Saltar para o conteúdo

Línguas songais

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Língua songai)
Línguas songaiss
Falado em: Argélia, Benim, Burquina Fasso, Mali, Níger e Nigéria.
Região: Rio Níger.
N° total de falantes: 3 milhões
Classificação
genética:
Nilo-saarianas (controverso)

 Línguas songais
  Setentrionais
  Meridionais

Códigos do subgrupo
LINGUIST List NSI

As Línguas songais, nos dialetos de Gao e Tombuctu, são um grupo de línguas intimamente relacionadas na extensão do Rio Níger onde atualmente fica o Mali e o Níger, tem desempenhado o papel de língua franca desde a época do Império Songai. Para os linguistas o principal motivo do interesse nas Línguas songais tem sido a dificuldade em determinar sua afiliação genética: Essas línguas são geralmente inclusas no grupo das línguas nilo-saarianas, de acordo com Joseph Greenberg, 1963, mas essa classificação ainda permanece controversa, e inúmeras alternativas a ela tem sido propostas.

O nome songai não é um termo historicamente étnico tampouco linguístico, mas o nome da casta governante do Império songai. Sob a influencia do uso do francês, os falantes dessa língua no Mali cada vez mais usam esse termo para designar a etnia;[1] no entanto, outros grupos falantes do songai identificam a si mesmos utilizando outros termos étnicos como zarma, djerma ou isawaghen. No Mali, o dialeto de Gao (a leste de Tombuctu) tem sido oficialmente adotado como soŋoy padrão no ensino escolar.[2]

Alguns poemas e cartas da era pré-colonial escritos em songai existem em Tombuctu (preservados no Centro para Pesquisa Documental e Histórica Ahmad Baba [1]) escritos em alfabeto árabe. No entanto atualmente o songai tem sido escrito em alfabeto latino.

Distribuição geográfica do Império Songai

Os pesquisadores classificam as Línguas songais em dois ramos principais, o meridional e o setentrional.

  • O songai meridional é centrado no Rio Níger. Esse grupo tem sido provisoriamente classificado por alguns pesquisadores em oriental e ocidental. Heath 2005 descreve as inconsistências desse modelo e Nicolaï 1981cautelosamente propõe a classificação do grupo meridional em duas ou três divisões. A divisão ocidental é composta pelas línguas koyra chiini (KCh), ou "língua da cidade",[3] a língua local da eminente cidade de Tombuctu, e a língua djenné chiini. A divisão oriental abriga as línguas remanescentes ou dialetos zarma (Djerma), a variante do songai mais falada, com aproximadamente dois milhões de falantes (1998), esta língua é a maior no sudoeste do Niger (onde fica a desembocadura do rio), que inclui a capital Niamey. Mais ao sul encontra-se a língua dendi; fortemente influenciada pelo bariba. Ao norte da zona do zarma fala-se o kaado, na fronteira com o Mali. No Mali, a língua koyraboro senni ou koroboro senni (KS), "língua da cidade", conta com 400,000 de falantes,[4] é a língua da cidade de Gao, a sede do antigo Império Songai. A oeste fala se a língua koyra chiini que conta com aproximadamente 200,000 falantes.[4] A língua humburi senni, classificada por Nicolaï em 1981 como "songai meridional central", é falada no enclave de Hombori, ao sul da grande curva do Rio Niger River. Um outro dialeto do sudeste foi descoberto em 1998 em vilas situadas a120 km a oeste de Hombori: os falantes dessa língua a chamam de tondi songway kiini (TSK), "língua songai da montanha". Entre as Línguas songais malinesas, o TSK é a única língua do grupo que apresenta tons lexicais, e de várias formas parece ser a mais conservadora entre as Línguas songais..[5]
  • O pequeno grupo das línguas setentrionais é composto por línguas fortemente influenciadas pelo berbere falado no Saara. As variedades nômades incluem o tihishit no Niger central próximo a Mazababou (com dois sub-dialetos, o tagdal e o tabarog) e o tadaksahak falado próximo a Menaka, noroeste de Gao.[6] As variedades sedentárias incluem o tasawaq no norte do Niger (com dois dialetos, ingelsi em In-Gall e o extinto emghedeshie de Agadez) e o korandje bem ao norte, 150 km a leste da fronteira Argélia-Marrocos em Tabelbala. Variedades do tamaxeque são a maior influencia dessas Línguas songais, exceto o korandje, que aparenta ter sido mais influenciado pelas línguas beberes setentrionais. Com a influencia do berbere se estendendo não apenas no léxico, mas também na morfologia, essas línguas às vezes são vistas como línguas mistas. (cf. Alidou & Wolff 2001).

