In Flue Nci Amid I A Tribunal

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A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS JULGAMENTOS DO TRIBUNAL


DO JÚRI

AVELINO DE MEDEIROS ACIOLI, Fidel Braga1

RESUMO

O presente artigo traz uma discussão teórica que parte das notícias vinculadas à
mídia, a cerca de homicídios, que tomaram grandes proporções no cenário nacional,
e a sua relação de influência nos veredictos prolatados no Plenário do Tribunal do
Júri. A pesquisa abordada neste trabalho permite a realização de uma análise jurídica
das informações noticiadas e a formação de um juízo de valor a partir do noticiário.
Para tanto, tem-se alguns casos de grande repercussão midiática e os respectivos
resultados dos julgamentos como amostragem, utilização de acervo teórico de alguns
doutrinadores, bem como acesso aos variados sítios eletrônicos. De início será
desenvolvido um conceito histórico do Tribunal do Júri no Direito brasileiro, contendo
o seu surgimento e seus princípios constitucionais, dentre eles a soberania dos
vereditos. De forma contínua será exposto a composição do conselho de sentença,
os critérios de seleção dos jurados. Por fim, conceituar-se-á o termo mídia, e aplicar-
se-á a sua influência na formação de juízo de valor dos jurados.

Palavras-chave: Tribunal do Júri; Direito Penal Midiático; Mídia; Influência.

__________________________

1 INTRODUÇÃO

O Plenário do Tribunal do Júri é um grande exemplo de democracia, onde o


poder de decisão está nas mãos do conselho de sentença. O presente trabalho busca
formar uma análise crítica de uma possível relação entre as notícias vinculadas à
mídia, sobre determinados casos de grande repercussão, envolvendo homicídios, e
os resultados dos julgamentos realizados pelo Tribunal do Júri, estabelecendo assim
uma relação de influência.

A origem do Tribunal do Júri não é sabida ao certo, entretanto, sabe-se que a


Inglaterra positivou o instituto na feição atual, em sua constituição de 1215. Tem-se
como essência o anseio popular de promover justiça. No Brasil a competência é para
o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, o que causa mais interesse social.

1
Acadêmico do 10º período do curso de Direito da Universidade Federal de Uberlândia. fidelacioli@gmail.com
2

Com o aumento da criminalidade em nossa sociedade somado à inércia do


poder público, pode-se afirmar que há uma mutação do pensamento criminológico,
onde o pensamento social, em sua maior parte, é voltado à repressão e,
subsidiariamente, à proteção do crime. Diante desse anseio popular há uma notória
disseminação sensacionalista dos meios de imprensa, onde observa-se de maneira
irresponsável o fato e o “criminoso”, transmitindo aos telespectadores uma falsa
sensação de impunidade.

Pode-se afirmar que o ser humano é facilmente influenciado, formando a sua


opinião basicamente com aquilo que lhe foi mostrado. Nesta toada, sabe-se que a
imprensa tem papel fundamental na formação de juízo de valores, estabelecendo
assim um elo entre as notícias vinculadas à mídia e a decisão soberana dos jurados.

Diante disso, se faz necessário uma análise crítica para estabelecer se


realmente as notícias vinculadas à mídia influenciam o julgamento pelo Tribunal do
Júri, e, caso haja este elo, propor soluções para o conflito apresentado.

2 REFERÊNCIAL TEÓRICO / DESENVOLVIMENTO

2.1 CONTEXTO HISTÓRICO DO TRIBUNAL DO JÚRI

Pouco se sabe sobre a origem do Tribunal do júri, pode-se afirmar que a sua
origem se deu desde a antiguidade, entretanto, o marco histórico do instituto se deu
com a Carta Magna da Inglaterra em 1215. Após a sua positivação, houve uma grande
disseminação pela Europa continental, e passou a ser utilizado na maioria dos
sistemas jurídicos, sendo um marco de democracia e liberdade.

Sobre o surgimento do Tribunal do Júri, Nucci (2015) afirma:

O Tribunal do Júri, na sua feição atual, origina-se na Magna Carta, da


Inglaterra, de 1215. Sabe-se, por certo, que o mundo já conhecia o júri antes
disso. Na Palestina, havia o Tribunal dos Vinte e Três nas vilas em que a
população fosse superior a 120 famílias. Tais Cortes conheciam a julgavam
processos criminais relacionados a crimes puníveis com a pena de morte. Os
membros eram escolhidos dentre padres, levitas e principais chefes de família
de Israel.
3

Após o seu apogeu o instituto é pouco utilizado na Europa e nos demais


continentes, com a ressalva de alguns países que tem o Tribunal do Júri muito
respeitado e prestigiado. Vale ressaltar que apenas nos países no contexto da
Common Law, a exemplo da Inglaterra, Canadá e Estados Unidos, possuem a
instituição do mesmo molde estabelecido na Constituição Inglesa. O Brasil é uma
exceção ao resto do mundo, onde possui um Direito Codificado ao mesmo tempo que
um Tribunal do Júri nos moldes britânicos.

