Helena, o Eterno Feminino
Helena, o Eterno Feminino
Helena, o Eterno Feminino
7
tar ainda em gesta~ao. Quando surgir, nascera como os de0se , .
.
ca e mentalmente desenvolv1do, · dar alguma P6lia
pronto para aJu
8, f1s1
-
ainda nao tenha paladio... CIUe
Junito Branc1ao
8
si-
ue
1-----
.
IS
,-
e
a
lntrodu~ao
10
t
.2 - - - - -
Um primeiro encontro com a
.mulher grega
11
,.1_,,,. ( mposta segundo se ere, pelos fins do seculo IX a C )
a /11,UUU co ' · t c no
4-760 que traz o nnportan e a1.c11ogo das Naus
4-.{1 • • ,
12
que era apanagio da mulher.
Na llfada e na Odisseia, onde a cultura creto-micenica tern
a presen~a garantida, existe uma pequena, mas encantadora galeria
de .inatizados e apaixonantes retratos femininos. A ternura e a agonia
de Andromaca, esposa e mae, sfmbolo do autentico amor conjugal; a
amabilidade, a d~ura, a personalidade e a paixao recatada de
Nausfcaa; a finneza e a respeitabilidade inspiradas pela rainha Are-
te; a afei~ao e o devotamento da velha ama Euricleia; e, por fim, a
paciencia, a astucia e a fidelidade inabalavel de Penelope desfilam
diante de nossos olhos suscitando admira~ao, encantamento e uma
grande simpatia. E necessario, todavia, nao nos deixarmos seduzir
pela magia dos versos homericos. Tais debuxos isolados, se hem que
heran~ de velha tradi~ao, nos dois poemas supracitados e no mito,
contrastam com a violencia e a arbitrariedade masculinas. Agamem-
non atrai mentirosamente ate Aulis sua mulher Clitemnestra, a quern
se ligara atraves de um crime hediondo, e sacrifica a pr6pria filha
Ifigenia, para fazer cessar uma calmaria que ele mesmo provocara.
Ulisses, impiedosamente, inicia a lapida~ao de Hecuba, a alquebrada
rainha de Troia, depois de arrancar-lhe dos bra~os a filha Polfxena e
faze-la imolar sobre o tumulo de Aquiles. Na Odisseia, numa cena
impressionante, em que Penelope tenta com muita determin~ao
convencer os pretendentes a permitirem que o "mendigo" Ulisses
experimente o arco de Ulisses, o jovem Telemaco cassa a palavra a
pr6pria mae e lhe ordena recolher-se a seus aposentos e tratar de
afazeres femininos !
~6µ.c.C:t:,
>
~a~6v ~•~Aax4~~v ~£, xa~ aµ,c.n6Xoc.a~
C , '
~fA£U£
,,
Epyov £noCx£a~a~· ~dtov o•avop&OOL µ£-
~~0£C.
n;a._, µ4kc.o~a o•iµoC· ~OU yap xpa~o,
[1/ > ' >,
. LEO~' £V~ O .. Xf•
13
(Od. XXI, 3S0-354)
_ Recolhe-te a teus aposentos e cuida dos afazeres
_ que te
sao Pt6prios
do tear e da roca, e ordena as escravas que va.0 para •
o trabalho ·
Do arco hao de ocupar-se todos os homens, sobretudo
,.. .
que govemo esta casa. Ela, atomta, retomou a seu quarto.eu,
Com Hesiodo, por volta do seculo vm a.C., fenecem a be-
leza de Nausfoaa, a temura de Andromaca e a fidelidade de Penelo-
pe.
O poeta e rude campones de Ascra e duro e severo com a
mulher, cujo modelo para ele e a terrivel Pandora, responsavel pelas
j, mazelas que atonnentam os mortais. Talvez nao se deva objetiva-
mente tachar Hesfodo de mis6gino, mas nao se lhe pode negar um
excesso de precau¢o, de impaciencia e de cuidado com esse mal
tiio IJelo, esse flagelo medonho, mas imprescindivel ao homem...
(Teog. 585).
