MONOGRAFIA Drs. Dionísio e João
MONOGRAFIA Drs. Dionísio e João
MONOGRAFIA Drs. Dionísio e João
DEPARTAMENTO DE DIREITO
Luanda, 2023
UNIVERSIDADE ÓSCAR RIBAS
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
DEPARTAMENTO DE DIREITO
Luanda, 2023
DECLARAÇÃO DOS AUTORES
(Dionísio Banda)
(João Lucas)
AGRADECIMENTOS
OBRIGADO!
EPÍGRAFE
Mahatma Gandhi
RESUMO
O presente trabalho foi concedido com objectivo de apresentar uma visão holística da
realidade de direitos e garantias fundamentais do arguido no que toca a sua proteção em sede
do processo penal angolano. O mesmo foi dividido em dois capítulos a fim de facilitar a
compreensão dos leitores, sendo que: o primeiro capítulo trata da fundamentação teórica onde
o autor apresentou os seus conceitos concernentes aos direitos fundamentais propriamente
dito. Apresentou também as gerações dos direitos fundamentais e uma breve abordagem
histórica relativa aos direitos fundamentais. O segundo capítulo, trata sobre questões que têm
que ver com a protecção dos direitos e garantias fundamentais do arguido enquanto sujeito
passivo da relação jurídico-processual.
ART Artigo
ARTS Artigos
PÁG Página
PÁGS Páginas
ALS Alíneas
SS Seguintes
CFR Conforme
EX Exemplo
TC Tribunal Constitucional
O artigo 67.º do CPP dispõe que são direitos do arguido os seguintes: direito de
presença; direito de audiência; direito de informação (sobre os factos imputados e sobre os
seus direitos); direito ao silêncio / privilégio da não auto-incriminação; direito a defensor;
direito de intervenção e direito de recurso.
LINHA DE INVESTIGAÇÃO
O tema em análise está relacionado a disciplina de Direito Constitucional e tem como
linha de investigação o estudo sobre a protecção dos direitos e garantias fundamentais do
arguido no processo penal angolano.
ORIENTADOR
OBJECTIVOS
GERAL
ESPECÍFICOS
JUSTIFICATIVA
PROBLEMA DE PESQUISA
A falta de informação;
A falta de conhecimento sobre matéria jurídica por parte dos agentes da polícia nacional e
outros;
DELIMITAÇÃO DA PESQUISA
ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO
TIPO DE PESQUISA
TÉCNICAS DE PESQUISA
ESTRUTURA DO TRABALHO
O trabalho terá dois capítulos, a fim de facilitar a compreensão dos leitores, sendo
que: o primeiro capítulo trata da fundamentação teórica onde vamos abordar os direitos e
garantias fundamentais, apresenta também as gerações dos direitos fundamentais e uma breve
abordagem histórica relativa aos direitos fundamentais. O segundo capítulo, trata sobre
questões que têm que ver com a protecção dos direitos e garantias fundamentais do arguido
enquanto sujeito passivo da relação jurídico- processual.
CAPÍTULO I
Ora, é, neste contexto que se acentua a dupla natureza dos direitos e liberdades
fundamentais. Os direitos fundamentais não garantem apenas direitos subjectivos, mais
também princípios objectivos básicos para ordem constitucional democrática do Estado de
direito. De um lado, releva o aspecto de direito individual, no que concerne aos chamados
direitos da pessoa, que podem não apenas assistir a indivíduos singulares, mais também a
grupos (coligações, associações, sindicatos, etc.). Neste último caso, tratar-se-ia de
instituições, pessoas.
Não são meras concepções do Estado (direitos subjectivos públicos, na acepção rigorosa do
termo), simples tolerância estadual. A sua garantia jurídica não se reduz a uma simples
reserva de lei. Pelo contrário, os diretos, liberdades e garantias são agora directamente
aplicáveis, vinculando entidades públicas e privadas, incluído os poderes legislativo,
executivo e judicial que devem dirigir a sua actuação conforme aos direitos fundamentais. O
seu fundamento não é mais o princípio da legalidade, mais sim o princípio da
constitucionalidade (artigo. 226.º n.º 1 e 2 da constituição).
Por essa razão, no regime geral dos direitos fundamentais, a constituição procede a
incorporação de dois princípios:
Esta dupla noção, pois os dois sentidos podem ou devem não coincidir, pretende-se
susceptível de permitir o estudo de diversos sistemas jurídicos, sem escamotear a atinência
das concepções de direitos fundamentais com as ideias de Direitos, os regimes políticos e as
ideologias.
