2 Medidas e Avaliação

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MEDIDAS E AVALIAÇÃO

AULA 2

Profª Renata Wassmansdorf


CONVERSA INICIAL

Esta aula tem como o objetivo discutir os elementos antropométricos


aplicados à atividade física e aos esportes. Inicialmente iremos caracterizar as
medidas corporais e seus padrões, identificando as circunferências e diâmetros
ósseos e discutindo as associações entre as medidas antropométricas e os
indicadores tanto de saúde quanto de performance.
As medidas antropométricas apresentam grande vantagem de serem
utilizadas devido a seu baixo custo, fácil utilização e por não serem invasivas.
Se todas as orientações e padronizações forem seguidas, as medidas
antropométricas fornecerão informações tanto diagnósticas quanto para
acompanhar a evolução das modificações corporais.

TEMA 1 – MEDIDAS DO CORPO HUMANO

Medir o corpo humano é de extrema importância não só para a área da


saúde mas também para a indústria de bens semiduráveis e duráveis como
vestimentas, calçados, móveis, automóveis. A antropometria é a ciência que
estuda essas medidas externas do corpo humano, em que se deseja identificar
qual é o tamanho e a forma. Na saúde, por meio das medidas antropométricas,
é possível principalmente o controle de crescimento físico, de indicadores de
saúde e associações com o desempenho.
Dentre as medidas antropométricas mais utilizadas na educação física
estão: as circunferências corporais, os diâmetros ósseos, os comprimentos e
alturas corporais. Com exceção da medida de estatura, as demais alturas e
comprimentos de membros superiores, inferiores e do tronco e as suas relações
são medidas utilizadas para obter o acompanhamento individual e as proporções
corporais. Na atualidade, são indicadores menos comuns e, portanto, não serão
tratados neste material. Diferentemente, as circunferências e os diâmetros
ósseos trarão informações relacionadas aos indicadores de saúde e ao
somatótipo e serão aprofundados aqui.
Várias são as referências bibliográficas que indicam a localização das
medidas antropométricas. O que não significa que uma esteja certa perante a
outra, pois são apenas formas diferentes de medir a mesma região. No entanto,
como o formato do corpo não é regular (ao contrário, possui curvas), qualquer
alteração no local em que se irá medir trará medidas diferentes. Assim, a

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padronização dos locais deve ser seguida à risca para garantir que os resultados
obtidos tratem das possíveis diferenças observadas no corpo do avaliado e não
serem erros de medida. É importante que se escolha um padrão referencial e se
mantenha o mesmo protocolo em todas as avaliações, seguindo todos os
procedimentos solicitados com o maior rigor possível. Assim, você poderá
garantir o mínimo possível de erros intra e interavaliador.
Como as medidas antropométricas são baseadas em pontos anatômicos
de acordo com a região a ser avaliada, é sempre sugerido que esses pontos
anatômicos sejam inicialmente marcados com um lápis dermatográfico ou outro
material que marque o ponto a ser avaliado. As medidas deverão ser realizadas
no mínimo em duplicatas (ou seja, duas vezes em cada ponto avaliado), e o erro
obtido para cada uma dessas medidas deve estar dentro de 1%. Caso o valor
ultrapasse os 1%, deverá ser realizada uma terceira medida que deverá estar
dentro desse valor permitido. Ainda é importante saber que as medidas devem
ser realizadas de forma não consecutiva, portanto rotacional (Stewart et al.,
2011).
Para tornar a avaliação mais rápida, sugere-se inicialmente realizar a
marcação dos pontos a serem avaliados para, na sequência, realizar a aferição
de todas as medidas que utilizará.

Quadro 1 – Locais dos pontos anatômicos a serem marcados

Medida Local
Acromiale® Borda laterossuperior do acrômio.
Radiale® Borda láterossuperior da cabeça do rádio
Mid-acromiale-radiale® Ponto médio entre o ponto Acromiale® e Radiale®.
Mesoesternale Ponto médio do esterno ao nível do centro da articulação da
quarta costela com o esterno.
Trochanterion Borda laterossuperior do trocânter maior do fêmur.
Tibiale laterale Borda laterossuperior da cabeça da tíbia.
Mid-trochanterion-tibiale Ponto médio entre o ponto Trochanterion e o Tibiale laterale.
Medial calf skinfold site® Ponto medial de maior porção da perna.
Fonte: Stewart et al., 2011.