Propostas para a afiliação genética do songai

[editar | editar código-fonte]

Antes de Greenberg, a afiliação do songai era incerta. Westermann hesitou entre relacionar o grupo songai às línguas gur ou considera-lo isolado, Delafosse inseriu as Línguas songais dentro do grupo mandê. Atualmente, o songai é normalmente visto como uma língua nilo-saariana, seguindo a reclassificação de Joseph Greenberg em 1963 das línguas africanas; o argumento de Greenberg é baseado em aproximadamente 70 cognatos, incluindo pronomes. Essa teoria foi desenvolvida principalmente por Lionel Bender e Christopher Ehret; Bender vê o songai como uma família independente da família nilo-saariana. Ehret (baseado em 565 cognatos) a classifica como membro do ramo saheliano ocidental, junto às línguas maban do oeste do Sudão e leste do Chade.

No entanto, esse ponto de vista é controverso. Os argumentos de Greenberg têm sido alvo de duras críticas por Lacroix (1969, pp. 91–92), que validou apenas 30 dos cognatos reivindicados por Greenberg, e além disso questionou o fato de as comparações terem sido feitas principalmente entre o zarma e as línguas nilo-saarianas vizinhas, assim os cognatos poderiam ser apenas empréstimos. Certas similaridades entre as Línguas songais e as mande têm sido observadas desde Westermann, Mukarovsky (1966), Creissels (1981), e Nicolaï (1977, 1984) que investigaram a possível ligação com o grupo mandê; Creissels encontrou 50 similaridades, incluindo muitas partes do corpo e sufixos morfológicos (como o causativo -endi), ao passo que Nicolaï encontrou 450 palavras similares bem como alguns traços tipológicos. Porém Nicolaï eventualmente chegou a conclusão que essa abordagem não era adequada, e em 1990 propôs uma nova hipótese: que o songai é um crioulo baseado no berbere, reestruturado sob influência mandê. A favor dessa teoria há 412 possíveis similaridades, indo desde toda forma de vocabulário básico (tasa "casa") a óbvios empréstimos (anzad "violino", alkaadi "qadi".) Outros, como Gerrit Dimmendaal, não estão convencidos disso, e Nicolaï (2003) parece considerar a afiliação do songai ainda em aberto, enquanto argumenta contra as propostas de Ehret e Bender baseadas na etimologia.

Greenberg argumenta que as similaridades morfológicas com as línguas nilo-saarianas incluem os pronomes Eu (ex. zagaua ai), você ni (ex. canúri nyi), nós yer (ex. canúri -ye), vocês wor (ex. canúri -wi), afixos relativos e adjetivos -ma (ex canúri -ma) e -ko (ex. maba -ko), o sufixo plural -an (?), um hipotético sufixo plural -r (ex. teso -r) que ele alega serem similares aos pronomes yer e wor, intransitivo/passivo -a (ex. teso -o). Apenas uma pequena seleção dos supostos cognatos do songai são dados a seguir.

A mais notável similaridade com as línguas mandê listada por Creissels são os pronomes da terceira pessoa a sg. (pan-mandê a), i pl. (pan-mandê i or e), os demonstrativos wo "esse" (mandinga o, wo) e no "há" (soninke no, outros mandê na), o negativo na (encontrados em dialetos mandinga) e o perfeito negativo mana (cf. mandinga , máŋ), o subjuntivo ma (mandinga máa), o par ti (bisa ti, mandinga de/le), o conectivo verbal ka (mandinga ), os sufixos -ri (resultativo - cf. mandinka -ri, bambara -li substantivo), -ncè (etnonímia, cf. soninke -nke, mandinka -nka), -anta (ordinal, cf. soninke -ndi, mandinka -njaŋ...), -anta (particípio, cf. soninke -nte), -endi (causativo, cf. soninke, mandinka -ndi), e a pósposição ra "in" (cf. mandinga , soso ra...)