Não custa aprender o conceito formal de direitos fundamentais. Não custa aprendê-lo,
à face do sentido formal de Constituição e, porque não se afigura justificado desprender a
priori qualquer norma da Constituição formal da Constituição material, visto que essa norma,
mesmo quando aparentemente sem relevância constitucional, é parte de um todo, é possível
da interpretação que possa ou deva fazer-se na perspectiva do sistema e, se recebe o influxo
de outros princípios e regras, também conta para o sentido sistemático que recai sobre outros
princípios e regras. Deve ter-se por direito fundamental toda a posição jurídica subjectiva das
pessoas enquanto consagrada na Lei Fundamental (MIRANDA, p. 10-11).
Positivação
Sem esta positivação jurídica os direitos do homem são esperanças, aspirações, ideias,
impulsos, ou, até, por vezes, mera retórica política, mas não direitos protegidos sob a forma
de norma (regras e princípios) de direito constitucional. Por outras palavras, onde não existir
constituição não haverá direitos fundamentais. Existirão outras coisas, seguramente mais
importantes, direitos humanos, dignidade da pessoa, existirão coisas parecidas, igualmente
importantes, como as liberdades públicas, direitos subjectivos públicos, enfim. Daí a
conclusão do autor em referência são-no, enquanto tais, na medida em que encontram
reconhecimento nas constituições e deste reconhecimento se derivam consequências
jurídicas.
Constitucionalização
O direito subjectivo pode definir-se como o poder jurídico (reconhecido pela ordem
jurídica a uma pessoa) de livremente exigir ou pretender de outrem um comportamento
positivo (acção) ou negativo (omissão) ou de por um acto livre de vontade, só de per si ou
integrado por um acto de urna autoridade pública, produzir determinados efeitos jurídicos que
inevitavelmente se impõem a outra pessoa (contraparte ou adversário) (PINTO, 2005, p.178).
Por isso, e para isso, os direitos fundamentais devem ser compreendidos, interpretados
e aplicados como normas jurídicas vinculativas e não como trechos osternatórios ao jeito das
grandes declarações de direitos. (CANOTILHO, p. 378).
Fundamentalização
A inserção dos direitos fundamentais na Constituição faz com que eles sejam
analisados em várias dimensões, sejam elas formais ou materiais. Formalmente, essa
fundamentalidade constitucional tem as seguintes consequências:
No presente número procura-se uma precisão terminológica. Não se trata de fazer uma
tipologia dos direitos fundamentais mas de registar classificações (algumas com valor
meramente histórico) sobre os direitos fundamentais.
É uma distinção introduzida dentro da categoria dos direitos civis. Os direitos civis
são reconhecidos pelo direito positivo a todos os homens que vivem em sociedade; Os
segundos (os direitos políticos) só são atribuídos aos cidadãos activos.
Como acabamos de ver, os direitos civis, depois de separados dos direitos políticos,
passaram a ser designados também por liberdades individuais. No entanto, costuma fazer-se
uma outra distinção com base na posição jurídica do cidadão, titular dos direitos, em relação
ao Estado. As liberdades estariam ligadas ao status negativus e através delas visa-se defender
a esfera dos cidadãos perante a intervenção do Estado. Daí o nome de direitos de liberdade.
Por sua vez, os direitos estariam ligados ou ao status activus ou ao status positivus. Os
direitos ligados ao status activus salientam a participação do cidadão como elemento activo
da vida politica (direito de voto, direito aos cargos públicos). Direitos são ainda as posições
jurídicas do cidadão conexionadas com o status positivus: Trata-se dos direitos dos cidadãos
às prestações necessárias ao desenvolvimento pleno da existência individual. Daí a sua
designação como direitos positivos ou direitos de prestação, moderadamente conhecidos por
direitos económicos, socias e culturais (cfr. Art 76.º ss da CRA).