TEMA 2 – CIRCUNFERÊNCIAS CORPORAIS

As circunferências corporais ou perímetros corporais são as medidas


obtidas no sentido transversal, em geral paralelas ao solo. São aferidas
utilizando-se de fita antropométrica, preferencialmente inelástica. A fita deve ser

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mantida com leve pressão na pele, sem que fique frouxa ou aperte demais a
região a ser avaliada.
Sempre que se quiser apenas obter uma medida referencial, deve-se
optar pela avaliação do lado direito do avaliado. No entanto, caso o interesse
seja na comparação, fazem-se necessárias medições em ambos os lados. Ainda
é possível, dependendo do objetivo, avaliar sempre o lado dominante. Você deve
conduzir o planejamento das avaliações sempre baseado no seu objetivo
principal.
As medidas de circunferências corporais (as dos membros superiores e
inferiores como circunferência do braço, antebraço, coxa e perna) serão
realizadas com o intuito de acompanhar e evolução do tamanho dessas regiões
(hipertrofia, ou até mesmo a diminuição de gordura corporal), ou ainda de
comparação dos tamanhos do lado direito e esquerdo. As medidas de braços e
coxa podem ser realizadas ainda tanto com os músculos relaxados quanto
contraídos.
As medidas de circunferências do tronco, principalmente as da região
abdominal, são utilizadas tanto individualmente ou associadas como indicadores
de saúde, por estarem associadas à gordura corporal central. Podem ser
utilizadas para o diagnóstico de medidas e para acompanhar a evolução dos
indicadores de saúde.
Sempre que for medir a região do tronco, deve-se avaliar após uma
expiração do avaliado. E deve-se evitar avisar o avaliado sobre como conduz a
respiração para que este não conscientize a respiração, realizando inspiração e
expiração forçada.

Quadro 2 – Locais das medidas de circunferências corporais

Medida Local
Pescoço* Logo acima da cartilagem tireoide e perpendicular ao eixo longitudinal do
pescoço.
Peitoral (Tórax)* No ponto mesoesternal e perpendicular ao eixo longitudinal do tórax.
Cintura* Ponto mais estreito entre a borda costal inferior (10ª costela) e a crista
ilíaca, perpendicular ao eixo longitudinal.
Abdominal** Ponto sobre a cicatriz umbilical, perpendicular ao eixo longitudinal.
Quadril* Na maior circunferência glútea, perpendicular ao eixo longitudinal.
Braço relaxado* Com os braços relaxados ao lado do corpo, medir no ponto Mid-
acromiale-radiale® perpendicular ao eixo longitudinal do braço.
Braço contraído* Com o ombro e cotovelo fletido, medir com a fita na maior porção do m.
bíceps braquial ao solicitar que o avaliado contraia a musculatura do
braço.

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Antebraço* Medir na maior circunferência do antebraço perpendicular ao eixo
longitudinal do antebraço, abaixo dos epicôndilos do úmero com as mãos
em supinação.
Coxa medial* Ponto Mid-trochanterion-tibiale, perpendicular ao eixo longitudinal.
Perna* Ponto Medial calf skinfold site®, perpendicular ao eixo longitudinal.
Fonte: * Stewart et al., 2011; **Charro et al., 2010.

TEMA 3 – DIÂMETROS ÓSSEOS

Os diâmetros ósseos são as distâncias obtidas entre duas regiões ósseas


predeterminadas (acidentes ósseos), obtidas sempre perpendiculares ao eixo
longitudinal. São utilizados para tanto os paquímetros, antropômetros ou
compassos de barras ou pontas rombas.
Os diâmetros ósseos são utilizados com o intuito de acompanhar o
crescimento ósseo de cada região avaliada, e alguns diâmetros ósseos servirão
para o cálculo de massa óssea ou do somatótipo.
A região a ser avaliada deve estar sem vestimenta e deve ser inicialmente
apalpada e marcada. Após isso, coloca-se o antropômetro em torno de 45° ao
solo.

Quadro 3 – Locais das medidas de diâmetros ósseos

Medida Local
Biepicondylar Distância entre a borda lateral dos epicôndilos lateral e medial do úmero.
humerus®*
Biepicondylar Distância entre a borda lateral dos epicôndilos lateral e medial do fêmur.
femur®*
Fonte: Stewart et al., 2011.

