Direito Ao Esquecimento - REsp 1.334.097-RJ
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ACRDO
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Opostos embargos infringentes, tambm por maioria, foram eles rejeitados nos
termos da seguinte ementa:
Embargos Infringentes. Indenizatria. Matria televisivo-jornalstica: "chacina
da Candelria". Pessoa acusada de participao no hediondo crime e, alfim,
inocentada. Uso inconsentido de sua imagem e nome. Conflito aparente
entre princpios fundamentais de Direito: Informao "vs" Vida Privada,
Intimidade e Imagem. Direito ao esquecimento e direito de ser deixado em
paz: sua aplicao. Proteo da identidade e imagem de pessoa
no-pblica. Dados dispensveis boa qualidade jornalstica da
reportagem. Dano moral e dano imagem: distino e autonomia relativa.
Indenizao. Quantificao: critrios.
1. Trata-se de ao indenizatria por dano moral e imagem, fundada no
em publicao caluniosa ou imprecisa, mas no s revolver de fatos
pretritos que impactaram drasticamente a esfera da vida privada do autor acusado que fora, injustamente, de participao na autoria de crime de
inglria lembrana, a "chacina da Candelria".
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VOTO
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5.1. Cabe desde logo separar o joio do trigo e assentar uma advertncia. A ideia
de um direito ao esquecimento ganha ainda mais visibilidade - mas tambm se torna mais
complexa - quando aplicada internet , ambiente que, por excelncia, no esquece o que nele
divulgado e pereniza tanto informaes honorveis quanto aviltantes pessoa do noticiado,
sendo desnecessrio lembrar o alcance potencializado de divulgao prprio desse
cyberespao . At agora, tem-se mostrado inerente internet - mas no exclusivamente a ela
- a existncia de um "resduo informacional" que supera a contemporaneidade da notcia e,
por vezes, pode ser, no mnimo, desconfortante quele que noticiado.
Em razo da relevncia supranacional do tema, os limites e possibilidades do
tratamento e da preservao de dados pessoais esto na pauta dos mais atuais debates
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Por outro lado, dizer que sempre e sempre o interesse pblico na divulgao de
casos judiciais deve prevalecer sobre a privacidade ou intimidade dos envolvidos pode
confrontar a prpria letra da Constituio, que prev soluo exatamente contrria, ou seja,
de sacrifcio da publicidade (art. 5, inciso LX):
A lei s poder restringir a publicidade dos atos processuais quando a
defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem.
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10.1. Sobre o caso Marlene Dietrich julgado no Tribunal de Paris -, Ren Ariel
Dotti afirma ter sido uma pedra fundamental na construo do direito ao esquecimento, tendo
a Corte parisiense reconhecido expressamente que
as recordaes da vida privada de cada indivduo pertencem ao seu
patrimnio moral e ningum tem o direito de public-las mesmo sem
inteno malvola, sem a autorizao expressa e inequvoca daquele de
quem se narra a vida.
O direito ao esquecimento, como uma das importantes manifestaes da
vida privada, estava ento consagrado definitivamente pela jurisprudncia,
aps um lenta evoluo que teve, por marco inicial, a frase lapidar
pronunciada pelo advogado Pinard em 1858: O homem clebre, senhores,
tem o direito a morrer em paz! (DOTTI, Ren Ariel. Proteo da vida
privada e liberdade de informao. So Paulo: Revista dos Tribunais, 1980,
p. 92).
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VOTO
servios de
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VOTO
O EXMO. SR. MINISTRO MARCO BUZZI (Relator):
O direito ao esquecimento admitido pelo direito ptrio, mas o exame quanto
ao seu cabimento, por bvio, depende de cada caso concreto, conforme destacou o
eminente Ministro Antnio Carlos Ferreira.
Na hiptese em tela, como bem anotado pelo ilustre Relator, as instncias
ordinrias firmaram que no houve a divulgao de dados inverdicos. Os dados so
verdadeiros.
Contudo, a reproduo em programa de TV do caso da chacina da
Candelria, que um fato internacionalmente conhecido, reacendeu a discusso e o
interesse da comunidade pelo episdio, ensejando situaes de desconfiana em
relao pessoa do recorrido.
Mais do que isso, observa-se da moldura ftica j existente nos autos que o
recorrido precisou sair da comunidade em que residia, foi alvo de ameaas, perdeu
oportunidade de emprego, enfim, padeceu de uma srie de consequncias diretamente
vinculadas divulgao da matria.
Sem dvida, a posterior vinculao do episdio no programa Linha Direta,
com meno ao nome verdadeiro do recorrido, contra sua vontade expressa, fez
renascer na comunidade em que vivia o autor o interesse por esse episdio, e causou,
como frisei, a desconfiana de muitos que o cercavam.
Por essas razes, acompanho o voto do Relator, negando provimento ao
recurso especial, cumprimentando-o pela qualidade, como sempre, de suas
ponderaes.
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JULGADO: 28/05/2013
Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMO
Presidente da Sesso
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMO
Subprocurador-Geral da Repblica
Exmo. Sr. Dr. HUGO GUEIROS BERNARDES FILHO
Secretria
Bela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAO
RECORRENTE
ADVOGADOS
RECORRIDO
ADVOGADO
SUSTENTAO ORAL
Dr(a). JOS PERDIZ DE JESUS, pela parte RECORRENTE: GLOBO COMUNICAES E
PARTICIPAES S/A
CERTIDO
Certifico que a egrgia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epgrafe na sesso
realizada nesta data, proferiu a seguinte deciso:
A Quarta Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos do
voto do Senhor Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Raul Arajo Filho, Maria Isabel Gallotti, Antonio Carlos Ferreira e
Marco Buzzi votaram com o Sr. Ministro Relator.
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