Pacto pela paz em debate no Fórum da Aliança das Civilizações em Cascais
O alto representante da Aliança das Civilizações das Nações Unidas, Miguel Ángel Moratinos, falou em exclusivo à ONU News, de Lisboa, sobre o evento que este ano agrega 1,8 mil pessoas em Portugal
O líder da iniciativa internacional que promove a atuação contra o extremismo destaca a relevância de preservação do diálogo e da cooperação, ressaltando o foco em questões interculturais e inter-religiosas. Miguel Ángel Moratinos, que já foi ministro das Relações Exteriores de Espanha, revela o anseio dos participantes, incluindo chefes de Estado, dezenas de ministros e vice-ministros dos Assuntos Exteriores. A conversa foi conduzida pela jornalista Sara de Melo Rocha.
ONU News (ON): Por que é tão importante acompanhar e prestar atenção ao 10º Fórum Global da Aliança de Civilizações das Nações Unidas?
Miguel Ángel Moratinos (MAM): É um fórum que vai ocorrer em um momento muito importante, em um momento muito importante desta fase transicional que o mundo está enfrentando e que temos de responder a este novo mundo. Toda a gente reconhece hoje que vivemos em um mundo multipolar, não é mais um mundo bipolar, não são mais dois países que estão cuidando do futuro da Humanidade. Então, estamos em uma comunidade multipolar. Nesse sentido, temos de reconhecer que há diferentes atores, diferentes culturas, diferentes religiões, diferentes civilizações. E, no final, o que temos é vivermos juntos.
Então temos de salvar o planeta, e isso aconteceu em Baku, com essa comunidade internacional de engajamento para realmente cuidar do futuro do nosso planeta, da nossa natureza.
Mas temos de salvar a humanidade. E isso é o que vai ser discutido aqui em Cascais amanhã e depois de amanhã. Então, temos de vivermos juntos, temos de nos respeitar. E essa é a plataforma que a Associação Internacional está trazendo para toda a comunidade internacional.
ON: Qual a importância de o encontro decorrer em Cascais, Portugal, tendo em conta que a Unaoc celebra 20 anos de aliança?
MAM: Portugal sempre foi um país muito positivo, não somente do ponto de vista do governo, mas da sociedade pública, da opinião pública, em favor deste cruzamento, em favor desta civilização e cultura. E Portugal, desde o início da estabilização da Aliança Nacional da Civilização, lançada pelo presidente Zapatero há 20 anos, mas depois estabelecida em 2005 pelo secretário-general Kofi Annan, Portugal foi, é claro, um dos parceiros excelentes da aliança. E nós temos a honra, o privilégio, de que o primeiro representante alto do fórum, da aliança, foi o ex-presidente Sampaio. Jorge Sampaio foi o primeiro que realmente teve a responsabilidade de formar a ação, o programa e o projeto da aliança.
E sob a liderança de Jorge Sampaio nós vamos fazer uma cerimônia especial no primeiro dia do fórum, para realmente reconhecer, expressar a nossa gratidão e homenagem ao trabalho e à visão do presidente Sampaio. Portugal sempre foi, eu diria, um parceiro permanente e muito ativo, muito construtivo. Portugal tem esse presente sociopolítico de ser um país europeu, ser um país atlântico, ser perto da África, ser perto do Mediterrâneo, ter uma longa história desse navegador que viajou pelo mundo, que entende o pluralismo dessa comunidade internacional.
Então, por essa razão, é normal que depois do primeiro fórum que aconteceu em Madrid, nós tivéssemos todos os outros países europeus que guiaram o fórum, como a Viena. Foi bom que no fim desses 20 anos, Portugal pudesse ser o anfitrião, para fazer uma avaliação do trabalho da aliança durante esses 20 anos e como devemos tentar nos projetar para o futuro.
ON: Quais são os principais destaques para o encontro?
MAM: O 10º Fórum Global, podemos qualificá-lo de um fórum recorde, porque é o fórum em que teremos a participação mais impressionante. Terá mais de 1.800 pessoas registradas que vão participar do fórum.
Estarão presentes três chefes de Estado, um vice-chefe de Estado. Teremos 20 ministros dos assuntos exteriores, mais de 15 vice-ministros dos Assuntos Axteriores. Teremos a presença das sociedades civis e personalidades importantes. E, ao mesmo tempo, terá algumas iluminações altas. Claro, começaremos, como todos queremos colocar o empate para a geração futura, começaremos o fórum com um fórum de Juventude Especial que terá lugar na segunda-feira de manhã e a presença de praticamente 200 jovens jovens vindos de todos os lados do mundo, que refletirão o que a nova geração está esperando para o futuro.
Teremos, claro, a abertura com personagens de alto nível discursando. Teremos, claro, a pessoas importantes em vários assuntos temáticos sobre o futuro, como precisamos preparar a sociedade internacional para lidar com esses desafios multipolares e multiculturais que precisamos enfrentar.
E, ao mesmo tempo, teremos, em paralelo, a abertura da Conferência Internacional para a Proteção e Preservação das Nações Unidas, que desenvolveu o Plano Unido para a Proteção e Preservação das Nações Unidas. Teremos, claro, assuntos como o desporto e a diversidade. Teremos um jogo de futebol que mostrará como a diversidade corresponde aos valores e princípios do desporto. E teremos, claro, a capacidade de ter líderes religiosos combinados com representantes políticos para realmente discutir, se engajar e se cometer a um futuro melhor, para construir a humanidade que estamos trabalhando.
Mas a principal mensagem no final da conferência será uma aliança por paz. Se não tivermos paz, não haverá fim à violência, não poderemos erradicar a violência e a discriminação em termos de aspectos culturais e religiosos, não será possível superar o desafio e a sensação de hoje, que infelizmente temos, com conflitos, guerras e temos que realmente procurar a paz neste novo mundo.
*Sara de Melo Rocha é correspondente da ONU News em Lisboa.