In Flue Nci Amid I A Tribunal
In Flue Nci Amid I A Tribunal
In Flue Nci Amid I A Tribunal
RESUMO
O presente artigo traz uma discussão teórica que parte das notícias vinculadas à
mídia, a cerca de homicídios, que tomaram grandes proporções no cenário nacional,
e a sua relação de influência nos veredictos prolatados no Plenário do Tribunal do
Júri. A pesquisa abordada neste trabalho permite a realização de uma análise jurídica
das informações noticiadas e a formação de um juízo de valor a partir do noticiário.
Para tanto, tem-se alguns casos de grande repercussão midiática e os respectivos
resultados dos julgamentos como amostragem, utilização de acervo teórico de alguns
doutrinadores, bem como acesso aos variados sítios eletrônicos. De início será
desenvolvido um conceito histórico do Tribunal do Júri no Direito brasileiro, contendo
o seu surgimento e seus princípios constitucionais, dentre eles a soberania dos
vereditos. De forma contínua será exposto a composição do conselho de sentença,
os critérios de seleção dos jurados. Por fim, conceituar-se-á o termo mídia, e aplicar-
se-á a sua influência na formação de juízo de valor dos jurados.
__________________________
1 INTRODUÇÃO
1
Acadêmico do 10º período do curso de Direito da Universidade Federal de Uberlândia. fidelacioli@gmail.com
2
Pouco se sabe sobre a origem do Tribunal do júri, pode-se afirmar que a sua
origem se deu desde a antiguidade, entretanto, o marco histórico do instituto se deu
com a Carta Magna da Inglaterra em 1215. Após a sua positivação, houve uma grande
disseminação pela Europa continental, e passou a ser utilizado na maioria dos
sistemas jurídicos, sendo um marco de democracia e liberdade.
Entre nós, o Júri surgiu em 1822, e era exclusivo para os crimes de imprensa.
A Constituição de 1824 estendeu-o às causas cíveis e criminais, muito embora
nunca houvesse funcionado nesses feitos. Com o advento do Código de
Processo Criminal do Império, de 1832, atribuiu-se à instituição o julgamento
de quase todas as infrações. Criou-se o Jury de Accusação, formado de 23
jurados, cuja finalidade era dar sustentação à pronúncia, que ficava a cargo
dos Juízes de Paz.
Popular não pode ser abolido, por tratar-se de garantia individual, e esta não poderá
ser objeto de emenda que tente abolir os seus direitos.
Sendo assim, observa-se que a defesa no Tribunal do Júri deve ser mais
efetiva, utilizando-se de todos os meios legais para realizar a defesa do Réu, sob pena
de nulidade por considerar o Réu indefeso, pois teve sua garantia constitucional
violada.
Tal princípio busca legitimar as votações, pois observa-se que a sessão do júri
é aberta ao público, sendo assim o sigilo das votações busca impedir qualquer
interferência externa. Vale ressaltar que este princípio não fere o princípio
constitucional da publicidade das decisões do poder judiciário, pois o próprio texto
constitucional permite a limitação da publicidade quando se tratar de interesse social
ou público.
Por força do artigo 5º, inciso XXXVIII, alínea d, da CF, os crimes dolosos contra
a vida, previstos nos artigos 121 ao 126 do Código Penal, serão processados e
julgados pelo Tribunal do Júri. É possível que o tribunal popular julgue outros delitos
caso estejam em conexão com algum dos crimes dolosos contra a vida. Nucci (2015)
revela que o povo é o colegiado ideal para analisar o homicídio, visto que é um crime
que qualquer um possa vir a cometer algum dia.
Entre nós, a lei não exige, para o exercício da função de jurado, outras
condições senão estas: a) ser brasileiro nato ou naturalizado; b) ser maior de
18 anos; c) idoneidade. A preferência de diplomados é do Juiz Presidente do
Tribunal do Júri, e não da Lei.
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Vale ressaltar que os jurados são escolhidos a partir de uma lista geral anual,
que deve ser publicada até o dia 10 de novembro do ano que antecede as sessões
do Tribunal do Júri. O artigo 436 do Código de Processo Penal expressa “O serviço
do júri é obrigatório. O alistamento compreenderá os cidadãos maiores de 18 (dezoito)
anos de notória idoneidade.”, veja não há nenhum pré-requisito para ser jurado,
apenas a idade e a vida idônea, sendo dispensado o conhecimento técnico.
2.3 A MÍDIA
Após a sua fundação, outro veículo de notícias fora fundado, a Gazeta do Rio
de Janeiro que, assim como a imprensa Régia, era vinculada à coroa portuguesa,
portanto, pode-se afirmar que só eram noticiados fatos favoráveis ao governo.
Ainda sobre a garantia constitucional, assim prevê o artigo 5º, inciso IX, da
Constituição Federal:
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Art. 5º [...]
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença;
Sendo assim, pode-se afirmar que a mídia exerce grande papel na formação
de opinião e juízo de valores da sociedade, sendo a imprensa o principal meio de
acesso do cidadão à notícia. O que comprova tal fato é que tudo se utiliza da mídia,
uma simples notícia veiculada até propagandas políticas para eleger governantes e
legisladores. Percebe-se, então, o grande poder persuasivo dos meios de
comunicação de massa.