Direitos e Garantias
Muitos dos direitos fundamentais são direitos de personalidade, mais nem todos os
direitos fundamentais são direitos de personalidade. Os direitos de personalidade abarcam
certamente os direitos de estado (por ex.: direito de cidadania), os direitos sobre a própria
pessoa (direito à vida, à integridade moral e física, direito à privacidade), os direitos
distintivos da personalidade (direito à identidade pessoal, direito a informática) e muitos dos
direitos de liberdade (liberdade de expressão). Tradicionalmente, afastavam-se dos direitos de
personalidade os direitos fundamentais políticos e os direitos a prestações por não serem
atinentes ao ser como pessoa. Contudo, hoje em dia, dada a interdependência entre o estatuto
positivo e o estatuto negativo do cidadão, e em face da concepção de um direito geral de
personalidade como direito à pessoa ser e à pessoa devir, cada vez mais os direitos
fundamentais tendem a ser direito de personalidade e vice-versa. (CANOTILHO, P. 396)
Contudo, é preciso insistir, desde logo, que os direitos não se encaixarão em apenas
uma das dimensões, nem será possível estabelecer uma linha divisória estrita e precisa entre
categorias individuais de direitos e categorias sociais ou de exercício colectivo.
São direitos de primeira dimensão aqueles surgidos com o Estado Liberal do século
XVIII. Foi a primeira categoria de direitos humanos surgida, e que engloba, atualmente, os
chamados direitos individuais e direitos políticos. Neste primeiro conjunto de direitos
encontram-se a protecção contra a privação arbitrária da liberdade, a inviolabilidade do
domicílio, a liberdade e segredo de correspondência.
Os direitos sociais são essenciais para os direitos políticos, pois será através da
educação que se chegará à participação consciente da população, o que implica também
necessariamente no direito individual à livre formação da consciência e à liberdade de
expressão e informação. Os direitos econômicos, da mesma forma colaboram para o
desenvolvimento e efectivação de participação popular através de uma democracia
econômica”.
Os direitos fundamentais de segunda dimensão, por seu turno, são os direitos socias,
económicos e culturais, chamados de direitos positivos, que requerem a acção do Estado para
sua consecução e estão relacionados com o princípio da igualdade (artigo 23.º, n.º 1 e 2 da
CRA).
São direitos de terceira dimensão aqueles que se caracterizam pela sua titularidade
colectiva ou difusa, como o direito do consumidor e o direito ambiental. Também costumam
ser denominados como direitos da solidariedade ou fraternidade. Os interesses difusos
demandam uma participação intensa do cidadão.
Os direitos fundamentais de terceira dimensão, por fim, referem-se aos direitos de
titularidade colectiva, tais como: o direito ao meio ambiente equilibrado; direito à paz; direito
ao desenvolvimento; o direito à autodeterminação dos povos, entre outros, e estão ligados ao
principio da fraternidade.
Uma das funções dos direitos fundamentais ultimamente mais acentuada pela doutrina
(sobretudo a doutrina norte-americana) é a que se pode chamar função de não discriminação.
A partir do princípio da igualdade e dos direitos de igualdade específicos consagrados na
constituição, a doutrina deriva esta função primária e básica dos direitos fundamentais:
assegurar que o Estado trate os seus cidadãos como cidadãos fundamentalmente iguais. Esta
função de não discriminação abrange todos os direitos. Tanto se aplica aos direitos,
liberdades e garantias pessoais (ex: não discriminação em virtude de religião), como aos
direitos de participação política (ex: direito de acesso aos cargos públicos) como ainda aos
direitos dos trabalhadores (ex: direito ao emprego e formação profissional). Alarga-se de
igual modo, aos direitos a prestações (prestações de saúde, habitação). É com base nesta
função de não discriminação que se discute o problema das quotas (ex: parlamento paritário
de homens e mulheres) e o problema das afirmative actions tendentes a compensar a
desigualdade de oportunidades (quotas de deficientes). É ainda com uma acentuação-
radicalização da função anti discriminatória dos direitos fundamentais que alguns grupos
minoritários defendem a efectivação plena da igualdade de direitos numa sociedade
multicultural e hiperinclusiva (direitos dos homossexuais, direitos das mães solteiras direitos
das pessoas portadoras de HIV) (CANOTILHO, p. 409-410).
CAPÍTULO II
Considera-se arguido em direito processual penal todo aquele sobre quem recai forte
suspeita de que tenha praticado um crime suficientemente provado (n.º1 do art.º 63.º do
Código do Processo Penal Angolano).
Isto significa que não basta a existência de uma forte suspeita. Terá de existir um
crime suficientemente comprovado. Desde logo, se constata que a definição de arguido se
manteve incólume no CPPA.
A utilização destes termos nem sempre obedece a critérios objetivos, muito embora a
designação de arguido tenha estado frequentemente reservada à fase da instrução preparatória
até ao despacho de pronúncia, enquanto a de réu dizia respeito à fase judicial, isto é, depois
do despacho de pronúncia (SAMBO, José 2022, p. 273).
