Trabalho Final - Antropologia 2023
Trabalho Final - Antropologia 2023
Trabalho Final - Antropologia 2023
Ailton Krenak?
“O mundo não é o objeto de estudo, mas o seu meio”, frase do célebre Tim Ingold
(2019, p. 11), que conceitua os processos e as relações antropológicas pelos quais
o pesquisador obtém conhecimento acerca de culturas distintas e suas visões de
mundo intrínsecas. Este trabalho, da obtenção de conhecimento, parte da premissa
do envolvimento do antropólogo com o nativo mediante uma observação
participativa, estudar com as pessoas, não sobre as pessoas.
Existe uma forte crítica ao padrão ocidental de consumo e acumulação feito por
Kopenawa, em seu capítulo “Paixão pela mercadoria”. Observa-se que os povos
tradicionais mantêm um desapego em relação aos bens materiais, uma aversão à
sociedade de acumulação que se tornou o sistema capitalista moderno. Os
Yanomamis, estão inseridos em sistemas de trocas de ferramentas e objetos, que
se estendem por todas as regiões habitadas por povos originários.
Esta forma de desapego também se apresenta aos objetos de uso das pessoas que
vêm a falecer, não existindo espólios para os Yanomamis. Rixas e disputas por
heranças se tornam algo inconcebível numa cultura onde se queima e, ou, destrói o
que o falecido utilizava em seu cotidiano. Isso, devido ao entendimento que estes
povos possuem em relação à vida e sobre a existência, sendo que, somente a
natureza seria eterna. Segundo Kopenawa (2015, p. 411), “as pedras, as águas, a
terra, as montanhas, o céu e o sol nunca morrem, como também os xapiri. São
seres que não podem ser destruídos e que dizemos parimi, eternos. O sopro de vida
dos humanos, ao contrário, é muito curto”.
Davi Kopenawa é citado em algumas passagens da obra “Ideias para adiar o fim do
mundo” (Companhia das Letras, 2020) do pensador Ailton Krenak (líder indígena,
jornalista, escritor, ativista socioambiental, defensor dos direitos indígenas, etc.).
Krenak reconhece a importância da valorização dos saberes compartilhados por
Kopenawa e, assim como este, vem espalhando as visões de mundo – ou
cosmovisões – dos povos tradicionais, por todo o globo.
O nome Krenak pode ser traduzido como “cabeça da terra”, uma denominação a
uma tribo que sempre manteve uma forte conexão com a terra. Segundo o próprio
Ailton (2020, p. 24), “não [seria] a terra como um sítio, mas como esse lugar que
todos compartilhamos [...] lugar que para nós sempre foi sagrado”. O território do
povo Krenak localiza-se em Minas Gerais, no vale do rio Doce, este, é chamado
pelos Krenaks de Watu, ou avô, sendo assim, considerado como uma pessoa, um
ser integrante desta sociedade. Outro elemento natural que se atribui personalidade,
seria a serra Takukrak, importante para estes indígenas, ao através da leitura do seu
“humor”, prever se será um dia bom para as atividades da aldeia, ou, um dia de
reclusão, caso sua aparência esteja nublada.
Referências Bibliográficas
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das
Letras, 2020.
KRENAK, Ailton. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.