No Brasil, o surgimento do tribunal popular se deu no ano de 1822, por força


da Lei nº 18, onde a competência era reduzida apenas aos crimes de imprensa. Em
1824, com a Constituição do Império, o Tribunal do Júri teve um artigo especial, o 151,
do Capítulo Único, do Título 6. Vale ressaltar que os jurados poderiam julgar tanto
conflitos cíveis quanto criminais.

Assim doutrina Tourinho Filho (2017) sobre o tema:

Entre nós, o Júri surgiu em 1822, e era exclusivo para os crimes de imprensa.
A Constituição de 1824 estendeu-o às causas cíveis e criminais, muito embora
nunca houvesse funcionado nesses feitos. Com o advento do Código de
Processo Criminal do Império, de 1832, atribuiu-se à instituição o julgamento
de quase todas as infrações. Criou-se o Jury de Accusação, formado de 23
jurados, cuja finalidade era dar sustentação à pronúncia, que ficava a cargo
dos Juízes de Paz.

Após a proclamação da república, o instituto do tribunal popular fora mantido,


com fortes influências de Rui Barbosa, passou a integrar o contexto dos direitos e
garantias individuais. A Constituição de 1934 manteve o tribunal do povo, desta vez
na organização do poder judiciário, artigo 72.

Já em 1937, a Constituição foi firmada durante um Golpe de Estado, e desta


vez o Tribunal do Júri não foi inserto na Carta Magna. Com a exclusão do tribunal
popular teve-se bastante discussão acerca do tema, onde, finalmente, em 1938, com
o Decreto-Lei 167, o Tribunal do Júri teve sua existência confirmada, entretanto sem
soberania, como ensina Guilherme Nucci (Tribunal do Júri, 6ªed., 2015)

O instituto do Tribunal do Júri foi mantido em todas as Constituições


subsequentes. Desde a última Carta Magna o tribunal popular está no rol das
garantias individuais, expresso no artigo 5º, inciso XXXVIII da Constituição Federal.
Sendo assim, por força do artigo 60, § 4º, inciso IV, da Constituição Federal, o Tribunal
4

Popular não pode ser abolido, por tratar-se de garantia individual, e esta não poderá
ser objeto de emenda que tente abolir os seus direitos.

2.1.2 OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS NORTEADORES DO TRIBUNAL DO


JÚRI

A Carta Magna trouxe, além da previsão legal, alguns princípios norteadores


do Tribunal do Júri, quais sejam: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes
dolosos contra a vida (Constituição Federal, artigo 5º, inciso XXXVIII, alíneas a, b, c
e d). Sendo assim, além dos princípios processuais, deve-se impor as garantias
constitucionais.

2.1.3 A PLENITUDE DE DEFESA

Sabe-se que um dos princípios processuais é o contraditório e a ampla defesa,


se tratando de processo criminal tal garantia deve ser cumprida de forma cabal. No
Tribunal do Júri, por força constitucional, não basta tão somente a ampla defesa, esta
deve ser plena, Nucci (2015, p.25) aponta que amplo é algo vasto, enquanto pleno se
aproxima do completo, perfeito.

Sendo assim, observa-se que a defesa no Tribunal do Júri deve ser mais
efetiva, utilizando-se de todos os meios legais para realizar a defesa do Réu, sob pena
de nulidade por considerar o Réu indefeso, pois teve sua garantia constitucional
violada.

2.1.4 O SIGILO DAS VOTAÇÕES

O sigilo das votações é mais um princípio constitucional norteador do Tribunal


do Júri. Expressa o Código de Processo Penal “o juiz presidente, os jurados, o
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Ministério Público, o assistente, o querelante, o defensor do acusado, o escrivão e o


oficial de justiça dirigir-se-ão à sala especial a fim de ser procedida a votação” (art.
485, caput, CPP). Além da sala secreta, a Lei 11.689/2008 instituiu a apuração dos
votos por maioria, sendo vedado a divulgação do quórum total, sob pena de nulidade.
Tourinho Filho (2017) sobre o tema diz: “[...] ainda que a votação se dê por
unanimidade, serão considerados apenas 4 votos, precisamente para que ninguém
saiba quem votou SIM e quem votou NÃO”.

Tal princípio busca legitimar as votações, pois observa-se que a sessão do júri
é aberta ao público, sendo assim o sigilo das votações busca impedir qualquer
interferência externa. Vale ressaltar que este princípio não fere o princípio
constitucional da publicidade das decisões do poder judiciário, pois o próprio texto
constitucional permite a limitação da publicidade quando se tratar de interesse social
ou público.

2.1.5 A SOBERANIA DOS VEREDICTOS

A soberania dos veredictos é o princípio constitucional que qualifica a decisão


dos jurados como soberana, sabe-se que os jurados decidem conforme a sua
consciência, assim estipula o artigo 472, Código de Processo Penal. Sendo assim, de
maneira geral, o conselho de sentença baseia a sua decisão no que lhes foi
apresentado durante os debates, e não de maneira técnica. Portanto, por serem leigos
e decidirem conforme a sua consciência a decisão deve ser preservada, pois esta foi
a vontade do povo.

