Artigo Cientifico TGP - Camila Corrigido

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A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS JULGAMENTOS PELO TRIBUNAL DO JÚRI

Camila Cardoso
Vitória Vailatti Schmith

Resumo: O presente trabalho faz uma análise acerca da influência dos meios de
comunicação sobre os julgamentos pelo Tribunal do Júri. A partir de seu surgimento
na Inglaterra o Tribunal do Júri é acompanhado pela possível influência nas suas
decisões do conselho de sentença. Advento deste surgimento até os tempos
modernos, o Tribunal do Júri é afetado pela “era da comunicação” a qual usa de
diversos meios de comunicação para alastrar informações, que muitas vezes são
apresentadas em forma de cinismo, sem mostrar a real veracidade dos fatos. Os
preceitos constitucionais deixam claro que deve existir liberdade de expressão, a
qual também é entendida como liberdade de imprensa. A questão a ser apontada é
o fato de que no Tribunal do Júri quem irá decidir pela condenação ou absolvição do
réu, serão os jurados leigos que compõem a tribuna conforme o rito do Código de
Processo Penal. Os jurados leigos podem ou não serem influenciados pela grande
mídia que na maioria das vezes convertem-se contra os crimes dolosos os quais
serão apresentados neste trabalho.

Palavras-chave: Tribunal do Júri. Mídia. Influência. Jurados.

THE INFLUENCE OF MEDIA IN JUDGMENTS BY THE JURY COURT.

Abstract: This paper analyzes the influence of the media on judgments by the Jury.
From its inception in England the Jury Court is accompanied by the possible
influence in its decisions of the council of sentence. What is what is the "Court of
Communication" is one of the main forms of communication for additional
information, which are often presented in the form of cynicism, without showing a true
truth of the facts. The constitutional precepts make clear that there must be freedom
of expression, a quality as well. An important question for the conviction or acquittal
of the defendant are the lay jurors that compose the tribune according to the Code of
Criminal Procedure. The lay jurors may or may not be influenced by the mainstream
media most often turn against the malicious crimes which are related in this work.

Key words: Court of the Jury. Media. Influence. Juries

1 INTRODUÇÃO

O Tribunal do Júri foi instituído no Brasil em 1822. Sua prática no direito


processual penal foi feita mediante muitas polêmicas, já que o mesmo era
representado de forma fictícia representada pelos filmes da época. Eles
2

representavam o que era para ser um julgamento como um grande espetáculo


teatral onde o réu era visto como vilão e as vítimas como as justiceiras.
No decorrer dos anos, o júri veio se adequando as mudanças sociais
impostas pela sociedade, dentre estas, a grande ampliação das mídias que não se
limitaram apenas em jornais e noticiários, com a era digital as notícias chegam no
mesmo instante nas mãos dos populares. O Tribunal do Júri manifestou-se no
âmbito jurídico com a finalidade de assegurar direitos e garantias fundamentais
oferecendo a população geral o acesso a justiça, cabendo a eles decisões quando
ocorressem crimes dolosos contra a vida.
De forma popular, o júri é movido pelos crimes ocorridos no dia a dia da
sociedade, fatos esses que assim que realizados podem ou não ser transmitidos aos
demais de forma tendenciosa e sensacionalista.
A parcialidade dos jurados é um problema muito pertinente, já que o acusado
se sujeita ao veredicto de pessoas falhas, muitas vezes, de conhecimentos jurídicos,
ou seja, leigas em matérias de direito que se submetem a analisar os casos
repassados pela mídia. Devido a imprensa transmitir aos telespectadores somente
violência, gerando um verdadeiro sentimento de pavor na população, os jurados
tendem a decidir favoráveis a condenação, já que são motivados por experiências
vividas e o sentimento de fazer justiça a qualquer preço, tudo isso devido aos
veículos de comunicação. Assim a população fixou uma visão distorcida da
sociedade a qual vive, onde a vontade insaciável de mudar este ambiente é posto
pela mídia, fazendo que muitos, não observem o que realmente acontece por trás
deste imaginário teatral.
Com isso, todos os fatores apresentados nos júris pela defesa, podem ser
colocados em questionamento, tendo vista que os órgãos de comunicação
deterioraram a veracidade dos casos para conseguir maior credibilidade com os
telespectaroes, influenciando o livre convencimento do júri. Além de ocorrer casos,
que vão além dos jurados, afetando também os magistrados e as testemunhas.
A partir de casos famosos ocorridos no país, como o caso Isabella Nardoni e
Elisa Samudio, os questionamentos sobre a influência da mídia aumentaram, surgiu
então o “Trial by media” que seria um poder onde o julgador, apenas,
conscientemente ou inconscientemente pode decidir conforme o que vem sendo
noticiado pela mídia, deixando de analisar o que é “juridicamente adequado” para
então poder fazer qualquer julgamento.
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Na atualidade, há tendência de que os meios de comunicação se