Exemplo
Palavra Tradução
terra laabu
cel beenaa
água hari
chuva isa
fogo nuune ou danji
vila koara ou koyra
homem aru/ aru-boro
mulher wey/ wey-boro
comer ɲaa
beber haŋ
grande beeri
pequeno kayna / kacca(Gao)
noite ciini
dia han ou zaari

Referências

  1. Heath 1999:2
  2. Heath 2005
  3. Heath 1999:1
  4. a b Ethnologue
  5. Heath 2005
  6. Heath 1999:xv

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]

Publisher and publication abbreviations: CSLI = Center for the Study of Language and Information. SELAF = Société d'études linguistiques et anthropologiques de France. SUGIA = Sprache und Geschichte in Afrika, journal published by Rüdiger Köppe Verlag, Cologne (Köln). Köppe = Rüdiger Köppe Verlag.

  • Charles, M. C. & J. M. Ducroz. 1976. Lexique songay-français, parler kaado du Gorouol. Paris: Leroux.
  • Dupuis-Yakouba, Auguste. 1917. Essai pratique de méthode pour l'étude de la langue songoï ou songaï [. . .]. Paris: Ernest Leroux.
  • Heath, Jeffrey. 1999. A grammar of Koyra Chiini : the Songhay of Tombuctu. Mouton de Gruyter. 453 pp
  • Heath, Jeffrey. 1999. Grammar of Koyraboro (Koroboro) Senni, the Songhay of Gao. Köln: Köppe.
  • Heath, Jeffrey. 2005. Tondi Songway Kiini (Songhay, Mali): reference grammar and TSK-English-French dictionary. Stanford: CSLI. 440 pp
  • Nicolaï, Robert. 1981. Les dialectes du songhay: contribution à l'étude des changements linguistiques. Paris: SELAF. 302 pp
  • Nicolaï, Robert & Petr Zima. 1997. Songhay. LINCOM-Europa. 52 pp
  • Prost, André. 1956. La langue soŋey et ses dialectes. Dakar: IFAN. Series: Mémoires de l'Institut Fondamental d'Afrique Noire; 47. 627 pp
  • Alidou, Husseina & Ekkehardt Wolff. 2001. "On the Non-Linear Ancestry of Tasawaq (Niger), or: How “Mixed” Can a Language Be?" in ed. Derek Nurse, Historical Language Contact in Africa, Köln: Rüdiger Köppe.
  • Bender, M. Lionel. 1996. The Nilo-Saharan Languages: A Comparative Essay. München: LINCOM-Europa. 253 pp
  • D. Creissels. 1981. "De la possibilité de rapprochements entre le songhay et les langues Niger-Congo (en particulier Mandé)." In Th. Schadeberg, M. L. Bender, eds., Nilo-Saharan : Proceedings Of The First Nilo-Saharan Linguistics Colloquium, Leiden, September 8-10, pp. 185–199. Foris Publications.
  • Ehret Christopher. 2001. A Historical-Comparative Reconstruction of Nilo-Saharan. SUGIA - Supplement 12. Köln: Köppe. 663 pp
  • Joseph Greenberg, 1963. The Languages of Africa (International Journal of American Linguistics 29.1). Bloomington, IN: Indiana University Press.
  • Lacroix, Pierre-Francis. 1971. "L'ensemble songhay-jerma: problèmes et thèmes de travail". In Acte du 8ème Congrès de la SLAO (Société Linguistique de l’Afrique Occidentale), Série H, Fasicule hors série, 87–100. Abidjan: Annales de l’Université d’Abidjan.
  • Mukarovsky, H. G. 1966. "Zur Stellung der Mandesprachen". Anthropos, 61:679-88.
  • Nicolaï, Robert. 1977. "Sur l'appartenance du songhay". Annales de la faculté des lettres de Nice, 28:129-145.
  • Nicolaï, Robert. 1984. Préliminaires à une étude sur l'origine du songhay: matériaux, problématique et hypothèses, Berlin: D. Reimer. Series: Marburger Studien zur Afrika- und Asienkunde. Serie A, Afrika; 37. 163 pp
  • Nicolaï, Robert. 1990. Parentés linguistiques (à propos du songhay). Paris: CNRS. 209 pp
  • Robert Nicolaï. 2003. La force des choses ou l'épreuve 'nilo-saharienne': questions sur les reconstructions archéologiques et l'évolution des langues. SUGIA - Supplement 13. Köln: Köppe. 577 pp
pFad - Phonifier reborn

Pfad - The Proxy pFad of © 2024 Garber Painting. All rights reserved.

Note: This service is not intended for secure transactions such as banking, social media, email, or purchasing. Use at your own risk. We assume no liability whatsoever for broken pages.


Alternative Proxies:

Alternative Proxy

pFad Proxy

pFad v3 Proxy

pFad v4 Proxy