A Carta Magna resguarda a soberania dos veredictos, assim sendo, nenhum


Juiz togado, ou tribunal pode invalidar a decisão dos jurados. Entretanto, se observado
um conflito entre o princípio processual do duplo grau de jurisdição e o princípio
constitucional da soberania dos veredictos, aquele prevalecerá se, nitidamente, a
decisão dos jurados forem contrária as provas dos autos, ou se detectado alguma
nulidade durante a sessão de julgamento, e para solucionar este conflito basta
submeter o processo a um novo julgamento popular. Paulo Cezar Dias afiram que “Só
se licencia cassação do veredicto popular quando ele é escandaloso, arbitrário, e sem
6

qualquer sintonia com as provas dos autos” (Ap 1.0024.08.229147-7/002/MG, 3ª C.,


rel. Paulo Cezar Dias, j. 05.07.2011, v.u.).

2.1.6 A COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO DOS CRIMES DOLOSOS CONTRA


A VIDA

Por força do artigo 5º, inciso XXXVIII, alínea d, da CF, os crimes dolosos contra
a vida, previstos nos artigos 121 ao 126 do Código Penal, serão processados e
julgados pelo Tribunal do Júri. É possível que o tribunal popular julgue outros delitos
caso estejam em conexão com algum dos crimes dolosos contra a vida. Nucci (2015)
revela que o povo é o colegiado ideal para analisar o homicídio, visto que é um crime
que qualquer um possa vir a cometer algum dia.

2.2 O CONSELHO DE SENTENÇA

O rito processual do Tribunal do Júri está contido no Código de Processo Penal,


entre os artigos 406 e 497. Em específico à composição do Tribunal do Júri é formada
por um Juiz togado e 25 jurados, os quais serão advertidos das causas de
impedimento e suspeição, dos 25 serão sorteados apenas 7 para que componham o
conselho de sentença. Durante o sorteio, a defesa e a acusação poderão recusar 3
jurados cada de forma não motivada.

Nesse sentido, ensina Tourinho Filho (2017):

O Júri, entre nós, é um Tribunal formado de 1 Juiz togado, que o preside, e de


25 jurados, que se sortearão dentre os alistados, dos quais 7 constituirão o
Conselho de Sentença em cada sessão de julgamento. É um órgão especial
de 1º grau da Justiça Comum Estadual e Federal, colegiado, heterogêneo e
temporário.

Sobre os pré-requisitos dos jurados Tourinho Filho (2017) ensina que:

Entre nós, a lei não exige, para o exercício da função de jurado, outras
condições senão estas: a) ser brasileiro nato ou naturalizado; b) ser maior de
18 anos; c) idoneidade. A preferência de diplomados é do Juiz Presidente do
Tribunal do Júri, e não da Lei.
7

Vale ressaltar que os jurados são escolhidos a partir de uma lista geral anual,
que deve ser publicada até o dia 10 de novembro do ano que antecede as sessões
do Tribunal do Júri. O artigo 436 do Código de Processo Penal expressa “O serviço
do júri é obrigatório. O alistamento compreenderá os cidadãos maiores de 18 (dezoito)
anos de notória idoneidade.”, veja não há nenhum pré-requisito para ser jurado,
apenas a idade e a vida idônea, sendo dispensado o conhecimento técnico.

2.3 A MÍDIA

Para o presente artigo tem-se a mídia como os meios de comunicação de


massa, onde ocorre a disseminação de notícias por meio de instrumentos utilizados
no dia a dia do cidadão, entre eles telejornais; Jornais; Rádios, Sítios eletrônicos, entre
outros. Opta-se por estes meios de comunicação pois sabe-se que possuem grande
poder de disseminação, atingindo uma população inteira com uma mesma informação
de forma rápida. Venâncio A. de Lima conceitua a mídia da seguinte forma:

[...] quando falamos da mídia, estamos nos referindo ao conjunto das


emissoras de rádio e de televisão (aberta e paga), de jornais e de revistas, do
cinema e das outras diversas instituições que utilizam recursos tecnológicos na
chamada comunicação de “massa”. (Lima, 2004, p.50)

De maneira mais clara, podemos resumir todos estes meios de comunicação


como imprensa, sendo está a designação coletiva dos meios de comunicação que
exercem o jornalismo.

2.3.1 A IMPRENSA NO BRASIL

Com a chegada da Família Real portuguesa, em meados de 1808, se iniciou


os trabalhos de imprensa, onde até então era proibido a publicação de jornais, livros
ou panfletos. Pois bem, em 13 de maio de 1808, o Príncipe regente, Dom João VI, cria
a imprensa Régia, sendo o primeiro veículo de notícias do país.
8

Após a sua fundação, outro veículo de notícias fora fundado, a Gazeta do Rio
de Janeiro que, assim como a imprensa Régia, era vinculada à coroa portuguesa,
portanto, pode-se afirmar que só eram noticiados fatos favoráveis ao governo.

Quando no exílio, Hipólito José da Costa, em Londres, fundou o Correio


Brasiliense, sendo este o primeiro jornal brasileiro. Entretanto, até o ano de 1820,
somente a Gazeta, pertencente à imprensa Régia, que tinha permissão para circular.

