A Época de Gil Vicente
A Época de Gil Vicente
A Época de Gil Vicente
Paula Cruz
e ainda os ciganos que tinham entrado em
A cidade de Lisboa Portugal no século anterior.
As ruas eram íngremes, inseguras,
no século XVI de terra batida, por onde circulava muita
gente a pé, a cavalo, de carroça. Ainda não
havia coches mas as senhoras da nobreza
Lisboa começou por ser uma dispunham de um meio de transporte
pequena cidade construída à beira do Tejo, chamado «andas», ou «andinhas», que se
na colina arredondada onde hoje se colocavam no dorso dos animais ou eram
encontram as ruínas do Castelo de São levadas por escravos negros. O
Jorge. Foi esse castelo que D. Afonso abastecimento de água era assegurado por
Henriques conquistou aos mouros em 1147, poços, fontes e chafarizes. Esgotos não
com a ajuda dos havia, de modo que os
cruzados que por despejos se faziam para a
aqui passaram a rua, ou para o rio. [...]
caminho da Terra Lisboa tinha também
Santa. Depois, à várias praças e mercados.
medida que a Na praça do Pelourinho Velho
população foi era costume encontrar
aumentando, a homens sentados diante de
cidade foi crescendo mesas, com penas de pato,
para fora das tinta e papel, para
muralhas. A fim de proteger os habitantes, escreverem textos por encomenda, fossem
vários reis mandaram construir novas cartas, mensagens amorosas, discursos,
muralhas, mas a cidade crescia sempre e o orações e até versos. O preço variava
casario foi-se alargando pelos campos em conforme o trabalho e os homens que o
redor, de modo que, no séc. XVI, já se podia executavam não tinham qualquer cargo
considerar uma grande cidade. oficial. Era pura e simplesmente a maneira
A muralha que então envolvia a de ganhar a vida que lhes parecia mais fácil
cidade tinha setenta e sete torres e muitas e agradável.
portas! Vinte e duas portas para o lado do O mercado do peixe e dos doces,
mar e dezasseis para o lado de terra. junto ao rio, era também um local muito
Rodeada de bosques, olivais, pomares e mais agitado. Ali acorriam todos os dias
de seiscentas casas de campo. Era um lugar peixeiros, hortelãos, confeiteiros, padeiros,
magnífico para se viver por ser bonita, doceiros, para venderem os seus produtos.
agradável, e de clima tão suave que nunca se Havia lojas de comida, vinhos, tendeiros,
sentia ao longo do ano nem calor nem frio estalajadeiros e tecelões. Por determinação
em excesso. da autoridade, espalhava-se grande
Dentro da cidade havia vinte mil quantidade de cestos nos quais, logo que
edifícios, para cerca de cem mil habitantes atracavam os barcos, o peixe era
de várias raças e nacionalidades, pois além transportado por escravos para as
dos naturais de Lisboa chegavam vendedoras da praça.
constantemente portugueses vindos da Enfim, esta Lisboa feita de pedra,
província em busca de uma vida melhor, muito desarrumada e sinuosa, mas cheia de
estrangeiros que pretendiam instalar-se graça, aconchegada nas colinas mas virada
para se dedicarem sobretudo ao comércio, bem de frente para o rio, não podemos nós
mas também a outras actividades, muitos tornar a
escravos trazidos das terras descobertas, ver senão em gravuras, pois foi destruída
pelo violento terramoto de 1755. Mas é
possível
imaginá-la, fervilhando de actividade, no
reinado de D. Manuel I.
Paula Cruz
Origem do teatro
Religioso
Profano
satírico.
Neste sentido não é legítimo dizer que Gil Vicente é o pai do teatro
português. Ele não criou a partir do nada. Apoiando-se naquilo que já existia,
ele teve a capacidade de inovar e recriar. Deste modo, a OBRA VICENTINA
É FRUTO DE UMA EVOLUÇÃO E NÃO DE UMA INVENÇÃO.
Gil Vicente, à semelhança de outros literatos, além do português, fez
uso do castelhano, do latim – ainda que macarrónico – e de uma língua
literária chamada de saiaguês, que consiste num dialecto que mistura o
leonês e o castelhano.
Paula Cruz
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