intensifiquem cada vez mais. É preciso refletir sobre o poder que a imprensa tem de
fazer julgamentos, apenas com um titulo de noticia. Para o bom funcionamento do
Judiciário, é preciso encontrar soluções que amenizem esse conflito entre a justiça e
a mídia, ficando noticiado apenas o que é verídico. Afinal, liberdade de expressão
existe, no entanto não pode influenciar a quem cabe decisões tão importantes.

1. ORIGEM E EVOLUÇÃO DO TRIBUNAL DO JÚRI NO BRASIL

O Tribunal do Júri foi instituído no Brasil pela Lei de 18 de julho de 1822, com
competência para julgar exclusivamente crimes de imprensa. A sua composição
inicial era de vinte e quatro jurados escolhidos “dentre os homens bons, honrados,
inteligentes e patriotas”. O réu poderia recusar até dezesseis jurados e só poderia
recorrer à clemência do príncipe regente. Posteriormente, a Constituição do Brasil
imperial previu o Tribunal do Júri como órgão do Poder Judiciário com competência
para 28 Marcos Bandeira se pronunciar sobre os fatos. Todavia, a Lei de 20 de
setembro de 1830 deu contornos mais precisos, instituindo o júri de acusação e o
júri de julgamento nos moldes do petit juri e grand jury do sistema inglês. O júri de
acusação era composto por vinte e três membros e incumbido de apreciar a
formação de culpa. Segundo Mendes de Almeida, citado por Lênio Streck (2001, p.
88)

1.1 Influências históricas

No Brasil o Tribunal do Júri instituiu-se em meados de 1822, com o advento


de julgar crimes de imprensa, já que o rei não poderia interferir nestes julgamentos
que se daria como a insatisfação popular. No momento de instituir o júri, o príncipe
declarou “procurando ligar a bondade, a justiça e a salvação publica, sem ofender a
liberdade bem entendida da imprensa, que desejo sustentar e conservar, e que
tantos bens tem feito a causa sagrada da liberdade brasileira”. Com o passar dos
anos o Júri tornou-se um dos ramos do Poder Judiciário Brasileiro, já não era
limitado apenas nos crimes de imprensa, como no seu surgimento, passando
também a abranger questões civis e criminais. Em 1889 com a proclamação da
República a instituição do Júri tornou-se direito e garantia fundamental.
4

1
Aramis Nassif (2001, p. 18), afirma ainda:

A Constituição de 1891, de cunho eminentemente federalista,


consagrou a autonomia política dos Estados Federados, identificando-
se com a estrutura norte-americana. As unidades federalistas
passaram a legislar sobre o júri, e a respeito o Estado do Rio Grande
do Sul crio-o de forma singular, merecendo destaque a Lei nº 19, de
16 de dezembro de 1895, regulamentadora da Instituição. Neste texto
legal, foi determinado que as sentenças do júri serão proferidas pelo
voto a descoberto da maioria (art. 65, § 1º) e que os jurados não
podem ser recusados.

