SANTILLANA - PORT12 - 3-Herberto Helder
SANTILLANA - PORT12 - 3-Herberto Helder
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O poema
Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne.
Sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
5 ou sombra de sangue pelos canais do ser.
que te procuram
HERBERTO HELDER, Poesia toda, Lisboa, Assírio & Alvim, 1990.
2. Identifique um dos recursos estilísticos presentes nos versos 16 e 17 e comente a sua expressividade:
«tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a minha casa ardesse pousada na noite.»
5. Apresente uma interpretação para a referência aos elementos «sol», «fruto», «criança», «água»,
«deus», «leite», «mãe» (vv. 33 e 34).
ENTRE NÓS E AS PALAVRAS • Português • 12.o ano • Material fotocopiável • © Santillana
Fonte II
No sorriso louco das mães batem as leves
gotas de chuva. Nas amadas
caras loucas batem e batem
os dedos amarelos das candeias.
5 Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras. E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios.
Seu corpo move-se
pelo meio dos ossos filiais, pelos tendões
10 e órgãos mergulhados,
e as calmas mães intrínsecas sentam-se
nas cabeças filiais.
Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado
vendo tudo,
15 e queimando as imagens, alimentando as imagens
enquanto o amor é cada vez mais forte.
E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas.
20 Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo. São
silenciosas.
E a sua cara está no meio das gotas particulares
25 da chuva,
em volta das candeias. No contínuo
escorrer dos filhos.
As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
30 na combustão dos filhos, porque
os filhos estão como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães.
E as mães são poços de petróleo nas palavras dos filhos,
e atiram-se, através deles, como jatos
35 para fora da terra.
E os filhos mergulham em escafandros no interior
de muitas águas,
e trazem as mães como polvos embrulhados nas mãos
e na agudeza de toda a sua vida.
40 E o filho senta-se com a sua mãe à cabeceira da mesa,
e através dele a mãe mexe aqui e ali,
nas chávenas e nos garfos.
E através da mãe o filho pensa
que nenhuma morte é possível e as águas
45 estão ligadas entre si
por meio da mão dele que toca a cara louca
da mãe que toca a mão pressentida do filho.
E por dentro do amor, até somente ser possível
amar tudo,
e ser possível tudo ser reencontrado por dentro do amor.
4. Explique por que razão o sujeito afirma «Pensam os filhos que elas levitam.» (v. 20).
5. Apresente dois dos aspetos da relação que se estabelece entre as mães e os filhos.
HERBERTO HELDER, A faca não corta o fogo, Lisboa, Assírio & Alvim, 2008.
2. Explique, por palavras suas, a hipótese colocada pelo sujeito poético nos dois primeiros versos.
4. Atente na frase: «uma palavra, uma só, regula / ininterruptamente tudo» (vv. 8 e 9).
4.1 Explicite o seu sentido.