88 Embriologia Humana
Resumo
Durante o período compreendido entre a metade da 3a semana
e a 8a semana, ocorrem os eventos do período embrionário. Os
dobramentos do corpo do embrião nos sentidos céfalo-caudal e
lateral marcam o início desse período. Como consequência dos
dobramentos, o embrião assume o aspecto cilíndrico e passa a ser
totalmente envolvido pela vesícula amniótica. Ocorre também a
internalização do teto da vesícula vitelínica para formar o intesti-
no primitivo. O embrião vai assumindo gradativamente o aspec-
to humano (morfogênese), inuenciado pelo desenvolvimento de
órgãos (organogênese) como coração, fígado e encéfalo. Ao nal
da 8a semana, o embrião apresenta cerca de 3 cm de comprimento,
possui aspecto humano e tem formado o esboço de todos os siste-
mas orgânicos.
Referências
CARLSON, B. M. Embriologia humana e biologia do
desenvolvimento. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 1996. 408 p.
MOORE, K. L.; PERSAUD, T. V. N. Embriologia clínica. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2008. 600 p.
SADLER, T. W. Langman: embriologia médica. Rio de Janeiro:
Guanabara-Koogan, 2010. 324 p.
SCHOENWOLF, G. C.; BLEYL, S. B.; BRAUER, P. R.; FRANCIS-
WEST, P. H. Larsen: embriologia humana. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2009. 472 p.
5
Diferenciação dos folhetos
embrionários durante a formação
inicial dos sistemas orgânicos
Neste capítulo, você irá conhecer os processos de diferen-
ciação dos folhetos embrionários ectoderma, mesoderma e
endoderma. Você aprenderá de que forma esses folhetos em-
brionários interagem para a formação inicial dos sistemas
orgânicos, bem como os mecanismos celulares inerentes ao
desenvolvimento, que são a proliferação, diferenciação, mi-
gração, sinalização, reconhecimento, adesão e morte celular
programada.
Diferenciação dos folhetos embrionários 93
Introdução
Para que possamos compreender a formação dos diferentes sis-
temas orgânicos a partir dos seus folhetos embrionários de ori-
gem, é necessário relembrar a organização do disco trilaminar (ver
Figura 3.26) e a posição dos folhetos embrionários durante os pro-
cessos de dobramento céfalo-caudal e lateral (ver Figuras 4.4 e 4.5).
10 2 4 7 6 4 1 23
Figura 5.1 - Organização do disco trilaminar em cortes transversais. As setas indicam a organização segmentar dos somitos
(mesoderma paraxial) e do mesoderma intermediário sob o ectoderma (Adaptado de: <www.embryology.ch>).
94 Embriologia Humana
Borda da
placa neural 1 2 3 4 6 1) Crista neural
2) Ectoderma neural
Sulco neural
3) Mesoderma paraxial
Somito
4) Mesoderma intermediário
7 10 5 5) Mesoderma lateral esplâncnico
Linha primitiva 6) Mesoderma lateral somático
7) Celoma intraembrionário
8) Ectoderma supercial
9) Tubo neural
Prega neural 8 10) Notocorda
1
9
3
Somito
10
Figura 5.2 - Representação esquemática do embrião humano em vista superior evidenciando o fechamento do
tubo neural (A, B). Cortes transversais mostrando a formação do tubo neural e das cristas neurais (C, D) (Adaptado
de Benjamim Cummins, na imprint of Addison Wesley Longman, Inc).
Quadro 1 - Diferenciação dos folhetos embrionários durante o desenvolvimento dos tecidos e órgãos
Folheto Diferenciação do folheto
Órgãos, Estruturas/Tecidos originados
embrionário embrionário
do fígado, do pâncreas
Endoderma
Epitélio da faringe, traqueia,
brônquios e pulmões
Diferenciação dos folhetos embrionários 97
Figura 5.5 - Representação esquemática da migração de células a partir de um tecido epitelial. Note no esquema, da esquerda
para a direita, que a mudança no formato da célula (colorida) precede a sua migração (Adaptado de: GILBERT, 2000).
Matriz
extracelular
Resumo
Durante o período embrionário, os folhetos embrionários dife-
renciam-se para formar os sistemas orgânicos. Para compreender a
diferenciação dos folhetos embrionários, é importante reconhecer
a posição dos mesmos no disco trilaminar antes e depois do do-
bramento do corpo do embrião. Em decorrência dos dobramentos
do corpo, o ectoderma supercial passará a envolver externamen-
te todo o embrião originando a epiderme e os anexos epidérmicos.
O ectoderma neural formará o sistema nervoso central. O endo-
derma formará o intestino primitivo, que dará origem aos sistemas
digestório e respiratório. O mesoderma irá se diferenciar em pa-
raxial, intermediário, lateral somático e lateral esplâncnico. O me-
soderma é responsável pela formação do sistema cardiovascular e
do sistema locomotor. É importante salientar que para a formação
dos sistemas orgânicos é necessária a interação entre os folhetos.