Dentre as constituições elaboradas no decorres dos anos no Brasil, em 1967


mais uma elaborada, manteve aspectos de todas as anteriores. O Tribunal do Júri
continuou a ser abordado nos direitos e garantias fundamentais, no entanto foi
retirado os princípios da plenitude da defesa e do sigilo das votações.

2. PRINCIPIOS QUE REGEM O JÚRI

A instituição do júri é mantida mediante a observância de princípios


institucionais os quais dispõe sobre os direitos e garantias fundamentais dadas pela
constituição de 1988. São eles: plenitude de defesa, o sigilo das votações, a
soberania dos vereditos e a competência para o julgamento dos crimes dolosos
contra a vida.

2.1 Plenitude de defesa

Plenitude da defesa é uma variante do princípio da ampla defesa, onde


consta no art. 5º, inciso LV da constituição brasileira. É uma garantia do individuo,
onde o mesmo só terá privação de liberdade ou de seus bens somente se for
assegurado o contraditório e a ampla defesa. Contrário da ampla defesa existe a
plenitude de defesa que é instituída com esse nome no Tribunal do Júri. A doutrina
diz “a ampla defesa é a outra face do princípio do contraditório. Enquanto este último
liga-se ao direito de participação, o princípio da ampla defesa impõe a realização
efetiva desta participação”. O princípio da plenitude de defesa concede ao réu

1
Disponivel em: http://www.lexml.gov.br/urn/urn:lex:br.rede.virtual.bibliotecas:livro:2001;000586790’
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 15. ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris. 2011, p.44.
5

igualdade de condições para contra-arrazoar tudo aquilo que lhe é dito em desfavor.
A balança há de permanecer equilibrada, sob pena de não realização de um
julgamento justo.

2.2 Sigilos nas votações

Este princípio encontra-se no artigo 5º inciso XXXVIII, alínea b e apresenta a


liberdade de convicção e opiniões dos jurados, que assim, permanecem imunes a
qualquer tipo de interferências externas. O sigilo nas votações é decorrente da
necessidade de preservar os jurados no ato do julgamento. Os jurados devem
decidir pela própria consciência, não podendo demonstrar suas opiniões até o fim do
julgamento. Tudo isso tem o intuito de dar maior sigilo possível para as votações e
para evitar influência, garantindo um julgamento justo. No art. 464 do Código de
Processo Penal, está presente a incomunicabilidade, a qual está ligada ao sigilo das
votações, cabendo ao Juiz Presidente durante a instrução em plenário orientar os
jurados para que não se comuniquem. A lei assegura que sejam prestados todos os
esclarecimentos possíveis aos jurados, fazendo a elucidação dos fatos. Estes
direitos para esclarecimentos devem ser exercidos por estes com a devida cautela e
com o único fim de esclarecer o que não ficou compreendido. Esta
incomunicabilidade que a lei fala, pode ser quebrada de diversas formas, não
necessariamente por palavras ou gestos. Qualquer maneira que possa transmitir
opinião ou entendimento sobre o assunto tratado no julgamento. O legislador quis
garantir a independência dos jurados, para que de acordo com suas consciências
pudessem se expressar, mas sempre de acordo com as provas dos autos e
respeitando o sigilo das votações garantido pela constituição.

2.3 Soberanias dos vereditos

Está é uma das garantias fundamentais do Tribunal do Júri, encontra-se na


constituição art. 5º, inciso XXXVIII, é a decisão suprema do conselho de sentença,
feita pelos quesitos e que não pode ser modificada pelos Juízes togados.
Para compreender esse princípio Marques (1997, p.80) diz:
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(...) sobre a existência do crime e responsabilidade do réu, só o Júri


pode pronunciar-se, o que faz através de veredictos soberanos. Sobre
a aplicação da pena, decide, não soberanamente, o juiz que preside
ao Júri, deixando claro que soberanas são tão somente as decisões do
Conselho de Sentença.