TEMA 4 – ASPECTOS ANTROPOMÉTRICOS E INDICADORES DE SAÚDE

As medidas antropométricas podem ser utilizadas para acompanhar o


estado de saúde dos avaliados de forma rápida, fácil e com baixo custo. Podem
ser analisadas individualmente ou associadas com mais de uma medida,
formando um indicador.
O principal intuito é o de acompanhar o estado de saúde por indicadores
antropométricos. Trata-se das informações obtidas que se associam com a
quantidade de gordura corporal geral ou centralizada. Essas medidas e
indicadores estão contidos nos fatores de risco para o desenvolvimento de
doenças cardiovasculares. O excesso de gordura corporal está associado a

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várias doenças, como as cardiovasculares, e as metabólicas como a diabetes do
tipo 2 (conhecida também como diabetes do tipo resistência insulínica).
Entre as medidas e indicadores mais referidos atualmente estão os
seguintes: a circunferência abdominal, o índice de massa corporal (IMC), a
relação entre a cintura e estatura, a relação cintura e coxa, a relação entre o
pescoço e a coxa, o índice de conicidade e o diâmetro abdominal sagital, o índice
sagital, a relação entre a cintura e o quadril.
Ao buscar identificar um indicador antropométrico que se se associasse
com a elevada pressão arterial, Beck, Lopes e Pitanga (2011) avaliaram 660
adolescentes entre 14 e 19 anos e Pinto et al. (2017) de 202 adolescentes. Os
autores observaram forte correlação entre a circunferência da cintura, IMC e a
relação cintura/estatura com a predição de pressão arterial elevada para ambos
os sexos. No entanto, Beck, Lopes e Pitanga (2011) recomendaram utilizar a
circunferência da cintura para predizer hipertensão arterial por ser a medida de
maior correlação. Foram sugeridos os seguintes pontos de corte desta medida
para esta população: 74,5 cm para rapazes e 82,4 cm para moças.
Para associações com a resistência insulínica (RI), foram identificados a
circunferência da cintura e o diâmetro abdominal sagital como fortes indicadores.
Ainda se observou que as relações cintura/ coxa, cintura/estatura, pescoço/coxa,
𝑷𝒆𝒓í𝒎𝒆𝒕𝒓𝒐 𝒅𝒂 𝒄𝒊𝒏𝒕𝒖𝒓𝒂 (𝒎)
o índice de conicidade (Í𝒏𝒅𝒊𝒄𝒆 𝒅𝒆 𝒄𝒐𝒏𝒊𝒄𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 = 𝑷𝒆𝒔𝒐 𝑪𝒐𝒓𝒑𝒐𝒓𝒂𝒍 (𝑲𝒈) ) e o
𝟎,𝟏𝟎𝟗 𝒙 √
𝑬𝒔𝒕𝒂𝒕𝒖𝒓𝒂(𝒎)

𝑫𝒊â𝒎𝒆𝒕𝒓𝒐 𝑨𝒃𝒅𝒐𝒎𝒊𝒏𝒂𝒍 𝑺𝒂𝒈𝒊𝒕𝒂𝒍


índice sagital (Í𝒏𝒅𝒊𝒄𝒆 𝑺𝒂𝒈𝒊𝒕𝒂𝒍 = ) demonstraram
𝑷𝒆𝒓í𝒎𝒆𝒕𝒓𝒐 𝒅𝒂 𝑪𝒐𝒙𝒂

resultados que necessitam de mais pesquisas para confirmá-los como possíveis


preditores de resistência insulínica. E utilizar o IMC e a relação cintura/quadril
não são adequadas para predição de RI (Vasques et al., 2010).

TEMA 5 – ASPECTOS ANTROPOMÉTRICOS E PERFORMANCE

As medidas antropométricas também podem ser relacionadas com a


performance atlética. É fato que, quando olhamos uma criança mais alta, logo
pensamos: “Esta será um jogador de basquetebol ou voleibol”. Nesse sentido,
as medidas antropométricas são informações a respeito da forma e tamanho que
podem oferecer uma vantagem no desempenho.
As proporções entre as medidas antropométricas e algumas medidas
individuais podem ser utilizadas para o controle de treino e na detecção de
talentos esportivos. Bacciotti et al. (2018) mostram que 70% de 40 treinadores
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de detecção e seleção de ginastas (de clubes brasileiros que possuem
programas de seleção) avaliados afirmam utilizar as medidas antropométricas
para o monitoramento tanto das questões estéticas, exigidas pela modalidade,
quanto pela influência nas variáveis biomecânicas para a realização das tarefas
motoras diversas da ginástica. Fernandes, Barbosa e Vilas-Boas (2002)
apresentaram o perfil antropométrico de nadadores baseados em revisão
bibliográfica e identificaram diferenças relacionadas a uma maior estatura e
massa corporal, envergadura/estatura, diâmetro biacromial e bicristal e
comprimento de membro superior, maiores que da população em geral. Além
disso, os autores concluíram que o fato dos valores de comprimento e superfície
dos membros dos nadadores serem maiores propicia uma vantagem na
capacidade propulsiva e como também possuem maior percentual de gordura,
aumentam sua capacidade de flutuação (Fernandes; Barbosa; Vilas-Boas,
2002).
Esses estudos são exemplos que nos mostram como equipes de alto
rendimento utilizam-se da antropometria não só para as questões de tamanho e
formato corporal, mas como essas informações relacionam-se com a
performance.

