Perito brasileiro explica investigação após “surpresa” dos ataques aéreos na Síria
Presidente da Comissão de Inquérito da ONU sobre o país diz que algumas partes em conflito ainda acreditam em solução militar, ao contrário da via política e diplomática; Paulo Sérgio Pinheiro ressalta que escalada do conflito não deve repetir brutalidade dos últimos 13 anos.
A escalada do conflito na Síria deve causar grande deslocamento de pessoas, devido ao receio de ataques aéreos. O alerta é do professor brasileiro que preside a Comissão de Inquérito Sobre a Síria, Paulo Sérgio Pinheiro.
Em entrevista à ONU News, de São Paulo, o perito considerou surpreendente o uso de aeronaves na resposta à nova onda de confrontos que culminou no controle de uma vasta faixa de território sírio por grupos não estatais. A comissão investiga os atos.
Grande deslocamento da população em fuga
“O que nos surpreende é que tanto a aviação Síria como a da Federação Russa fizeram ataques aéreos. Até o momento, a luta era no terreno entre organizações não estatais armadas. Hoje, o que nós estamos investigando com muita intensidade é quantas mortes já foram provocadas por esses ataques aéreos. E o que é mais grave: tentar avaliar quantos da população, tanto em Alepo como em Idlib, vão ser deslocados para outras áreas, justamente por causa dos ataques. Há um risco de um deslocamento grande de população fugindo desses ataques”.
Para Paulo Sérgio Pinheiro o impacto em outras áreas já começou. Alepo, Idlib e Hama foram alvos do grupo Hayat Tahrir al-Sham e outras facções da oposição baseadas em Idlib em ofensiva surpresa lançada a 27 de novembro. No Nordeste, estima-se haver mais de 12 mil deslocados.
No Conselho de Segurança, o enviado Geir Pedersen disse na terça-feira que a Síria enfrentava um “grave risco de divisão maior, o que não é do interesse da população”.
Para Pinheiro, o interesse dos sírios não tem sido levado em conta pelas partes envolvidas nas incursões que já teriam matado centenas de pessoas no fim de semana. O especialista avalia que enquanto o número de mortos continua uma incógnita, a brutalidade se acentua no país.
Situação terrível
“A Comissão de Investigação sobre a Síria lançou uma declaração, um statement, justamente chamando as partes para o reconhecimento das normas internacionais. Para que a brutalidade dessa guerra, que se estendeu, estamos chegando aos 14 anos, não se repita. Chamando a atenção também para a situação terrível da economia, a situação de pobreza, a situação de necessidade de alimentos a que agora se sobrepõe, novamente, um grave conflito, inclusive com incursões aéreas.”
Na sessão do Conselho de Segurança, Pedersen disse que a área controlada por grupos armados concentra até 7 milhões de pessoas, incluindo Alepo. A segunda maior cidade síria abriga mais de 2 milhões de pessoas.
Pinheiro disse ainda que os novos ataques renovam as tensões entre Turquia e Rússia que em 2020 anunciaram um cessar-fogo, após confrontos no norte do território sírio, e acirrou a tensão na província de Idlib.