No entanto esta soberania possui exceções, as quais estão localizadas no


artigo 593 inciso III alínea d do Código de Processo Penal que diz “Caberá apelação
no prazo de 5 (cinco) dias: (...) III- das decisões do Tribunal do Júri, quando: (...) for
a decisão dos jurados manifestamente contrária á prova dos autos”. Estas exceções
não são incompatíveis com a Constituição Federal. Embora seja alterada a decisão
sobre o mérito da causa, a nova decisão também será dada pelo Tribunal do Júri. A
soberania dos vereditos deve ser preservada, embora não seja absoluta.

2.4 A competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida

Tradicionalmente o Tribunal do Júri é conhecido por julgar delitos penais, com


ênfase nos que se refere aos crimes dolosos contra a vida que, desde seu
surgimento foram eles que caracterizaram o Tribunal do Júri, apesar de existir
competência cível. Abrange crimes contra a vida o homicídio, simples, privilegiado
ou qualificado, constantes nos art. 121, § 1º e 2º; o induzimento, instigação ou
auxilio a suicídio previsto no art. 122, parágrafo único; o infanticídio, previsto no art.
123 e o aborto provocado pela gestante, ou com seu consentimento ou por terceiro,
constantes nos arts. 124 a 127, todos previstos no código penal. Estes delitos
podem ser na forma tentada ou consumada, com exceção do induzimento, da
instigação e do auxílio ao suicídio. A constituição estabeleceu uma competência
mínima, com o intuito de assegurar que o Júri não fosse aniquilado pelo
ordenamento brasileiro em decorrência da inércia dos legisladores. Esta
competência possui duas fases, porém ainda pode ocorrer que uma destas fases
não aconteça, como no caso de haver imprudência, desclassificação ou absolvição
sumária. A primeira fase tem início com o recebimento da denúncia, terminando com
a sentença de pronúncia transitada em julgado.

É a favor da sociedade que nela se resolvem eventuais


incertezas propiciadas pela prova. Há a inversão da regra in
dúbio pro reo para in dúbio pro societate. Por isso, não há
necessidade, absolutamente, do convencimento exigido para
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condenação, como a confissão do acusado e depoimentos de


testemunhas presenciais.
Na fase da sentença aplica-se o princípio in dúbio pro reo, princípio este
vigente também nos processos de competência do juiz singular.

3. A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS JULGAMENTOS PELO TRIBUNAL DO JÚRI

A mídia tem um grande apreço por noticiar fatos do judiciário, principalmente


os que se diz respeito á crimes dolosos contra a vida, os quais são os responsáveis
por dar maior audiência aos veículos de comunicação, já que pela forma que são
noticiados, despertam tanto curiosidade como revolta nos telespectadores.
A principal função da mídia é levar informações as pessoas, desta maneira a
mídia tornou se fundamental no dia a dia da população. É impossível imaginar uma
sociedade democrática sem a presença da mídia, pois é através dela que as
pessoas exercem condições de socialização.
De era em era a mídia se torna cada vez mais eficaz para noticiar fatos
acontecidos em instantes no meio social. Dessa forma, todos podem saber o que
acontece em tempo real, em qualquer lugar ou qualquer hora. No entanto essa
agilidade com que as informações chegam pode ser um tanto quanto tendenciosa e
sensacionalista, visto que a mídia é uma grande formada de opiniões, podendo
trazer paz ou conflitos.

3.1 A mídia e a liberdade de imprensa

No dicionário entre tantos conceitos temos que a palavra “mídia” significa.


Dicionário Aurélio (2008, p. 337):2 “designação genérica dos meios, veículos e
canais de comunicação, como por exemplo, jornal, revista, rádio, televisão, outdoor,
etc”.
Estes veículos de comunicação atualmente podem ocorrer de diversos meios,
mas todos com o propósito de levar ao receptor da mensagem conhecimento sobre
o que está acontecendo no mundo.