Conclui-se, portanto, que a mídia tem um elevado papel nos meios sociais,
sendo influente nos campos sociais, políticos e econômicos. Com os meios de
comunicação é possível incutir no espectador meios de agir, de pensar ou, até mesmo,
uma mudança cultural.
[...] Dentro da grei humana, a sua importância é tal que já se lhe atribuiu a
categoria de 4º poder do Estado, em virtude de seu índice de penetração na
massa popular e imensa facilidade em construir ou destruir reputações, em
estruturar ou desintegrar a sociedade, em edificar ou debilitar os povos, pelo
domínio das consciências, através de noticiários e comentários honestos ou
tendenciosos. (MIRANDA, 1995, p. 43). (Grifei)
Nota-se que o poder midiático é tão grande que Miranda (1995) chega a firmar
que é atribuído à mídia o 4º poder do Estado. Neste mesmo sentido, o Promotor de
Justiça de Minas Gerais Dr. Paulo Freitas disciplina que:
Pode-se afirmar, portanto, que o poder midiático vem sendo aplicado como
meio de promover a justiça, e acaba por ser exibido de forma sensacionalista,
formando opiniões divergentes da verdade real dos fatos e da Lei Penal e Processual
Penal, ocasionando vários danos à aplicação da Lei Penal.
A divulgação de crimes pela mídia é tão ampla que, em alguns casos, tomam
proporções internacionais, como o caso do assassinato de Elisa Samudio, ou do casal
Manfred e Marísa Von Richtofen. Muitas vezes, os casos nem foram solucionados
ainda pela polícia judiciária, entretanto, a imprensa, de um modo geral, começa a
“impor” juízos de valores ao caso, violando assim diversos princípios processuais,
dentre eles a presunção de inocência, quando se tem um suspeito sobre investigação
e a mídia o coloca como o verdadeiro autor do crime.
Dessa maneira, a mídia como um todo cria uma realidade paralela que não
corresponde ao mundo real. Entretanto, como possuidora de grande artefato
tecnológico tem a capacidade de difundir na população uma falsa sensação de
injustiça e insegurança, deixando claro que a violência tem números astronômicos,
que o direito penal é frágil e insuficiente e que, para resolver tal conflito, é necessário
que a sociedade se revolucione e reivindique novas leis incriminadoras.
Os crimes dolosos contra a vida, em geral, são crimes que geram grande
revolta social e que, infelizmente, está presente no dia a dia da sociedade. Mas como
dito no tópico referente ao Tribunal do Júri, quem irá julgar estes casos é a própria
sociedade, é onde se instala toda a problemática deste artigo, pessoas leigas,
influenciadas por notícias veiculadas de forma incessante e tendenciosa na imprensa,
decidindo o futuro de um cidadão.
Pode-se aferir que, assim como a mídia tenta exercer forte influência em Juízes
togados, ocorre da mesma forma nos jurados, entretanto, as consequências são ainda
maiores, visto que são cidadãos leigos quando se fala de processo penal.
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Temos visto uma porção de exemplos que se processam - e agora sou eu que
vou fazer a síntese de algo complexo - mais ou menos da seguinte maneira:
há indícios que são tomados como sintomas; sintomas que são tomados
como fatos; fatos que são tomados como julgamento; julgamentos que
são tomados como condenação e condenação que é tomada como
linchamento. É possível - e tem acontecido - ir-se do indício ao linchamento
em 24 horas. (Grifei)
12
Com esse choque de princípios, Jairo Gilberto Schafer (2007) propõe a análise
do caso concreto de forma proporcional, com o intuito de precisar qual direito deve
ceder, a fim de que um direito fundamental não prejudique o outro.
Conclui-se, portanto, por esta análise psicológica, que a mídia exerce influência
direta na subjetividade humana, de acordo com seus costumes, com isso, pode-se
aferir que a imprensa exerce um papel social de influência, sendo uma grande baliza
para a formação da opinião pública, e como no Tribunal do Júri é a palavra do povo
que prevalece, essa influência é extremamente perigosa, e, quase sempre, prejudicial
ao Direito Penal, onde a imparcialidade dos julgadores é fundamental.
Pois bem, como discorrido no início, crimes, de uma maneira geral, chocam a
sociedade, entretanto, ao se falar de crimes dolosos contra a vida a comoção social é
ainda maior. Em alguns casos o abalamento moral causado no cidadão é agravado
pelas condições que se deu o homicídio, a exemplo de crimes cometido com o
emprego de tortura, contra ascendentes ou descendentes.
Para retratar este elo de influência midiática que vem sendo discorrido neste
artigo, selecionou-se alguns casos de homicídio que tiveram ampla cobertura da
imprensa. Será observado a intensidade de reportagens vinculadas ao caso, as
informações prestadas e a sustentação jurídica das informações, ou seja, se elas se
coadunam ou não com os preceitos estabelecidos em lei.
