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[...] O juiz eleito, seja em lista partidária ou de outra formalmente separada, longe de
ser o juiz mais independente é, pelo contrário, o mais dependente. Trata-se de um
juiz eleito por certo período de tempo, que estará preocupado em sua reeleição e
que, portanto, ao decidir, deve estar dependente de seu eleitorado. [...] Não resta
dúvida de que um juiz cuja permanência dependa do voto popular, deva estar
dependendo dos meios de comunicação de massa e das pesquisas de opinião, que lhe
terão mais importância do que a verdade fática e jurídica, o que não deixa de ser
uma perspectiva de produzir calafrios. (ZAFFARONI apud CAJAEIRAS;
PEREIRA; SILVA, 2009).
Pelos argumentos expostos acima, seria inviável um sistema eletivo de juízes, vez que
incompatível com a imparcialidade e a independência, decerto que a sua observância é
imprescindível ao exercício da função jurisdicional, como forma de assegurar ao
jurisdicionado a uma decisão justa e adequada.
3 REQUISITOS INTRÍNSECOS A QUALQUER FUNÇÃO PÚBLICA
4 IMPARCIALIDADE X NEUTRALIDADE
[...] não pode mais prosperar esse mito de que todo juiz é neutro, alheio a todos os
acontecimentos, apolítico, acrítico. O juiz tem, sim, um engajamento axiológico,
acredita em algo, tem princípios, é um cientista; sendo assim, suas decisões são
motivadas por aquilo em que acredita, por toda sua experiência profissional e de
vida, portanto, a atividade do julgador tem um engajamento ideológico, mesmo
sendo considerada por muitos que desejam a manutenção do “status quo”, uma
atividade neutra, em que o julgador não pode levar em consideração os fatos sociais
de sua época e demonstrar valores na motivação de sua sentença.
Uma conduta, totalmente neutra, pode ser considerada um tanto quanto perigosa, no
sentido de os julgadores cometerem inúmeras injustiças, apenas declarando o direito
preexistente, um direito emanado do Estado em que uma minoria, detém o poder de
legislar. O direito, que para muitos deve ser apenas declarado pelo julgador, mostra-
se como um instrumento hegemônico, para garantia dos interesses de uma minoria
detentora do poder, sobretudo econômico. (RAMIRO, 2007).
O sistema de seleção por meio de eleições não nega a exigência de fundamentação das
decisões, pelo contrário, deseja mantê-la plenamente, uma vez que esta é inclusive um
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Art. 93. [...] IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas
as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e
a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado
no sigilo não prejudique o interesse público à informação; (BRASIL, 1988, grifo nosso).
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Art. 489. São elementos essenciais da sentença: I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a identificação
do caso, com a suma do pedido e da contestação, e o registro das principais ocorrências havidas no andamento
do processo; II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito; III - o
dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que as partes lhe submeterem.
§ 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou
acórdão, que: I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação
com a causa ou a questão decidida; II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo
concreto de sua incidência no caso; III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão
adotada pelo julgador; V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus
fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; VI -
deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a
existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. (BRASIL, 2015, grifo nosso).
princípio do Estado democrático de Direito. Ademais, esse imperativo configura-se uma
forma de exercício de controle pelas partes da função jurisdicional.
Assim, pelo exposto, tem-se que a imparcialidade é sim de extrema importância para a
garantia dos direitos fundamentais do jurisdicionado a um devido processo legal e na
efetivação de seus direitos. No entanto, esta não deve ser tomada de forma positivista e
legalista, como bem explica Tagata e Carrato (2008):
Desta forma, se pretende uma efetivação e garantia desta dita “interpretação mais
atenta às aspirações da Justiça e do bem comum” a partir de um sistema que inclui a opinião
popular na composição dos tribunais, a eleição direta.
6 CONCLUSÃO
Nesse sentido, é possível concluir que o modelo eletivo aplicado ao Poder Judiciário
não é incompatível com critérios razoáveis de independência e garantia da imparcialidade no
julgamento das demandas a ele propostas.
Vale relembrar que um representante, embora eleito por uma parcela determinada da
sociedade, não pode/não deve representar apenas o interesses daqueles que o elegeram, mas
de toda a coletividade. Esse deverá atuar em nome e em prol do interesse da sociedade como
um todo, não somente de determinados eleitores.
Entretanto, sabe-se que o esforço para empreender qualquer sistema de controle da
atividade jurisdicional sempre requer cuidado e ponderação. Propõe-se o sistema eletivo do
Poder Judiciário como forma de restrição e controle dos poderes deste, com a manutenção de
sua independência em relação aos outros poderes estatais.
Sabe-se que não é uma tarefa fácil, mas torna-se mandatória a reestruturação da
situação atual da atividade jurisdicional no país, que se mantém superior, acomodado, impune
e ilimitado em seus poderes. Nem mesmo os princípios de responsabilidade objetiva que
regem a Administração Pública, no qual o cidadão tem direito de ressarcimento de todos os
danos e prejuízos gerados por atos públicos, se aplicam aos atos do Poder Judiciário.
Não é intenção da proposta eletiva submeter o Poder Judiciário ao controle dos outros
Poderes. Pelo contrário. As garantias perante os demais poderes, que garantem tão velada
separação dos poderes seria mantida. Entretanto, o que se propõe seria uma forma de controle
e responsabilização dos atos considerados ilegítimos e irrestritos da atividade jurisdicional.
Assim, não se pretende subjugá-lo aos demais Poderes, mas sim, àquele que lhes oferece
legitimidade, o povo.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Diário Oficial
da União, Brasília, 17 mar. 2015. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em:
16 mar. 2016.
SANTISO, Carlos. The elusive quest for the Rule of Law: promoting judicial reform in Latin
America. Brazilian Journal of Political Economy, v.23, n.3, jul./set. 2003. Disponível em:
<http://www.rep.org.br/pdf/91-6.pdf>. Acesso em: 3 ago 2017.
SILVA, Antônio Álvares da. Eleição de juízes pelo voto popular. São Paulo: LTr, 1998.
TAGATA, Cláudia Maria; CARRATO, Maria Aparecida Piveta. Função política do poder
judiciário. Revista de Ciências Jurídicas e Sociais da Unipar, Umuarama, v. 11, n. 2, p.
621-643, jul.-dez. 2008. Disponível em:
<http://revistas.unipar.br/index.php/juridica/article/download/2768/2062>. Acesso em: 3 ago
2017.