2
Disponível em: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Aurélio: O dicionário da língua
portuguesa revisado conforme acordo ortográfico. 2. ed. Curitiba: Positivo, 2008.
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No entanto, isto é exatamente o que o princípio da liberdade de imprensa


defende, o mesmo está presente na Constituição Brasileira de 1988, a qual destina
um capitulo especifico á matéria de Comunicação Social (arts. 220 a 224). Por
conseguinte, vários outros direitos vinculados ao significado de liberdade de
imprensa também estão no referido capítulo, tais como: Liberdade de expressão, de
pensamento, etc. Estes princípios encontram-se como conceitos doutrinamente
embasados na idéia de que a informação deve ser caracterizada como imparcial e
verdadeira.
De acordo com William Rivers e Wilbur Scharamm (2002, p. 27):

[...] a denominada formação do cidadão, garantindo-lhe a


liberdade de imprensa o desenvolvimento da personalidade
deste, pois, um indivíduo isolado das notícias, acontecimentos
históricos e informações sobre o mundo é incapaz de
desenvolver sua personalidade e cidadania no mundo
moderno.

Ainda segundo o autor:

Com a evolução que experimentou ao longo do nosso século, a


comunicação social estabeleceu, com o comportamento
humano, vínculo de incrível intimidade. Tanto é assim que
devemos admitir que: ‘ Todos nós dependemos dos produtos
da comunicação de massa para a grande maioria das
informações e diversão que recebemos em nossa vida. É
particularmente evidente que o que sabemos sobre números e
assuntos de interesse público depende enormemente do que
nos dizem os veículos de comunicação. Somos sempre
influenciados pelo jornalismo e incapazes de evitar esse
fenômeno. Os dias são muito curtos e o mundo é muito enorme
e muito complexo para podermos cientificar-nos de tudo o que
se passa nos meandros do governo. O que pensamos saber,
na realidade, não sabemos, no sentido de que saber
representa experiência e observação. ’ Cada vez mais
concordamos que, nos dias presentes, aquilo que não penetrou
e foi divulgado pelo sistema de notícias é como se realmente
não tivesse acontecido. (RIVERS; SCHARAMN, 2002, p.57-58)

Toda liberdade pressupõe responsabilidade. Não é possível falar em


liberdade se está é realizada de maneira errada. Todos devem assumir o peso da
responsabilidade ao querer exercer livremente seus direitos.

3.2 A mídia e a imparcialidade dos jurados


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O Júri, por ser formado por juízes leigos desprovidos de conhecimentos da


área jurídica, causa problemas no que se refere ás conseqüências trazidas pela
divulgação do julgamento pela mídia. O júri possui a responsabilidade de condenar
ou absolver o réu, os jurados são pessoas comuns das diversas classes sociais,
faixa etária e etnia. Pessoas fáceis de deixar influenciar por aquilo que é exposto na
mídia, principalmente no que se refere aos casos de grande repercussão. A mídia se
insere de modo direto na mente dos jurados, através da formação da opinião pública
pré-concebida a respeito dos personagens do delito doloso perpetrado contra a vida.
Toda pessoa tem direito a um julgamento imparcial e justo, ocorre que
especialmente nos casos de maior repercussão midiática, não é possível assegurar
esse direito, já que os jurados se tornam expostos a circunstancias externas como
opinião sensacionalista midiática. A impressão do crime e do criminoso que a mídia
passa aos jurados é mais relevante do que as verdadeiras apresentadas no
julgamento.
O fato é que a vida de uma pessoa esta em jogo, o futuro de um ser humano
tanto como os outros, por isso os jurados não devem se deixar manipular pelos
segmentos midiáticos. Cabe a eles decidir de acordo com as suas consciências e
inteligências. O que a mídia faz é visar todos os olhos olhares para si, mesmo que
para isso ela tenha que criar fatos em cima de verdadeiras histórias. A mídia não se
preocupa em ver o que realmente aconteceu nos casos dolosos, ela se preocupa em
ganhar ainda mais a credibilidade das pessoas comuns.
Uma solução encontrada pelos legisladores para tentar garantir um
julgamento imparcial foi o desaforamento (art. 427 dó Código Penal), o qual prevê
que o julgado aconteça em outra comarca, ou seja, onde não tenha pessoas que
conheçam o caso pela mídia, e sim pelos fatos narrados naquele julgamento. Não
havendo motivos para que gerem dúvidas e garantido uma decisão justa, isenta e
imparcial. No entanto isto pode ser garantido apenas nos crimes de repercussão
local, já que os casos nacionais ganham um sentimento de revolta estrondoso.
Sobre o assunto, Fernando Luiz Ximenes Rocha (2003, p. 2-3) aborda:

O poder da imprensa é arbitrário e seus danos irreparáveis. O


desmentido nunca tem a força do mentido. Na Justiça, há pelo
menos um código para dizer o que é crime; na imprensa não há
norma nem para estabelecer o que é notícia, quanto mais ética.
Mas a diferença é que no julgamento da imprensa as pessoas
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são culpadas até a prova em contrário. 40 Temos sido comuns


os meios de comunicação condenar antecipadamente seres
humanos, num verdadeiro linchamento, em total afronta aos
princípios constitucionais da presunção de inocência, do devido
processo legal, do contraditório e da ampla defesa, quando não
lhes invadem, sem qualquer escrúpulo, a privacidade,
ofendendo-lhes aos sagrados direitos à intimidade, à imagem e
a honra, assegurados constitucionalmente. Aliás, essa prática
odiosa tem ido muito além, pois é corriqueiro presenciarmos,
ainda na fase da investigação criminal, quando sequer existe
um processo penal instaurado, meros suspeitos a toda sorte de
humilhação pelos órgãos de imprensa, notadamente nos
programas sensacionalistas da televisão, violando
escancaradamente, como registra Adauto Suannes, o
constitucionalmente prometido respeito à dignidade da pessoa
humana. Não foram poucos os inocentes que se viram
destruídos, vítimas desses atentados que provocam efeitos tão
devastadores quanto irreversíveis sobrebens jurídicos pessoais
atingidos.

3.3 Trial by Media

Decorrente de toda repercussão feita sobre a influência da mídia, surgiu o


“Trial by média. Está é uma expressão originária dos Estados Unidos da América do
Norte, que tem o objetivo de caracterizar o que foi entendido pelas pessoas como
pré-julgamento, sentenciado pela mídia.
Os princípios para o bom desenvolvimento de um processo penal justo, tais
como o de livre convencimento e da presunção de inocência, conquistados através
de anos de luta, sucumbem diante do poder de influência exercido pelos órgãos de
mídia publica. O próprio conceito de justiça vendo sendo discutido, já que diante do
povo, a vontade é apenas de satisfazer pessoas comuns, por suas vontades
próprias e não pelo real valor de fazer justiça. O julgador decide o caso pelo desejo
consciente ou inconscientemente do “clamor publico”.
O “Trial by média não foi aceito e sim posto. Depois de toda a expansão feita
pela mídia, a qual está presente diariamente na vida das pessoas, trial by média se
tornou mais uma expressão usada e justificada pelo júri, a fim de deixar claro o que
levou a chegar em qual decisão, decisão está apenas embasada em noticiários. Ele
vem usando o princípio da publicidade para distanciar o povo do Poder Judiciário, ao
invés de aproximá-los, assim como também vem dificultando uma possível
ressocialização do condenado. Assim, o direito á vida privada do réu é afastado
apenas para suprir a curiosidade dos telespectadores, apenas audiência para eles e
jurados para os réus.
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3.4 Casos de maior repercussão do Tribunal do Júri