Essa interação é bem exemplicada pela participação do meso-
derma na formação dos sistemas, pois esse folheto é o responsável
pela formação de vasos sanguíneos, essenciais em todos os siste-
mas orgânicos. Na formação dos sistemas orgânicos, é essencial
que ocorram mecanismos celulares de proliferação, diferenciação,
migração, sinalização, reconhecimento, adesão e morte celular
programada.
Referências
ALBERTS, B., BRAY, D., LEWIS, J., RAFF, M., ROBERTS,
K., WATSON, J. D. Te molecular biology of the cell. London:
Garland Science, 2008. 1268 p.
CARLSON, B. M. Embriologia humana e biologia do
desenvolvimento. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 1996. 408 p.
GILBERT, S. F. Developmental biology. Sunderland, USA: Sinauer,
2000. 749 p.
MOORE, K. L.; PERSAUD, T. V. N. Embriologia clínica. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2008. 600 p.
Diferenciação dos folhetos embrionários 103
Semanas
500 20
250 10
Figura 6.2 - Representação
esquemática ilustrando,
em escala, o crescimento
de fetos humanos entre 125 5
a 12ª e a 38ª semanas de
desenvolvimento (Adaptado
de: MOORE; PERSAUD, 2008).
12 16 20 24 28 32 36 38
semanas
110 Embriologia Humana
9 12 16 20 24 28 32 36 38 semanas
Figura 6.5 - Esquema ilustrando as medidas utilizadas para determinar o tamanho dos
fetos (Adaptado de: MOORE et al., 2002).
• Fetos com menos de 500g ao nascimento são de- • Fetos nascidos com peso entre 1000 – 2000 g são
nominados de crianças com peso extremamente chamados de recém-nascidos prematuros.
baixo. Alguns destes fetos poderão sobreviver se • Fetos que apresentam ao nascimento peso médio
receberem cuidados adequados no pós-parto. 3500 g e comprimento médio de 50 cm são cha-
• Fetos nascidos com peso entre 500 – 1000 g são mados de fetos a termo. Esta condição é normal-
chamados de recém-nascidos imaturos. mente apresentada por feto que nascem entre 37
e 42 semanas de idade gestacional.
Susto
Movimentaçªo geral
Soluço
Movimento do braço
Movimento da perna
Retroexªo da cabeça
Rotaçªo da cabeça
Contato mªo-face
Movimento respiratório
Esticar-se
Abrindo a mandíbula
Anteexªo da cabeça
Bocejo
Sugando-engolindo
9 10 12 14 16 18 20
Semanas
Figura 6.7 - Representação do início dos movimentos fetais durante a 9ª e a 20ª semanas de
gestação (Adaptado de: CARLSON, 1996).
3500
O peso ao nascimento
de crianças cujas mães
3000
fumaram muito duran-
te a gravidez é em mé-
2500 dia 200 g menor que o
peso de uma criança em
Peso (g)
Semanas
Centrifugação
de células
Células fetais
4 ... e cultivadas
Análise
química
Figura 6.10 - Representação
esquemática dos passos de uma Análise de
amniocentese realizada para análise DNA
das células fetais presentes no líquido
amniótico (Adaptado de <http://www.
nature.com>). Análise
cromossômica
O feto 117
Catéter retirando
• Cordocentese: realizada após a 18ª
uma amostra das semana de gestação com auxílio de
vilosidades coriônicas ultrassom para se obter amostras de
Ultrassom sangue do cordão umbilical, o qual
será usado para diagnosticar alterações
cromossômicas numéricas, infecções
fetais e anemia fetal (Figura 6.12).
Útero
Placenta
Catéter
Feto
Retirada de uma
amostra de sangue
do cordão umbilical
Ultrassom
Placenta
Cordão umbilical
Feto Osso púbico
Útero
Figura 6.12 - Representação Vagina
esquemática da retirada de uma Medula
amostra de sangue do cordão espinhal materna
umbilical para análise das células
fetais (Adaptado de: <www.
muschealth.com>).
118 Embriologia Humana
Resumo
Durante o período compreendido entre a 9ª semana e o nas-
cimento ocorrem os eventos do período fetal. Dentre os muitos
eventos desse período, destacamos o rápido crescimento corporal
até a 20ª semana, em virtude das necessidades de espaço para o
adequado posicionamento dos órgãos que estão em fase de cres-
cimento e maturação. Já o ganho de peso corporal é mais tardio e
ocorre de modo mais expressivo entre a 21ª e a 25ª semanas e após
a 30ª semana de desenvolvimento. Esse período é caracterizado
ainda pela maturação dos sistemas orgânicos, os quais irão confe-
rir condições de viabilidade de sobrevivência após o nascimento.