A,~.,.a'
v~
p E'1tr, u.£. ''} ~EU~£
-
KaAOV
'
KaKOV
'
av~
:, t
a-
,
[a-&o~o,
, I )I ,1 :, ' ' ,t f ,,
ctayay•, EV~a ncp akAOL Eoav 3£01. ~v a~
\-&pw1tOI, t
x6aµ~ ~yaAAOµlv~v yAauxwn1,60~ ~pp1,µoff4-
14
(Teog. 585-592)
(Trab. 375)
15
r
atrair as cbacotas dos vizinhos, que. por certo conhecem bem O corn-
portamento da eleita: _
, ' ., '
•&v~a µ4A' aµ,L~ L6wv, µ~ YEC~OGL Xdp-
@ci-rcx r,4iµ!~
(Trab. 701)
I
I
16
-
dos grandes iamb6grafos do lirismo grego. Nascido na ilha de Sa-
mos, possivelmente na primeira metade do seculo VII a.C., viveu em
Amorgo. Dele nos chegaram, alem de fragmentos menores, dois de
maior extensao: um deles ocupa-se dos males da humanidade; e 0
outro, com 118 iambos, e uma contundente satira contra as mulhe-
res.
O poema nos aponta dez tipos diferentes de mulheres, todas
indesejaveis, com exce~ao do ultimo: a suja descende da porca; a
mulher astuta e velhaca procede da raposa; a ma e questionadora, da
cadela; a indolente e pregui~osa, da terra; a voluvel e instavel, do
mar; a gulosa, sensual e pronta para qualquer trabalho, da jumenta;
a perversa e revoltante, da doninha; a ociosa e bem arrumada, da
egua; a feia, a magricela e malevola, da macaca; e por fim a honesta
e desejavel provem da abelha.
Quanto ao homem, atribui-se sua cria~ao, nos prim6rdios,
ao ser inteligente, sem concurso de mulher... (Sat. Muth. 1-93).
Nao ha duvida de que a Satira contra as Mulheres, de
Simonides de Amorgo, e, no mfnimo, um breviario de misoginia.
Hiponax de Efeso (fins do seculo VIl a.C.), criador do iam-
bo escazonte ou coliambo, foi outro que se notabilizou pelo despre-
zo votado as descendentes de Pandora. Esse arquimis6gino chegou
mesmo a exceder a Simonides, quando de sua pena saiu o que talvez
seja a mais virulenta invectiva disparada contra as mulheres em toda
a literatura grega:
, C > ,,
~u• ~µipa~ yuva~x6, £~a~v ~6~a~a~,
c, - ) -
o~av xaxflp~ ~£&v~xu~av.
(Frag. 29 Bergk)
17
do vinho e da natureza, s6 nos chegaram parcos fragmento e .
de se larnentar o pouqu{ssimo que se possui eta maior m~to cia!'
gregas, Si110,
-& P<>etisas
'
. restou de Al-
5. TModore Reinach e Aim6 Puech, em sua excelente ed1~ao do que nos esse ponto:
ceu e Safo (Alcee et Sapho. Paris, Belles Letres, 1960, p. 4), deixam t,,~~ ~Iaroont cherch6
"Epris d'une vie de plaisir, ils avaient besoin d'etre riches. Les Myul n1ens our du Jucrc
fortune jusqu'au dela de l'Hellespont, jusqu'a la bouche de l'H~bre. Leur Eoliens, dit
et de l'aventure les a conduits frequemment en Egypte. Us furent le! seu!: :pot de Nau-
H6rodote (2, 178), qui profi~rent des avantages conced6s par Amasis 8 1 . dade
0 de oquezas
cratis". ("Entregues a uma vida de prazeres, os mitileneus tinham necessi r lucro el
e foram busd-las para a16m do Helespo · nto, at6 a foz do Hebro. Seu am<> 80 Her6doto
.
aventura os levou muitas vezes ao Egito, e foram os unicos e61!os, · forma-n
10
05
sto de Niiucra·
(2, 178), que lucraram com as vantagens concedidas por A~1s ao entrepc>
tis." Tradu~ao nossa).
18
L
6
ovfdio, jntitulada De Safo, a Fion para se ter uma ideia de quanto a
"cantora das rosas", sete seculos mais tarde, ainda era mitizada e
cliscutida, como ainda o e ate hoje !
o que de positivo se sabe eque ela viveu no seculo VII a.C.
e fundou em Mitilene o que ela pr6pria denominou Residencia das
Discfpulas das Musas (e havia outras "residencias", rivais, como as
de Gorgo e Andromeda), uma especie de confraria dedicada h Mu-
sas e a deusa Afrodite. Sob ~ao da poetisa, aquilo a que essa
verdadeira universidade feminina aspirava era o culto do belo con-
jugado acultura. Tecnicamente, a Residencia poderia ser comparada
a um conservat6rio de musica e de arte: la se ensinavam a dan~a co-
letiva, a musica instrumental, o canto, a poesia e o culto do ffsico. A
vida comunitaria era ritmada por uma serie de festas, cerimonias re-
ligiosas e banquetes.