Tudo o que era publicado havia, obrigatoriamente, a necessidade de se


submeter ao crivo da coroa, formada por três pessoas com o intuito de manter a honra
religiosa, a bondade do Governo e os bons costumes. A censura prévia perdurou até
o ano de 1821, desde então os meios de comunicação se evoluíram ao longo do
tempo, passando por altos e baixos até a firmação constitucional da liberdade de
imprensa.

2.3.2 A LIBERDADE DE IMPRENSA

A liberdade de imprensa pode ser definida, resumidamente, como a capacidade


de dispor uma informação, pelos meios de comunicação de massa, sem a
interferência estatal. Existe previsão expressa na Constituição Federal que garante a
liberdade de imprensa.

Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a


informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer
restrição, observado o disposto nesta Constituição.
§ 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena
liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação
social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.
§ 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e
artística. (Constituição Federal, 1988)

Pois bem, desde 1946 as Cartas Magnas que antecederam a Constituição


Cidadã asseguravam o direito à liberdade de imprensa, variando entre regimes mais
ou menos democráticos.

Ainda sobre a garantia constitucional, assim prevê o artigo 5º, inciso IX, da
Constituição Federal:
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Art. 5º [...]
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença;

Sendo assim, pode-se afirmar que a mídia exerce grande papel na formação
de opinião e juízo de valores da sociedade, sendo a imprensa o principal meio de
acesso do cidadão à notícia. O que comprova tal fato é que tudo se utiliza da mídia,
uma simples notícia veiculada até propagandas políticas para eleger governantes e
legisladores. Percebe-se, então, o grande poder persuasivo dos meios de
comunicação de massa.

Conclui-se, portanto, que a mídia tem um elevado papel nos meios sociais,
sendo influente nos campos sociais, políticos e econômicos. Com os meios de
comunicação é possível incutir no espectador meios de agir, de pensar ou, até mesmo,
uma mudança cultural.

2.4 A MÍDIA E A CRIMINALIDADE

A escritora Darci Arruda Miranda afirma que:

[...] Dentro da grei humana, a sua importância é tal que já se lhe atribuiu a
categoria de 4º poder do Estado, em virtude de seu índice de penetração na
massa popular e imensa facilidade em construir ou destruir reputações, em
estruturar ou desintegrar a sociedade, em edificar ou debilitar os povos, pelo
domínio das consciências, através de noticiários e comentários honestos ou
tendenciosos. (MIRANDA, 1995, p. 43). (Grifei)

Nota-se que o poder midiático é tão grande que Miranda (1995) chega a firmar
que é atribuído à mídia o 4º poder do Estado. Neste mesmo sentido, o Promotor de
Justiça de Minas Gerais Dr. Paulo Freitas disciplina que:

A mídia, como visto, exerce um papel preponderante na dinamização


dos sistema penal pós-moderno. E parte desse papel consiste justamente em
disseminar a insegurança, explorando o fenômeno crime de forma a incutir na
crença popular um medo do crime que não necessariamente corresponde à
realidade da violência. A mídia reforça e dramatiza a experiência pública do
crime, colocando o fenômeno criminal na ordem do dia de qualquer cidadão.
(FREITAS, 2016, p.150)
10

Pode-se afirmar, portanto, que o poder midiático vem sendo aplicado como
meio de promover a justiça, e acaba por ser exibido de forma sensacionalista,
formando opiniões divergentes da verdade real dos fatos e da Lei Penal e Processual
Penal, ocasionando vários danos à aplicação da Lei Penal.

A divulgação de crimes pela mídia é tão ampla que, em alguns casos, tomam
proporções internacionais, como o caso do assassinato de Elisa Samudio, ou do casal
Manfred e Marísa Von Richtofen. Muitas vezes, os casos nem foram solucionados
ainda pela polícia judiciária, entretanto, a imprensa, de um modo geral, começa a
“impor” juízos de valores ao caso, violando assim diversos princípios processuais,
dentre eles a presunção de inocência, quando se tem um suspeito sobre investigação
e a mídia o coloca como o verdadeiro autor do crime.

Dessa maneira, a mídia como um todo cria uma realidade paralela que não
corresponde ao mundo real. Entretanto, como possuidora de grande artefato
tecnológico tem a capacidade de difundir na população uma falsa sensação de
injustiça e insegurança, deixando claro que a violência tem números astronômicos,
que o direito penal é frágil e insuficiente e que, para resolver tal conflito, é necessário
que a sociedade se revolucione e reivindique novas leis incriminadoras.

2.5 A MÍDIA E O TRIBUNAL DO JÚRI

Os crimes dolosos contra a vida, em geral, são crimes que geram grande
revolta social e que, infelizmente, está presente no dia a dia da sociedade. Mas como
dito no tópico referente ao Tribunal do Júri, quem irá julgar estes casos é a própria
sociedade, é onde se instala toda a problemática deste artigo, pessoas leigas,
influenciadas por notícias veiculadas de forma incessante e tendenciosa na imprensa,
decidindo o futuro de um cidadão.