Por volta da 24ª semana, os pulmões iniciam a produção de surfac-
tante, uma substância que viabilizará a respiração pulmonar. Em
torno da 29ª semana, o sistema nervoso começa a apresentar con-
dições de controlar os movimentos respiratórios e a temperatura
corporal, necessários à sobrevivência pós-natal.
Referências
ALBERTS, B.; BRAY, D.; LEWIS, J.; RAFF, M.; ROBERTS, K.;
WATSON, J. D. Molecular biology of the cell. New York: Garland
Science, 2008. 1268 p.
CARLSON, B. M. Embriologia humana e biologia do
desenvolvimento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996. 408
p.
MOORE, K. L.; PERSAUD, T. V. N.; SHIOTA, K. Atlas colorido
de embriologia clínica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.
284 p.
MOORE, K. L.; PERSAUD, T. V. N. Embriologia clínica. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2008. 600 p.
SADLER, T. W. Langman – Embriologia médica. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2010. 324 p.
SCHOENWOLF, G. C.; BLEYL, S.B.; BRAUER, P.R.; FRANCIS-
WEST, P. H. Larsen – Embriologia humana. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2009. 472 p.
7
Desenvolvimento do
sistema nervoso
Neste capítulo você irá reconhecer os principais eventos do
desenvolvimento do sistema nervoso central, os quais serão
abordados de forma simplicada, sem que se deixe, porém,
de contemplar a sua complexidade. Vamos abordar princi-
palmente os eventos do desenvolvimento que ocorrem du-
rante o período embrionário e a maturação que se inicia no
período fetal e se estende após o nascimento.
Desenvolvimento do sistema nervoso 123
Introdução
Para melhor compreender o desenvolvimento do sistema ner-
voso central, vamos didaticamente organizar este capítulo em três
partes:
1. Neurulação e organização do tubo neural;
2. Formação da medula espinhal;
3. Formação do encéfalo.
No processo de indução
neural, a notocorda por meio
de moléculas sinalizadoras 7.1 Neurulação e formação do tubo neural
inuencia o comportamento
das células do ectoderma, O sistema nervoso inicia sua formação no nal da 3a semana
levando à sua diferenciação
em ectoderma neural, o qual de desenvolvimento, por ação da notocorda, que induz a diferen-
pode ser reconhecido pela ciação do ectoderma em neural e supercial. O ectoderma neu-
mudança no formato e na
disposição das células. ral consiste em um espessamento de células na região mediana do
disco embrionário, que corresponde à placa neural (Figura 7.1).
Borda do âmnio
Placa neural A B C
2 3 2 3
1
Nó primitivo
Linha primitiva
4
Prega Neural
Sulco neural 2 2 5 6
7
Somito
Linha primitiva 10 8
9
1
Prega Neural 11 1 2
2
11
Somito
4 6
4
Borda
de âmnio
Figura 7.2 – Representação esquemática do processo de neurulação em três idades embrionárias. Em (A)
representação em vista dorsal, mostrando o fechamento do tubo neural; em (B) representação do ectoderma,
do tubo neural, das cristas neurais e da notocorda em corte transversal; em (C) representação do disco
trilaminar em corte transversal (Fonte: Adaptado de Benjamim Cummins, an imprint of Addison Wesley
Longman, Inc).
4
2
1 - Camada ependimária
2 - Camada do manto
7 3 - Camada marginal
3
1 4 - Canal central
5 - Gânglio
5 6 - Corpo da vértebra em formação
7 - Raiz dorsal
Neuroblasto
bipolar Oligodendróglia
Glioblasto
Astrócito
Neuroblasto Astrócito broso
multipolar protoplasmático
L2 L1 T11
Dura-máter
Medula
espinhal
S1
Gânglio do L1
primeiro
nervo sacro
Raiz alongada
do primeiro
C1 S1 nervo sacro L3
Fixação da
dura-máter
A Cauda equina
B
4 1 - Prosencéfalo
1 2 6 2 - Mesencéfalo
2 5 7
3 - Rombencéfalo
2 4 - Telencéfalo
5
5 - Diencéfalo
6
3 4 6 - Metencéfalo
A B 7 C Medula 7 - Mielencéfalo
espinhal
a - Telencéfalo
b - Diencéfalo
c c - Mesencéfalo
d d - Metencéfalo
1 3
b e - Mielencéfalo
e
1 - Flexura cefálica
a 2 2 - Flexura cervical
3 - Flexura pontina
ABCD
A B
C D
Figura 7.19 – Micrograas da região cefálica de fetos humanos com 10 semanas em corte sagital, observadas
em microscopia de luz. As imagens correspondem a cortes seriados de um mesmo embrião, evidenciando a
organização das paredes do encéfalo em diferentes alturas do corte, como representado no esquema à direita
(Adaptado de: <www.embryology.med.unsw.edu.au>).