Mas a educa~ao mitileneia nao era apenas artistica e social:
o fisico era tambem muito valorizado. Sem serem espartarias, as jo-
vens de Lesbos dedicavam-se com afinco aos esportes atleticos,
quando nao para conservarem a beleza do corpo, a gra~a e os encan- ·
tos femininos.
E se, na realidade, a Helade foi um clube de Jwmens, Safo e
outras idealistas destemidas romperam violentamente com a tradi~ao
repressiva e transformaram Mitilene num clube de mu/heres! Para
um "pais" como a Grecia~ em que a mulher, semi-analfabeta, passa-
va o tempo no gineceu ocupando-se do tear e da roca, a Residencia
das Disdpulas das Musas foi uma iniciativa corajosa e arrojada.
Com isto, no entanto, a poetisa, a mulher, por sua i,ulependencia
e cultura, tomou-se alvo facil das chicotadas machistas e conserva-
doras dos poetas da comedia atica.
U 6, _Faon era um her6i de Lesbos. Pobre, velho e feio, exercia a profissao de barqueiro.
m dia atravessou Afrodite, disf~ada de ancia, e nada lhe cobrou. A deusa, para recom-
pensa-lo, presenteou-o com um frasco de um balsamo maravilhoso, que rejuvenesceu o
velho barqueiro, transformando-o num homem belfssimo, por quern se apaixonaram todas
: mulheres da ilha. Safo, por nao ter sido correspondida em seu amor ardente, l~ou-se
~n~, saltando do fatfdico penhasco de Uucade. Num dfstico famoso, Ovfdio nos
nutiu O calor dessa paixao. Ei-lo na magnffica tradu~ao do Prof. Walter Vergna:
• Uror, ut, indomitis ignem exercentibus Euris
F,-:~- '
· "'""-> accensis messibus ardet ager.(Her. 15, 9- JO)
1nflamo-me como o campo feraz que arde com as colheitas em chamas,
chama que mais e mais se avoluma insujlada pe/o Euro indomito.
19
Como preito a audacia e a paixao da poetisa de Le -
transcrevemos dois de seus celebres fragmentos, em que Eros sbos,
- d , como
epr6prio na Lirica, abrasa todos os 6rgaos o corpo humano:
1 -
'Epo~ 6~u~t µ•~ Aua1-t1iAT)~ 66vc1.,
) >'
TAUX6fft.XpOV u"axuvoV
,, op•c~ov,
.,
''A~t1.• ao\ 6'&µc~cv µcv a•~xtc~o
,pov~Co6~v, &K"i. 6' 'Av6poµl6av n6n)~.
(Liv. 5, Frag. 97-8)
, ' xaµ
aAAa ..
' µ£v YAwaaa FfcxyE A
u - - 'A~1t~OV
6'av~~xa
,
XPWI. • nup .,.
vna6cop6µ
>, <l'KE:V t
onxa~£00L 6'ou6'ev ,,
op~µµ' ,
t E:1t I, ppdµ-
(3 e 1.01. 0 'CXXOUCXI. •
20
~aLoav ~lPt~, XAwpo~lpa noca, 6t
fµµ~, ~t&v~x~v o'oxCyw ~n~6cu~v
cpaCvoµ' u -
(Liv. 1, Frag. 2)
21
Otio exu/,tas nimiumque gestis.
Otium et reges prius et beatas
Perdidit urbes. (Cat. Poem. 51)
_ Parece semelhante a um deus, ou se possivel,
superar os deuses, este que sentado junto a ti
contempla e ouve, enquanto sorris docemente,
o que me faz perder o senso, pobre de mim;
pois quando te vejo, Leshia, fico transtomado
com as palavras na boca, a lingua se entorpece,
sutilmente sob os membros alastram-se faiscas,
vibram-me os ouvidos em zumbidos a luz dos olhos e co-
berta pela noite.
0 6cio, Catulo, te e funesto,
tu te inflamas com o 6cio e te agitas demais.
0 6cio fez perder
reis e cidades outrora felizes.
2.1. A Mulher desce mais um degrau
Lesbos, no entanto, foi apenas um corte, um hiato, um oasis
neste vasto deserto de repressao masculina. Voltemos a realidade,
reco~ando por Atenas.