NA PRÁTICA

Em uma situação hipotética, imagine que você avaliou uma mulher de 28


anos de idade, com massa corporal de 60,5 Kg, estatura de 1,52 m e
circunferência da cintura de 85 cm. Calcule o IMC e apresente a sua
classificação, a classificação da circunferência da cintura, o cálculo da relação
da cintura/estatura e sua classificação.
Depois que visualizar a correção dessa situação hipotética, sugiro que
repita a mesma situação hipotética com indivíduos de características diferentes.
Para tanto, poderá completar a tabela a seguir com as informações faltantes:

Tabela 1 – Avaliação antropométrica

Variáveis A B C
Sexo Feminina Feminina Masculina
Idade (anos) 52 52 40
Massa corporal (Kg) 82 82 101
Estatura (m) 1,65 1,65 1,81
IMC (Kg/m²)
Classificação do IMC

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Circunferência cintura (cm) 92 92 100
Classificação cintura
Relação Cintura/Estatura
Classificação
cintura/estatura

FINALIZANDO

Nesta aula são pontos importantes a serem ressaltados:

1. As medidas antropométricas são muito úteis na rotina do profissional de


Educação Física, mas, para serem utilizadas da forma correta, é
necessário que sejam seguidas todas as orientações para as
padronizações das técnicas.
2. As avaliações devem ser realizadas sempre em duplicatas e de forma
rotacional. Para tanto, sugere-se a marcação dos locais com um lápis
dermatográfico.
3. As medidas antropométricas podem ser utilizadas para a classificação de
indicadores de saúde, sendo a circunferência da cintura, IMC e a relação
cintura/estatura as mais consistentes.
4. Para monitoração de desempenho as medidas antropométricas também
fornecem informações de acompanhamento das variáveis tanto corporais
quanto da sua relação com as variáveis de treinamento.

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REFERÊNCIAS

BACCIOTTI, S. et al. Seleção em ginástica artística feminina no Brasil. Revista


Brasileira de Ciência e Esporte, 2018. Disponível em:
<http://rbceonline.org.br/>. Acesso em: 10 fev. 2019.

BECK, C. C.; LOPES, A. S.; PITANGA, F. J. G. Indicadores antropométricos


como preditores de pressão arterial elevada em adolescentes. Arquivos
Brasileiros de Cardiologia, São Paulo, v. 96, n. 2, p. 126-133, fev. 2011.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-
782X2011000200007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 10 fev. 2019.

CHARRO, A. M. et al. Manual de avaliação física. São Paulo: Phorte, 2010.

FERNANDES, R.; BARBOSA T.; VILAS-BOAS, J.P. Fatores


cineantropométricos determinantes em natação pura desportiva. Revista
Brasileira Cineantropometria do Desenvolvimento Humano. v. 4, n. 1, p. 69-
79, 2005. Disponível em: <http://esportes.universoef.com.br/container/gerencia
dor_de_arquivos/arquivos/155/fatores-cineantropometricos-determinantes-em-
natacao.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2019.

PINTO, A. et al. A. Prevalência de pressão arterial elevada em adolescentes e


associação com indicadores antropométricos. Medicina, Ribeirão Preto, v. 50,
n. 4, p. 237-244, 9 ago. 2017. Disponível em:
<http://www.periodicos.usp.br/rmrp/article/view/140487>. Acesso em: 10 fev.
2019.

STEWART, A. et al. International Society for the Advancement of


Kinanthropometry. Australia: National Library, first printed 2001, revised 2006,
2011.

VASQUES, A. C. et al. Indicadores antropométricos de resistência à insulina.


Arquivo Brasileiro de Cardiologia. v. 95, n. 1, p. 14-23, 2010. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-
782X2010001100025>. Acesso em: 10 fev. 2019.

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