Hemisfério
Ventrículo cerebral
lateral
Figura 7.20 – Micrograa da cabeça de feto
humano em corte frontal evidenciando a Olho
organização e o espaço que o telencéfalo
(hemisférios cerebrais e ventrículos laterais)
ocupa em relação às demais estruturas da Língua Cavidades
face (Adaptado de: <www.embryology. nasais
med.unsw.edu.au>).
5 meses
6 meses 7 meses
9 meses
136 Embriologia Humana
Peso corporal
Peso cerebral
Fecundação Nascimento
Resumo
O sistema nervoso central origina-se da placa neural, cuja for-
mação é induzida pela notocorda. As bordas da placa neural se ele-
vam e a porção central se aprofunda formando o sulco neural. Pos-
teriormente, as bordas se aproximam na linha média e se fundem
formando o tubo neural. A extremidade cefálica do tubo neural
dará origem ao encéfalo, formado inicialmente pelas vesículas pri-
márias e num segundo momento pelas vesículas secundárias. Já a
extremidade caudal do tubo neural irá originar a medula espinhal,
a qual mantém o padrão de organização tubular do tubo neural e
tem seu neuroepitélio organizado nas camadas ependimária, do
manto e marginal. O canal central do tubo neural irá originar os
ventrículos encefálicos e o canal central da medula espinhal. As
células do tubo neural proliferam e formam o neuroepitélio, que
dará origem aos neuroblastos (precursores dos neurônios) e aos
glioblastos (precursores das células da glia).
Desenvolvimento do sistema nervoso 137
Referências
CARLSON, B. M. Embriologia humana e biologia do
desenvolvimento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996. 408 p.
DUMM, C. G. Embriologia humana: atlas e texto. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2003. 401 p.
MOORE, K. L.; PERSAUD, T. V. N. Embriologia clínica. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2008. 600 p.
SADLER, T. W. Langman: embriologia médica. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2010. 324 p.
SCHOENWOLF, G. C.; BLEYL, S. B.; BRAUER, P. R.; FRANCIS-
WEST, P. H. Larsen: embriologia humana. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2009. 472 p.
8
Desenvolvimento do
sistema cardiovascular
Neste capítulo você irá reconhecer os principais eventos do
desenvolvimento do sistema cardiovascular, que é o primeiro
sistema a funcionar no embrião. Ele é formado exclusiva-
mente por células de origem mesodérmica. O sistema vas-
cular e o coração primitivo começam a se formar durante a
3a semana de desenvolvimento, e na 4a semana o coração já
começa a bater. Para que você compreenda melhor os eventos
envolvidos na formação do sistema cardiovascular, aborda-
remos separadamente o desenvolvimento dos vasos sanguí-
neos e o desenvolvimento do coração.
Desenvolvimento do sistema cardiovascular 143
Fígado
Baço
Linfonodos
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Meses de gestação
Mesodema
cardiogênico
Placa Cordões
neural angioblásticos
Borda do Pedículo do
âmnio embrião
B Ectoderma
Área
Nó primitivo
cardiogênica
A Linha Membrana Membrana
primitiva C bucofaríngea cloacal
Figura 8.6 - Vista dorsal do embrião antes dos dobramentos mostrando a área onde se localiza o mesoderma
cardiogênico (em vermelho) (A); em (B) detalhe das células do mesoderma cardiogênico formando cordões
angioblásticos; em (C) corte sagital do embrião mostrando a localização dos cordões angioblásticos à frente da
membrana bucofaríngea (Adaptado de: SADLER, 2010 e COCHARD, 2003).
146 Embriologia Humana
Vesícula
amniótica
Tubo
endocárdico
Vesícula Tubo
vitelínica endocárdico
Membrana Ectoderma Ectoderma Membrana
bucofaríngea neural neural bucofaríngea
Celoma
intraembrionário Notocorda
Somito
Tubos Mesoderma
Linha Primitiva endocárdicos esplâncnico
Sulco neural
Intestino Aorta dorsal
primitivo Cavidade pericárdica
Fuão dos tubos Epicárdio
endocárdicos
Tubo
endocárdico
Geleia cardíaca único
Miocárdio Pericárdio
Somito
Intestino Fusão da aorta
primitivo dorsal
Endocárdio
Miocárdio
Parede do
coração Epicárdio
Figura 8.8 - Representação esquemática de corte transversal do embrião entre o nal da 3ª semana e o início da 4ª semana,
destacando a fusão dos tubos endocárdicos em função do dobramento lateral (Adaptado: MOORE; PERSAUD, 2008).