O novo código de processo penal no seu artigo 63.º estabelece que assume a qualidade
e arguido em processo penal todo aquele sobre quem recai forte suspeita de que tenha
praticado um crime suficientemente comprovado.
Por outro lado, assume imediatamente a posição processual de arguido a pessoa contra
quem foi deduzida acusação ou requerida a instrução contraditória (art.º 63.º n.º 2).
Assume ainda a posição processual de arguido quem, como tal, for constituído nos
termos dos artigos 64.º e 65.º do mesmo código, isto é, como pressuposto para aplicação de
alguma medida de coação ou de garantia patrimonial e ainda de forma oficiosa ou a
requerimento, etc.
Constituição de arguido
Logo que, em instrução preparatória, aberta contra pessoa determinada, esta prestar
declarações perante o Ministério Público ou Órgão de Polícia Criminal.
Em caso de detenção de qualquer pessoa nos termos do artigo 250.º e seguintes (como
o acto de privação précario).
Sempre que seja levantado um auto de notícia e que se considere como agente de um
crime determinada pessoa, o auto lhe tiver sido comunicado e a notícia não seja
manifestamente infundida.
A indicação dos direitos e dos deveres que competem a essa pessoa nos termos da lei
(art.º 67.º e 68.º).
Por outro lado, a pessoa que se der conta de que é objecto de suspeita de ter cometido
um crime e de que estão a ser efetuadas diligencias destinadas a imputar-lhe tem o direito de
requerer e exigir a sua constituição como arguido e de, nessa posição processual, passar a ser
ouvida (SAMBO, p. 275).
Ainda nos termos do código, concretamente nos termos do artigo 64.º é obrigatória a
constituição de arguido, logo que em instrução preparatória a pessoa vida preste declarações
perante Magistrado do Ministério publico ou Órgão de Policia criminal, quando tenha deve
ser aplicada a alguém medida de coação ou de garantia patrimonial. Havendo detenção de
qualquer pessoa ou sempre que, levantado auto de notícia em que se considere como agente
de um crime determinada pessoa, o aouto lhe tiver sido comunicado e a notícia não tiver sido
infundada.
No que concerne à detenção (al. c do n.º 1 do artigo 64.º), segundo Inácio (2022) “(...)
a constituição de arguido justifica-se tendo em atenção as finalidades dessa fulgura jurídica
assinaladas nas alíneas do n.º 1 do artigo.º 250.º do CPP com a epígrafe conceitos e
finalidades da detenção. Ademais, o n.º 2 do citado artigo assevera que, em caso de detenção
para aplicação de medida de coação privativa de liberdade, é obrigatório o interrogatório do
detido, sem prejuízo de audição sumaria do Ministério Público, para aferir da necessidade, ou
não, de requer aplicação de algumas medidas de coação pessoal na competência do juiz. Bem
vistas as coisas, é uma repetição do que se dispõe na al. a) do n.º 1 do artigo 64.º do CPP,
uma vez que se estaria a prestar declarações perante autoridade judiciária”.
Uma nota deve ser dada ao disposto no n.º 4 do citado artigo 63.º, segundo o qual a
qualidade de arguido matem-se durante todo o decurso do processo. Porem, a configuração
dessa norma pode originar uma ma interpretação. Ora, a mesma não quer dizer que uma vez
constituído arguido, tal situação não possa ser alterada antes do processo conhecer o seu fim.
O arguido pode não ser acusado e quando acusado pode não ser pronunciado, em
qualquer dessas situações, a pessoa antes arguida deixará de o ser, embora o processo possa
continuar contra outro arguido ou outros arguidos (INÁCIO, p. 42).
O suspeito, nos termos do artigo 65.º do CPP são todos aqueles que se procura na
instrução averiguar dos fundamentos da suspeita de ter cometido uma infração, mas não
sendo essa suspeita ainda forte, nas condições exigidas pelo artigo 63.º do mesmo diploma
legal.
Nesta conformidade, infere-se que a diferença entre o suspeito e o arguido está nos
indícios ou suspeita da perpetração de um ilícito. Assim, se esses indícios ou suspeitas forem
fortes, representando uma probidade quase segura de que determinada pessoa cometeu um
crime, então pode-se constituir o respectivo agente na condição de arguido, caso tais
suspeitas sejam ainda inconclusivas ou fracas o agente manter-se-á na condição de simples
suspeito.