Na trilogfa de Esquilo, Orestia, Agamemnon e assassinado
pela esposa Clitemnestra. Orestes, por ordem de Apolo, vinga o pai,
matando a pr6pria mae. Apolo e Atena, como "advogados e juizes"
do matricida, nao descansam enquanto nao o veem livre das Erinias
e absolvido pelo Are6pago. Em ultima instancia, a Orestia sintetiza
a luta entre o matriarcado e o patriarcado. O primeiro, agonizante, e
representado pelas divindades matemas do mundo subterraneo, as
e
Erinias; o segundo, dominador, espelhado em Atena, nascida sem
mae, da cab~a de Zeus, e em Apolo, legalista e patriarcal, propug-
nador maximo da religiao da p6lis8 •
Respondendo ao corifeu das Erinias, que acusa Orestes de
as~as~inar a mae e renegar o sangue matemo, Apolo e muito claro e
ObJetlvo em rela~ao amulher: 9
8, A prop6sito da maldi~ao familiar em que esta envolvida toda a ra~a dos atridas, is«>
teS) fiZe·
~. da progenie de Atreu (Tieste, Egisto, Agamemnon, Menelau e seus descend~tr6palis,
mos um longo comentario emnossaMito/.ogia Grega, Vol. I, Cap. V, P· 67 • 95 •
Vozes, 4!! ed., 1988. .
9· . . . G o, Trogidia e
trilog1a de Esqutlo, Oristia, foi por n6s analisada em Teatro re~
Comedia, Petr6polis, Vozes, 4!! ed., 1986, p. 20-35.
22
AIIOAAQN-
KaL' ~OU"fO- A~~w, X(ll," µuv ~_fl' w~
' opaw~
, - £pw•
> -
(Eum. 657-666)
23
A8.
(Eum. 734-740)
24
(Leis, 11, 930 c-d)
.ov •£
t6AwVa µap~upcr y&yovtvaL ~WV
yaµLxwv tµntLP 6 .a.ov voµ<>&~~T}v, xckto, -
- ,
aav~a
.
- tAa~~ov,,) I ~PLt;;
µT}' :,,
,.
'
'
xa~a
-
.'
,,
µT}Va
-
~v-
T.!
µc.n xk~aL4t&LV, oux T)60VT)~ tvtxa 6~xo~
&; , Cl C , ._ ' ,,
~&v, «Ak'w<1'1£P «L XOA£L' vL« xpovou
aKovoa,;; ,
' avavtovv.aL- . , .
~po~ aAk~ka,, ou~w~
"
apa
.., C
,
' ~ouX6µcvov avavcoua&aL -
A ,
'
~ov y4µov .,tx
L. :,
.wv &x4a~o~£ auAAtyoµ~vwv tYXAT}µ~~wv tv
·~ ~OL«V'9} fLAOfpoa~vn·
(Er6t. 169 A-B)
25
_ S6lon foi indubitavelmente um legislador muito ate
que conceme ao casamento. Prescreveu aos marid nto no
procurassem a mulher pelo menos tres vezes por ~s que
lo, nao em vista do prazer, mas ~r motivos outros· ~e-
como as na~oes renov~ de quando em quando
08
sun b'a
que entre s1 contraem, 1gualmente o legislador dese. tados
o casamento fosse de alguma forma revigorado comJou que
· al de temura, apesar d as mu'tuas acusa~oes
sm - acumuladasesse
no dia a dia.
(Frag. 656 K)
- Nada mais desgrac;ado que um pai,
exceto outro pai com maior mimero de filhos.
· trafdos da segutl
. ~O. Os frag~entos d~ Menandro que ora citamos_ foram todos ex ondon, Harvard
ed1~ao de Francis G. Alhnson, Menander - The Principal Fragments. L
University Press, 1951. . ri·
11. A exposi~ao real, hist6rica, ora referida, nada tern aver com a exrsi~io ,n(nca,
l I Cap.. V, P·
tual e de cardter inicidtico, de que tratamos em nossa Mitologia Grega, 0 • '
89sq., Petr6polis, Vozes, 1986.
26
rvir de twnulo, a crian~a ficava amerce da sorte. E poderia ser re-
se Ibida, 0 que acontecia com freqiiencia, se bonita e robusta. A mae
coteril (a esterilidade era sempre da mulher!), para nao ser abando-
pelo marido, simulava uma gravidez, escolhia uma crian~a ex-
posta, um menino, e o apresentava ~omo o ta~ sonhado herdeiro.
Havia quern recolhesse os ~m-nasc1dos, memnos ou meninas, pa-
ra faze-los escravos ou vende-los. Muitas vezes, as meninas, se be-
las e sadias, eram destinadas aprostitui~ao.