B
A Tronco arterial
Tronco arterial
Cavidade
Bulbo
Bulbo pericárdica
Cavidade cardíaco
cardíaco
pericárdica
Ventrículo Átrio
Átrio Seio
Ventrículo Seio venoso
venoso
C D Tronco arterial
Tronco arterial
Bulbo cardíaco
Cavidade
Bulbo Átrio
Cavidade pericárdica
cardíaco Seio venoso
pericárdica
Átrio
Ventrículo
Seio
Ventrículo venoso
Figura 8.12 - Vistas laterais do coração primitivo durante os dobramentos. Acompanhe a reorientação espacial das regiões
do coração durante a 4ª semana de desenvolvimento. Em (A) o coração apresenta-se como um tubo alongado no sentido
céfalo-caudal do embrião, sendo que o ventrículo encontra-se em posição cefálica e o átrio em posição caudal; em (B) o
coração inicia o seu dobramento devido ao crescimento acentuado do ventrículo, formando a alça bulboventricular (seta
vermelha); em (C) o ventrículo passa a assumir uma posição mais caudal, enquanto o átrio posiciona-se mais cefalicamente,
devido à formação da alça bulboventricular (seta vermelha); em (D) o coração completa o seu dobramento e suas regiões
assumem seu posicionamento nal (Adaptado de: <www.embryology.ch>).
• septação atrioventricular;
• septação interventricular;
• septação interatrial;
“Os coxins endocárdi-
• Septação atrioventricular: no final da 4a semana formam-se
cos contribuem para a
formação das válvulas e dois espessamentos nas paredes do coração, um na parede dor-
septos membranosos do sal e outro na ventral. Esses espessamentos são chamados co-
coração.” xins endocárdicos e surgem na altura do futuro canal atrioven-
tricular. Durante a 5a semana os coxins endocárdicos crescem,
aproximam-se e fundem-se, dividindo o canal atrioventricular
em canal direito e canal esquerdo (Figura 8.13).
A A A A
V
V V
A
A A
A
V V
V V
}
Septo primário
Septação
Septo secundário interatrial
Septação atrioventricular
Septo interventricular
152 Embriologia Humana
Figura 8.13 - Vistas frontais do coração (em corte) durante os processos de septação
interatrial, septação atrioventricular e septação interventricular.
Resumo
O sistema cardiovascular começa a se formar na 3ª semana e na
4ª semana o coração primitivo já começa a bater. Os vasos sanguí-
neos se formam primeiramente nas regiões extraembrionárias a
partir de aglomerados de células mesodérmicas, chamadas ilho-
Desenvolvimento do sistema cardiovascular 153
A
Septo primário
Átrio direito
Forame primário
Coxin endocárdico
direito Coxin endocárdico
esquerdo
Coxin endocárdico
dorsal
Ventrículo
B
Septo primário
Septo secundário Fluxo sanguíneo
Átrio direito Átrio esquerdo
Forame oval
Forame secundário
Coxin endocárdico
dorsal Ventrículo esquerdo
Septo interventricular
Ventrículo direito
Referências
CARLSON, B. M. Embriologia humana e biologia do
desenvolvimento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996. 408 p.
COCHARD, L. R. Atlas de embriologia humana de Netter.
Porto Alegre: Artmed, 2003. 288 p.
DUMM, C. G. Embriologia humana: atlas e texto. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. 401 p.
MOORE, K. L.; PERSAUD, T. V. N. Embriologia clínica. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2008. 600 p.
SADLER, T. W. Langman – Embriologia médica. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2010. 324 p.
SCHOENWOLF, G. C.; BLEYL, S. B.; BRAUER, P.R.; FRANCIS-
WEST, P. H. Larsen – Embriologia Humana. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2009. 472 p.
SRIVASTAVA, D.; OLSON, E. N. A genetic blueprint for cardiac
development. Nature, v. 407, n. 6801, p. 221-226, 14 set. 2000.
9
Desenvolvimento do
sistema digestório
Ao ler este capítulo você reconhecerá os principais eventos
do desenvolvimento do sistema digestório, a partir do intesti-
no primitivo. A formação do intestino primitivo é uma conse-
quência dos dobramentos lateral e céfalo-caudal do embrião,
que se iniciam no nal da 3ª semana de desenvolvimento.
160 Embriologia Humana
A B
Porção média
do intestino primitivo
Intestino Médio
Membrana
cloacal
Intestino Posterior
Figura 9.2 - Em (A), representação do intestino primitivo (em amarelo) em vista lateral, destacando as membranas
bucofaríngea e cloacal; em (B), as retas tracejadas indicam os limites das regiões anterior, média e posterior do intestino
primitivo (Fonte: Adaptado de Sadler, 2010).
Esôfago Esôfago
Traqueia
Broto dos
Broto dos
pulmões
pulmões
Eixo
anteroposterior
Pequena
Estômago curvatura
Duodeno Grande
curvatura
Esôfago
Estômago
Brotamento
do fígado
Coração
Duodeno
Intestino Médio
Ducto vitelínico
Intestino posterior
Vesícula
biliar
Pâncreas
Rotação do único
Broto ventral pâncreas
do pâncreas
A B C
Figura 9.6 - Representação dos estágios de formação do pâncreas. Em (A) a formação dos brotos dorsal e ventral do pâncreas;
em (B) a rotação do broto ventral em direção ao broto dorsal; em (C) a fusão dos brotos e a formação do pâncreas único (Fonte:
Mortelé et al., 2006).