Pode-se aferir que, assim como a mídia tenta exercer forte influência em Juízes
togados, ocorre da mesma forma nos jurados, entretanto, as consequências são ainda
maiores, visto que são cidadãos leigos quando se fala de processo penal.
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2.5.1 O PRINCÍPIO DO ESTADO DE INOCÊNCIA E A SUA VIOLAÇÃO PELA MÍDIA

Existe em nosso ordenamento jurídico um princípio constitucional chamado de


presunção de inocência, onde afirma que “ninguém será considerado culpado até o
trânsito em julgado de sentença penal condenatória;” (art. 5º, inciso LVII, Constituição
Federal, 1988). Tal garantia adveio do Pacto de San José da Costa Rica (Convenção
Interamericana de Direitos Humanos), onde determina em seu artigo 8º (2) que "toda
pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não
se comprove legalmente sua culpa".

Neste sentido de garantia constitucional, Canotilho et al. (2013, p. 13) ensina


que:

O Princípio da presunção da inocência passou a ganhar forma a partir das


críticas dos pensadores iluministas acerca dos sistemas penais e também das
em relação a discussão sobre o poder punitivo do estado e da liberdade
individual com o direito natural e inviolável da presunção da inocência,
resultando assim na inserção na Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão de 1789. (Grifei)

Sendo assim, a presunção de inocência é um estado natural do homem, e que


somente cabe o ônus de provar a autoria delitiva à acusação e, jamais, à defesa.
Assim descreve Nucci (2017) “As pessoas nascem inocentes, sendo esse o mesmo
estado natural, razão pela qual, torna-se indispensável que o estado evidencie com
provas suficientes a culpa do réu.”

Contudo, a mídia, resguardada por sua garantia constitucional de


liberdade de imprensa, muitas vezes fere o princípio constitucional da presunção de
inocência quando se utiliza do sensacionalismo midiático, sem o devido processo
legal, expõe o “suspeito” e, de certa maneira, o condenam. Gomes (2012) entende
que para se dar IBOPE é necessário que se explore a natureza emotiva do Crime

O advogado Arthur da Távola, em pronunciamento ao Senado Federal em 05


de maio de 1998 disse:

Temos visto uma porção de exemplos que se processam - e agora sou eu que
vou fazer a síntese de algo complexo - mais ou menos da seguinte maneira:
há indícios que são tomados como sintomas; sintomas que são tomados
como fatos; fatos que são tomados como julgamento; julgamentos que
são tomados como condenação e condenação que é tomada como
linchamento. É possível - e tem acontecido - ir-se do indício ao linchamento
em 24 horas. (Grifei)
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Neste mesmo sentindo, Luiz Flávio Gomes (2012) afirma:

Ora a mídia atua como empresária moral (interferindo na opinião pública e no


legislador para a edição de novas leis penais), ora age como justiça paralela
(mídia justiceira), muitas vezes acusando, julgando e condenando o réu, no
mínimo com a pena de humilhação pública.

Com esse choque de princípios, Jairo Gilberto Schafer (2007) propõe a análise
do caso concreto de forma proporcional, com o intuito de precisar qual direito deve
ceder, a fim de que um direito fundamental não prejudique o outro.

Pois bem, conclui-se que o sensacionalismo midiático, com a intenção de


propagar uma falsa sensação de injustiça, quando se depara com um delito que gere
comoção social, pode ferir o princípio, ou melhor, o estado natural de presunção de
inocência, quando utiliza o suspeito para promover o seu sensacionalismo e o
condena aos olhos da sociedade.

Como já discorrido, sabe-se que a imprensa possui grande poder persuasivo,


o que faz produzir um juízo de valor na sociedade sobre determinado fato de maneira
equivocada, visto que não utiliza a previsão legal para formar a culpa. Isso traz
imensos riscos à aplicação da lei penal, principalmente relacionado ao Tribunal do
Júri.

Após ser doutrinado incansavelmente, formando, possivelmente, um juízo de


valor sobre o caso, o cidadão que é convocado e sorteado a compor o conselho de
sentença de um crime doloso contra a vida, crime este amplamente divulgado pela
mídia, chega ao plenário com sua convicção formada, quase sempre a condenar o
indivíduo. Sendo assim, as notícias veiculadas à mídia sobre crimes de grande
comoção, deve-se ser analisado com cautela, e necessita que os órgãos de imprensa
divulguem com imparcialidade e com as ressalvas legais os fatos apurados, sob pena
de responsabilidade civil de seus atos, conforme artigo 49 da Lei 5.250/1967.

2.6 A PSICOLOGIA SOBRE A INFLUÊNCIA NA OPINIÃO DAS PESSOAS

Não se pode estabelecer um elo sobre a influência da mídia e a formação de


juízo de valores do cidadão sem fazer uma análise psicológica. Ramonet (2002) afirma
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que a mídia é criada a partir do conhecimento dos desejos e necessidade do ser


humano.

A psicologia já pacificou que o indivíduo tem interferência do dia a dia, e das


vivências rotineiras na formação de sua personalidade. Sendo assim, pode-se aferir
que o sensacionalismo empregado pela imprensa, presente no cotidiano das pessoas,
contribui de maneira contundente na formação da personalidade da pessoa, com isso
interferindo no juízo de valor formado por cada um.