Muitos casos tiveram grande repercussão na mídia nacional, no entanto em


março de 2008, na cidade de São Paulo, a menina Isabella Nardoni então com 05
(cinco) anos de idade foi encontrada já com parada cardiorrespiratória no jardim do
edifício onde morava, onde veio a óbito, após sofrer uma queda do apartamento de
seu genitor, localizado no 4º (quarto) andar. No entanto os meios de comunicação
fizeram um juízo de valor antes mesmo do julgamento dos acusados.
Desde então, praticamente todos os veículos de comunicação passaram a dar
cobertura ao caso Isabella Nardoni, criando uma grande comoção social e ânsia
pela justiça.
Fato este, que se constata nas palavras de Fernando Montalvão (2008):

Acompanhando os telejornais na noite do dia 21.04.2008, me


deparei com uma situação inusitada. Um júri por via transversa.
Exatamente no jornal da Globo, edição das 20:00. Houve
publicação parcial dos depoimentos prestados por Alexandre
Nardoni, 29, e a madrasta, Anna Carolina Trotta Peixoto
Jatobá, 24, no programa Fantástico, edição de 20.04,
depoimentos prestados por psiquiatras com conclusões sobre a
culpabilidade dos suspeitos, reprodução do crime, fase da
instrução, manifestação do Ministério Público sobre seu juízo
de valor, apreciação da tese de defesa e sua descaracterização
pelo discurso afinado dos acusados, do pai e da irmã de
Nardoni, concluindo-se que a partir de cartas, que tudo não
passava de uma encenação, uma criação da defesa dos
suspeitos. Finalmente, a apresentadora do programa
jornalístico, deu o seu veredicto, as contradições nos
depoimentos não isentam os suspeitos pela imputação.
Condenados sem julgamento.

De forma imediata a mídia foi tomando a frente da justiça, sentenciando o pai


e a madrasta, colhendo depoimento de todas as formas, vizinhos, conhecidos,
amigos da família. Bem como divulgando a todo momento imagens do local do
delito.
No imensurável campo da internet, há público um artigo, intitulado “A morte
de Isabella Nardoni: um grande espetáculo” de autoria de Flávio Herculano (2008)
extrai-se grande saber, vejamos:
“A morte de Isabella Nardoni: um grande espetáculo” de autoria de
Flávio Herculano (2008) extrai-se grande saber, vejamos: Para aplacar
tamanha avidez por novidades, haja exposição do tema na mídia.
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Todos os dias, a estorinha da morte da criança é contada e recontada,


na TV, no rádio, na internet e nos jornais impressos, do mesmo modo
como é tratado o resultado do “paredão”, uma partida de futebol
decisiva, um capítulo final de novela ou mesmo um detalhe picante da
vida de uma “celebridade” televisiva. O que pouca gente consegue
entender é que há uma inversão neste caminho. Não foi entre o
público que surgiu o interesse pela morte de Isabella, demandando
uma produção contínua de notícias sobre o caso. Foi, sim, a própria
mídia quem construiu esse interesse, levando o público a uma
comoção. Quem preferir pode chamar esta prática de manipulação,
mas, no jornalismo, ela tem o nome de “agendamento”. A mídia
precisa, permanentemente, de um tema palpitante para noticiar. Pode
ser um escândalo político, um desastre, um grande evento ou... um
crime. Depois do desastre aéreo da Tam e da sequência de
escândalos políticos do mensalão, do caso Renan e dos cartões
corporativos, tentou-se emplacar o escândalo do dossiê, com a
ministra Dilma Rousseff como personagem principal e o PT como
coadjuvante. Mas o tema era de pouco apelo popular e a tragédia
envolvendo Isabella veio “no momento certo”, para ocupar o espaço
principal dos noticiários. A menina superou a ministra; o crime familiar
superou os erros do corporativismo político no Governo Federal.
Nestes episódios de grande exposição, a mídia explora cada tema até
a exaustão. Depois disso, os descarta. Afinal, quem, hoje, se importa
com personagens como Marcos Valério, Delúbio Soares ou mesmo
com João Hélio, aquele menino que foi arrastado por diversas ruas no
Rio de Janeiro, preso ao cinto de segurança de um veículo, em uma
morte que causou comoção semelhante a de Isabella.