Broto dos
pulmões
Fígado
Vasos sanguíneos
originados do
Vesícula mesoderma esplâncnico
vitelínica
Estômago
A B Estômago
Duodeno
Duodeno
Porção cefálica da
alça intestinal
Vasos Broto do
sanguíneos ceco
Ducto Cólon
Intestino transverso
vitelínico
Porção caudal da delgado
Ducto
alça intestinal Vasos
vitelínico
sanguíneos
C Estômago D
Duodeno Estômago
Duodeno
Cólon
transverso Cólon Cólon
ascendente transverso
Broto do
Intestino
ceco Cólon
delgado
descendente
Ducto
vitelínico
Intestino
delgado Apêndice
Figura 9.9- Representação esquemática da alça intestinal durante o processo de rotação no interior do
cordão umbilical (A, B). Note a organização espacial dos intestinos grosso e delgado após o retorno da alça
para a cavidade abdominal (C, D) (Fonte: Adaptado de www.chronolab.com).
Bexiga urinária
Cloaca
Membrana
urogenital
Septo urorretal
Intestino Primitivo Membrana
Membrana anal
Cloacal
Canal anal
Resumo
O sistema digestório origina-se a partir do intestino primitivo,
em função dos dobramentos do corpo do embrião durante o nal
da 3a semana de desenvolvimento. O intestino primitivo é revesti-
do internamente de endoderma e é envolto por células do meso-
derma lateral esplâncnico. O endoderma originará todo o reves-
timento interno dos órgãos do sistema digestório, enquanto que
o mesoderma formará os componentes musculares, vasculares e
conjuntivos de preenchimento e de sustentação dos órgãos. O in-
testino primitivo é organizado em três regiões, a anterior, a média
e a posterior. A porção do intestino anterior formará a cavidade
oral, o esôfago, estômago, fígado, vesícula biliar, pâncreas e a parte
inicial do duodeno. A porção do intestino médio formará a outra
parte do duodeno, o jejuno, o íleo, o apêndice, o cólon ascendente
e grande parte do cólon transverso. O intestino posterior originará
168 Embriologia Humana
Referências
CARLSON, B. M. Embriologia humana e biologia do
desenvolvimento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996. 408 p.
COCHARD, L. R. Atlas de embriologia humana de Netter.
Porto Alegre: Artmed, 2003. 288 p.
DUMM, C. G. Embriologia humana: atlas e texto. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. 401 p.
MOORE, K. L.; PERSAUD, T. V. N. Embriologia clínica. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2008. 600 p.
MORTELÉ, K. J.; ROCHA, T. C.; STREETER, J. L.; TAYLOR, A.
J.. Multimodality imaging of pancreatic and biliary congenital
anomalies. Radiographics, May-Jun, n. 26 (3): 2006. 715-31 pp.
SADLER, T. W. Langman – Embriologia médica. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2010. 324 p.
SCHOENWOLF, G. C.; BLEYL, S. B.; BRAUER, P.R.; FRANCIS-
WEST, P. H. Larsen – Embriologia Humana. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2009. 472 p.
10
Membranas fetais e placenta
Ao ler este Capítulo você irá compreender que o ovo fertili-
zado contém poucos nutrientes, de tal modo que, para se de-
senvolver será necessário que ocorra a implantação do blas-
tocisto no útero. Dessa forma, durante a vida intrauterina a
nutrição e a excreção do embrião e do feto serão totalmente
dependentes da mãe. Essas exigências são atendidas pelas
membranas fetais, as quais servem como interface entre o
embrião/feto e o organismo materno.
Membranas fetais e placenta 173
Introdução
Vários aspectos relacionados às membranas fetais e à placenta
já foram abordados em outros capítulos deste Livro, pois à me-
dida que o embrião está se desenvolvendo, as membranas fetais e
a placenta também vão se estruturando. Lembre-se do que estu-
damos sobre a implantação, a formação dos discos embrionários,
dos dobramentos do corpo e da formação dos sistemas digestório
e cardiovascular. No desenvolvimento humano a relação entre mãe
e feto é muito próxima, pois todos os nutrientes atingem o feto via
placenta.
As membranas fetais são estruturas essenciais também para
o desenvolvimento de outros vertebrados, assim como diferentes
modelos de placenta são encontrados em outros mamíferos, como
estudado no Livro de Embriologia.
Sem dúvida, a placenta ocupa um lugar de destaque no desen-
volvimento humano. Sua estruturação e seu funcionamento estão
relacionados com a organização do âmnio, da vesícula vitelínica,
do alantóide e do cório, os quais serão tratados a seguir.