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Vale ressaltar que na apresentação dos casos não há intuito algum de formar
juízo de valor para dizer se os acusados são verdadeiramente culpados ou não,
apenas demonstrar a atuação sensacionalista e descuidada da imprensa durante a
cobertura dos casos.
Como dito por Freitas, a mídia se precipitou em investigar o caso, vários são
os elementos que comprovam o papel sensacionalista da mídia. O fato ocorreu na
noite de 29 de março de 2008, em depoimento à polícia no dia 30 do mesmo mês o
Pai da vítima trouxe a suas versões do fato, no mesmo dia, um telejornal, de uma
grande emissora do País, veiculou a informação de que a polícia descartou a
possibilidade de acidente, veja com menos de 24 horas a imprensa já começa a formar
convicções, sendo que o inquérito policial foi concluído apenas 30 dias após a morte
de Isabella.
Prédio de onde Isabella caiu vira atração [...] Mas não é somente a imprensa que “bate
ponto” junto ao Edifício Residencial London. A todo momento, pessoas
paravam na calçada e apontavam para a janela de onde Isabella despencou.
Carros também reduziam a velocidade para que os motoristas vissem o local.
Pois bem, é possível afirmar que, neste caso, a imprensa agiu de maneira
descuidada, parcial e sensacionalista. Conforme discorrido em tópicos anteriores,
com o anseio de promover justiça diante de uma transmissão de falsa impunidade ou
injustiça. Da maneira que fora disposta as notícias e com a alta intensidade de
publicações, é possível afirmar que houve sim uma influência na sociedade, e esta
influência foi levada ao plenário do Tribunal do Júri. Com isso, Alexandre Nardoni e
Ana Carolina Jatobá restaram condenados.
Este caso é um dos mais emblemáticos do país, podemos dizer suis generis,
um desaparecimento da vítima que resultou na condenação dos réus por homicídio
sequestro e cárcere privado. Um dos condenados é uma pessoa de grande
representação na sociedade, goleiro de futebol, bem-sucedido, em um dos maiores
clubes do mundo.
Bruno Fernandes das Dores de Souza, foi condenado a 22 anos e três meses,
pela morte de sua ex companheira Eliza Samúdio, além de outros delitos conexos ao
caso.
Freitas (2016) afirma que, mais uma vez, a imprensa transcendeu o seu direito
de liberdade de imprensa, a objetividade e a imparcialidade que deveriam pautar a
notícia, foram substituídos pelo sensacionalismo, o verdadeiro espetáculo midiático.
A repercussão do caso foi tão grande que a imprensa, com alta tecnologia e
grande poder de persuasão, conseguiu praticar atos que até então o judiciário não
conseguira, ouvir uma testemunha chave, até então menor de idade, e divulgar sua
nova versão dos fatos para todo o Brasil.
Samúdio. Vale ressaltar que não se discute neste artigo o conjunto probatório dos
autos, mas sim a influência proporcionada por uma imprensa sensacionalista no
caso concreto. Mais uma vez, pode-se aferir que, mesmo sem um conjunto
probatório confeccionado pela polícia judiciária, muito provavelmente os réus
restariam condenados, dada a comoção aplicada pela mídia.
Pode-se afirmar que este foi um dos casos mais emblemáticos do país, pois
todas as 100 horas de cárcere foram transmitidas ao vivo nas maiores emissoras
do país. Para obter IBOPE a imprensa utilizou de um grande espetáculo midiático,
que foi crucial para o desfecho trágico do caso. Com a cobertura ao vivo do crime
com entrevistas de policiais que realizavam as negociações, Lindemberg conseguiu
acompanhar e antecipar todas as ações da polícia.
A atuação da mídia neste caso foi bastante criticada, inclusive pela própria
18
3 CONCLUSÃO
Pois bem, com a elaboração deste trabalho pode-se afirmar que a instituição
do Tribunal do Júri é um dos mais belos exemplos da aplicação real do direito, onde
cidadãos leigos irão formar seu juízo de valor para promover justiça, de acordo com
suas convicções e os ditames da justiça, nos crimes dolosos contra a vida. Pouco se
sabe sobre a origem deste instituto, porém é inegável a sua existência e a sua
funcionabilidade atualmente, principalmente no Brasil onde o Tribunal do Povo é uma
garantia constitucional.
ABSTRACT:
This article presents a theoretical discussion that starts from the news related to the
media, about homicides, which have taken great proportions in the national
scenario, and its relation of influence in the verdicts pronounced in the Plenary of
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the Jury Court. The research approached in this work allows the accomplishment of
a legal analysis of the reported information and the formation of a value judgment
from the news. Therefore, there are some cases of great media repercussion and
the results of the judgments such as sampling, use of the theoretical collection of
some teachers, as well as access to various electronic sites. Initially, a historical
concept of the Jury Tribunal in Brazilian Law will be developed, containing its
emergence and its constitutional principles, including the sovereignty of the verdicts.
Continuously will be exposed the composition of the sentence council, the selection
criteria of the jury. Finally, the term media will be conceptualized, and its influence
will apply to the judges' value judgment.
REFERÊNCIAS
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