De maneira simples afirma-se que desde o nascimento até a formação de


alguma opinião, tudo que está presente no dia a dia, na rotina do cotidiano contribui
para a formação do consenso obtido. Em outras palavras, o indivíduo está em
constante mudança de opinião, e tudo que está em sua volta o influencia.

Conclui-se, portanto, por esta análise psicológica, que a mídia exerce influência
direta na subjetividade humana, de acordo com seus costumes, com isso, pode-se
aferir que a imprensa exerce um papel social de influência, sendo uma grande baliza
para a formação da opinião pública, e como no Tribunal do Júri é a palavra do povo
que prevalece, essa influência é extremamente perigosa, e, quase sempre, prejudicial
ao Direito Penal, onde a imparcialidade dos julgadores é fundamental.

2.7 CASOS COM GRANDE REPERCUSSÃO MIDIÁTICA

Pois bem, como discorrido no início, crimes, de uma maneira geral, chocam a
sociedade, entretanto, ao se falar de crimes dolosos contra a vida a comoção social é
ainda maior. Em alguns casos o abalamento moral causado no cidadão é agravado
pelas condições que se deu o homicídio, a exemplo de crimes cometido com o
emprego de tortura, contra ascendentes ou descendentes.

Para retratar este elo de influência midiática que vem sendo discorrido neste
artigo, selecionou-se alguns casos de homicídio que tiveram ampla cobertura da
imprensa. Será observado a intensidade de reportagens vinculadas ao caso, as
informações prestadas e a sustentação jurídica das informações, ou seja, se elas se
coadunam ou não com os preceitos estabelecidos em lei.
14

Vale ressaltar que na apresentação dos casos não há intuito algum de formar
juízo de valor para dizer se os acusados são verdadeiramente culpados ou não,
apenas demonstrar a atuação sensacionalista e descuidada da imprensa durante a
cobertura dos casos.

2.7.1 CASO ISABELLA NARDONI

Este caso refere-se à morte da criança Isabella de Oliveira Nardoni, de apenas


5 anos de idade, que a causa mortis foi politraumatismo ocasionado pela queda do
sexto andar. Após concluída a investigação restaram indiciados o pai da criança,
Alexandre Alves Nardoni, e a madrasta, Ana Carolina Trotta Peixoto Jatobá, e, após
todo tramite processual, restaram condenados pelo 2º Tribunal do Júri do Fórum de
Santana, na capital paulista.

Sobre o caso o Promotor de Justiça Paulo Freitas (2016) diz:

Foram dezenas de reportagens veiculadas pelos mais distintos programas e


redes de televisão; milhares de manchetes e chamadas em jornais impressos
e edições virtuais; inúmeras matérias de capa das principais revistas semanais.
Aqui igualmente a mídia se apressou em investigar, acusar e julgar moralmente
os suspeitos de causar a morte da criança Isabella Nardoni.

Como dito por Freitas, a mídia se precipitou em investigar o caso, vários são
os elementos que comprovam o papel sensacionalista da mídia. O fato ocorreu na
noite de 29 de março de 2008, em depoimento à polícia no dia 30 do mesmo mês o
Pai da vítima trouxe a suas versões do fato, no mesmo dia, um telejornal, de uma
grande emissora do País, veiculou a informação de que a polícia descartou a
possibilidade de acidente, veja com menos de 24 horas a imprensa já começa a formar
convicções, sendo que o inquérito policial foi concluído apenas 30 dias após a morte
de Isabella.

No dia 1º de abril do mesmo ano os primeiros laudos confeccionados pelo


Instituto Médico Legal já circulavam nos noticiários, antes mesmo de integrarem o
inquérito policial. Com isso, a mídia já declarava Alexandre Nardoni e Ana Carolina
Jatobá como suspeitos, mesmo quando a Delegada que presidiu as investigações
pedira cautela.
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Em entrevista ao portal G1(02/04/2018), de uma renomada emissora, Elizabeth


Sato afirma:

É importante que, nesse momento, nós tenhamos a calma suficiente para


fazer a investigação. Uma investigação de homicídio pode tornar-se complexa.
[...] Em uma investigação, no início, é muito precipitado apontar A, B C ou D.

Nota-se que, à época dos fatos, diante de tanto sensacionalismo da imprensa,


até o local dos fatos se tornou uma atração para o público, conforme noticiado pelo
portal G1(06/04/2018):

Prédio de onde Isabella caiu vira atração [...] Mas não é somente a imprensa que “bate
ponto” junto ao Edifício Residencial London. A todo momento, pessoas
paravam na calçada e apontavam para a janela de onde Isabella despencou.
Carros também reduziam a velocidade para que os motoristas vissem o local.

Alguns jornais de grande circulação também trouxeram manchetes


sensacionalistas sobre o caso. Programas policiais de grandes emissoras focaram
suas reportagens na cobertura midiática dos fatos. O homicídio tomou grandes
proporções na imprensa, sendo objeto de matérias na mídia internacional como as
grandes mídias, a exemplo da BBC, em Londres, e o jornal francês Le Monde.