Porem, esta não parece que seja a diferença fulcral entre ambas as figuras. Vejamos o
n.º 2 do artigo 65.º do CPP que permite ao simples suspeito requerer que passe a ser tratado,
no processo, como verdadeiro arguido, sempre que verifique que na instrução preparatória
estão a ser efetuadas diligências destinadas a imputar-lhe o crime. Assim, o requerente,
suspeito, considera-se constituído arguido desde a data do despacho a deferir o requerimento
ou daquela em que for ouvido como arguido.
No fundamental usa-se com bastante mais frequência o termo arguido para designar o
sujeito passivo durante a fase de instrução e o termo réu, após a pronúncia e, sobretudo, na
fase de julgamento.
Será reu o arguido a partir do momento em que o juízo de suspeita que sobre ele
recaía se transformou em juízo de probabilidade, confirmado pelo juiz, ou seja, a partir da
pronúncia.
O artigo 63.º define o arguido como aquele sobre quem recai forte suspeita de que
tenha praticado um crime suficientemente comprovado.
1. O Juiz
2. Ministério Público
3. Assistente
4. Arguido
Sujeitos, em sentido amplo, são as pessoas entre as quais se estabelecem as relações
jurídico-processuais. Em sentido estrito ou técnico, são aqueles participantes processuais a
quem competem direitos e deveres processuais autónomos, no sentido de que, através das
suas decisões podem determinar, dentro de certos limites, a concreta tramitação do processo.
Como asseverámos acima, o arguido é um sujeito processual ao qual assistem direitos e
deveres cujo exercício requerem personalidade judiciária (SAMBO, p. 278).
Assim, sempre que exista falta de capacidade de exercício deve o processo ser suspenso.
O n.º 2 do artigo 67.º dispõe que se presume inocente todo cidadão até ao trânsito em julgado
da sentença de condenação.
Este principio tem especial relevância no domínio das medidas de coação que não
deverão ser aplicadas, senão nos estritos limites das necessidades processuais e compaginadas
com as exigências cautelares do caso concreto.
O individuo deve presumir-se inocente até decisão transitada em julgado. Basta que
seja evocada a presunção de inocência para que seja reservado ao arguido tratamento igual ao
conferido aos restantes participantes processuais. São, por isso, absolutamente inadmissíveis
quaisquer considerações ou insinuações que representam uma antecipação do juízo de culpa.
Grande parte das vezes não se mostra necessário evocar o princípio da presunção de
inocência, bastará fazer recurso às normas éticas e de mera cortesia. A presunção de
inocência não exige que o arguido seja tratado por excelência, mas como senhor e pelo seu
nome propilo que constitui o tratamento habitual na nossa sociedade.
O arguido só se presume inocente porque existe fundada suspeita de que seja culpado.
Por haver indícios de responsabilidade é que lhe são concedidos direitos de defesa para ele
poder ilidir.
1. Estar presente nos actos processuais que directamente lhe disserem respeito;
2. Ser ouvido pelo magistrado competente quando este tenha d tomar decisões que
pessoalmente o possam afectar;
3. Ser informado pelas autoridades judiciárias ou pelo órgão de polícia criminal, perante
que seja obrigado a comparecer, dois direitos que a lei lhe concede;
4. Não responder às perguntas que lhe forem feitas, quer sobre os factos que lhe forem
imputados quer sobre o conteúdo das declarações que a cerca deles prestar;
5. Escolher defensor ou pedir ao magistrado competente que lho nomeie;
6. Ser assistido pelo seu defensor em todos os actos processuais em que participar e, se
estiver detido, o de comunicar-se em privado com ele;
7. Intervir nas fases de instrução preparatória e contraditória, oferecendo provas e
requerendo as diligencias que reputar necessárias;
8. Impugnar, mediante reclamação ou recuso, nos termos da lei, as decisões que lhe
forem desfavoráveis.
Como acabamos de observar, os artigos 67.º e 68.º do CPPA fazem uma enumeração
respectivamente dos direitos e dos deveres do arguido, que reputamos não ser nem taxativa,
nem exaustiva, por quanto, para alem destes direitos e deveres, existem outros igualmente
importantes para o regime jurídico do arguido em processo penal.
a) PRESENÇA: O arguido tem o direito de estar presente nos actos processuais que
directamente lhe digam respeito, nomeadamente no debate instrutório e na audiência
de julgamento. (art.º 379.º, 342.º e 343 do CPPA). Salvo as excepções admitidas por
lei, o arguido tem o direito de estar presente nos actos processuais que directamente
lhe disserem respeito. (art.º 67.º do CPPA).
b) AUDIÊNCIA: na instrução preparatória, nos termos dos artigos 169.º, 171.º, 172.º,
165.º, 166.º, al. a) no n.º 2 do artigo 312.º, al. c) do n.º 1 do artigo 313.º e artigo 446.º.