10.1.1 Âmnio
O âmnio se origina da vesícula amniótica, estrutura forma-
da durante a 2a semana do desenvolvimento. Com o dobramento
174 Embriologia Humana
Vesícula amniótica
Vesícula
vitelínica
Vesícula amniótica
Âmnio
Embrião
Placenta
Endométrio
Cordão umbilical
Figura 10.1 - Organização do âmnio durante o início (A) e o nal (B) do dobramento do
corpo do embrião (Fonte: Adaptado de Sadler, 2010 e www.southtexascollege.edu).
Membranas fetais e placenta 175
Coração
10.1.3 Alantoide
O alantóide se forma na 2ª semana através de uma evaginação
do teto da vesícula vitelínica em direção ao pedículo do embrião.
Após os dobramentos do embrião e formação
do intestino primitivo, o alantóide assume nova
posição no intestino posterior. Assim como a
vesícula vitelínica, também o alantoide em
embriões humanos não desempenha as fun-
Vesícula
Alantoide
ções habitualmente descritas nos livros didá-
vitelínica
ticos de embriologia. A função de excreção é
típica em embriões de cordados que se formam
A fora do corpo da mãe, como os répteis e as aves.
Sua função em embriões humanos é orientar
Pedículo do
embrião
a formação de vasos sanguíneos extraembrio-
Ectoderma
nários, que irão constituir os vasos do cordão
umbilical, pois quando ocorre o fechamento do
corpo do embrião o alantoide ca posicionado
Mesoderma
dentro do cordão umbilical (Figura 10.3).
Membrana
cloacal Alantoide
B
10.2 Placenta
Mesoderma Ectoderma A placenta (palavra que deriva do latim, em
que signica bolo, e do grego, em que signica
Intestino
primitivo bolo achatado) é o local fundamental das tro-
Alantoide cas de nutrientes e gases entre a mãe e o feto.
A placenta é um órgão maternofetal com dois
componentes: uma porção fetal que se origina
de parte do cório e uma porção materna que de-
riva do endométrio.
Cordão umbilical
Membrana
em formação A parte fetal da placenta é derivada do cório
cloacal
C viloso, enquanto que a parte materna é deriva-
da de uma porção do endométrio chamada de-
cídua basal (Figura 10.4 e 10.5).
Figura 10.3 - Representação esquemática da formação
do alantoide. Em (A), durante a 2a semana o alantoide O cório corresponde ao conjunto formado
se projeta em direção ao pedículo; em (B, C) detalhes da
região caudal do embrião evidenciando o alantoide antes pelo mesoderma extraembrionário, citotrofo-
e depois do dobramento (Fonte: Moore e Persaud, 2008).
178 Embriologia Humana
Cório viloso
Âmnio
Cavidade uterina
Resquício da
Decídua basal vesícula vitelínica
Âmnio
Decídua capsular B
A
Decídua parietal
Vagina
Resquício da
vesícula vitelínica
Cavidade uterina
Âmnio
Cório liso
Decídua parietal
C D
Membranas fetais e placenta 179
Borda
Face fetal da placenta do âmnio
Cordão umbilical
Artérias umbilicais
Vilosidades coriônicas com
vasos sanguíneos
Cordão umbilical
Cório liso
Placenta
Cordão
Âmnio umbilical
Figura 10.6 - Vista geral da disposição da placenta no útero (A). Note no detalhe (B) a presença de vasos sanguíneos no interior
das vilosidades coriônicas e no endométrio (Fonte: Adaptado de www.colorado.edu).
A B C
Blastocisto Blastocele
Vesícula
Placenta amniótica
Placentas separadas e comum
vesículas amnióticas comum
separadas
Figura 10.9 - Esquema geral da formação de gêmeos monozigóticos e dizigóticos e suas relações
com as membranas fetais. Em (A) a formação dos gêmeos ocorre durante a fase de clivagem
(monozigóticos); em (B) a divisão do blastocisto originou os gêmeos monozigóticos – nesse caso,
os gêmeos compartilham a mesma placenta, pois havia um único trofoblasto; em (C) a formação
dos gêmeos foi resultante da separação do disco embrionário, de tal modo que esses gêmeos
compartilham a placenta e a vesícula amniótica (Fonte: Adaptado de Sadler, 2010).
184 Embriologia Humana
Resumo
As membranas fetais são estruturas essenciais para o desenvol-
vimento humano, pois são as responsáveis pela interface entre o
embrião/feto e a mãe. Dentre as membranas fetais, a vesícula vi-
telínica e o alantoide são menos desenvolvidos, mas contribuem
essencialmente para a formação do intestino primitivo e para a
orientação dos vasos umbilicais, respectivamente. A placenta con-
siste de duas partes: uma parte fetal derivada do cório viloso e uma
parte materna que se origina da decídua basal. Para a manutenção
da gravidez, a placenta desempenha funções essenciais, sendo res-
ponsável por trocas gasosas, transferência de nutrientes, elimina-
ção de metabólitos e produção de hormônios. A circulação fetal
está separada da materna pela parede dos vasos das vilosidades co-
riônicas. Na gravidez de gêmeos as membranas fetais e a placenta
podem apresentar diferentes formas de organização, dependendo
da origem dos gêmeos (mono ou dizigótica) e do momento em
que ocorreu a divisão das células embrionárias, no caso dos gême-
os monozigóticos.