Mais uma vez os réus tiveram seus direitos violados. Exemplo é a Revista
Veja, que enraizou na opinião pública a condenação do casal Nardoni,
apresentando-os ao público para o linchamento, estampando na capa de sua revista
a foto do casal com os dizeres “Foram eles”. Alexandre Alves Nardoni e Anna
Carolina Jatobá tiveram suas imagens divulgadas sem consentimento e de forma
não excepcionada pela administração da justiça.
Os autores dos crimes devem ser punidos, no entanto esse papel fica a
critério da justiça. Além de que as garantias fundamentais da constituição são para
todos. O que não se pode admitir é um julgamento pela emoção. A solução para o
problema está muito distante de ser encontrada. No entanto está sendo
apresentadas possibilidades de suspensão do processo enquanto perdurar o clamor
público, a anulação da sentença do júri se for notória a constatação da pressão da
imprensa, a proibição à divulgação de informações sobre algumas fases do
processo e a criminalização das condutas abusivas da mídia. Situações que se
extintas, irão tornar o júri imparcial e os réus voltarão a ter suas garantias
fundamentais.
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CONCLUSÃO

O presente trabalho buscou apresentar como a influência da mídia ultrapassa


os limites informativos e se torna parte do sistema jurídico, também se tornando
essencial na vida social das pessoas. A mídia atua como uma espécie de quarto
poder incorporando se no imaginário e consciência popular, através da veiculação
de notícias que somente tratam de barbáries e sensacionalismo, quando se vê
diante de crimes dolosos contra a vida, ela informa anunciando os culpados e os
julga perante a sociedade, formando a opinião pública conforme lhe convém.
Um jurado, desprovido de conhecimentos jurídicos ao assistir os noticiários
fica exposto a um bombardeio de provas e teorias apenas apresentadas pela mídia,
sem nenhum fundamento técnico jurídico. Ele dificilmente irá conseguir distinguir as
informações e verificar o que é verídico, de fato, valorizará apenas o que foi
fornecido pela imprensa.
É nítido que com o passar dos anos o clamor da mídia tende a se expandir
ainda mais, basta analisar os casos de grande repercussão nacional. O papel da
mídia foi fundamental para a sentença do júri, os mesmos, leigos, foram subtraídos a
um infinito de notícias, apresentadas manhã tarde e noite nos jornais nacionais. Os
réus ficam diante de uma superexposição, às vezes tornando as vítimas da criação
de estereótipos midiáticos, que acabam tornando os princípios inconstitucionais,
dentre eles o princípio da presunção de inocência.
O famoso “Trial by media” precisa ser extinto, para não ganhar tanto poder
como vem ganhando. O judiciário já está sobrecarregado de questões de acesso a
justiça, um quarto poder, como o mesmo é chamado só iria dar força ao
sensacionalismo midiático. A imparcialidade nas decisões precisa ser mais exposta,
os jurados, leigos precisam estar cientes que não podem se deixar levar por
julgamentos fora do judiciário. O princípio da presunção de inocência já passou a se
tornar “princípio da presunção de culpabilidade”, pois o mesmo não é mais levado
em conta pelos jurados, os quais procuram sempre pela culpabilidade dos réus. É
preciso barrar o poder midiático e dar mais força ao judiciário, para mostrar o
verdadeiro caminho da justiça, a qual não é feita de sensacionalismo e fome de
justiça, e sim de justas e verdadeiras análises jurídicas.
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REFERÊNCIAS

ANDRADE, Fábio, Martins de. Mídia e Poder Judiciário. Rio de Janeiro. Lumen
Juris, 2007

BASTOS, Márcio Thomaz. Júri e mídia. In: Tribunal do júri: Estudo sobre a mais
democrática instituição jurídica brasileira. São Paulo: Revista dos Tribunais,
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BECHARA, Ana Elisa Liberatore S. Caso Isabella: violência, mídia e direito penal
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