Pois bem, é possível afirmar que, neste caso, a imprensa agiu de maneira
descuidada, parcial e sensacionalista. Conforme discorrido em tópicos anteriores,
com o anseio de promover justiça diante de uma transmissão de falsa impunidade ou
injustiça. Da maneira que fora disposta as notícias e com a alta intensidade de
publicações, é possível afirmar que houve sim uma influência na sociedade, e esta
influência foi levada ao plenário do Tribunal do Júri. Com isso, Alexandre Nardoni e
Ana Carolina Jatobá restaram condenados.

Não se pode descartar o trabalho realizado pela polícia judiciaria, entretanto,


mesmo que este trabalho não tivesse sido bem elaborado, pode-se aferir que o casal,
possivelmente, restaria condenado, pois a mídia provocou uma enorme
sensibilização nas pessoas.

2.7.2 CASO ELIZA SAMUDIO


16

Este caso é um dos mais emblemáticos do país, podemos dizer suis generis,
um desaparecimento da vítima que resultou na condenação dos réus por homicídio
sequestro e cárcere privado. Um dos condenados é uma pessoa de grande
representação na sociedade, goleiro de futebol, bem-sucedido, em um dos maiores
clubes do mundo.

Bruno Fernandes das Dores de Souza, foi condenado a 22 anos e três meses,
pela morte de sua ex companheira Eliza Samúdio, além de outros delitos conexos ao
caso.

Freitas (2016) afirma que, mais uma vez, a imprensa transcendeu o seu direito
de liberdade de imprensa, a objetividade e a imparcialidade que deveriam pautar a
notícia, foram substituídos pelo sensacionalismo, o verdadeiro espetáculo midiático.

Scaravelli (2018) sobre o tema, afirma:

Já no caso Bruno, mesmo não existindo prova material do crime, ou seja,


exame cadavérico, já que o corpo da vítima até hoje não foi encontrado; a
divulgação do caso foi tão grande e sensacionalista que o réu já entrou no júri
condenado.

A repercussão do caso foi tão grande que a imprensa, com alta tecnologia e
grande poder de persuasão, conseguiu praticar atos que até então o judiciário não
conseguira, ouvir uma testemunha chave, até então menor de idade, e divulgar sua
nova versão dos fatos para todo o Brasil.

Sobre este fato relata Luiz Flávio Gomes (2012):

[...] no caso do ex-goleiro Bruno o “Fantástico” conseguiu ouvir o seu primo


Jorge Luiz (menor na época dos fatos), colocando no ar “seu depoimento”. O
que a Justiça não vem conseguindo fazer, a Globo fez. E o povo todo,
inclusive quem vai servir de jurado do caso, viu e ouviu a nova versão dessa
importante testemunha, que foi a primeira a revelar que Eliza Samúdio foi
levada a um local afastado para ser assassinada.

Vejamos que, mais uma vez, a imprensa transcendeu a sua garantia


constitucional e violou primícias do Direito Penal e Processual Penal. A sociedade
já começou a formar o seu juízo de valor quando uma testemunha do caso foi ouvida
em rede nacional antes do julgamento.

Não restam dúvidas de que a população fora influenciada, ao contrário da


materialidade do homicídio que, até hoje, não se encontrou o cadáver de Eliza
17

Samúdio. Vale ressaltar que não se discute neste artigo o conjunto probatório dos
autos, mas sim a influência proporcionada por uma imprensa sensacionalista no
caso concreto. Mais uma vez, pode-se aferir que, mesmo sem um conjunto
probatório confeccionado pela polícia judiciária, muito provavelmente os réus
restariam condenados, dada a comoção aplicada pela mídia.

2.7.3 CASO ELOÁ PIMENTEL

Este é mais um caso de homicídio que a imprensa, de modo geral, realizou


um espetáculo midiático. Vale ressaltar que no julgamento deste crime a
competência do Tribunal do Júri foi ampliada para que se julgasse os crimes
conexos ao homicídio, dentre eles cárcere privado e disparo de arma de fogo.

Em outubro de 2008 o jovem Lindemberg Fernandes Alves entrou no


apartamento de sua ex-namorada e manteve ela e seus 3 colegas, que estavam
juntos, em cárcere privado. Inicialmente Lindemberg libertou 2 vítimas, mantendo
sob seu domínio Eloá Pimentel e Nayara Rodrigues. O cárcere durou ao todo mais
de 100 horas, até que o Grupamento de Ações Táticas Especias da Polícia Militar
invadiu a propriedade e houve trocas de tiros, momento em que Eloá e Nayara
foram atingidas, Eloá não resistiu aos ferimentos e faleceu.

Pode-se afirmar que este foi um dos casos mais emblemáticos do país, pois
todas as 100 horas de cárcere foram transmitidas ao vivo nas maiores emissoras
do país. Para obter IBOPE a imprensa utilizou de um grande espetáculo midiático,
que foi crucial para o desfecho trágico do caso. Com a cobertura ao vivo do crime
com entrevistas de policiais que realizavam as negociações, Lindemberg conseguiu
acompanhar e antecipar todas as ações da polícia.

Um fato marcante deste homicídio é que o acusado foi entrevistado por


diversas vezes por telefone, inclusive por grandes emissoras. É notória a influência
destas mídias, visto que todas as vezes que a entrevista ocorreu elas obtiveram
grandes marcas de audiência.