Referências
CARLSON, B. M. Embriologia humana e biologia do
desenvolvimento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996. 408 p.
MOORE, K. L.; PERSAUD, T. V. N. Embriologia clínica. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2008. 600 p.
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Guanabara Koogan, 2010. 324 p.
SCHOENWOLF, G. C.; BLEYL, S. B.; BRAUER, P.R.; FRANCIS-
WEST, P. H. Larsen – Embriologia Humana. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2009. 472 p.
11
Erros do desenvolvimento
Neste capítulo você irá reconhecer os tipos de anomalias
congênitas, bem como as suas prováveis causas. Você irá rela-
cionar também os tipos de anomalias congênitas com os perí-
odos do desenvolvimento nos quais elas se originam e com os
prováveis mecanismos do desenvolvimento afetados.
Erros do desenvolvimento 189
Introdução
Há algumas décadas, as anomalias congênitas, decorrentes de
erros do desenvolvimento, eram apenas diagnosticados após o
parto ou mesmo vários anos após o nascimento. Hoje o avanço
tecnológico permite diagnosticar e tratar mais cedo certos tipos de
erros do desenvolvimento.
O conhecimento de que certas substâncias ou organismos po-
dem atravessar a placenta e causar problemas no desenvolvimento
é recente, pois até 1940 era aceito que os embriões humanos esta-
vam totalmente protegidos de agentes externos. O vírus da rubéola
foi o primeiro agente externo que apresentou evidência bem docu-
Substância sintética com mentada de produzir perturbações severas de desenvolvimento, se
potencial teratogênico, que
pode provocar anomalias presente durante períodos críticos do desenvolvimento humano.
congênitas principalmente Contudo, as observações feitas por vários pesquisadores, no iní-
quando utilizada durante os 3
primeiros meses de gestação. cio da década de 1960, relacionadas à talidomida foram essenciais
para chamar a atenção para o papel das drogas na etiologia dos
defeitos congênitos humanos.
A teratologia (do grego, teras, teratos, monstro) é o ramo da ci-
ência que estuda todos os aspectos do desenvolvimento pré-natal
anormal, incluindo as causas das anomalias congênitas e suas ma-
nifestações. O termo dismora é usado especialmente para o re-
conhecimento clínico das anomalias congênitas.
190 Embriologia Humana
Período de clivagem,
implantação e formação
do disco embrionário
Figura 11.2 – Esquema geral dos períodos do desenvolvimento humano em que os sistemas orgânicos estão mais
sensíveis a teratógenos causadores de anomalias congênitas maiores ( ), e períodos nos quais são causadas anomalias
195
2 2
4 4
3 3
1 1
5 5
Rins normais
Rim supranumerário
Rim
normal
Figura 11.4 – Representação esquemática da formação de um
rim supranumerário (Adaptado de: <www.examiner.com>).
Rim
ectópico
• Hipoplasia: crescimento reduzido de uma estrutura ou órgão.
Como exemplo, podemos citar a hipoplasia da mandíbula.
• Hiperplasia: crescimento excessivo de uma estrutura ou ór-
gão. Como exemplo, podemos citar a formação de dedos muito Bexiga
grandes. urinária
Fístula traqueoesofágica
• Fístula: comunicação indevida entre dois sistemas tubulares.
Como exemplo, temos a fístula traqueoesofágica e a fístula
urorretal (Figura 11.8).
• Fendas: ausência de fusão entre dois componentes que formam
uma estrutura ou órgão. Como exemplo, temos a fenda labial e
a fenda palatina (Figura 11.9).
A B C
Figura 11.10 – Representação esquemática de guras que fazem referência a anomalias congênitas humanas. Em (A)
ciclopia; (B) sirenomelia; (C) gêmeos conjugados (Adaptado de: <www.healthreformwatch.com> e <www.nyam.org>).
Resumo
Teratologia é o ramo da ciência que estuda o desenvolvimento
pré-natal anormal, incluindo as causas das anomalias congênitas e
suas manifestações. O período do desenvolvimento mais crítico é
aquele em que a divisão celular, a diferenciação celular e a morfo-
Erros do desenvolvimento 199
Referências
CARLSON, B. M. Embriologia humana e biologia do
desenvolvimento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
1996. 408 p.
MOORE, K. L.; PERSAUD, T. V. N. Embriologia clínica.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. 600 p.
O’RAHILLY, R.; MÜLLER, F. Embriologia e teratologia
humanas. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. 468 p.
SADLER, T. W. Langman: embriologia médica. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2010. 324 p.
SCHOENWOLF, G. C.; BLEYL, S. B.; BRAUER, P. R.; FRANCIS-
WEST, P. H. Larsen: embriologia humana. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2009. 472 p.