O mesmo receio hip6crita, que·nao aceitava religiosamente a
morte de um recem-nascido, mas que tolerava a morte pelo abando-
00, talvez pudesse explicar-se, conforme lembra P. Roussel, por um
expediente s6cio-religioso: "De maneira geral, o infanticfdio e mui-
tas vezes considerado como um ato mais ou menos indiferente, uma
vez que a crian~ ainda nao participa da vida do grupo social. Desde
que nao se tenha agregado ao mesmo por determinados ritos e nao
tenha recebido um nome - o que lhe confere um come~ de persona-
lidade - o recem-nascido nao possui existencia real. Seu desapareci-
mento nao provoca, por isso mesmo, o que denominariamos senti-
mentos naturais" .12
Ja o aborto nunca foi proibido por lei. Esta intervem apenas
para salvaguardar os direitos do pai do nascituro: uma esposa ou es-
crava jamais poderia provocar o aborto sem consentimento expresso
do marido ou senhor. A consciencia religiosa, porem, as vezes, fala
ma.is alto que a lei. Por isso iresmo, Arist6teles prescrevia o aborto
em fun~ao do numero exagerado de filhos "antes que o embriao ti-
vesse recebido vida e sensibilidade:"
' ), '
up~v a~aa~a~v crrcvfaaa~ xa~ Cw,,v,
)
-
c~xot~oaa~ 6t~-- ' ,,
aµ~MIIO~V
(Pol. 1, 14, 10).
27
r " O "desastre familiar" grego, particularmente em Atenas
com O seu cortejo de tanto desamor, exposi~o de recem-nascidos'
infanticfdio disf~do, pratica do aborto e redu~iio dnistica do mi~
I a
mero de filhos (devida sobretudo ao egofsmo, tradicional avareza
, grega e A propria estrutura s6cio-economica reinante na p6lis) teria
tido por motivo primeiro, a nosso ver, a profunda indiferen~a ou ate
a
mesmo o desprezo que se votava mulher, ressalvadas as ex~oes,
e claro, porque as havia.
Tudo co~va pelo modus secular e tradicional que presi-
dia ao eolace matrimonial. 0 casamento era sempre do homem: tra-
tava-se de uma escolha feita pelo homem, da qual nao participava a
mulher, porquanto esta, em Atenas, nao tinha direitos, nem politicos
nem juridicos. Confinada no gineceu, a jovem aprendia o manejo da
roca e do tear. E talvez lhe fossem transmitidos, pela mae, por algu-
ma parenta mais velha, ou mais comumente por uma das escravas,
alguns rudimentos de leitura, calculo e musica. E era s6. No gine-
ceu, aguardava o principe realmente "encantado", com plena ciencia
do conselho do poeta didatico Naumaquio, citado por Estobeu (Con-
selhos Conjugais, 12):
Toma por marido aquele que teus pais desejam
b
1,, ,
UJD.l filha de cidadao era precedido por um acordo, denomina-
do t r,ul)a etimologicamente "ato de dar em garantia". Con-
sistia essencialmente na promessa, pelo pai da noiva, de dar um ~ote
• ao pretendente que escolhesse, e na aceita~o do dote pelo candida-
to, que assumia o compromisso de casar-se. Obviamente, dependen-
do do dote, poderia haver mais de um pretendente ...
Fos~m os noivos de menor idade, facultava-se aos pais ce-
l ~ m a £ yyii110 l..;. Nao raro o acerto se fazia quando os fi-
lhos ainda nem haviam completado cinco anos ...
sua comedia A mulher de cabelos cortados (894-89~),
de que s6 restam fragmentos, Menandro nos deixou um pequeno dia-
lfgo _que traduz com mUita propriedade o processo da
E. YlVT'IOI. c; :
28
JIA1.'A!KOt - , ,
iau~~v yv~aCwv naC6wv CK'ap6~~ a°rt 0C-
~wµ1, •
noAEl'2N - Aaµ~4vw
nATAIIOt - xa~ ~poLxa .pCa .~Aav.a
' xaAw, ~66t
DO.AEl10N - •al
(Frag. 720 K)
29
~o yvvarx'\'xcLV -
ttvaC TE naC6wv, Dctp-
~i"ea,v,
~u~ipu µtpCµvu~ nbXA«, ,tPtL
(Frag. 649 K)
'
xuxov , €a~1.v,
µcv > UAX'uvayxa~ov
> > -
xux6 v
(Frag. 651 K)
30
I
I