A atuação da mídia neste caso foi bastante criticada, inclusive pela própria
18

polícia. O ex integrante do BOPE (Batalhão de Operações Especiais) do rio de janeiro


e sociólogo Rodrigo Pimentel, afirmou que a mídia agiu de forma criminosa e
irresponsável e sugeriu uma intervenção do Ministério Público para a apuração dos
fatos.

Fato é que, também, neste caso em concreto, a mídia agiu de forma


irresponsável e parcial desde o momento da execução do crime, sendo assim, pode-
se afirmar que houve uma grande comoção social, e grande influência midiática,
chegando o acusado ao banco dos réus no Tribunal do Júri com o status de
condenado. Lindemberg Alves foi condenado a mais de 90 anos de reclusão,
entretanto, em 2013, o Tribunal de Justiça reduziu a sua pena para o patamar dos 39
anos de reclusão.

3 CONCLUSÃO

Pois bem, com a elaboração deste trabalho pode-se afirmar que a instituição
do Tribunal do Júri é um dos mais belos exemplos da aplicação real do direito, onde
cidadãos leigos irão formar seu juízo de valor para promover justiça, de acordo com
suas convicções e os ditames da justiça, nos crimes dolosos contra a vida. Pouco se
sabe sobre a origem deste instituto, porém é inegável a sua existência e a sua
funcionabilidade atualmente, principalmente no Brasil onde o Tribunal do Povo é uma
garantia constitucional.

Por um outro lado os meios de comunicação, resumindo-se à imprensa de um


modo geral, também é indispensável na sociedade. A liberdade de expressão, ligada
à liberdade de imprensa também são garantias constitucionais e devem ser
resguardada a todos os cidadãos.

Ocorre que muitas vezes, se tratando de crimes de grande comoção, a exemplo


do homicídio, a mídia transcende o seu direito de liberdade de imprensa, e aplica um
sensacionalismo nada saudável ao caso concreto. Conclui-se que este
sensacionalismo é empregado com o intuito de se vender um espetáculo midiático,
é repassado à sociedade uma falsa sensação de que as normas penais do país são
19

ineficazes, e paira sobre a sociedade a insegurança e a impunidade.

Este espetáculo causa grandes prejuízos ao caso concreto, principalmente se


falando do Tribunal do júri, onde o conselho de sentença, formado por cidadãos
leigos, irão julgar um indivíduo acusado de homicídio. Teoricamente o conselho de
sentença deveria formar a sua convicção durante os debates no plenário do Júri,
embasado naquilo que a acusação e a defesa lhes mostrassem durante o
julgamento. Ocorre que com o sensacionalismo midiático, e o bombardeio de notícias
parciais e tendenciosas, o cidadão, sorteado a compor o conselho de sentença,
chegará ao plenário com um juízo de valor pré-concebido, e, quase sempre,
tendencioso a condenar o Réu.

Pois bem, é nítido que estamos diante de um conflito de garantias


constitucionais, de um lado a presunção de inocência do acusado, de outro a
liberdade de imprensa da mídia. Para solucionar este conflito se faz necessário a
aplicação do princípio da proporcionalidade, e, neste caso, a garantia constitucional
da presunção de inocência, leia-se estado de inocência, deve se sobrepor à liberdade
de imprensa, visto que a liberdade de ir e vir deste cidadão pode vir a ser cerceada
por uma eventual condenação baseada em juízos de valores formada por fatos
inverídicos, ou promovidos por um sensacionalismo desleal e cruel por parte da
imprensa.

Conclui-se, portanto, que o Tribunal do Júri e a imprensa merecem ter suas


garantias preservadas, contudo a mídia deve exercer o seu papel de maneira
cuidadosa e responsável, visto que é uma das principais formadoras de opiniões da
sociedade, e o juízo de valor transmitido por ela será utilizado nos julgamento
realizados pelo Tribunal do Júri.

THE INFLUENCE OF MEDIA ON JURY COURT JUDGMENTS

AVELINO DE MEDEIROS ACIOLI, Fidel Braga

ABSTRACT:

This article presents a theoretical discussion that starts from the news related to the
media, about homicides, which have taken great proportions in the national
scenario, and its relation of influence in the verdicts pronounced in the Plenary of
20

the Jury Court. The research approached in this work allows the accomplishment of
a legal analysis of the reported information and the formation of a value judgment
from the news. Therefore, there are some cases of great media repercussion and
the results of the judgments such as sampling, use of the theoretical collection of
some teachers, as well as access to various electronic sites. Initially, a historical
concept of the Jury Tribunal in Brazilian Law will be developed, containing its
emergence and its constitutional principles, including the sovereignty of the verdicts.
Continuously will be exposed the composition of the sentence council, the selection
criteria of the jury. Finally, the term media will be conceptualized, and its influence
will apply to the judges' value judgment.

Keywords: Jury Tribunal; Media Criminal Law; Media; Influence.

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https://www.fag.edu.br/upload/contemporaneidade/anais/5b45ff227fbf6.pdf>. Acesso em 16
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NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 16 ed. Rio de Janeiro:
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