Na instrução contraditória, nos termos do n.º 2 do artigo 338.º.
No julgamento, à luz dos arts. 390.º e 406.º do CPPA.
O direito de audiência mostra-se mais limitado durante a instrução preparatória,
manifestando-se através dos interrogatórios do arguido.
Na fase de julgamento é obrigatória a audiência do arguido.
O direito de audiência não se resume ao facto de o arguido se pronunciar sobre os
factos que lhe são imputados, mas também tem a ver com o facto de se poder
pronunciar sempre que o tribunal tenha de tomar uma decisão que o possa afectar
pessoalmente.
c) INFORMAÇÃO: O arguido deve ser informado, pelas autoridades judiciárias ou pelo
Órgão de Polícia Criminal perante quem seja obrigado a comparecer, dos direitos que
a lei lhe concede.
O n.º 2 do artigo 390.º, n.º 3 do artigo 64.º, n.º 3 do artigo 166.º, n.º 2 do artigo 170.º e
al. b) do n.º 2 do artigo 84.º
d) AO SILÊNCIO: o arguido tem direito a não responder às perguntas que lhe forem
formuladas, quer sobre os factos que lhe forem imputados quer sobre o conteúdo das
declarações que acerca deles prestar. O n.º 3 do artigo 390.º e n.º 3 do artigo 166.º do
CPPA.
O arguido deve ser informado que goza do direito ao silêncio antes do interrogatório,
com a explicação que se mostre necessária.
O silêncio do arguido não pode ser interpretado como presunção de culpa. Por
desconhecermos as razões que conduzem à opção pelo silêncio, não pode o arguido
ser prejudicado por esta razão, mantendo-se a presunção de inocência. A lei não
estabelece punição para o arguido que fale à verdade. Não se trata de um direito de
mentir, mas simplesmente a não punição da mentira.
e) DEFENSOR: O arguido tem o direito de escolher defensor ou pedir ao magistrado
competente que lho nomeie. Este direito está consagrado na constituição (n.º 3 do art.º
67.º da CRA e alíneas e) e f) do artigo 67.º do CPPA).
O arguido tem o direito a escolher defensor e a ser por ele assistido em todos os actos
do processo, especificando a lei os casos e as fases em que a assistência por advogado
é obrigatória.
O arguido tem o direito de escolher defensor que o acompanhe nas diligências
policiais e judiciais (al. d) do art.º 67.º 63.º da CRA e art.º 67.º 71.º do CPPA.
f) INTERVENÇÃO: O arguido tem o direito a intervir nas fases de instrução
preparatória e contraditória, oferecendo provas e requerendo as diligências que
reputar necessárias. Tem também o direito de requerer a abertura da instrução
contraditória, quando acusado (al. g) do art.º 67.º 67.º e n.º 4.º do art.º 332.º
O arguido pode, em qualquer fase, apresentar memoriais, exposições ou
requerimentos, desde que eles se mantenham no âmbito do objecto do processo ou
tenham por finalidade salvaguardar os seus direitos fundamentais (art.º 111.º do
CPPA)
A al. g) do art.º 67.º do CPPA faz menção à intervenção do arguido unicamente na
instrução preparatória e contraditória, mas ele também tem direito de intervir na
audiência de julgamento, onde a sua presença e consequente interrogatório são, em
princípio, obrigatórios.
g) RECURSO: o arguido tem direito a imputar, mediante reclamação ou recurso, nos
termos da lei, as decisões que lhe forem desfavoráveis (al. h) do artigo 67.º
À luz do artigo 460.º do CPPA, é permitido recorrer de todas as decisões judicias que
não forem excluídas por lei. O estatuto do arguido integra também deveres
processuais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ARAÚJO, Raul (2018). O Direito Constitucional Angolano, (1ª ed.), Editora, CEDP/UAN;
GOUVEIA, George (2014). Direito Constitucional de Angola (1ª ed.), Editora, Lisboa;
JUSTO, Santos (2012). Introdução ao Estudo do Direito (6ª ed.), Editora, Coimbra;
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RAMOS, Vasco (2011). Direito Processual Penal Noções Fundamentais (6ª ed.), Editora,
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LEGISLAÇÕES